Estratégia do governo para o fim da greve não prevê nova proposta Apesar de a maioria dos sindicatos de professores de universidades rejeitarem oferta, negociação está quase encerrada A nova proposta do governo para professores em greve nas universidades federais, apesar de não ter sido aceita pela maioria das assembleias, parece ser definitiva. Essa conclusão diz menos sobre a nova oferta, que traz poucas diferenças em relação à primeira, mas está relacionada à estratégia do governo para acabar com a greve. O anunciado aumento de gastos pelo governo até 2015 com a folha de professores não chega a R$ 300 milhões, o que representa menos de R$ 100 milhões por ano para uma categoria com cerca de 150 mil professores. Pontos polêmicos, como a ampliação da jornada de aula com a respectiva diminuição do tempo para a pesquisa e de dedicação para subir na carreira, foram deixados para grupos de trabalho. A proposta: Governo amplia pacote do reajuste de professores para R$ 4,2 bilhões Assembleias: Professores de 12 universidades federais rejeitam proposta do governo Consequência: Greve fará ano letivo nas federais avançar até o início de 2013 Além disso, o governo não acenou com nenhum projeto de lei que garanta minimamente que os reajustes, mesmo não sendo os sonhados pelos professores, sejam garantidos nos próximos anos. A progressão de níveis nas carreiras não apresenta nenhuma lógica. Em alguns lugares da “tabela”, 24 meses de trabalho oferecem 1,5% de aumento na carreira, em outros 9%, e a salada de porcentagens sem conexão é continua. O mesmo acontece para os professores que adquirirem aperfeiçoamento, especialização, pós, mestrado ou doutorado. A “subida nos degraus da carreira” não apresenta nenhuma lógica, nem mesmo a do tempo de serviço ou da relação com aperfeiçoamento e especialização do professor. É essa falta de lógica que alguns sindicatos estão chamando de desestruturação da carreira, em que não fica claro ao professor como vai ser sua história profissional e como serão seus vencimentos, já que parte deles não é contabilizado como salário. No caso do professor titular doutor, por exemplo, somente 40% do valor divulgado é salário, o resto é um monte de linhas no contra-chegue com dezenas de gratificações que podem, inclusive, ser extintas a qualquer momento. Uma parte da categoria, ainda, descontada a inflação, receberá menos em 2015 do que atualmente. Mesmo diante dessa grave situação, que faz com que seja cada vez mais difícil atrair melhores talentos para a educação, o governo não concentra o debate na proposta, mas desvia seu foco para pressionar pelo fim da greve com uma estratégia que envolve várias ações paralelas. Primeiro, como já vinha fazendo desde a primeira proposta, coloca sociedade contra professores, divulgando números absolutos de vencimentos em 2015, sem considerar a corrosão da inflação e destacando os maiores salários. Segundo, aumenta a distância - e os conflitos brancos - entre professores que ganham mais e que os que ganham menos nas universidades. Os mais bem remunerados, em geral, têm mais status nas universidades, inclusive para decisões simples como atribuições de aulas, são os menos prejudicados e passarão a ter algum aumento real. Os que ganham menos poderão diminuir seus vencimentos e certamente serão os mais prejudicados no caso, por exemplo, de terem que cumprir 12 horas em sala de aula. E, por fim, o governo conta com a divisão dos grevistas e incentiva uma disputa sindical em meio à greve. Após a última reunião, o menor sindicato, que representa seis universidades federais e um instituto, deu entrevistas com posição favorável à proposta imediatamente. Além disso, em alguns Estados, este sindicato iniciou um tipo de assembleia virtual, em que professores contrários à greve e de universidades filiadas a outros sindicatos, podem se manifestar. O site deste sindicato (o PROIFES), inclusive, anuncia que, para o governo, basta uma associação representativa aceitar a proposta para que a negociação seja interrompida. A análise aqui não se trata de concluir se é mais democrático ou não o voto pela internet. O que importa é que o governo achou um caminho para desgastar os grevistas, colocar os professores em debate e contradição, desviar o foco das reivindicações, e fazer parecer que as lutas dos alunos (como as melhorias nos novos câmpus e universidades) devem ficar em segundo plano. O governo conseguiu fazer parecer que “levou essa”, deixando a conta para os professores que queriam melhorar suas condições de trabalho e seus salários. Todos esses indícios me levam a prever que, na quarta à noite, quando ocorre a próxima reunião com o comando de greve, o governo dará a negociação por encerrada, mesmo com a maior parte dos sindicatos contrários à proposta, criará um monte de grupos de trabalho para impor suas vontades e deixará quem não concorda com a oferta gritando, à vontade, até o dia 31 de agosto, último dia de fechamento do orçamento. Até lá, a greve vai se esvaziando e, então, as aulas irão retomar a normalidade após 100 dias de greve e poucas conquistas. O Andes e seus representados dificilmente conseguirão escapar dessa armadilha e, salvo consigam implantar uma boa estratégia rapidamente, amargarão o fim das negociações, o que significará o prenúncio de uma nova greve nas federais nos próximos anos. Mateus Prado Educador analisa o Enem, os vestibulares e o ensino brasileiro