Relato de Caso Enucleação de ameloblastoma mandibular multicístico Multicystic enucleation of mandibular ameloblastoma Leonardo Perez Faverani1 Marcelo Rodrigues Azenha1 Lucas Cavalieri-Pereira1 Gustavo Grossi-Oliveira1 Cláudio Maldonado Pastori2 RESUMO ABSTRACT Ameloblastomas são tumores benignos, localmente invasivos e altamente recidivante. É um tumor odontogênico, caracterizado pela proliferação do epitélio ameloblástico em um estroma fibroso. O presente trabalho relata um caso de ameloblastoma mandibular, em que foi realizada a enucleação total com escarificação marginal e reconstrução por meio de placa e parafusos de titânio. Ameloblastomas are benign tumors with locally invasive characteristics and high recurrence episodes. It is an odontogenic tumor characterized by fibrous epithelium ameloblastic proliferation into the stromal tissue. This paper presents a case of mandibular ameloblastoma, enucleation and mandibular reconstruction with titanium plate and screws. Unitermos: Ameloblastoma. Tumores odontogênicos. Uniterms: Ameloblastoma. Odontogenic tumors. INTRODUÇÃO O ameloblastoma é um tumor odontogênico benigno, de origem epitelial sem ectomesênquima odontogênico, de crescimento lento1, representando cerca de 1% de todos os tumores da maxila e mandíbula2. Pode aparecer em qualquer idade, com predominância entre a terceira e quinta décadas de vida. Clinicamente, é expansivo e, em estágios avançados, pode ser doloroso, causar parestesia, infecção e fraturas patológicas3. Ao exame radiográfico, são encontradas lesões radiolúcidas multiloculares (86%), de limites bem definidos, que podem assemelhar-se à “bolhas de sabão” ou “favos de mel”, dependo do tamanho das lojas ósseas. Foi descrita uma variedade unicística, que revela aspecto unilocular4. Nesse contexto, a literatura descreve um terceiro tipo de ameloblastoma, o tipo periférico (extra-ósseo), em aproximadamente 1% dos casos. Várias modalidades de tratamento têm sido descritas, desde simples enucleação e curetagem, a amplas ressecções teciduais. Sendo assim, o prognóstico destas lesões na grande maioria é favorável, raramente com comportamento agressivo. quatro anos. Ao exame físico, observou-se tumor na região posterior direita da mandíbula, consistente. Ao exame radiográfico, foi observado lesão osteolítica, de aspecto multilocular, com aproximadamente 40mm no seu maior diâmetro (Figura 1). O plano de tratamento propôs a ressecção radical do tumor com reconstrução por meio de placa de Titânio. A incisão iniciou-se na linha mediana entre os elementos 31 e 41, estendendo-se até região de ramo mandibular direito. A lesão foi acessada e enucleada (Figura 2), além da extração dos elementos 45 e 46. Optou-se pela escarificação marginal e a reconstrução foi obtida por meio de placa e parafusos de titânio. Os controles pós-operatórios mostraram bom aspecto cicatricial das abordagens cirúrgicas, tanto nos aspectos clínicos quanto radiográficos (Figura 3) RELATO DO CASO Paciente do gênero feminino, 34 anos de idade, leucoderma, procurou o Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-MaxiloFacial do Hospital de Base – Associação Hospitalar de Bauru, apresentando como queixa principal um aumento de volume na mandíbula, assintomático, de crescimento lento há cerca de Figura 1 - Aspecto radiográfico pré-operatório 1) Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital de Base da Associação Hospitalar de Bauru e do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. 2) Doutor pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP. Docente do Curso de Especialização e Residência da APCD Regional de Bauru e da Associação Hospitalar de Bauru. Instituição: Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital de Base da Associação Hospitalar de Bauru Correspondência: Leonardo Perez Faverani, Rua Capitão João Antônio, 3-70 – 17015-410 Bauru, SP. E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Recebido em: 31/05/2007; aceito para publicação em: 28/09/2007; publicado on line em: 10/11/2007 240 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 36, nº 4, p. 240 -241, outubro / novembro / dezembro 2007 Figura 2 - Acesso e enucleação da lesão apresentar-se agressivo, de ocorrência mandibular e acometer uma paciente de 34 anos de idade. Apresenta-se clinicamente como uma lesão de crescimento lento e progressivo, consistente à palpação com sintomatologia mínima1-3. Foram observadas no caso as mesmas características clínicas citadas pelos autores, com abaulamento em mandíbula, apresentando evolução de aproximadamente quatro anos e ausência de quadros dolorosos. O tratamento varia desde a simples enucleação com curetagem, passando por ressecção ou escarificação marginal dependendo do tipo do tumor, seu tamanho e comportamento3-5. Nesse estudo foi sugerida a enucleação com curetagem e escarificação com broca cirúrgica diamantada, além da reconstrução por meio de placa e parafusos de titânio, com bom resultado. REFERÊNCIAS Figura 3 - Aspecto radiográfico pós-operatório DISCUSSÃO Cerca de 90% dos ameloblastomas atingem a mandíbula, em pacientes entre a terceira e quinta década de vida5. Esses dados corroboram com o presente caso, haja vista o mesmo 1. Curi MM, Dib LL, Pinto DS. Management of solid ameloblastoma of the jaws with liquid nitrogen spray cryosurgery. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 1997;84(4):339-44. 2. Gorlin RJ, Chaudhry AP, Pindborg JJ. Odontogenic tumors: Classification, histopathology clinical behavior in man and domesticated animals. Cancer. 1961;14: 73-101. 3. Adekeye EO, Lavery KM. Recurrent ameloblastoma of the maxillofacial region. Clinical features and treatment. J Maxillofac Surg. 1986;14(3):153-7. 4. Robinson L, Martinez MG. Unicystic ameloblastoma: a prognostically distinct entity. Cancer. 1977;40(5):2278-85. 5. Sassi LM, Ramos GHA, Calderari GT, Biazola ER, Freitas SEN, Oliveira BV. Ameloblastomas: análise de 43 casos / Ameloblastomas: analysis of 43 cases. BCI.2001; 8(31):244-50. 241