1. Introdução A maior parte de toda energia consumida no mundo provém do petróleo, do carvão e do gás natural. Essas fontes são limitadas e com previsão de esgotamento futuro, sendo de grande importância a busca por fontes alternativas de energia. Neste sentido, os óleos vegetais, produtos naturais constituídos por uma mistura de ésteres derivados do glicerol (triacilgliceróis ou triglicerídios) com ácidos graxos contendo cadeias de 8 a 24 átomos de carbono com diferentes graus de insaturação, aparecem como alternativa para substituição do óleo diesel em motores de ignição por compressão, sendo seu uso testado desde fins do século XIX, produzindo resultados satisfatórios no próprio motor diesel. Essa possibilidade de emprego de combustíveis de origem agrícola em motores do ciclo diesel é bastante atrativa tendo em vista o aspecto ambiental, por serem uma fonte renovável de energia e pelo fato de seu desenvolvimento permitir a redução da dependência da importação do petróleo. (FERRARI et al, 2005) Há constatações de que a aplicação direta de óleos vegetais nos motores é limitada por algumas propriedades físicas , principalmente sua alta viscosidade, baixa volatilidade e instabilidade, associada a seu caráter poliinsaturado, que acarretam alguns problemas nos motores, além de uma combustão imcompleta. Dessa forma, diversas alternativas têm sido consideradas com o objetivo de reduzir a viscosidade desses óleos, tais como diluição, microemulsão e reação de transesterificação com etanol ou metanol e mesmo o craqueamento catalítico. Entre estas, a melhor opção tem sido a transesterificação, pois seu processo é relativamente simples e promove a obtenção do chamado biodiesel, combustível com propriedades similares às do óleo diesel. (FERRARI et al, 2005) 1 O biodiesel apresenta algumas características que representam vantagem sobre os combustíveis derivados do petróleo, tais como, ser virtualmente livre de enxofre e aromáticos, ter alto índice de cetano, possuir teor médio de oxigênio em torno de 11%, maior viscosidade e ponto de fulgor que o diesel convencional (NETO et al, 2000). Além disso, ele possui caráter não tóxico e é biodegradável. Devido a sua enorme contribuição ao meio ambiente, com a redução quantitativa e qualitativa da poluição ambiental, sua utilização tem apresentado um potencial promissor, levando vários países a investir significativamente na produção e viabilização comercial deste combustível através de unidades de produção com diferentes capacidades, distribuídas particularmente na Europa (França, Áustria, Alemanha, Bélgica, Reino Unido, Itália, Holanda, Finlândia e Suécia), na América do Norte (Estados Unidos) e na Ásia (Japão). Pode-se dizer, também, que para o Brasil esta é uma tecnologia bastante adequada, devido à disponibilidade de óleos vegetais e de álcool etílico derivado da cana-de-açúcar. (FERRARI et al, 2005) O Brasil consome em média 35 milhões de t/ano de óleo diesel. Assim, a ampliação deste mercado tornaria expressiva a economia de petróleo importado, podendo ser minimizado o déficit de nossa balança de pagamentos (FERRARI et al, 2005). Além disso, a reação de transesterificação de óleos vegetais e gordura animal resulta como subproduto o glicerol, numa proporção de 10m3 para cada 90m3 de biodiesel produzidos. Com o uso crescente do biodiesel, adicionado ao óleo diesel convencional, obedecendo aos percentuais já definidos pelo Governo Federal, haverá uma grande disponibilidade de glicerol no mercado brasileiro. Estima-se que com a introdução do B2 (mistura com 98% de diesel e 2% de biodiesel) haverá um excedente de glicerol da ordem de 80 mil ton/ano, muito além da produção atual, na faixa de 30 mil ton/ano. Dessa forma, o aproveitamento do excedente deste subproduto, tanto no Brasil, como nos demais países envolvidos com a produção do biodiesel, torna-se um aspecto importantíssimo na 2 viabilização deste processo, pois atualmente, o maior consumo do glicerol está restrito às indústrias de cosméticos e fármacos. Assim, a proposta deste trabalho é a síntese de derivados do glicerol, com potencial uso como aditivos oxigenados, capazes de aumentar a octanagem de combustíveis como a gasolina, o óleo diesel e a mistura B2. Como curiosidade, pode-se dizer que o mercado Norte Americano pode ser uma grande opção para a introdução deste excesso de glicerol, pois devido a questões ambientais e de saúde da população, a utilização do MTBE (metil-t-butil éter) como aditivo oxigenado para a gasolina vem sendo drasticamente reduzida nos Estados Unidos, abrindo mercado para a introdução de novos compostos oxigenados que atendam a este fim. 3 2. Revisão bibliográfica 2.1. Produção de Biodiesel O futuro esgotamento dos combustíveis fósseis vem incentivando o desenvolvimento de possíveis substitutos para os derivados do petróleo, resultando na produção de um combustível alternativo chamado “biodiesel”. O conceito de biodiesel ainda está em discussão. Algumas definições consideram-no como qualquer mistura de óleos vegetais e óleo diesel fóssil, enquanto outras o definem como misturas de alquil ésteres provenientes de óleos vegetais ou gorduras animais e diesel. A definição adotada pelo Programa Brasileiro de Biodiesel é “um combustível obtido por misturas, em diferentes proporções, compostas por diesel fóssil e alquil ésteres derivados de óleos vegetais ou gorduras animais”. Tecnicamente falando, o biodiesel seria um alquil éster de ácidos graxos, produzido a partir da transesterificação de óleos ou gorduras, de plantas ou animais, com álcoois de cadeia curta como o metanol e o etanol. (PINTO et al, 2005) Existe uma variedade de possibilidades para o óleo vegetal a ser utilizado na obtenção do biodiesel. A geografia, o clima e a economia determinam o óleo de maior interesse para uso potencial nos biocombustíveis. Os Estados Unidos, por exemplo, utilizam o óleo de soja como matéria-prima primordial, já nos países tropicais e na Malásia a preferência é o óleo de palma. (FERRARI et al, 2005) Os óleos vegetais mais comuns, cujas matérias-prima são abundantes no Brasil, são o de soja, amendoim, algodão, milho, babaçu e palma. A soja dispõe de uma oferta muito grande do óleo, pois quase 90% da produção de óleo em nosso país provêm dessa leguminosa. (FERRARI et al, 2005) 4 O álcool mais utilizado no mundo inteiro é o metanol. Porém, no Brasil, o etanol proveniente da cana-de-açúcar é uma fonte em potencial, por ser produzido em larga escala para ser misturado à gasolina, num processo totalmente independente do petróleo. Além disso, não é tóxico. (FERRARI et al, 2005) Para a preparação do biodiesel é preferível a reação de transesterificação à esterificação direta de ácidos graxos, pois os triglicerídeos são mais disponíveis do que os ácidos graxos livres. Assim, o biodiesel é produzido pela transesterificação de triglicerídeos com álcoois de cadeia curta na presença de um catalisador apropriado. RCOO CH2 RCOO CH RCOO CH2 H2COH + 3 R'OH catalisador 3RCOOR' + HCOH H2COH Figura 1. Reação de transesterificação do triglicerídeo A estequiometria requer 3 mol de álcool e 1 mol do triglicerídeo para produzir 3 mol de ésteres de ácidos graxos e 1 mol de glicerol como subproduto. O processo total é uma seqüência de três reações reversíveis consecutivas, onde diglicerídeo e monoglicerídeo são produtos intermediários. (PINTO et al, 2005) Para a reação de transesterificação podem ser utilizados catalisadores ácidos ou básicos, em um processo catalítico homogêneo ou heterogêneo. A reação de síntese, geralmente empregada a nível industrial, utiliza uma razão molar óleo:álcool de 1:6 na presença de 0,4% de hidróxido de sódio ou potássio (catalisadores), porque o meio básico apresenta melhor 5 rendimento e seletividade, além de menor tempo de reação do que o meio ácido. (NETO et al, 2000) Devido ao caráter reversível da reação, deve-se usar um excesso de agente transesterificante (álcool primário) Este procedimento aumenta o rendimento de alquil ésteres e permite a formação de uma fase separada de glicerol. Além disso, para a obtenção de uma transesterificação satisfatória, os óleos devem possuir baixo teor de ácidos graxos livres, pois estes podem reagir com o catalisador alcalino durante o processo, formando produtos saponificados. (FERRARI et al, 2005) O biodiesel tem preço de mercado relativamente superior ao diesel comercial, entretanto, se o processo de recuperação e aproveitamento de seus subprodutos (glicerol e catalisador) for otimizado, sua produção pode ser obtida a um custo competitivo com o diesel, ou seja, aquele verificado nas bombas dos postos de abastecimento. (NETO et al, 2000) 2.2. Aplicações de derivados do glicerol O glicerol é um composto cujos derivados são de grande aplicação para diversas indústrias, sendo a maior parte de seu consumo associada a cosméticos e fármacos. A introdução do biodiesel na indústria do petróleo trouxe para o mercado internacional uma considerável queda no preço deste composto. Em 1995 o preço deste coproduto era de US $ 1,55 o Kg, enquanto que atualmente está entre US $ 0,5 e US $ 1,0 o Kg.. Assim, é de extrema importância o desenvolvimento de novas aplicações para o aproveitamento deste coproduto. 6 O gráfico a seguir mostra o mercado mundial para este coproduto da produção do biodiesel. Papel 1% Outros10 % É steres 13% Revenda 14% Poliglicerina 12% Tabaco 3% Filmes de Celulose 5% Alimentos/bebidas 8% Cosmet./Saboaria/ Fá rmacos 28 % Resinas Alquí dicas 6% Figura 2. Mercado mundial do glicerol Na área petroquímica e de química fina podemos destacar alguns produtos, descritos a seguir. O carbonato de glicerol, por exemplo pode ser preparado a partir de seu tratamento com uréia. Além deste derivado ser um solvente não tóxico utilizado como emulsificante para cosméticos, é um monômero no preparo de poliésteres e intermediário no preparo de surfactantes e lubrificantes. A acroléina, intermediário chave para inúmeras reações, possivelmente foi descoberta durante o processamento de purificação do glicerol. Isto porque a partir de 180oC este composto é termicamente convertido em acroleína. O poliglicerol linear pode ser preparado em batelada a partir de glicerol e Ca(OH)2 como catalisador. Este derivado, mais biodegradável e mais solúvel que o poliglicerol cíclico, é utilizado como aditivo para cosméticos e alimentos. 7 O 1,3-propanodiol pode ser preparado a partir do glicerol bruto direto do processo de produção de biodiesel, diluído em meio aquoso para 10 a 15%, por rota microbiológica, utilizando-se o Clostridium Butiricum. Pode ser também obtido via desidratação do glicerol a acroleína, seguida de mono-hidratação a 3-hidroxipropionaldeido e hidrogenação desse ao diol. Além da corrente aplicação de aditivos oxigenados como o MTBE (metil-t-butil-éter), o ETBE (etil-t-butil-éter) e o TAME (metil-t-amil-éter) na gasolina, a utilização de oxigenados nos combustíveis de diesel (diesel, biodiesel e suas misturas) tornou-se prioridade de acordo com as rigorosas leis para a redução da poluição atmosférica. (KLEPÁCOVA et al, 2005) As misturas de éteres t-butílicos contendo altas proporções de diéteres e, principalmente, triéteres são conhecidas há muito tempo como aditivos em potencial para os combustíveis de diesel, sendo capazes de reduzir emissões e materiais particulados. (KLEPÁCOVA et al, 2005) . Neste sentido, Klepácová et al (2005) estudou a eterificação do glicerol com isobutileno ou álcool tert-butílico, sem solvente, em fase líquida catalisada por duas resinas trocadoras de íons do tipo Amberlyst (A 15 e A 35). Além deste catalisador foram usadas zeólitas H – Y e H – Beta para efeitos de comparação de atividade. Todos os catalisadores foram testados nas temperaturas de 60 e 90oC. O rendimento mais alto para a produção de di e triéteres (88,7%) foi obtido pela utilização da resina A 35 à 60oC, diminuindo consideravelmente (49,5%) à 90oC. Com o objetivo de produzir compostos capazes de atuar como substitutos ou aditivos para os combustíveis de diesel, Hofmann (1986) estudou a transesterificação de glicerídeos e ácidos graxos livres (C9 – 24). Suas reações foram realizadas com excesso de álcoois (C1 – 4) a fim de produzir alquil ésteres (C1 – 4), utilizando Al2O3 e Fe2O3 como catalisadores. Foram transesterificados óleos como soja, palma, girassol e coco. 8 Gelosa et al (2003) investigou a síntese do triacetin a partir da esterificação do glicerol com ácido acético, utilizando cromatografia reativa em resina polimérica ácida. A síntese deste composto, muito usado como plastificante para filtros de cigarros, requer uma série de três esterificações, cada uma produzindo uma molécula de água. Como produtos intermediários temos o monoacetin e o diacetin, de acordo como seguinte esquema cinético: Glicerol + HOAc Monoacetin + H2O Monoacetin + HOAc Diacetin + H2O Diacetin + HOAc Triacetin + H2O O triacetin poderia ser, também, utilizado como aditivo, sobretudo em diesel ou mesmo querosene de aviação. 2.3. Síntese de Williamson A reação de alcóxidos metálicos com haletos primários e tosilatos para a formação de éteres por um mecanismo SN2 é um processo conhecido como síntese de Williamson. Descoberta em 1850, ela ainda consiste no melhor método de preparação de éteres, simétricos e assimétricos. . ..O.: + CH3 I THF com solvente Íon ciclopentóxido O + I _ Éter ciclopentílico e metílico Figura 3. Preparação de éteres 9 Os alcóxidos necessários para a reação de Williamson podem ser preparados pela reação de um álcool com sódio metálico. Uma reação ocorre entre o álcool e o sódio metálico, formando um sal de sódio do álcool. ROH + RO-Na+ Na + H2 Mecanisticamente, a síntese de Williamson envolve o deslocamento de um íon haleto por um íon alcóxido, normalmente via SN2. Os haletos de alquila primários e os tosilatos funcionam melhor, uma vez que pode haver a competição com a reação de eliminação E2, sobretudo em substratos mais impedidos. Os éteres assimétricos podem então ser preparados pela reação entre um íon alcóxido mais impedido e um haleto menos impedido e vice-versa. Por exemplo, o MTBE, uma substância usada como agente antidetonante da gasolina, é mais bem preparada pela reação do íon t-butóxido com o iodometano em vez da reação do íon metóxido com o 2-cloro-2metilpropano. Neste último caso, o haleto terciário não reage via SN2, ocorrendo preferencialmente eliminação. CH3 CH3 CH3 C . .O . .: CH3 _ I CH3 C O CH3 + I CH3 CH3 MTBE Íon terc-butílico Figura 4. Reação SN2 10 H . .CH3 .O.: + CH3 CH2 C CH3 Cl H2C + CH3OH C + Cl _ CH3 CH3 Íon metóxido 2-Metilpropeno 2-Cloro-2-metilpropano Figura 5. Reação E2 2.4. Esterificação de Fischer Os ésteres podem ser sintetizados por uma reação de substituição nucleofílica do grupamento acila de um ácido carboxílico com um álcool. Emil Fischer descobriu em 1895 que os ésteres podem ser formados pelo aquecimento de um ácido carboxílico em solução alcoólica, contendo uma pequena quantidade de um ácido forte, como o sulfúrico ou o clorídrico, como catalisador. A reação é reversível e, em geral, utiliza-se excesso do álcool e retirada da água formada, para o alcance de altos rendimentos do produto. O ácido forte protona o átomo de oxigênio do grupo carbonila, tornando o ácido carboxílico mais eletrofílico, tornando-o muito mais reativo e facilitando o ataque do álcool. A subseqüente perda de água do intermediário tetraédrico leva à formação do éster. 11 H H + : O: : O: .. :O C OH HO .. O+ R OH OH O C C R' .. O+ H R H HO H H H R R' C R C R OH R' Cl O C OR' + .. : OH2 O: R + H3O+ OR' H Figura 6. Mecanismo para a esterificação de Fischer Os rendimentos nesta reação são bons, mas a necessidade de usar um excesso de álcool líquido, como solvente, efetivamente limita o método para a síntese de ésteres de metila, etila, propila e butila. 2.5. Catalisadores de nióbio para a esterificação O pentóxido de nióbio hidratado (Nb2O5.nH2O), conhecido como ácido nióbico, possui elevada força ácida, correspondendo a 70% da força ácida do H2SO4 quando calcinado a temperaturas relativamente baixas (100 – 300oC). O Brasil é o maior produtor mundial de nióbio e o uso como catalisador vem crescendo enormemente nos últimos anos. (TANABE, 2003) 12 Segundo Chen et al (1984), este catalisador apresenta alta atividade catalítica (22 – 75% de conversão em uma hora) e 100% de seletividade para a esterificação do álcool etílico com ácido acético a 120 – 160oC, além de não sofrer alterações mesmo após 60 horas de uso. Neste caso, sua atividade catalítica é mais efetiva do que a de resinas trocadoras de cátions, SiO2 – Al2O3, HZSM-5, ZrO2 – (SO4)2-, TiO2 – (SO4)2- e Fe2O3 – (SO4)2-. Para a esterificação do ácido acrílico com metanol este catalisador mostra 95% de conversão, 100% de seletividade e estabilidade considerável. Dessa forma, ele aparece como candidato natural para reações de esterificação, sobretudo pelo aspecto ambiental. 13 3. Objetivo 3.1. Objetivo geral O objetivo principal deste projeto consiste em utilizar o glicerol como matéria-prima para a produção de éteres e ésteres, que poderiam ser testados como aditivos oxigenados para combustíveis como a gasolina, o diesel e a mistura B2 (diesel – biodiesel). 3.2. Objetivos específicos Como objetivos específicos pode-se destacar o desenvolvimento de processos para a síntese de derivados trimetilados, através de reações de alquilação do glicerol com iodeto de metila e sulfato de dimetila e derivados mono, di e triésteres, através de reações de acetilação com anidrido acético e com ácido acético na presença do catalisador Nb2O5.nH2O. 4. Materiais e métodos 14 4.1. Reagentes e catalisadores • Ácido acético - Merck • Ácido nióbico - Pré-ativado em mufla (200oC) por duas horas (CBMN) • Ácido sulfúrico - Vetec • Anidrido acético - Vetec • Glicerol - Pro Analysi • Hidróxido de potássio - Grupo Química • Hidróxido de sódio - Grupo Química • Iodeto de metila - Vetec • Sulfato de dimetila - Vetec • Sulfóxido de dimetila (DMSO) -Vetec 4.2. Análises As análises foram realizadas em um espectrômetro de massas quadrupolar, modelo 5973 Network da Agilent, com ionização por impacto de elétrons a 70 eV no modo SCAN. Este equipamento está acoplado a um cromatógrafo modelo 6850 da Agilent. As condições de análise utilizadas foram: coluna capilar 30 m x 320 µm HP-1, fase estacionária apolar com 0,25 µm de metil-silicone, hélio como gás de arraste e uma razão de divisão de 100:1. 15 A temperatura do injetor e da interface do detector foi de 250 ºC e a da fonte de 150 ºC. A programação da temperatura da coluna foi 60 – 250 ºC numa taxa de aquecimento de 10 ºC/min. 4.3. Procedimento experimental 4.3.1 Eterificações do glicerol 4.3.1.1. Trimetilação com iodeto de metila em excesso Colocou-se em um balão 60mL de DMSO e 20g (357 mmol) de KOH. Deixou-se a mistura sob agitação por 5 minutos. Adicionou-se 3g (30 mmol) de glicerol e em seguida 12mL (180 mmol) de iodeto de metila. Deixou-se o sistema em refluxo com banho de óleo à 90oC, aproximadamente, durante uma hora. Verteu-se a mistura para um béquer contendo 100mL de água destilada. Extraiu-se o produto com CH2Cl2 (3 x 20mL). As três frações orgânicas extraídas foram lavadas com água destilada (5 x 20mL). Evaporou-se o CH2Cl2 em rotaevaporador. 4.3.1.2. Trimetilação com iodeto de metila em proporção molar Colocou-se em um balão 6mL de água destilada e 5g (90 mmol) de KOH, deixando-se a mistura sob agitação até obter-se uma solução límpida e em seguida, adicionou-se 3g (30 mmol) de glicerol. Deixou-se a mistura sob agitação por 30 minutos e em seguida, adicionou-se 6mL (90 mmol) de iodeto de metila, mantendo-se o sistema em refluxo com banho de óleo à 90oC por 16 duas hora. Repetiu-se o mesmo procedimento alterando-se algumas variáveis do sistema (tabela 1). Tabela 1. Condições para a trimetilação do glicerol com CH3I em quantidade estequiométrica Reações Solvente (mL) Agitação (min) Tempo de reação (h) 1 6 30 2 2 3 30 4 3 3 150 6 4.3.1.3. Trimetilação com clorometano Colocou-se em um balão 5mL de água destilada e 5g (90 mmol) de KOH e deixou-se a mistura sob agitação até a solução ficar completamente límpida. Adicionou-se 3g (30 mmol) de glicerol e deixou-se a mistura sob agitação por 10 minutos para solubilização total do glicerol. Borbulhou-se 21mL de uma solução gasosa contendo 8% molar de clorometano em N2, deixando-se o sistema em refluxo por quatro horas. 4.3.1.4. Trimetilação com sulfato de dimetila e iodeto de metila Preparou-se uma solução com 4,5g (112 mmol) de NaOH e 4mL de água destilada. Em um balão, colocou-se 3g (30 mmol) de glicerol e adicionou-se a solução de NaOH preparada. Deixou-se a mistura sob agitação por 30 minutos. Em seguida, destilou-se a mistura para retirar o excesso de água formado. Adicionou-se o reagente e deixou-se o sistema em refluxo por algumas horas (tabela 2). Fechou-se o sistema para evitar perdas de reagente. Extraiuse o produto com CH2Cl2. 17 Tabela 2. Condições para a trimetilação do glicerol com CH3I e C2H6O4S Reagente Volume (mL) Tempo de reação (h) Temperatura do banho (oC) Sulfato dimetila Iodeto de metila 12 8 3 4 120 - 125 70 4.3.2 Esterificações do glicerol 4.3.2.1. Triacetilação com anidrido acético Em um balão, colocou-se 3g (30 mmol) de glicerol e 25mL (260 mmol) de anidrido acético gota a gota, para evitar um aumento brusco da temperatura. Após obter-se uma mistura homogênea deixando a mistura sob agitação, o sistema ficou em refluxo com banho de óleo à 130oC, por aproximadamente duas horas. Ao final da reação, destilou-se a mistura para remover o excesso de anidrido acético. Repetiu-se o mesmo procedimento, utilizando-se as condições da tabela 3. Tabela 3. Condições para a triacetilção com anidrido acético Glicerol (g) 3 3 Anidrido acético (mL) 25 11 18 4.3.2.2. Triacetilação com ácido acético Em um béquer colocou-se 5g (54 mmol) de glicerol e 9,5mL (166 mmol) de ácido acético, deixando-se a mistura sob agitação até solubilização total do glicerol. O sistema foi mantido em refluxo por seis horas, com a temperatura do banho de óleo entre 130-140oC. Foram retiradas alíquotas de 0,1mL do meio reacional de 30 em 30 minutos a fim de monitorar a cinética de formação dos produtos. Realizou-se outros experimentos com a utilização de dois catalisadores: H2SO4 e Nb2O5.nH2O. Nas mesmas condições acima, adicionou-se duas gotas do primeiro para uma reação e 1,25g do segundo para outra reação. 19 5. Resultados e discussão 5.1. Preparação de derivados metilados O objetivo da primeira reação de alquilação do glicerol era obter o derivado trimetilado (Figura 9). Assim, inicialmente reagiu-se o glicerol com KOH, para formação do alcóxido correspondente e depois com o agente alquilante, iodeto de metila. De acordo com este procedimento, para cada hidroxila do álcool que se desejava metilar, deveriam ser adicionados 2 equivalentes do iodeto de metila, garantindo assim um excesso do reagente. (JOHNSTONE & ROSE, 1979) Como pode ser visto no cromatograma apresentado na Figura 7, além do solvente, só foi detectado um único sinal correspondente ao 1,2,3-trimetóxipropano. Figura 7. Cromatograma da alquilação do glicerol com excesso de CH3I. 20 O espectro de massas do 1,2,3-trimetóxipropano mostrou fragmentações com m/z 45, 59 e 89 (Figura 8), compatíveis com o espectro de massas deste composto presente na base de dados do equipamento (Biblioteca Wiley). Abundance A Scan 333 (1.504 m in): 10001047.D 89 59 9000 8000 7000 45 6000 5000 102 4000 29 3000 2000 71 41 1000 75 36 0 20 25 30 35 79 55 40 45 50 55 94 85 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 m / z--> Abundance # 22846: Propane, 1,2,3-trim ethoxy- (CAS) $$ Glycerol trim e... 59 B 9000 8000 45 7000 89 6000 5000 4000 29 3000 102 2000 71 41 1000 33 0 20 25 30 37 35 40 51 45 50 75 55 55 85 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 m / z--> Figura 8. Espectro de massas do 1,2,3-trimetóxi propano A. Espectro do produto da reação com excesso de CH3I B. Espectro fornecido pela Biblioteca Wiley. Assim, pode-se dizer que o excesso de iodeto de metila garante conversão de 100% para o produto trimetilado. OH HO OCH3 OH + 3 CH3I H3CO OCH3 Figura 9. Alquilação com excesso de CH3I – Obtenção do produto 1,2,3-trimetóxi propano 21 Devido à toxicidade do DMSO, resolveu-se testar a água destilada como solvente para a trimetilação do glicerol. Desta vez, utilizou-se quantidades estequiométricas de KOH e CH3I em relação ao glicerol. Ou seja, para cada mol de glicerol foram usados três mol do reagente alquilante. A reação 1 (Tabela 1) apresentou cromatograma com picos relativos aos produtos di e tri metilados nas proporções de 44% e 56%, respectivamente (Figura 10). A análise do pico referente ao solvente mostrou a presença do reagente iodeto de metila. Esta conclusão deve-se a compatibilidade do espectro de massas obtido com o presente na base de dados do equipamento. Abundance TIC: 10001201.D 1.35 4800000 4600000 4400000 4200000 4000000 3800000 3600000 3400000 3200000 3000000 2800000 2600000 2400000 2200000 2000000 1800000 1600000 1400000 1200000 1000000 800000 600000 400000 1.79 1.89 200000 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.201.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.602.80 3.00 3.203.40 3.60 Tim e--> Figura 10. Cromatograma da alquilação do glicerol com CH3I em proporção molar. A reação do hidróxido com iodeto de metila, produzindo metanol, pode ter impedido a metilação do glicerol nas três posições. O sinal relativo ao produto dimetilado apresentou espectro de massas com íons de m/z 45 e m/z 75 (Figura 11). Comparando-se esse espectro com a base de dados do equipamento, constatou-se que o espectro é compatível com o do composto 1,3-dimetóxi-2-propanol. 22 Abundance A Scan 397 (1.794 min): 10001201.D 45 8000 6000 75 4000 2000 29 18 39 0 10 20 30 40 53 50 88 59 69 60 81 70 80 102 95 90 109 100 110 119 120 128 142 130 140 m/ z--> Abundance # 14731: 2-Propanol, 1,3-dimethoxy- (CAS) $$ 1,3-Dimethoxy-... 45 B 8000 6000 75 4000 2000 15 29 39 0 10 20 30 40 51 50 59 88 68 60 70 81 80 90 102 100 117 110 120 130 140 m/ z--> Figura 11. Espectro de massas do 1,3-dimetóxi-2-propanol A. Espectro do produto da reação com CH3I em proporção molar B. Espectro fornecido pela Biblioteca Wiley. O sinal relativo ao produto trimetilado apresentou espectro de massas com íons de m/z 45, 59 e 89. De acordo com a base de dados, estas são as principais fragmentações que aparecem no espectro do 1,2,3-trimetóxi-propano, podendo-se confirmar também a obtenção deste produto. A observação de que ainda havia iodeto de metila no meio reacional levou à conclusão de que o tempo de reação foi insuficiente e por isso o tempo de refluxo deveria ter sido maior, para consumo completo do CH3I, quando, provavelmente, ter-se-ia todas as hidroxilas do glicerol metiladas. OH HO OCH3 OH OH + 3 CH3I H3CO OCH3 + H3CO OCH3 Figura 12. Alquilação com CH3I em proporção molar – Obtenção dos produtos 1,3-dimetóxi-2-propanol e 1,2,3trimetóxi propano. 23 Assim, realizou-se a reação 2 (Tabela 2), onde foi feito o aquecimento do sistema desde a adição de KOH ao glicerol para favorecer a desprotonação de suas hidroxilas, pois este fator também poderia ter comprometido a conversão total do glicerol em seu derivado trimetilado. Aumentou-se também o tempo de refluxo para quatro horas. Desta vez, o cromatograma da reação não apresentou o sinal de iodeto de metila, mas a reação continuou fornecendo dois produtos, relativos a duas e três metilações (Figura 13). Figura 13. Cromatograma da alquilação do glicerol com CH3I em proporção molar com refluxo de 4 horas. Realizou-se, ainda, a reação 3 (Tabela 2), onde foram aumentados consideravelmente os tempos de reação entre KOH e glicerol e de refluxo. A análise cromatográfica apresentou o mesmo perfil do segundo experimento, o que confirmou a obtenção da mistura dos produtos di e trimetilados nas proporções de 37% e 63%, respectivamente. Realizou-se um experimento na tentativa de obter o produto trimetilado utilizando-se clorometano como agente alquilante. Porém, o cromatograma da reação apresentou além dos 24 picos referentes aos produtos di e trimetilados, vários outros picos que não foram objeto de identificação. O procedimento realizado para a trimetilação do glicerol utilizando-se sulfato dimetila como agente metilante sofreu algumas modificações. Segundo Koschii (2002), as hidroxilas deveriam ser desprotonadas por adição de NaOH e a água produzida por este processo deveria ser retirada através de uma destilação a vácuo. Analogamente, repetiu-se este procedimento utilizando-se também o iodeto de metila como agente metilante. Os resultados foram muito satisfatórios, pois o cromatograma da reação com sulfato de dimetila apresentou apenas dois picos (Figura 14). Figura 14. Cromatograma da alquilação do glicerol com C2H6O4S. O primeiro relativo ao sulfato de dimetila, adicionado em excesso para garantir a metilação em todas as posições, e o segundo relativo ao 1,2,3-trimetóxi propano. 25 OH OCH3 + HO OH C2H6O4S H3CO OCH3 Figura 15. Alquilação com sulfato de dimetila – Obtenção do produto 1,2,3-trimetóxi propano. Já com o iodeto de metila, obteve-se apenas um pico, referente ao produto trimetilado, caracterizado pelo seu espectro de massas (Figura 16). A ausência do iodeto de metila nos produtos da reação deve-se, provavelmente, à natureza muito volátil deste reagente. Mesmo em excesso, devem ter ocorrido perdas por evaporação. Nos dois casos obteve-se conversão de 100% para o produto trimetilado. Figura 16. Cromatograma da alquilação do glicerol com CH3I por procedimento análogo ao utilizado para o C2H6O4S. Estes resultados mostram que, para conseguir-se alto rendimento de produto trimetilado é preciso remover o excesso de água formada pela desprotonação do glicerol. As reações realizadas 26 sem a remoção da água levaram a mistura dos derivados di e trimetilado, mostrando a menor reatividade do sistema. 27 5.2. Preparação de produtos acetilados A primeira reação de acetilação do glicerol, com o objetivo de produzir seu derivado triacetilado foi realizada com grande excesso de anidrido acético, segundo o procedimento de Kawai (1926). O cromatograma desta reação apresentou tempos de retenção em 1,81 min e 13,61 min (Figura 17). Abundance TIC: 10001725.D 1.30 4800000 4600000 4400000 4200000 4000000 1.24 3800000 3600000 3400000 3200000 3000000 2800000 2600000 2400000 13.61 2200000 2000000 1800000 1600000 1400000 1200000 1000000 800000 600000 1.81 400000 200000 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.0011.0012.0013.0014.00 Tim e--> Figura 17. Cromatograma da esterificação do glicerol com excesso de anidrido acético O sinal em 1,81 min é referente ao ácido acético formado durante a reação. O sinal em 13,61 min diz respeito ao triacetin, produto triacetilado que se desejava obter. O espectro de massas deste composto apresentou fragmentações principais com m/z 43, 103, 145 (Figura 18). 28 Abundance A Scan 1575 (13.591 m in): 10001725.D 43 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 103 145 2000 116 1000 10 20 74 61 29 18 0 30 40 50 60 70 86 80 158 130 90 175 188 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 m / z--> Abundance # 102716: 1,2,3-Propanetriol, triacetate (CAS) $$ Triacetin... 43 9000 B 8000 7000 6000 5000 4000 3000 103 2000 145 116 1000 15 10 61 28 0 20 30 40 50 60 73 70 86 80 159 95 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 m / z--> Figura 18. Espectro de massas do triacetin A. Espectro do produto da reação com excesso de anidrido acético B. Espectro fornecido pela Biblioteca Wiley. Comparando-se o espectro de massas obtido com o presente na base de dados do equipamento, constatou-se a sua equivalência. Obteve-se 100% de conversão no produto triacetilado. O OH O + HO OAc AcO OH OAc + HOAc O Figura 19. Esterificação com excesso de anidrido acético – Obtenção do produto triacetin. O inconveniente do procedimento de Kawai (1926) para a reação de triacetilação do glicerol é a utilização de um excesso considerável de anidrido acético. Assim, com a destilação deste excesso presente no meio reacional ao final da reação, o produto sofreu degradação e passou a apresentar coloração escura. Dessa forma, repetiu-se o experimento utilizando-se apenas a quantidade estequiométrica do reagente necessária para acetilar as três hidroxilas do glicerol. 29 Esta alteração tornaria a destilação mais rápida, evitando um aquecimento prolongado do produto e conseqüentemente sua degradação. Porém, o cromatograma desta reação apresentou perfil completamente diferente da primeira triacetilação, com picos relativos aos compostos mono, di e triacetilados. Figura 20. Cromatograma da esterificação do glicerol com anidrido acético em proporção molar O primeiro pico apresentou espectro de massas com íons de m/z 43, 74 e 103 (Figura 21). Comparando-se com o espectro presente na base de dados, concluiu-se que tratava-se do composto monoacetilado (monoacetin). 30 Abundance A Scan 254 (2.257 min): 10001772.D 43 9000 8000 7000 6000 5000 4000 103 3000 2000 74 61 31 1000 18 0 10 86 55 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 m/ z--> Abundance #22717: 1,2,3-Propanetriol, 1-acetate (CAS) $$ 1-ACETOXY-2... 43 B 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 103 2000 1000 15 0 10 61 31 20 30 74 86 55 40 50 60 70 80 116 92 90 100 110 120 128134 130 140 m/ z--> Figura 21. Espectro de massas do monoacetin A. Espectro do produto da reação com excesso de anidrido acético B. Espectro fornecido pela Biblioteca Wiley. O segundo apresentou espectro de massas compatível com a estrutura do produto diacetilado como mostrado na Figura 22. Abundance A Scan 377 (3.312 m in): 10001772.D 43 9000 8000 7000 6000 5000 4000 103 3000 2000 86 1000 0 18 10 20 31 30 53 40 50 61 60 145 74 70 116 80 90 100 133 110 120 130 159 140 150 160 170 180 m / z--> Abundance # 60169: 1,2,3-Propanetriol, diacetate (CAS) $$ Diacetin $$... 43 9000 B 8000 7000 6000 5000 4000 3000 103 2000 1000 0 15 10 20 28 30 51 40 50 61 60 74 70 86 80 94 90 100 116 145 128 110 120 130 159 174 140 150 160 170 180 m / z--> Figura 22. Espectro de massas do diacetin A. Espectro do produto da reação com excesso de anidrido acético B. Espectro fornecido pela Biblioteca Wiley. 31 Observou-se ainda um terceiro pico, cujo espectro de massas apresentou o mesmo perfil do composto triacetilado e cujas fragmentações já foram citadas anteriormente. Logo, pôde-se concluir que para obtermos apenas o produto triacetin na triacetilação do glicerol com anidrido acético é realmente necessária a utilização de um excesso considerável deste reagente, pois a proporção estequiométrica não garante a conversão total. As proporções dos compostos monoacetin, diacetin e traicetin foram 4%, 53% e 43%, respectivamente. OH HO O OH HO OAc O OH + OH O OAc AcO OAc AcO OAc Figura 23. Esterificação com anidrido acético – Obtenção dos produtos monoacetin, diacetin e triacetin. Um outro procedimento desenvolvido a fim de obter o triacetin a partir do glicerol foi a sua reação com ácido acético na presença do catalisador ácido nióbico (pentóxido de nióbio hidratado). A escolha deste catalisador deve-se à sua alta atividade catalítica para a esterificação do ácido acético com etanol (Chen et al, 1984). Previamente, este experimento foi realizado na ausência de catalisador, para obter-se um branco da reação. Como os catalisadores usualmente utilizados para esta reação são os ácidos HCl e H2SO4, foi realizado também um procedimento utilizando o segundo ácido. Assim, a comparação dos dados obtidos possibilitaria a verificação da eficiência do ácido nióbico. 32 Todas as reações foram feitas com monitoramento cinético durante seis horas, retirandose alíquotas a cada 30 minutos. O cromatograma destas reações apresentaram o mesmo perfil, com quatro sinais, relativos ao glicerol e aos seus derivados mono, di e triacetilados, respectivamente (Figura 24). Figura 24. Cromatograma da esterificação com ácido acético em presença do ácido nióbico OH HO OH HO OAc O OH OH + AcO OAc OAc AcO OAc Figura 25. Esterificação com ácido acético na presenção de catalisador – Obtenção dos produtos monoacetin, diacetin e triacetin. 33 Os resultados obtidos para os três casos estudados forneceram a taxa de conversão do glicerol em seus derivados acetilados para os três casos estudados (Figuras 26, 27 e 28). Figura 26. Taxa de conversão do glicerol em seus derivados acetilados (branco). De acordo com a Figura 26, mesmo na ausência de catalisador ácido, observou-se que após 30 minutos de reação já havia sido formada grande proporção de monoacetin (em torno de 60%), diminuindo muito pouco ao longo das seis horas de refluxo. Não houve consumo total do glicerol, formando-se pouco diacetin (em torno de 30%) e uma proporção mínima de triacetin. 34 Figura 27. Taxa de conversão do glicerol em seus derivados acetilados (Catalisador – H2SO4). De acordo com a Figura 27, na presença de ácido sulfúrico observou-se grande formação de monoacetin (em torno de 50%) com apenas 30 minutos de reação, que não apresentou aumento significativo ao longo das seis horas de refluxo. Formou-se também, logo no início, o produto diacetilado (em torno de 30%), cuja proporção diminuiu ao longo da reação. O glicerol não foi totalmente consumido, além de ter sido obtida uma proporção muito baixa de triacetin, mas pode-se notar que a sua conversão nos primeiros 30 minutos de reação foi bem maior que no caso de não se usar catalisador (Figura 26). 35 100 Glicerol Monoacetin Diacetin Triacetin 80 % 60 40 20 0 0 50 100 150 200 250 300 Tempo (min) Figura 28. Taxa de conversão do glicerol em seus derivados acetilados (Catalisador – Ácido nióbico). De acordo com a Figura 28, com a utilização do ácido nióbico como catalisador, observou-se grande formação de monoacetin logo no ínicio da reação (em torno de 60%), que foi diminuindo com o tempo a medida que os produtos diacetin e triacetin começaram a ser formados. Ao final das seis horas de reação, obteve-se proporções muito próximas (entre 40 e 50%) para os produtos monoacetin e diacetin e uma proporção mínima de triacetin (em torno de 5%). Não houve consumo total do glicerol, mas assim como no caso do ácido sulfúrico, a conversão inicial foi maior que na situação sem catalisador. Dessa forma, pode-se concluir que a reação de esterificação do glicerol com ácido acético não apresenta alta conversão do glicerol em triacetin, formando, principalmente, os produtos mono e diacetilados. Com a utilização do H2SO4 como catalisador, observa-se ainda a formação de uma pequena proporção do triacetin após 30 minutos de reação, enquanto que nos outros dois 36 casos este produto precisa de um pouco mais de tempo para ser formado. A razão para isto é, provavelmente, a presença de água formada, que pode desativar o catalisador ou deslocar o equilíbrio da reação. 6. Conclusões 37 Para conversão total na preparação de derivados metilados a partir do glicerol, a água não deve ser usada como solvente, além de ser de extrema importância sua remoção do sistema após a ativação do glicerol. Este fato foi observado devido à obtenção de mistura de produtos di e trimetilados na presença deste solvente e a conversão total no produto trimetilado quando esta é removida. A conversão total no produto triacetilado a partir da reação do glicerol com anidrido acético só é garantida com excesso de reagente, visto que a quantidade estequiométrica produz derivados mono, di e triacetilados. A acetilação do glicerol com ácido acético tinha como objetivo a formação do produto triacetilado, porém observou-se conversão mínima neste derivado, produzindo proporções bem maiores de monoacetin e diacetin. Este resultado mostra que o método utilizado pode ser muito bem empregado quando se deseja a produção dos produtos mono e diacetilados. 7. Referências bibliográficas 38 CHEN, Z.; TIZUCA, T.; TANABE, K., Niobic acid as an efficient catalyst for vapor phase esterification of ethyl alcohol with acetic acid, Chemistry Letters, 1984, 1085. FERRARI, R. A.; OLIVEIRA, V. 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