_>>> Jornal Valor Econômico - CAD A - BRASIL - 7/11/2013 (21:11) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto A6 | Valor | Quinta-feira, 7 de novembro de 2013 Política Chegou a hora do Dilma recicla programas e investimentos equity crowdfunding? para lançar o PAC 3 na campanha Humberto Saccomandi U ma ambiciosa empresa criada nos EUA por um colombiano e uma decisão regulatória nos EUA podem abrir caminho para uma importante inovação no setor financeiro. O crowdfunding ameaça passar de apenas uma ferramenta para levantar fundos para pequenos projetos para o território inexplorado das altas finanças. Ainda é difícil dimensionar a escala desse fenômeno. Crowdfunding, ou financiamento coletivo, nasceu como um modo de financiar iniciativas ou projetos a partir de doações. É a popular vaquinha, mas agora organizada pela internet em plataformas cada vez mais sofisticadas. O presidente americano, Barack Obama, popularizou o crowdfunding ao recusar financiamento público para sua campanha eleitoral de 2008 e financiá-la em boa parte por meio de pequenas doações de seus eleitores, feitas a partir do site oficial. Essa é a modalidade de doação, hoje já comum para financiar projetos culturais e até necessidades pessoais, como uma cirurgia. Nela, não se espera nada em troca da doação. Mas existem outras modalidades. O crowdfunding pode ser ligado a uma recompensa. Eu ajudo a financiar um show ou uma peça de teatro e ganho ingressos quando o projeto se concretizar. Financiamento coletivo que visa lucro vem crescendo Nos últimos anos, surgiram pelo mundo centenas de empresas (as chamadas plataformas) especializadas em organizar essas vaquinhas. A mais conhecida é a americana Kickstarter. Elas já arrecadaram centenas de milhões de dólares para financiar dezenas de milhares de projetos. Uma das regras principais do financiamento coletivo é que, se o valor mínimo pedido para o projeto não é atingido, o financiamento não é concedido. Por exemplo, eu me comprometo com R$ 100 a um projeto que pede R$ 5 mil. Se esse valor total não for atingido com doações de outras pessoas, a minha doação não é efetivada, já que nesse caso o projeto não é viável. Vêm crescendo, porém, outras modalidades de crowdfunding, de investimento, que visam lucro. Uma delas é a de empréstimo, em troca de juros. Outra é a de equity, na qual o participante compra parte de uma empresa. Hoje já há centenas de plataformas especializadas nesse “investimento vaquinha”, destinado principalmente a financiar pequenas empresas e startups. Essas plataformas em geral se remuneram cobrando uma taxa, de 5% a 10%, sobre o valor arrecadado. Tudo é feito pela internet. A dimensão dessa atividade, porém, parece estar mudando. Este ano começaram em Bogotá, na Colômbia, as obras do maior edifício do país, o BD Bacatá, de 66 andares. A construção está sendo em boa parte financiada por cerca de 3.100 investidores que colocaram mais de US$ 170 milhões no negócio por meio da Prodigy Network, empresa de crowdfunding de Nova York, fundada pelo colombiano Rodrigo Niño. Essa foi a maior captação já realizada até hoje. No primeiro semestre do ano que vem, a SEC (a CVM americana) deve definir as regras para os investimentos via crowdfunding. Espera-se que isso tenha um efeito multiplicador nesse setor. “Hoje, apenas 4% da população americana são ‘accredited investors’, ou seja, estão autorizados a realizar investimentos. Os demais 96% estão fora desse mercado e dependem das instituições financeiras. Isso está para mudar com o crowdfunding”, diz o canadense Oscar A. Jofre, CEO da empresa canadense Boardsuite, que atua em 44 países no setor de suporte para empresas de crowdfunding. Ele prevê uma verdadeira revolução financeira e acha que logo investidores estarão deixando para trás os bancos e as financeiras de venture capital. Mas há muitos céticos quanto à capacidade de o crowdfunding se tornar relevante. Em artigo postado no ano passado no blog da “Harvard Business Review”, sugestivamente intitulado “O Caminho para o Inferno do Crowdfunding”, o americano Daniel Isenberg elenca os motivos pelos quais ele duvida que o financiamento coletivo vá decolar. Ex-investidor de risco e hoje professor da Columbia Business School, Isenberg diz, entre outras coisas, que realizar a devida “due diligence” (avaliação cuidadosa) de um negócio é muito caro e tornará inviável o equity crowdfunding. Ele argumenta ainda que comprar ações de uma empresa num estágio tão inicial é complexo demais para que possa haver um procedimento padrão utilizável para muitas empresas no investimento via internet. Por fim, diz ainda que a maior parte das pessoas, a massa (crowd, em inglês), não tem condições de avaliar um negócio sem a assistência de um investidor profissional e acabaria investindo mal. Jofre concorda que o custo de uma “due diligence” é proibitivo hoje para um pequeno negócio, mas diz que a avaliação pode ser, e está sendo, tornada standard para que a maior parte das informações seja fornecida e processada automaticamente. E ele rejeita a noção de que o pequeno investidor é menos preparado, citando alguns casos de sucesso rejeitados por profissionais e financiados pelo crowdfunding. Outro problema frequentemente citado é o risco de fraude. Há poucas avaliações a respeito, mas a Assob, principal plataforma de crowdfunding para investimento na Austrália, relatou ter financiado, desde 2007, 132 empresas, arrecadando mais de US$ 130 milhões, sem nenhum caso de fraude. Dessas empresas, 83% continuam em operação, um índice maior que o da média de todas as empresas. Jofre cita a vantagem da diluição de risco para o pequeno investidor. Em vez de ter de comprar, por exemplo, um apartamento, imobilizando muito capital num único investimento, ele pode comprar pequenas parcelas de vários prédios, como o BD Bacatá, de Bogotá . “Sempre haverá o risco de o negócio não dar certo, mas, se você tem um porta-fólio de investimentos, é provável que os que derem certo compensem os demais”, afirmou. O crowdfunding do prédio colombiano foi todo subscrito por investidores latino-americanos, já que a SEC proíbe hoje a captação nos EUA junto a investidores americanos não acreditados, aqueles 96%. Isso vai mudar no ano que vem, abrindo um mercado potencial de trilhões de dólares. Humberto Saccomandi é editor de Internacional. Escreve mensalmente às quintas-feiras E-mail [email protected] Raymundo Costa De Brasília A presidente Dilma Rousseff recolhe dados para a elaboração do PAC 3, a ser lançado em data ainda indefinida, mas a tempo de servir como um dos carros-chefes da campanha à reeleição. Dilma trata pessoalmente do que fazer no próximo ano e do programa do segundo mandato, independentemente das discussões no âmbito do PT do grupo que trata do projeto de reeleição da presidente da República, em 2014. Desde o início do ano existe a expectativa do lançamento de um PAC 3, que chegou a ser previsto para setembro último, com o anúncio de investimentos de R$ 500 bilhões em obras de infraestrutura, em três décadas. Em abril, falava-se que a nova versão do programa incluiria as concessões de dois aeroportos e a licitação do trem-bala. A construção do trem-bala foi adiada, a concessão dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG) sairá até o fim deste mês e o PAC 3 é apenas mais uma ideia na cabeça da presidente Dilma. Ela está pedindo sugestões a alguns ministros. O PAC 3 deve estabelecer um novo perfil em programas já existentes e prioridades para investimentos com os recursos atualmente disponíveis. Esse é o nó a ser desatado pela campanha de Dilma e de seus principais adversários, provavelmente o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Há consenso de que o caixa é curto e de que será preciso encontrar maneiras de se financiar o investimento necessário a que o país volte a crescer a taxas mais elevadas. De um modo geral, os partidos, na campanha eleitoral, devem referir-se à “reforma tributária”, evitando falar em “aumento de impostos”, o que é visto, especialmente no PT, como algo inevitável num segundo governo Dilma. Com o aumento da arrecadação seria possível a manutenção dos investimentos na área social, marca do partido em quase 11 anos de go- verno, e ainda sobrar dinheiro para tocar as obras de infraestrutura. Apesar do proclamado fim da polarização PT-PSDB, algo ainda por conferir, os partidos esperam menos denúncias e mais discussão de conteúdo na próxima eleição. Com a consolidação da estabilidade econômica e dos programas para a redução das desigualdades sociais, devem entrar na agenda as reformas estruturais (tributária, trabalhista, previdenciária e política) e da execução de políticas universais de educação, segurança pública e Saúde. É claro que as denúncias não vão desaparecer. O caso Siemens/Alstom, por exemplo, tem todos os ingredientes para fazer sucesso no horário eleitoral. ‘Lula vai tentar convencer Wagner’ RUY BARON/VALOR Cristian Klein De São Paulo Ele conta com o apoio do padrinho político que todos gostariam de ter no PT: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, em sua movimentação para ser candidato ao governo da Bahia, o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afirma que a benção do maior cabo eleitoral do país não é decisiva — pois o governador Jaques Wagner (PT) tem um nome preferido: o do secretário da Casa Civil Rui Costa. O que Lula tentará fazer é convencer Wagner de que ele, Gabrielli, seria a melhor opção. “O Lula tem claramente uma simpatia [pela candidatura], mas não vai se meter na eleição interna na Bahia, e a [presidente] Dilma também não vai. O Lula tem interesse, mas não vai entrar numa disputa aberta com Wagner, vai tentar convencê-lo”, afirma Sérgio Gabrielli, em entrevista exclusiva ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor. Assim como Rui Costa, Gabrielli também é secretário estadual de Jaques Wagner, na pasta de Planejamento. O petista afirma que a disputa interna pela indicação estaria bem dividida: dos quatro précandidatos, os três principais — ele, Costa e o senador Walter Pinheiro — teriam um terço das forças cada. O equilíbrio seria tanto que, diz o ex-presidente da Petrobras, a situação requer um processo delicado de convencimento em que não cabe o confronto em prévias ou o atropelo de um padrinho político — seja Lula, Wagner ou a presidente Dilma Rousseff. Gabrielli afirma que Lula não tem condições de emplacar seu nome na Bahia, como fez, por exemplo, no ano passado, com a indica- Gabrielli: “O Lula tem interesse [na candidatura], mas não vai entrar numa disputa aberta com [Jaques] Wagner” ção de Fernando Haddad para concorrer à prefeitura paulistana. Em primeiro lugar, porque a definição não dependeria apenas do ex-presidente que, mesmo em São Paulo, diz, “escolheu [Haddad], mas não escolheu também”. “Se não tivesse o apoio interno do partido não teria escolhido. O problema é esse, é ter que convencer”, afirma. Em segundo lugar, porque a Bahia é o quarto maior colégio eleitoral do país e tem um governador eleito e reeleito, o que daria a Wagner prerrogativas no processo sucessório. Gabrielli aponta que a Bahia é a única grande unidade da Federação governada pelo PT, além do Rio Grande do Sul, onde, ressalta, Dilma “também não está se metendo”, embora a presidente tenha feito carreira no Estado. O ex-presidente da Petrobras nega que lhe falte a simpatia de Dilma, em contraste com a prefe- rência de Lula. “Não acho que tenha nem uma coisa nem outra. Nem eu não tenho o [apoio] da Dilma, nem eu tenho o do Lula”, disse, para logo emendar que o ex-presidente “tem claramente uma simpatia” por sua candidatura. Gabrielli lembra que os quatro pré-candidatos — há ainda o exprefeito de Camaçari, Luiz Caetano — estão há seis meses se articulando. E que Lula, Dilma e Wagner são personagens importantíssimos na escolha, mas não são os únicos atores. “São dois nomes [Lula e Dilma] muito importantes, mas o PT é rebelde. O PT sempre foi rebelde. Os partidos aliados são importantes, a base do PT é importante”, afirma. A rebeldia do PT, no entanto, ao que parece não é a mesma. Uma reunião do diretório estadual para tratar do assunto está marcada para sábado, dia 30. Ela ocorrerá depois do Processo de Eleições Diretas (PED), pelo qual o PT renovará a direção de todas as suas instâncias, da nacional às zonais, no próximo domingo, 10. O favorito na Bahia é Everaldo Anunciação, atual secretário de Organização da legenda. Anunciação recebeu o apoio dos pré-candidatos ao garantir neutralidade na disputa entre eles. Com isso, cresce o peso do governador para desempatar o jogo a favor de seu preferido, Rui Costa. Gabrielli reconhece que Jaques Wagner tem um grande poder de barganha, uma vez que seu papel na reeleição de Dilma é estratégico. É o maior líder político no maior Estado governado pelo PT e localizado no Nordeste, onde Eduardo Campos (PSB), provável adversário de Dilma, tende a obter boa votação. A ideia é que uma larga vantagem na Bahia neutralize o desempenho de Campos em Pernambuco. Logo, desprestigiar Jaques Wagner não seria um bom negócio. Serra prevê alta de juros em 2014 Fernando Taquari De São Paulo Com um discurso crítico à política econômica do governo federal, o ex-governador José Serra (PSDB) disse ontem que exercer a Presidência não será tarefa fácil a partir do próximo mandato. Em palestra para a consultoria multidisciplinar GO Associados, realizada por teleconferência, o tucano mostrou pessimismo com os rumos da economia nacional. No entanto, fez questão de ressaltar que não é impossível tratar dos desarranjos. Serra tenta se viabilizar dentro e fora do partido para concorrer ao Palácio do Planalto. O tucano observou que os juros devem subir em 2014 para compensar a pressão nos preços na esteira da desvalorização cambial. “[O aumento dos juros] vai ultrapassar as previsões porque se desvalorizar o câmbio, sobe a inflação, o que não é bom para o governo em ano eleitoral”, afirmou. A associação entre alta dos juros e a eleição presidencial já tinha sido feita pelo o ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. “A inflação tem um efeito tremendo sobre resultados eleitorais. A tendência vai ser acelerar o aumento dos juros como forma de contenção da inflação”, declarou Gesner. Serra disse ainda que o cenário econômico piorou e que a partir de 2015 o presidente não terá como enfrentar a inflação apenas pela contenção de preços. “Ninguém imagina que os preços vão ficar congelados para sempre. O próximo governo não terá essa margem de manobra”, argumentou. O ex-governador afirmou que as perspectivas também são negativas em outras áreas. Como exemplo, citou o aumento no déficit em conta corrente, a expectativa de que queda no saldo da balança comercial e a expansão do gasto público sem qualidade, apenas para “políticas salariais expansionistas”. Além disso, ironizou a aposta do governo federal pelos modelos de concessão e partilha para ampliar os investimentos no país. “Os erros cometidos são material para curso. Isso deveria ser estudado nas escolas sobre como se investe mal, como não se sabe planejar nem investir no Brasil pelo menos na era petista”, afirmou o tucano Por fim, afirmou que o futuro presidente ficará com o “mico” de lidar com a atual política do Tesouro Nacional de créditos subsidiados à iniciativa privada. O estoque dos empréstimos, estimou, está em torno de R$ 400 bilhões. “Eu duvido que não haja uma boa parte desses créditos sem saúde, que não sejam bons créditos. Nós vamos ter problemas na hora deles serem saldados”. Candidatos no Rio já somam 21 denúncias Renata Batista Do Rio A um ano das eleições, a Procuradoria Regional Eleitoral no Rio de Janeiro já apresentou 21 denúncias contra os pré-candidatos das eleições do Estado. Dessas, sete já foram julgadas e consideradas procedentes. Os candidatos Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Anthony Garotinho (PR) são réus no maior número de processos, com seis cada um, seguidos por Lindbergh Faria (PT), com cinco. Outras quatro denúncias foram apresentadas contra políticos sem pretensões a cargos majoritários. Das sete acusações consideradas procedentes, cinco estavam diretamente relacionadas com a exposição na propaganda partidária e foram punidas com multa e cassação do direito de transmissão equivalente a cinco vezes o tempo da inserção considerada ilícita. Além disso, o pré-candidato Pezão foi multado em duas outras situações: participação excessiva em um programa de tevê comercial e utilização de telemarketing e site para fins eleitorais. As multas variam entre R$ 10 mil e R$ 225 mil. A denúncia mais recente foi apresentada contra o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o líder da igreja Assembleia de Deus Vitó- ria em Cristo Silas Malafaia. Os dois são acusados de terem tratado de questões eleitorais em um culto no dia 13 de outubro. De acordo com o Ministério Público Eleitoral, Malafaia teria feito referências diretas às pretensões eleitorais de Lindbergh na celebração. “Não vai ganhar o mundo todo e esquecer da família. Vai tentar ser governador, ser presidente, ser senador, se a família for a que primeira leva”, transcreve o MPE na denúncia.