FOTOS: LUÍS BARRA
SAIR / sete
Dom Carlos I Cristina Barradas mostra a túnica com faixas do azulejo de padrão estampilhado. Conhecido como travessão,
é da segunda metade do século XIX e encontra-se, por exemplo, na esquina da Av. D. Carlos I com a Calçada Marquês de Abrantes
Vestir Lisboa
A Tiled inspirou-se nos azulejos da capital e transformou em roupa alguns padrões
de revestimentos de prédios, dando força a um património esquecido TERESA CAMPOS
A
ndava Ana
Ventura pelas
ruas de Lisboa
à procura de
inspiração quando reparou
nos azulejos. Ilustradora,
42 anos, viu neles «uns
desenhos engraçados» e
pensou: «Podíamos despir
os prédios para vestir as
pessoas». Juntou as amigas
Cristina Barradas, 49 anos,
designer de moda, e Catarina Furtado, 39, consultora,
e assim nasceu a marca
Tiled, palavra inglesa para
«guarnecer de azulejos».
Até agora, criaram três
conjuntos: Santa Justa,
Dom Carlos I e Claustro,
com blusas, túnicas e
écharpes que revelam os
Claustro Catarina Furtado usa a blusa com um pormenor
do azulejo de faiança, da primeira metade do século XVII,
que se vê nos claustros do Museu Nacional do Azulejo
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30 DE OUTUBRO DE 2014
padrões gráficos de três
edifícios.
«No caso do Claustro,
trata-se de um detalhe do
espaço do Museu Nacional
do Azulejo», conta Catarina, com a blusa vestida,
revelando que aquela
instituição é uma das suas
parceiras, vendendo já a
roupa da marca. A Tiled
tem também um protocolo
com o Programa de Investigação e Salvaguarda do
Azulejo de Lisboa (PISAL),
da Câmara Municipal de
Lisboa, que lhe valida a
informação das etiquetas,
com uma fotografia e a
caracterização das peças.
«Adorámos a ideia, porque
esta arte identitária de
Portugal é um património
tantas vezes esquecido
pelo olhar quotidiano que
o vulgariza e lhe retira
importância», elogia
Teresa Bispo, do PISAL, ao
Santa Justa
A écharpe de
Ana Ventura
revela um
azulejo da
segunda metade
do século XIX
que terá sido
produzido
por uma das
fábricas de
Lisboa
mesmo tempo que mostra
o artigo recente do The
New York Times sobre os
12 patrimónios da Europa
a não perder – e lá está o
azulejo português, um
elemento que chegou às
fachadas dos nossos prédios no século XIX, como
sublinha a representante
do PISAL.
Ana, Cristina e Catarina fizeram a sua própria
interpretação dos padrões
e procuraram desenhar
peças intemporais e que
se podem usar ao longo
de todo o ano, em vez de
ficarem reduzidas a uma só
estação. Aos poucos, o projeto ganha asas e a Tiled já
conta voar além da capital.
Catarina insiste no Porto,
Ana já anda a namorar uns
padrões em Aveiro... «Será
lá mais para o final do ano»,
revela Cristina.
O entusiasmo tem sido
tanto que as três amigas
vão contagiando muitas
outras pessoas. «Olhem estes, meninas...», escreveu-lhes, numa mensagem, a
senhora da fábrica que lhes
confeciona as peças, «não
são lindos?»._
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