Capítulo 3 -Formas de Corrosão 3.1- Motivação todos os metais e ligas estão sujeitos a corrosão não há nenhum material que possa ser empregado em todas as aplicações. Exemplos 1) Ouro possui excelente resistência a ação da atmosfera, porém corroído se exposto ao mercúrio. 2)Ferro não é corroído por mercúrio, mas enferruja rapidamente em presença do ar atmosférico. 3.2- As diferentes formas (ou tipos de corrosão) Podem ser apresentados considerando-se a aparência ou forma de ataque, bem como as diferentes causas de corrosão e seus mecanismos. Assim, pode-se ter corrosão segundo: -a morfologia: uniforme, por placas, alveolar, puntiforme ou por pite, intergranular (ou intercristalina), intragranular (ou transgranular ou transcristalina), filiforme, por esfoliação, grafitica, desincificação, em torno do cordão de solda e empolamento de hidrogênio; -as causas ou mecanismos: por aeração diferencial, eletrolítica ou corrente de fuga, galvânica, associada a solicitação mecânica (corrosão sob tensão fraturante), em torno de cordão de solda, seletiva (grafítica e desincificação), empolamento ou fragilização por hidrogênio; -os fatores mecânicos: sob tensão, sob fadiga, por atrito, associada à erosão; -o meio corrosivo: atmosférica, pelo solo, induzida por microrganismos, pela água do mar, por sais fundidos, etc; -a localização do ataque: por pite, uniforme, intergranular, transgranular, etc; Figura 1- Representação esquemática das diferentes formas de corrosão Figura – Árvore de natal de lâmina rasa retirada após 20 anos submersa. 3.2.1- Corrosão uniforme É a corrosão que ocorre em toda a extensão da superfície, de modo a ocorrer perda uniforme de espessura (tornando-se mais fino, podendo eventualmente sofrer uma ruptura). Quando a corrosão se processa de modo aproximadamente uniforme em toda a superfície atacada. Esta forma é comum em metais que não formam películas protetoras, como resultado do ataque. Este tipo de corrosão ocorre em geral devido a micropilhas de ação local e é, provavelmente, o mais comum dos tipos de corrosão principalmente nos processos corrosivos de estruturas expostas à atmosfera e outros meios que tendo uma ação uniforme sobre a superfície metálica. Figura 2 - Corrosão Uniforme em Tubo Enterrado Figura 3 - Corrosão Generalizada em Rotor de Bomba Submersa *algumas vezes chamadas de corrosão generalizada, essa terminologia que não deve ser usada pois é possível por exemplo, ter pite ou alveolar generalizado, isso é em toda a peça. Ex.: Uma peça de aço ou zinco imersa em acido sulfúrico, geralmente dissolve a uma taxa uniforme sobre toda a superfície. Chapa de aço aquecida a altas temperaturas. Obs. O ataque uniforme representa a maior destruição do metal com base no peso. Não é problemático do ponto de vista técnico, a vida do equipamento ou estrutura pode ser prevista com base em testes comparativos. Esta corrosão pode classificar o material em três grupos: (I) taxa de corrosão menor que 0,1 mm/ano ou menor 5mpy. materiais são resistentes à corrosão e podem ser utilizados sem restrição. (II) taxa de corrosão entre 0,1 e 1,1 mm/ano. materiais podem ser utilizados onde uma certa corrosão é tolerável. (III) taxa de corrosão maior que 1,1 mm/ano. geralmente não são utilizados FIGURA - CORROSÃO UNIFORME LEVE FIGURA - CORROSÃO UNIFORME MÉDIA FIGURA 3 - CORROSÃO UNIFORME SEVERA 3.2.2- Corrosão em placas A corrosão localiza-se em regiões da superfície metálica e não em toda sua extensão, então se formam placas com escavações. Quando os produtos de corrosão formam-se em placas que se desprendem progressivamente. É comum em metais que formam película inicialmente protetora mas que, ao se tornarem espessas, fraturam e perdem aderência, expondo o metal a novo ataque. 3.2.3- Corrosão alveolar A corrosão ocorre na superfície metálica, produzindo sulcos ou escavações – semelhante a alvéolos (que apresentam fundo redondo e profundidade, em geral, menor que o seu diâmetro). Quando o desgaste provocado pela corrosão se dá sob forma localizada, com o aspecto de crateras. É freqüente em metais formadores de películas semi protetoras ou quando se tem corrosão sob depósito, como no caso da corrosão por aeração diferencial. Figura 4 - Corrosão Alveolar Generalizada em Tubo Figura 5 - Corrosão Alveolar Generalizada 3.2.4- Corrosão Galvânica Denomina-se corrosão galvânica o processo corrosivo resultante do contato elétrico de materiais diferentes ou dissimilares. Este tipo de corrosão será tão mais intensa quanto mais distantes forem os materiais na tabela de potenciais eletroquímicos, ou seja, em termos de nobreza no meio considerado. Outro aspecto importante é a presença de íons metálicos no eletrólito, quando estes íons forem de materiais mais catódicos que outros materiais onde venham haver contato, poderá ocorrer corrosão devido a redução dos íons do meio com a conseqüente oxidação do metal do equipamento ou instalação. Por exemplo, a presença de íons Cu++ em um eletrólito em contato com aço tenderá ocorrer a seguinte reação: Fe + Cu++ Fe2+ + Cu havendo portanto a corrosão do ferro e a redução (deposição) de Cu. A relação entre as áreas anódicas e catódicas exercem um significativo efeito A razão favorável e: AA 1,0 AC Figura 6 - Corrosão por Par Galvânico em Região de Mandrilhamento Feixe-Espelho Figura 7 - Corrosão por Par Galvânico em Feixe - Espelho de Permutador de Calor Figura 9 – Corrosão localizada em componente de árvore de natal devido à corrosão galvânica Procedimentos que podem diminuir o efeito da corrosão galvânica. 1) Selecionar materiais localizados o mais próximo possível na série galvânica. 2) Manter uma relação de área favorável. 3) Isolar completamente metais diferentes 4) Aplicações de recobrimentos protetores sobre o catódo. 5) Adição de inibidores, quando possível, para diminuir a agressividade do meio. 6) Prever no projeto facilidades para substituição das partes anódicas (ou usar maior espessura para aumentar a vida útil) 7) Instalar um 3o metal que seja anódico em relação aos 2 metais do contato galvânico (anodo de sacrifício). Figura-Equipamento subsea com alguns ânodos de sacrifício de alumínio em destaque. Figura - Desenho esquemático de um campo produtor offshore. 3.2.5- Corrosão por Pite é freqüente em metais formadores de películas protetoras, em geral passivas, que, sob a ação de certos agentes agressivos, são destruídas em pontos localizados, os quais tornam-se ativos, possibilitando uma corrosão muito intensa. quando o desgaste se dá de forma muito localizada e de alta intensidade, geralmente com profundidade maior que o diâmetro e bordos angulosos. Ex. comum é representado pelos aços inoxidáveis austeníticos em meios agressivos (Cl-, Br-, I-). Fatores que podem afetar a corrosão por pite 1-Adição de certos elementos de liga em aço inoxidáveis pode ter diferentes efeitos. 2-Turbulência no meio corrosivo. 3- Trabalho a frio. 4-Acabamento superficial. Tabela- Efeito da adição de elementos de liga na resistência ao pite dos aços inoxidáveis (D’Alkaine, 1998) Elemento Cr Ni Mo Si Ti e Nb S C N Efeito na resistência ao Pite (quando junto com o Mo) em FeCl,3 não afeta outros meios (principalmente quando sensitizados) Figura 8 - Corrosão por Pite em aço inox Figura 9- Corrosão por Pite 3.2.6- Corrosão em Frestas ou Crevice Corrosion Este tipo de corrosão é uma variação da corrosão puntiforme e se apresenta em uniões ou zonas em que a renovação do meio corrosivo só pode ser obtida por difusão (movimento de íons causado por um gradiente de concentração). ***Esta condição de não renovação do meio corrosivo (estagnação) pode ser obtida também quando se tem sedimentação ou quando se utilizam juntas de material absorvente ou poroso. ***De uma maneira geral este tipo de corrosão ocorre em frestas com espessura de poucos centésimos de milímetro ou menor. As frestas estão sujeitas a formação de pilhas de aeração diferencial e de concentração iônica diferencial Quando o meio é líquido ocorre preferencialmente as pilhas de concentração iônica diferencial e quando o meio é gasoso tende a ocorrer as pilhas de aeração diferencial. Frestas ocorrem normalmente: _em juntas soldadas com chapas sobrepostas; _em juntas rebitadas; _em ligações flangeadas; _em ligações roscadas e _em revestimentos com chapas aparafusadas. De qualquer forma as frestas deverão ser evitadas ou eliminadas por serem regiões preferenciais de corrosão Figura 10- Corrosão Por Fresta em Aço Inox Figura 11- Corrosão Por Fresta em Parafuso-Porca A seguir são citados alguns procedimentos para diminuir a corrosão em frestas: _usar soldas bem acabadas no lugar de rebites ou parafusos; _proteger equipamentos que permitam completa drenagem, evitando cantos vivos ou áreas estagnantes; _inspeção do equipamento e remoção de depósitos freqüentemente; _remoção de sólidos em suspensão _remoção de materiais que retenham umidade. 3.2.7- Corrosão por Esfoliação A corrosão por esfoliação ocorre em diferentes camadas e o produto de corrosão, formado entre a estrutura de graõs alongados, separa as camadas ocasionando um inchamento do material metálico. 3.2.8- Corrosão Filiforme A corrosão filiforme se processa sob a forma de finos filamentos, não profundos, que se propagam em diferentes direções e que não se cruzam,pois se admite que o produto de corrosão em estado coloidal, apresenta carga positiva, dai a repulsão. Ocorre geralmente em superfícies metálicas revestidas com filmes poliméricos, tintas ou metais ocosionando o deslocamento do revestimento. OBS 1-Acredita-se que a corrosão filiforme tenha um mecanismo semelhante à corrosão em frestas, devido a aeração diferencial provocada por defeito no filme de pintura, embora o mecanismo real não seja ainda bem conhecido. OBS 2- De modo geral o processo corrosivo começa nas bordas, progride unifilarmente apresentando a interessante característica de refletir com o mesmo ângulo de incidência em obstáculos. 3.2.9- Corrosão por Ataque Seletivo Os processos corrosivos denominados de corrosão seletiva são aqueles em que se tenha a formação de um par galvânico devido a grande diferença de nobreza entre dois elementos de uma liga metálica. EX: Os dois principais tipos de corrosão seletiva são a grafítica e a dezincificação. 3.2.9.1- Corrosão Dezincificação É o nome dado ao ataque seletivo que ocorre nos latões. Os latões comuns são ligas Zn 30% , Cu 70% e apresentam uma coloração amarela. Designa-se por dezincificação ao processo corrosivo que se observa nas ligas de zinco, especialmente latões, utilizados em trocadores de calor (resfriadores, condensadores, etc), tubulações para água salgada, dentre outras O processo corrosivo pode se apresentar mesmo em ligas mais resistentes como o latão vermelho (85% Cu e 15% Zn), caso a liga não seja bem homogênea. A dezincificação pode ser eliminada ou reduzida: -diminuindo-se a agressividade do meio (por exemplo, retirando o O2 ); -ou por proteção catódica; -ligas menos suscetíveis a esse fenômeno, Ex. O latão vermelho (15% Zn ) é quase imune à dezincificação, e a adição de Sn, P, Sb, As à liga de Cu , 28 % de Zn (Metal Admiralty) provou ser muito eficaz. Mecanismo: _Dissolução simultânea da liga seguida pela redeposição do Cu (camada de Cu porosa); _Dissolução seletiva do Zn (esta etapa não é a determinante devido a baixa difusão do Zn em estado sólido). 3.2.9.1- Corrosão Grafítica É um ataque seletivo que ocorre nos ferros fundidos cinzentos. Recebe esse nome devido ao fato que o ferro fundido parece tornar-se grafitizado. Neste caso, o ataque seletivo ocorre na matriz do ferro, deixando uma rede de grafite, que é catódica em relação ao ferro. Sendo o grafite um material muito mais catódico que o ferro, os veios ou nódulos de grafite do ferro fundido agem como área catódica enquanto o ferro age como área anódica transformando-se em produto de corrosão. Obs: tubos velhos de ferro fundido, que se pode com uma faca ou canivete desagregar com facilidade a parede do tubo à semelhança de um bloco de grafite Situações perigosas pode ocorrer, já que o ferro fundido perde sua resistência mecânica. A grafitização é um processo lento e não ocorre em ferros fundidos modilares, maleáveis ou brancos, porque a rede de grafite não é contínua. Para minimizar os problemas de corrosão grafítica é prática usual revestir os tubos, internamente com argamassa de cimento e externamente com um revestimento adequado por tubulações enterradas 3.2.10- Corrosão Associada ao Escoamento de Fluidos No escoamento de fluidos pode-se ter a aceleração dos processos corrosivos em virtude da associação do efeito mecânico com a ação corrosiva. 3.2.10.1- Corrosão por Erosão Erosão de um material metálico é o desgaste mecânico provocado pela abrasão superficial de uma substância sólida, líquida ou gasosa. A ação erosiva sobre um material metálico é mais freqüente nos seguintes casos: -quando se desloca um material sólido; -quando se desloca um líquido contendo partículas sólidas e -quando se desloca um gás contendo partículas líquidas ou sólidas. Mecanismo **A erosão provoca o desgaste superficial capaz de remover as películas protetoras constituídas de produtos de corrosão **Desta forma, um processo corrosivo torna-se mais intenso quando combinado com erosão. **A corrosão produz a película de produto de corrosão, o processo erosivo remove expondo a superfície a novo desgaste corrosivo. **O resultado final será de um desgaste muito maior do que se apenas o processo corrosivo ou erosivo agisse isoladamente Para se combater a corrosão por erosão, pode-se realizar, em ordem de importância, os seguintes procedimentos: -usar materiais mais resistentes; -projetos adequados, no sentido da forma ou da geometria do equipamento. Ex: aumentar o diâmetro de um tubo diminuindo assim a velocidade do fluido e assegurando um fluxo laminar -alteração do meio ambiente, desaeração ou adição de inibidores (pouco econômico); -recobrimentos (aplicações de recobrimentos de diferentes espécies) e -proteção catódica (ajuda a reduzir o ataque, não sendo porém muito eficiente). Figura 13- Corrosão erosão 3.2.10.2- Corrosão com Cavitação Cavitação é o desgaste provocado em uma superfície metálica devido a ondas de choque do líquido, oriundas do colapso de bolhas gasosas. A cavitação surge em zonas de baixa pressão onde o líquido entra em ebulição formando bolhas, as quais ao tomarem em contato com zonas de pressão mais alta são destruídas instantaneamente criando ondas de choque no líquido. A cavitação da mesma forma que a erosão destrói as películas de produtos de corrosão expondo o material a novo desgaste corrosivo, além de provocar a deformação plástica com encruamento em face da incidência de ondas de choque de alta pressão e portanto a criação de áreas anódicas. 3.2.10.3- Corrosão por Turbulência É um processo corrosivo associado ao fluxo turbulento de um líquido. Ocorre particularmente quando há redução na área de fluxo. Mecanismo Se o movimento turbulento propiciar o aparecimento de bolhas gasosas, poderá ocorrer o choque destas bolhas com a superfície metálica e o processo erosivo resultante é denominado de impingimento OBS: O ataque difere da cavitação quanto a forma do desgaste: _ sendo no caso do impingimento comum alvéolos sob a forma de ferradura e _as bolhas causadoras são em geral de ar, enquanto que na cavitação são bolhas de vapor do produto. 3.2.11- Corrosão Intergranular A corrosão intergranular acontece quando existe um caminho preferencial para a corrosão na região dos contornos de grão. Observando-se que os grãos vão sendo destacados a medida que a corrosão se propaga. OBS: 1-O principal fator responsável pela diferença na resistência a corrosão da matriz (material no meio do grão) e do material vizinho ao contorno é a diferença que apresentam na composição química nestes locais. 2-A natureza mais reativa do cortorno dos grão, de uma maneira geral, não tem conseqüencias na maioria das aplicações ou uso dos metais. Se um metal se corroe, haverá um ataque uniforme uma vez que os cortornos dos grãos são geralmente apenas pouco mais reativos que a matrix. 3-Entretanto,sob certas condições, a interface dos grãos se torna muito mais reativa e desenvolve-se um processo de corrosão intergranular. A liga desintegra-se e/ou perde sua resistência a tensões. 4-A corrosão intergranular pode ser causada por impurezas nos contornos dos grãos, enriquecimento ou empobrecimento de algum dos elementos de liga nas áreas dos contornos dos grãos. 5-A corrosão intergranular não requer a presença simultânea de meio corrosivo e esforços de tração como é o caso da corrosão-sob-tensão. CORROSÃO INTERGRANULAR NOS AÇOS INOXIDÁVEIS ocorre devido à formação de um zona empobrecida em cromo ao longo dos contornos de grão, como conseqüência da precipitação, neste local, de carbonetos de cromo (Cr23C6). Como ocorre? Átomos de cromo desta região, que se encontravam em solução sólida no aço, difundem-se para os contornos de grão, formando carbonetos, diminuindo a resistência à corrosão. **A formação desta zona empobrecida em cromo chama-se sensitização, porque torna o material sensível à corrosão intergranular. A sensitização depende do teor de carbono do aço inoxidável e do tempo em certa temperatura. Os aços austeníticos sofrem sensitização quando são expostos na faixa de 400 a 950oC, enquanto que os ferríticos somente para temperaturas acima de 925oC. A prevenção da corrosão intergranular (a prevenção da sensitização) se faz empregando-se aços inoxidáveis austeníticos com teor de carbono inferior a 0,03%. aços contendo elementos (Ti e Nb), que fixam o carbono, não o deixando livre para formar precipitados com o cromo. Chamados de aços estabilizados (321 e 347). solubilização (que consiste no reaquecimento de um aço inoxidável sensitizado acima de 1050oC, seguido de um resfriamento muito rápido de modo que não haja tempo para a reprecipitação dos carboneto) OBS: Esta técnica só é viável em peças que possam ser submetidas ao desempeno (o choque térmico causa significativas deformações) e também à decapagem (o aquecimento provoca a oxidação). tomar cuidados quanto à realização de tratamentos térmicos posteriores à soldagem, os quais podem causar sensitização. Sensitização em Aço Inox Sensitização em Bloco Fundido de Aço Inox CORROSÃO INTERGRANULAR DE LIGAS DE ALUMÍNIO Ligas de alumínio-magnésio contendo acima de 3% de magnésio podem formar precipitados de Mg2Al8 nos contornos de grão. Como ocorre? Estes precipitados são corroídos porque são menos resistentes à corrosão do que a matriz. FISSURAÇÃO POR CORROSÃO As trincas formadas pela corrosão intergranular, como visto no item anterior, não requerem a ação de esforços externos. Neste caso a fissuração decorre da corrosão segundo um estreito caminho preferencial. ***A propagação das trincas associadas aos processos de corrosão é geralmente muito lenta, até que seja atingido o tamanho crítico para a ocorrência da fratura frágil. ****Nesta situação, em função dos esforços atuantes, pequenas trincas podem nuclear fraturas de grandes proporções, deflagradas de modo praticamente instantâneo. Decaimento por solda Muitas falhas ocorrem em aços inoxidáveis soldados devido a um mecanismo intergranular, conhecido como decaimento por solda. OBS: A zona de decaimento por solda ocorre no metal base e se localiza um pouco distante da solda e, para que isso ocorra, o metal deve ser aquecido na região de sensitização. Sistema Tubulação para condução de fluido contendo amido de milho, antiespumante (silicone) e biocida (metileno-bistiocianato). Material Aço inoxidável AISI 304. Condições Operacionais pH ~ 6,5;T=50-60°C. NaCl presente em 30% do tempo de operação Observações Após alguns meses de operação: perfurações e vazamentos predominantes nas áreas de soldas. Análises _Análise qualitativa em amostra retirada do produto de corrosão acusou presença de cloretos de Fe,Ni e Cr. _Análise metalográfica, em amostra retirada em trecho de tubo na área de solda, acusou sensitização, isto é, precipitação de carbetos de ferro e cromo próximo ao cordão de solda. Mecanismo Ação conjunta de pH ~ 6,5, cloreto, tensões residuais na ZTA, zona termicamente afetada, sensitização e temperatura ocasionou a corrosão, predominante nas áreas de soldas, da tubulação de aço inoxidável AISI 304 que não tem resistência a essas condições. Solução Uso de tubulação de aço inoxidável AISI 316 L e, se possível operacionalmente, elevação do valor de pH, diminuição da temperatura e da quantidade de cloreto. 3.2.12- Corrosão sob tensão A corrosão sob tensão acontece quando um material, submetido a tensões de tração (aplicadas ou residuais), é colocado em contato com um meio corrosivo específico. Porque ocorre? As condições metalúrgicas do material, como dureza, encruamento, fases presentes, são fatores freqüentemente decisivos. Particularidades: De acordo com o caminho que essas trincas percorrem diferencia-se dois tipos de propagação; a)- Intergranular: a fratura se propaga pelo contorno do grão; b)- Transgranular: a fratura se propaga dentro do grão OBS: É importante salientar que a corrosão sob tensão não precisa, necessariamente , de uma tensão mecânica aplicada para se manisfestar. Tensões residuais provocadas por tratamento térmicos, trabalho a frio, etc. também induzem esse tipo de ataque. Aparecimento da corrosão sob tensão foi detectado nos seguintes casos _Fragilidade cáustica de aços de baixo carbono _“Season cracking” de latões _ Trincas em aços inoxidáveis austeníticos _ Corrosão sob tensão de ligas de alumínio _ Corrosão sob tensão de ligas de Titânio Corrosão Sob Tensão Entre os fatores que influem na corrosão sob tensão pode-se citar: a)Tensões mecânicas b)Potencial do eletrodo. c)Propriedades do eletrodo: _ efeito dos ânions _efeito dos cátions _efeito da concentração de íons H+ d) Propriedades metalúrgicas: - impurezas - elementos de liga - estrutura cristalina - tamanho de grão - tratamento termo-mecânico Os principais critérios de proteção para este tipo de corrosão são: (a)- abaixamento da tensão abaixo do valor crítico, quando ele existe; (b)- uso de ligas menos suscetíveis; (c)- proteção catódica; (d)- adição de inibidores; (e)- introdução de tensões superficiais de compressão (shot-peening ) C0RROSÃO POR HIDROGÊNIO O hidrogênio no estado nascente (atômico) tem grande capacidade de difusão em materiais metálicos. Dessa forma se o hidrogênio for gerado na superfície de um material, ele migra para o interior e acumula-se em falhas existentes. Obs: 1) O hidrogênio acumulado passa da forma nascente a molecular e provoca o aparecimento de altas pressões no interior da falha. 2) As tensões oriundas da pressão do gás poderão ser suficientes para escoar o material e, nesse caso, os danos são irreversíveis, ou apenas para torná-lo mais frágil e, neste caso com a eliminação do hidrogênio antes da solicitação, o material voltará as suas condições normais. 3) Quando o acúmulo de hidrogênio é em falhas próximas à superfície, a deformação pode provocar empolamentos, sendo comum denominar este processo de empolamento pelo hidrogênio. As principais causas do aparecimento de hidrogênio podem ser: _processos de decapagem ácida _decomposição da umidade e água de cristalização contida em alguns tipos de revestimento de eletrodo que gera hidrogênio atômico no processo de soldagem por eletrodo revestido; _reações de corrosão que liberam hidrogênio como a seguinte: Fe = H2 FeS + H2 observada no processamento de petróleo contendo enxofre; · _reações catódicas em estruturas protegidas catodicamente; · _ ação de gases ricos em hidrogênio. As prevenção do empolamento por Hidrogênio pode ser realizada através dos sequintes procedimentos: (a)- utilização de revestimentos (metálicos, inorgânicos ou orgânicos) não deverão ser permeável ao hidrogênio para que sejam eficientes ; (b)- utilização de inibidores; (c)- remoção de elementos nocivos (empolamento geralmente ocorre em metais contendo elementos geradores de hidrogênio como sulfetos, compostos com arsênio, cianetos e ions contendo fósforo) (d)- Substituição de ligas: aços contendo Ni e ligas a base de Ni apresentam uma baixa taxa de difusão para o hidrogênio) Sistema Placa de catódo de cuba eletrolítica. Material Aço-carbono. Condições Operacionais Eletrólise de solução de cloreto de sódio, para obtenção de clorato de sódio, em fábrica de celulose. Observações Empolamento da placa em diversos pontos. Causa Empolamento pelo hidrogênio formado na área catódica, durante a eletrólise da solução de cloreto, devido à reação 2H2O + 2e2OH- + 2H O hidrogênio atômico, H, penetra na placa e, no interior da mesma, transforma-se em molecular, H2, ocasionando o empolamento. Solução Perfuração das áreas com empolamento para expulsar o hidrogênio, retífica da superfície da placa e nova utilização, até que seja necessária nova placa. Sistema Cilindros de cloro para tratamento de água potável. Materiais Cilindros de cloro: aço-carbono. Capacidade de cada cilindro: 900 kg. Válvula do cilindro: • corpo — latão (60% de Cu, 36% de Zn e 3,0% de Pb); • haste central — aço inoxidável AISI 304 (16,6% de Cr, 8,76% de Ni e o restante de Fe). Condições Operacionais Cilindro de cloro líquido, usado para tratamento de água potável, com vazão controlada por meio de válvulas. Observações Vazamento de cloro, pela válvula de controle de vazão, colocando em risco a vida dos operadores do sistema. Na válvula com vazamento, seccionada em sentido longitudinal, foram feitas as seguintes observações: • corpo da válvula — parte externa inalterada e parte interna com áreas com coloração avermelhada e parte rosqueada com corrosão acentuada; • haste central — corrosão na parte rosqueada. Análise Produto de corrosão: presença de cloreto. Produto com coloração avermelhada: cobre. Causa Cloro e umidade formaram HCl, que ocasionou a dezincificação do latão e a corrosão do aço inoxidável AISI 304. O uso de latão com teor elevado de zinco é sujeito à corrosão por dezincificação, ocorrendo a corrosão seletiva do zinco e restando o cobre, daí a coloração avermelhada observada no corpo da válvula. Latão e aço inoxidável AISI 304 não são indicados para válvulas de cilindros de cloro. Solução Uso de materiais especificados universalmente, constituídos de: • corpo da válvula — bronze de alumínio e silício ("Alloy B"); • haste central — monel (liga de níquel-cobre ASTM B164-75). Sistema Tubulação de aço inoxidável. Material Aço inoxidável AISI 316. Condições Operacionais Temperatura elevada, presença de catalisador (Al2O3×SiO2), material polimérico, amônia. Observação Deterioração com perda de espessura da parede dos tubos e perfuração. Causa Deterioração por erosão causada pelos sólidos suspensos na corrente gasosa. Solução Modificação de processo: diminuição da velocidade da corrente gasosa. Sistema Trocador de calor a placas, usado em usina de açúcar e álcool. Material Aço inoxidável AISI 316. Número de placas: 45 e, por detalhe de projeto, elas foram posicionadas de maneira a se tocarem nas partes corrugadas. Condições Operacionais Água: cloreto, 11 ppm; pH = 6,8; temperaturas — de entrada, 30°C, e de saída, 33°C. Observações Após cerca de 18 meses de operação, corrosão predominante nos picos das corrugações das placas do lado da água. Os pontos de corrosão são eqüidistantes e localizados nas áreas em que as partes corrugadas das placas se tocam. Presença de depósito constituído de bagaço de cana, e ausência de corrosão sob este depósito nas placas inspecionadas. Causa Corrosão sob contato ou por aeração diferencial: o contato entre as placas possibilitou a presença de frestas e a conseqüente corrosão em frestas ou por aeração diferencial. Além disso, durante a operação do trocador, podem ocorrer pequeníssimos deslizamentos nos contatos entre as placas, com o conseqüente atrito impedindo qualquer possibilidade de formação do óxido de cromo, Cr2O3, protetor. A eqüidistância e a simetria dos pontos de corrosão permitiram caracterizar como causa do processo corrosivo a falha de projeto, isto é, o contato entre as placas. Solução Mudança de projeto para evitar o contato entre as placas do trocador de calor Sistema Trocador de calor tipo TEMA-AEM de espelhos fixos. Materiais Tubos: aço inoxidável austenítico, ASTM A-249 TP304. Casco: aço-carbono. Condições Operacionais Posição: vertical, circulando a água de baixo para cima. Fluidos: • casco — circula água tratada; • tubo — fluido de processo (polímero). Temperaturas: • água de resfriamento — entrada, 26°C -28°C, saída, 33°C-67°C; • fluido de processo — entrada, 85°C-90°C, saída, 5% no máximo de diferença. Tratamento da água: à base de fosfatos e de sal de zinco, como inibidores de corrosão. Cloração diária durante 3 horas, para manter o cloro residual na faixa de 0,5 a 1,0 ppm. Observações Três anos após o início de operação, o trocador apresentou vazamentos na parte superior dos tubos e nas proximidades do mandrilhamento. A parte inferior dos tubos se apresentava perfeita. Os tubos apresentavam-se cobertos com resíduo branco de fosfato de cálcio. Causa Embora a água de resfriamento tratada apresentasse valores de cloreto em torno de 200 ppm, não houve corrosão nos tubos, a não ser nas áreas deformadas ou tensionadas, como as do mandrilhamento. O trocador de calor apresentava uma posição vent irregular, a qual permitiu a formação de um colchão de ar na parte compreendida entre o espelho e o vent. Nessa área, não há contato permanente dos tubos com a água de resfriamento tratada, podendo-se ter a formação e a condensação de vapores arrastando cloreto, o que permite um aumento da concentração de Cl, principalmente na região de mandrilhamento, devido à possibilidade da presença de frestas. A causa dos vazamentos dos tubos foi a corrosão sob tensão fraturante devida à associação dos fatores: cloreto, temperatura, áreas deformadas ou tensionadas e áreas em que não havia presença constante de água com inibidores Solução Mudança de detalhe construtivo: mudar o posicionamento do vent, colocando-o acima da posição anterior, de maneira que a água de resfriamento, contendo inibidor de corrosão, atinja toda a extensão dos tubos do trocador. Sistema Isolamento térmico de tubulações de sistema de ar condicionado. Material Alumínio usado como revestimento de isolamento térmico. Condições Operacionais Tubulações de aço-carbono, de água do sistema de refrigeração, revestidas com tinta asfáltica, seguida de uma camada de isopor revestida de tinta asfáltica. Todo esse conjunto envolvido por folhas de alumínio. Observações Corrosão nas folhas de alumínio, presença de produto de corrosão esbranquiçado e perfuração nas folhas de alumínio. Áreas predominantemente corroídas localizadas nas superfícies internas inferiores das folhas de alumínio e presença de água condensada. Análise No produto de corrosão, presença de cloretos e de alumínio; na tinta asfáltica, presença de cloreto. Causa Presença de cloreto na tinta asfáltica usada como revestimento das tubulações e também do isolamento térmico de isopor em contato com alumínio: água condensada e cloreto impediram a formação do óxido de alumínio protetor. Formado o cloreto de alumínio, produto de corrosão, ele sofre hidrólise, formando ácido clorídrico, HCl, e acelerando o processo corrosivo: AlCl3 + 3H2O Al(OH)3 + 3HCl 2Al + 6HCl 2AlCl3 + 3H2 Al2O3 + 6HCl 2AlCl3 + 3H2O Solução Substituição das folhas de alumínio corroídas e do isolamento térmico revestido com tinta asfáltica contendo cloreto. Uso de revestimento com tintas isentas de cloreto, como aquelas à base de resina epóxi. Sistema Chapas para dutos de ar condicionado. Material Aço galvanizado. Condições de Armazenamento ou Estocagem Chapas superpostas, armazenadas em ambiente com umidade relativa em torno de 70%. Observações Quando do uso das chapas, notou-se a presença de resíduo branco entre as chapas superpostas e presença de umidade. Análise Análise qualitativa do resíduo branco acusou presença de óxido e de carbonato de zinco, ZnO e ZnCO3, respectivamente. Mecanismo Corrosão branca ou oxidação branca do aço galvanizado: a superposição de chapas possibilitou a formação de frestas e a conseqüente corrosão por aeração diferencial. A penetração de umidade entre as chapas ocorreu devido à formação de vapor d’água durante o dia (temperatura mais elevada) e condensação durante a noite (temperatura mais baixa). Solução As chapas nas quais o revestimento de zinco já não existia, devido ao processo corrosivo, foram rejeitadas e aquelas nas quais o revestimento ainda apresentava espessura adequada foram utilizadas.Em situações futuras, recomendou-se que as chapas, após a galvanização, fossem cromatizadas ou impregnadas com óleo protetor. Sistema Impelidor de bomba de sistema de água de resfriamento. Material Ferro fundido. Condições Operacionais Água destilada. pH variando de 4 até 10. Temperatura ~ 75°C. Observação Depois de três anos de operação: perda total de resistência mecânica do impelidor, tornando-se quebradiço. Mecanismo O ferro fundido em meio ácido sofreu corrosão grafítica, ocorrendo corrosão seletiva do ferro e restando carbono em sua forma de grafite 2Fe – C + 3/2O2 + nH2O ® Fe2O3·nH2O + 2C. A corrosão grafítica no impelidor ficou caracterizada, pois observou-se: • coloração castanho-alaranjada devida ao óxido de ferro, Fe2O3; • após limpeza desse óxido notou-se coloração preta; • raspando-se a superfície de partes do impelidor, retirou-se com facilidade resíduo preto, mole, que, colocado sobre folha de papel branco e atritado, risca o papel da mesma forma que grafite; • o impelidor ficou quebradiço: a grafite tem grande resistência à corrosão, mas não tem resistência mecânica. Solução Uso de impelidor de ferro fundido dúctil ou nodular que é mais resistente à corrosão grafítica. Manter valor de pH > 7 Sistema Tratamento de condensado contaminado com gás sulfídrico, H2S e sulfetos orgânicos. Equipamentos Coluna de stripping. Tanque de condensado contaminado. Junta de expansão. Material Aço inoxidável AISI 304 com isolamento térmico com lã de vidro. Condições Operacionais Temperatura: 105°C Observações Após 10 (dez) meses de operação, deterioração em todos os equipamentos: • fratura na coluna de stripping próxima à solda; • trinca passante junto à solda no tanque de condensado; • fratura na junta de expansão que liga o tanque de condensado à coluna de stripping. • superfície interna, do tanque de condensado contaminado, sem corrosão Dados Analíticos • Presença de cloreto em amostra de lã de vidro retirada dos equipamentos. • Ausência de cloreto em isolamento térmico novo. • Análise metalográfica: trincas transgranulares. Causas Como a parte interna da coluna de stripping não apresentava corrosão, essa teve início na parte externa em contato com o isolamento térmico contaminado com cloreto proveniente de um tanque de ácido clorídrico, localizado nas proximidades do sistema de tratamento de condensado. Pelo suspiro do tanque saía gás clorídrico que, em contato com a umidade atmosférica, forma ácido clorídrico que contaminava o isolamento térmico. A associação de aço inoxidável AISI 304, ácido clorídrico, temperatura e áreas tensionadas nas áreas de soldas ocasionou a corrosão sob tensão fraturante. Solução Novo posicionamento do tanque de ácido clorídrico. Substituição do isolamento térmico contaminado, revestimento com tinta aderente ao aço inoxidável como esquema à base de resina epóxi e aplicação de isolamento térmico novo.