Sargão de Akkad o modelo imperial na Mesopotâmia Período Dinástico Antigo Dinastia de Akkad (ca. 2334-2154 a.C.) Sargão (ca. 2334-2279 a.C.) Rimuš Maništušu Naram-Sîn Šar-kali-šarri Acádico šarru-kînu “Rei Legítimo”, “Verdadeiro” Hebraico: ס ְַרגוֹן, Sargon (Isaías 20, 1) = Adaptação portuguesa: Sargão As origens: A Lenda de Sargão • Nasce em Azupiranu, nas margens do Eufrates. A mãe, uma sacerdotisa entu; o pai, não o conhece. Os “irmãos” do seu pai são das montanhas. • Abandonado pela mãe: colocado a vogar no Eufrates, dentro de um cesto. • Acolhido por um “jardineiro” chamado Aqqi. • Torna-se oficial na corte de Ur-Zababa, rei de Kish. • Sonho profético: Inanna/Ishtar conceder-lhe-ia a realeza. • Usurpa o trono a Ur-Zababa e torna-se rei de Kish. • Funda a cidade de Akkad (Agade). As conquistas • Vence Lugalzagesi, rei de Uruk, ensi de Umma e hegemon da Suméria, unificando a Baixa Mesopotâmia. • Controlo de rotas comerciais no Golfo Pérsico: «amarrou ao cais de Akkad» os barcos de Tilmun, Magan e Meluḫḫa; • Expansão para a Síria: Tuttul, Mari, Iarmuti e Ebla, a ele «concedidas» pelo deus Dagan; • Expedição militar contra o Elam. Lugalzagesi «Quando o deus Enlil, rei de todas as terras, deu a Lugalzagesi a realeza sobre o país (LUGAL KALAM.MA), dirigiu todos os olhos do país em obediência na sua direcção, prostrou todas as terras ao seus pés e, do Nascente ao Poente, submeteu-as a ele. Do Mar Inferior, ao longo do Tigre e do Eufrates, até ao Mar Superior, ele [o deus Enlil] colocou as suas estradas em boa ordem para ele [Lugalzagesi].» D. Frayne, Presargonic Period, RIME 1, E1.14.20.1, pp. 433-437 Intendente de Ištar; Sacerdote ungido do deus Enlil ENSI den-lil Governador de Enlil LUGAL a-ka-de.KI LUGAL KALAM.MA Rei de Akkad Senhor do País (Suméria) Domínio: “do Mar Inferior ao Mar Superior” LUGAL KIŠ Rei da “Totalidade” do mundo (kiššatum) Naram-Sîn: neto de Sargão šar kibratim arbaim Rei das “quatro regiões” šarrum dannum Rei forte «Enḫeduanna... sacerdotisa de Nanna, esposa de Nanna, filha de Sargão (šar-ru-ki-in)» UET 1, n.º 23, p. 5 “Disco” de Enḫeduanna, templo de Nanna/Sin em Ur. The University Museum, Philadelphia. Susa. Musée du Louvre, Paris Sb 2/6053 “Estela dos Abutres” (rev.) Eannatum de Lagash ca. 2450 a.C. Šar-ru.GIN LUGAL «Sargão, o rei.» Susa. Musée du Louvre, Paris Sb 1 (detalhe) Amiet, L’Art d’Agadé au Musée du Louvre, 1976. «Sargão, rei do mundo (KIŠ = a “Totalidade”), foi vitorioso em 34 batalhas. Ele destruiu as suas muralhas [de cidades inimigas] tão longe como as margens do mar. [...] 5 400 soldados comem diariamente na presença de Sargão, o rei a quem Enlil não deu rival. Cópias de inscrições originais, p. ex., do templo A quem destruir esta inscrição: que o deus Anum destrua o seu denome. EnlilQue em Nippur (período o deus Enlil extinga a suapaleobabilónico) descendência. Que a deusa Inanna destrua a sua prole.» Cólofon a) «Inscrição na base.» b) «Inscrição numa estela. A sua base não tem inscrição.» D. Frayne, Sargonic and Gutian Periods, RIME 2, E.2.1.1.11, pp. 28-29 Lenda de Sargão • The Sumerian Sargon Legend (Cooper e Heimpel 1983). Texto em Sumério, período Ur III ou paleo-babilónico (c. 1800-1700 a.C.). Proveniente de Uruk. • Birth Legend of Sargon (Westenholz 1997). Texto em Acádico; 4 versões, do período neoassírio (Nínive) e do período neo-babilónico (Dilbat?) (sécs. VIII-VII a.C.) O Rei da Batalha (šar tamḫarim) • Versão acádica de el-Amarna (c. 1350 a.C.), Egipto. 2 manuscritos. • Versão em Hitita, proveniente de Boğazköy (c. 1300-1200 a.C.). 6 manuscritos. • Versão neo-assíria, de Assur e Nínive, 2 manuscritos (c. 850-600 a.C.). Crónicas do I milénio a.C. Crónica do Esagila (ou Crónica Weidner) Sete cópias: Aššur, Uruk e Sippar. Periodo neoassirio e neo-babilonico (séculos VIII-VI a.C. Crónica dos Reis Antigos. Dois manuscritos do periodo Neo-Babilónico tardio (século VI a.C.) História de Nabónides (556–539 a.C.) Periodo Selêucida ou Parto (séculos IV-III a.C.) “Geografia do império de Sargão” Wayne Horowitz, Mesopotamian Cosmic Geography, 1998, pp. 67-95. Documento do período neo-assírio, do reinado de Sargão II (722-705 a.C.) Mistura topónimos de toda a história da Mesopotâmia (p. ex.: Mari, Ebla; Kaptara Chipre). Akkad: modelo de “império universal” para a construção do império neo-assírio. «Ur-Zababa ordenou a Sargão que alterasse as libações de vinho para o Esagila. Mas Sargão não as alterou. (Por isso) Marduk (...) olhou-o com bons olhos e concedeu-lhe a soberania sobre as ‘Quatro Regiões’(šarrut kibrat arba’i iddin-šu)” (Sargão) tomou conta do Esagila. Todos aqueles que viviam em palácios entregaram o seu tributo à Babilónia.» Crónica Weidner, ls. 46-48. «Mas ele [Sargão] esqueceu-se das palavras que Bēl [Marduk] lhe disse. Ele transportou terra [da Babilónia] e construiu uma cidade diante de Akkad, chamando-a de ‘Babilónia’. Por causa deste sacrilégio, Enlil alterou a sua decisão e, do Oriente ao Ocidente, eclodiu uma revolta contra ele; (Sargão) foi afligido pela inquietude.» Jean-Jacques Glassner, Mesopotamian Chronicles, 2004 no. 38, ls. 56-61, pp. 266-267. • Fonte de legitimidade ancestral História de Nabónides O último rei babilónico, Nabónides (555–539 a.C.) encontra inscrições de Naram-Sîn e uma estátua mutilada de Sargão no templo de Šamaš em Sippar. Nabónides ordena que a estátua fosse reparada e oferece libações, em respeito ao fundador de Akkad. • Referência para o comportamento dos soberanos “Se o fígado for como uma esponja(?) – é um presságio de Sargão, que não tinha igual.” “Se a vesícula, como as hastes (?) de uma coroa, formar pontes(?) – é um presságio de Sargão, que dominou o mundo.” Período paleo-babilónico Goetze, JCS 1/3 (1947), p. 255. Akkad • Campanhas militares regulares ou ocupação territorial efectiva? • Regularização dos fluxos comerciais: os rios unem o Norte (Anatólia, Síria, etc.) ao Sul (Magan, Meluhha, etc.). A Mesopotâmia é um centro e “plataforma de rotação”. • “Império de Akkad”: construção da memória do passado no Próximo Oriente. • Acentua a natureza carismática do poder, através da heroicização do rei e das suas qualidades individuais; • Ênfase na actividade militar; • Programa monumental “propagandístico”? Ex.: Estela da Vitória de Naram-Sîn; • Génese da cultura escrita Acádica. «Assim, qualquer rei que me queira igualar – que onde eu fui, também ele vá!» O Rei da Batalha, in B. Foster, Before the Muses, p. 104. • Sargão empresta a sua natureza paradigmática ao próprio império de Akkad. • Tanto o império como a sua figura tornam-se modelos a ser imitados. • Transformou-se num elemento fundamental da construção da memória acerca do passado Mesopotâmia. • Horizonte de poder “universal” http://azupiranu.wordpress.com