Prática de Leitura e Escrita
A distância das coisas – Flávio Carneiro1
7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental
Justificativa
Como manifestações culturais, a Literatura e a Arte não devem ser reduzidas a meras listagens de escolas, autores e suas características. No ensino das diversas linguagens artísticas, não se pode mais abandonar quer o eixo da produção (eixo poético), quer o da recepção (eixo estético), quer o da crítica. (Proposta Curricular do Estado de São Paulo, p. 38. SEE‐SP. 2008) Fruir um texto literário é perceber essa recriação do conteúdo na expressão e não meramente compreender o conteúdo; é entender os significados dos elementos da expressão. No texto literário, o escritor não apenas procura dizer o mundo, mas recriá‐lo nas palavras, de modo que, nele, importa não apenas o que se diz, mas o modo como se diz. (PLATÃO, Francisco e FIORIN, José Luiz. Para entender o texto leitura e redação. São Paulo: Ática, 2001:20) Este projeto de leitura visa à experiência de contato com a arte literária de modo a contribuir para a formação de um leitor literário que, ao longo do processo de compreensão, se aproprie dos conhecimentos necessários para fazer apreciações, valorações e escolhas. Neste sentido, entendemos que os conhecimentos da teoria literária, diferente de ser um fim em si mesmo, serão aqui convocados a serviço da fruição do texto pelo leitor. É com este objetivo e neste contexto que as atividades organizadas em torno da leitura do romance A distância das coisas foram preparadas para favorecer o desenvolvimento de competências leitoras e escritoras por meio da mobilização de procedimentos e capacidades de leitura e escrita, quais sejam: Capacidades de compreensão 2 , que envolvem: ativar conhecimentos prévios sobre o que será lido; levantar hipóteses sobre os conteúdos ou propriedades dos textos; checar hipóteses; localizar e/ou copiar informações; comparar informações; generalizar; produzir inferências. Capacidades de apreciação e réplica 3 , que envolvem: recuperar o contexto de produção do texto; ter claro quais são as finalidades e metas da atividade de leitura; perceber relações de 1
Projeto elaborado por Laura Figueiredo Breda. 2
Adaptado de ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. Texto integrante do CD que acompanha o material didático do Programa Ensino Médio Em Rede, SEE‐SP/CENP, 2004. 3
Ibidem. 1
intertextualidade e de interdiscursividade; perceber outras linguagens como elementos constitutivos dos sentidos dos textos; elaborar apreciações estéticas e/ou afetivas e, finalmente, elaborar apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos.
Objetivos
Espera‐se que por meio desta atividade os alunos: •
ampliem sua proficiência para a leitura de textos mais extensos, ou de complexidade maior, atribuindo‐lhes sentidos adequados; •
façam uso do diário como uma forma de registro que pode auxiliar na sistematização de suas impressões pessoais e análises literárias da obra; •
se posicionem criticamente, reconhecendo posições ideológicas presentes no texto; •
demonstrem interesse pela literatura, considerando‐a forma de expressão da cultura de um povo; •
façam uso dos conhecimentos de teoria literária para compreenderem o romance como uma produção estética situada; •
se interessem por trocar impressões e informações com outros leitores. Procedimentos metodológicos
Este projeto de leitura propõe a organização de uma situação didática baseada no trabalho com a leitura programada 4 . Esta forma de organização do trabalho é altamente indicada para se discutir coletivamente um título considerado difícil para os alunos porque permite um acompanhamento do processo de compreensão, possibilitando mediações do professor ao longo do processo, reduzindo parte da complexidade da tarefa e compartilhando a responsabilidade. Neste tipo de organização do trabalho de leitura, define‐se o título, monta‐se um cronograma de leitura, distribuindo um certo número de capítulos ou páginas em um certo período. Ao final de cada período, organiza‐se uma situação didática em que se discute o trecho lido. A esta forma de organização associamos a idéia da leitura colaborativa 5 : antecipando diferentes focos de observação, ao longo do processo de leitura, espera‐se que os alunos façam uma leitura com objetivos prévios e organizam‐se momentos de verdadeira reflexão e compartilhamento das experiências de leitura e das compreensões dos textos. Portanto, a cada semana, diferentes formas de organização da sala estão previstas: •
aula expositiva dialogada para a apresentação do projeto, contextualização da leitura proposta e ativação de conhecimentos prévios sobre o tema da obra; 4
Ver, a respeito: Kátia Bräkling, Leitura e formador de leitores. 2003. Disponível em http://educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=oassuntoe.interna&id_tema=9&id_subtema=2; e também Norma A. S. Ferreira: Dos amores difíceis: uma leitura compartilhada na aula de Língua Portuguesa. Disponível na página www.fe.unicamp.br/alle/textos/NSAF‐
DosAmoresDificeis.pdf. 5
Ibidem.
2
•
aulas com discussões em grupo ou coletivas, quando serão compartilhadas as anotações pessoais de cada um, leituras de trechos feitas no coletivo pelo professor ou pelos alunos. Também está prevista a articulação com outras linguagens – cinema, pintura, fotografia etc. O trabalho com a leitura do livro proposto exigirá cerca de 5 aulas da disciplina, que deverão ser distribuídas ao longo do mês (1 aula por semana, por exemplo). Recursos necessários
•
Livro: A distância das coisas, de Flávio Carneiro, Editora SM, para todos os alunos de uma classe. Valor aproximado: R$ 24,50. •
Papel sulfite A4 (pacote 500 folhas). •
Cartucho de tinta preta ou toner para imprimir: projeto para o professor (uma cópia – 21 páginas); cópias para todos os alunos dos roteiros de leitura – Anexo 1. Número de alunos X 12.
Cronograma e Ações
Aula 1
PASSO 1 – apresentação do projeto •
Reserve uma aula para fazer a apresentação do projeto e a leitura do 1º capítulo da obra para os alunos acompanharem em seus livros. •
Se for possível, peça que os alunos sentem‐se em círculo. •
Inicie a aula com algum tipo de atividade que possibilite aos alunos ativarem seus conhecimentos prévios sobre o que acontece quando uma criança perde pai e mãe. Quem cuida dela? Que direitos tem o tutor sobre ela? Até quando? •
Depois desta conversa inicial faça a apresentação do projeto de leitura programada: anuncie o livro e o nome do escritor – Flávio Carneiro 6 . Este livro foi publicado na editora SM, pois ganhou um concurso patrocinado por ela. •
Converse com os alunos sobre como será o processo de leitura do livro: parte será lida em classe e parte será lida em casa, pois cada um vai receber um exemplar do livro, que deverá ser devolvido ao final do trabalho. Não haverá nenhuma prova do livro. O que se pretende é verificar como se posicionam em relação ao livro: o que apreciam ou não na história e na forma como é contada e 6
Link para a biografia do autor: http://www.flaviocarneiro.com.br/biografia/index.html 3
porque; o que pensam em relação à situação vivida pelas personagens etc.; enfim, desafio‐os a se colocarem frente à história (do livro e a real): “ vocês seriam capazes de dialogar com o livro; de emitir uma opinião fundamentada sobre ele”? PASSO 2 – Leitura do capítulo 1 pelo professor •
Na sequência, distribua os livros. Você pode “ritualizar” a entrega do livro, se achar que é o caso. Diga algo como: “Vocês estão prontos para entrar na vida de Pedro e acompanhá‐lo nos caminhos para desvendar um mistério? Quem quiser pode vir buscar o livro. Apenas tomem cuidado para que venha um de cada vez”. •
Deixe que explorem livremente o livro: que o toquem, vejam a capa, a contracapa, leiam a orelha, folheiem, vejam o número de páginas etc. •
Inicie a leitura do primeiro capítulo, após o que todos poderão resgatar as hipóteses levantadas e checar algumas – e levantar outras a respeito da personagem e da história que será contada. •
Ao concluir a leitura do capítulo, peça que os alunos levantem hipóteses sobre como será a continuação da história. •
Por fim, esclareça o que está previsto numa leitura programada: a leitura da obra por partes, com uma aula semanal para discussão da parte lida; a produção de um Diário de Leitura em que apresentarão as suas impressões pessoais e registrarão as observações sobre o modo como se constituem os elementos da narrativa no romance a ser lido. Atenção, professor: É importante ficar claro que o Diário de Leitura é um registro do aluno para o aluno! Embora você vá olhá‐lo, não há nenhuma intenção de torná‐lo um instrumento de controle ou avaliação da leitura. O aluno deve experimentar tal registro como uma prática de apoio ao seu processo de compreensão e sistematização das leituras que faz e como apoio para as suas participações durante a leitura. Para além do sugerido no roteiro, ele pode/deve registrar seus questionamentos, reflexões, angústias e tudo o mais que a leitura do livro for suscitando. Dê exemplos de anotações que você possa ter feito por ocasião da leitura do primeiro capítulo para que eles possam concretizar do que se trata. Estimule‐os a se colocar, mas se você achar que o diário está provocando dificuldades extras, você pode abandonar essa ideia. •
Também seria importante neste momento que você apresentasse à turma, previamente, o processo de avaliação do projeto. Esclareça que ele será avaliado pela sua participação nas aulas e pelo simples fato de ter se proposto a escrever o diário e ler o livro. •
Disponibilize na lousa, em cartolina, impresso ou em PowerPoint o cronograma de leitura apresentado a seguir. Você poderá, também, imprimir para os alunos para que possam colar no caderno (ver anexo 1). 4
Cronograma de leitura do romance A distância das coisas, de Flávio Carneiro Semana 1 Semana 2 Distribuição dos capítulos no período Capítulo 2 Capítulo 3 Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4 Aula 5 Apresentação do projeto de leitura e leitura do capítulo 1 feita pelo professor e acompanhada pelos alunos Foco de discussão: Foco de discussão: Foco de discussão: Foco de discussão: A estrutura do texto Personagens esféricas e planas: quando a personagem nos surpreende O foco narrativo As personagens O conto de enigma e a postura do leitor Semana 3 Semana 4 Capítulos Capítulo 6 4 e 5 Avaliação da obra: o enredo e a forma de construção da narrativa Obs.: Caberá ao professor, se assim julgar necessário, redimensionar o número de aulas estabelecido para a execução do projeto de acordo com suas necessidades PASSO 3 – Roteiros para organizar o registro do Diário de Leitura Imprima para todos os alunos o Roteiro 1 do Roteiro para o Diário de Leitura (Anexo 2) e explique como deverá ser feito. Esclareça que: 1. Os roteiros ajudarão a produzir o diário, uma vez que pode ser uma experiência nova para eles. 2. Todos os roteiros apresentam três itens que orientam o registro: •
Item 1 – Propõe o registro das impressões gerais de cada um, em que cabe anotar trechos que acharam interessantes, incoerências que tenham percebido entre as personagens, características da linguagem, expressões ambíguas ou não compreendidas, impressões pessoais sobre o texto, efeitos que provocou em si próprio, relações com a vida pessoal de cada um etc. •
Item 2 – Sempre propõe a observação de aspectos relativos à teoria literária. Esclareça que em todo roteiro, logo no início haverá a antecipação do que será foco de discussão na sala, considerando os capítulos sugeridos para o período, e que será sobre esse foco que serão feitos os registros neste segundo item. •
Item 3 – Para ser feito sempre durante ou logo depois das discussões de grupos ou coletivas. Entra neste registro final o que foi socializado por todos: “O que você alteraria ou complementaria com relação às suas anotações anteriores?” 5
Aula 2
O conceito de narrador e as personagens
PASSO 1 – Sobre as impressões pessoais •
Inicie a aula resgatando com os alunos as anotações pessoais sobre os capítulos que leram. Aproveite você também para colocar suas impressões. É importante que os alunos o vejam como um leitor – assim como eles – que faz apreciações pessoais sobre o que lê. Neste momento, evite fazer referência aos aportes teóricos para que estas impressões não se configurem como uma análise de ‘conteúdo escolar’. Estimule os alunos a justificarem as possíveis relações que venham a estabelecer entre o que acabaram de ler e outras leituras feitas, filmes assistidos... PASSO 2 – Observando o narrador e a personagem do romance •
Após a conversa sobre as impressões pessoais, prossiga com a discussão sobre o foco de observação para uma análise literária do romance. Lembre‐se de que tal análise tem como objetivo ampliar a compreensão da obra e oferecer aporte teórico para as apreciações críticas. Portanto, não deve haver demasiada preocupação com o uso de nomenclaturas: o fim é a uma melhor compreensão dos sentidos e melhor apreciação da obra e não o uso de nomenclaturas teóricas. Para discutir os aspectos sugeridos no Roteiro, propomos que faça isto no coletivo e oralmente, com registro das discussões feitas por você, na lousa.
•
Comece perguntando se as anotações pessoais ajudaram a pensar sobre os aspectos focados nesta segunda parte de observação e análise proposta no roteiro. Pergunte se eles conseguiram identificar o conflito do romance e as dificuldades que o protagonista teve de superar nos capítulos lidos; peça para indicarem onde aparecem. •
Espera‐se que os alunos percebam que o fato desencadeante das ações do romance é a desconfiança do narrador em relação à morte da mãe, motivada pelo fato de ele ter sido impedido pelo tio de ir ao enterro dela. •
Verifique se algum aluno conseguiu responder à pergunta‐desafio. •
O título do livro pode ser explicado com a passagem que inicia na p.43, quando Pedro narra uma experiência dele com sua mãe na neblina, a fim de ilustrar sua tese de que há coisas que podem estar perto e longe ao mesmo tempo. Com isso, Pedro também quis mostrar que as distâncias são relativas. O que é longe para um pode ser perto para outro. Alguém pode estar perto de você, mas ao mesmo tempo longe, se vc não sabe onde a outra pessoa está. •
O outro foco desta aula deverá ser a discussão sobre foco narrativo. Para iniciar, pergunte aos alunos qual é a diferença entre autor e narrador. É comum os alunos confundirem autor e narrador. Por isso, leve‐os a compreender que se trata de coisas distintas. O narrador é uma criação do autor. É o autor quem manipula o que o narrador pode contar, revelar ou esconder. O autor pode, até, fazer com que o narrador não “saiba” de detalhes da história, seja ele um narrador em primeira pessoa ou em terceira pessoa. Tudo vai depender dos efeitos que o autor quer causar, por exemplo, se quer causar suspense, se quer que o 6
leitor construa uma imagem perfeita de um ambiente, se quer que o leitor saiba de algo que algum personagem não sabe etc. Veja o que diz a respeito Cândida Vilares Gancho 7 : Narrador não é autor As variantes de narrador em primeira pessoa ou em terceira pessoa podem ser inúmeras, uma vez que cada autor cria um narrador diferente para cada obra. Por isso é bom que se esclareça que o narrador não é o autor, mas uma entidade de ficção, isto é, uma criação lingüística do autor 8 e, portanto, só existe no texto. Numa análise de narrativas evite referir‐se à vida pessoal do autor para justificar posturas do narrador; não se esqueça de que está lidando com um texto de ficção (imaginação), no qual fica difícil definir os limites da realidade e da invenção. Este pressuposto é válido também para as autobiografias, nas quais não temos a verdade dos fatos, mas uma interpretação deles, feita pelo autor. •
Para levar os alunos a perceberem que as escolhas de um autor não são aleatórias, proponha as seguintes questões para discussão coletiva: Como o narrador se posiciona na narração? Ele participa da história ou só “assiste de fora” e conta tudo o que está acontecendo? Com esse tipo de narrador é possível saber o que os outros personagens estão pensando? Por quê? Por que você acha que a maioria das histórias de mistério ou policiais têm esse tipo de narrador? Aqui pode ficar mais claro para o aluno há autores que escolhem construir seu texto com um narrador em primeira pessoa, pois isso contribui para aumentar o suspense ou mistério de uma narrativa, uma vez que ele, narrador, desconhece, tanto quanto o leitor, as informações que seriam necessárias para desvendar os mistérios, algo que só o autor sabe. Se você estivesse escrevendo um romance com narrador em primeira pessoa, como faria para que os leitores soubessem do nome do narrador? O que fez o autor deste livro? O autor coloca o personagem‐narrador lendo uma carta onde aparece o nome dele. •
Agora é a hora de discutir sobre os personagens. Mais uma vez, retome as perguntas do item 2 do diário de leitura e discuta com os alunos as respostas. •
Até o momento, que características das personagens chamam a atenção: o protagonista (personagem principal) da história o tio o pai a mãe Marina 7
Gancho, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática (Série Princípios), 2000. 8 Ênfase adicionada. 7
•
Quais são as semelhanças e diferenças entre os personagens? Algumas possíveis respostas: o tio e Marina são organizados, o adolescente é desorganizado. O pai do adolescente era um homem gentil. O tio não é. •
Como o livro apresenta uma espécie de história de detetive, para finalizar as discussões, cabe perguntar: h. Até aqui, você percebeu algo que pudesse ser uma pista que indicasse se a mãe de Pedro está viva ou não? •
Ajude os alunos a levantarem hipóteses sobre a continuação da história: se a mãe de Pedro estiver viva, qual teria sido a motivação para toda essa farsa? Atenção, professor: é importante garantir que este momento seja de uma discussão oral. Não transforme estas questões em exercícios de pergunta e resposta escritos. A idéia é construir um momento em que se possa conversar sobre o que leu e que se pode observar sobre a obra. PASSO 3 – Registro final e orientação para a próxima etapa da leitura •
Finalize a aula propondo que eles observem seus próprios registros e complementem o que foi contribuição da discussão coletiva, conforme solicitado no Item 3 do Diário de Leitura:
3. Resultado da discussão do grupo. (Entram aqui as anotações finais sobre o que você alterou ou complementou com relação às suas anotações anteriores, durante as discussões em sala.)
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Conclua a aula fazendo uma avaliação sobre o que acharam do trabalho e orientando para a leitura da próxima semana. Não se esqueça de distribuir o roteiro para a segunda semana de leitura (capítulo 3).
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Se houver tempo, seria interessante a leitura coletiva do início do capítulo 3, nesta ou numa aula próxima.
Aula 3
A estrutura do texto
PASSO 1 – Trocando as impressões pessoais Nesta aula, você pode experimentar uma organização diferente da sala, com três momentos: coletivo, grupos, coletivo. Num primeiro momento, a turma socializaria, no coletivo, as impressões pessoais em relação aos capítulos lidos. Procure estimular a contribuição de todos os alunos ao longo das aulas de discussão. Mais uma vez, não deixe você também de expor suas impressões. 8
Passo 2 – a estrutura do texto Em um segundo momento, proponha a formação de pequenos grupos (três ou quatro alunos, conforme achar mais produtivo) e apresente as questões propostas a seguir (as propostas no roteiro e outras), para que discutam nesses pequenos grupos. Depois disso, os grupos apresentam as considerações sistematizadas.
a. Como o narrador organiza a sequência dos fatos na narrativa até o momento: ele apenas narra os acontecimentos ou intercala‐os com suas impressões? Dê um exemplo.
Espera‐se que os alunos percebam que o narrador intercala a narração dos acontecimentos com digressões em que discorre sobre sua visão de mundo. Por exemplo, até agora cada um dos capítulos inicia com a personagem narrador expondo algum pensamento geral sobre a vida e só depois narra algum acontecimento ligado à trama central da história: o mistério sobre a morte (ou não) da mãe do narrador. Mesmo no meio do capítulo, a narração de fatos vem sempre seguida de uma dessas digressões. É também por meio dessas digressões que ficamos sabendo como são algumas personagens como a mãe e o tio de Pedro.
b. Você consegue perceber alguma relação entre as partes em que os fatos são narrados e as partes em que Pedro expõe seus pensamentos?
Espera‐se que os alunos respondam que nem sempre, mas às vezes, é possível, sim, perceber alguma relação entre as partes em que os fatos são narrados e as partes em que Pedro expõe seus pensamentos. Por exemplo, depois de narrar o almoço com Tiago e pedir a ele que o ajude a descobrir a verdade sobre a sua mãe, o narrador divaga, descrevendo o bichinho de estimação que deseja ter como um animal solitário e indefeso, que tem apenas o dono em quem confiar, da mesma forma que ele acredita que só tem Tiago em quem confiar.
PASSO 3 – Apresentação das sínteses dos grupos •
A socialização das discussões dos grupos deve ser organizada de modo que um dos participantes de cada grupo se responsabilize pela apresentação do resultado da discussão, expondo para os demais da sala os resultados da análise construída pelo grupo. Oriente‐os a apenas acrescentarem ou contestarem o que o outro disse, se for o caso, sempre se apoiando no texto lido. Veja que neste momento o seu papel de mediador/a é importante para garantir consensos ou possibilitar revisões de posição dos grupos em relação às análises feitas. •
Peça‐lhes que registrem em seus diários de leitura o que considerarem relevante sobre a socialização. PASSO 4 – o conto de enigma e a postura do leitor •
Passe a discutir as questões seguintes destacando que, na leitura de contos de enigma ou de mistério, temos de desconfiar de tudo, qualquer coisa pode ser uma pista.
Fazendo um pouco de suspense, peça para aqueles que leram além do capítulo 3 que não revelem o que virá a seguir na história, para não estragar o prazer da descoberta dos outros alunos.
9
a) Que características de Tiago chamaram sua atenção? O que ele tem em comum ou diferente em relação às outras personagens? Como Marina e o tio, Tiago “tem método”. b) É possível o leitor saber o que Tiago pensa? Por quê? E se o narrador não fosse em primeira pessoa, seria possível? Não é possível saber o que Tiago pensa, pois o narrador da história é também personagem e, portanto, não consegue “ler” os pensamentos dos outros. Se o narrador não fosse em primeira pessoa, só ficaríamos sabendo o que pensa uma personagem se o autor achasse conveniente para a construção da história. c) A história contada por Tiago sobre o último dia em que esteve com a mãe de Pedro é convincente ou pode levantar suspeitas? Por quê? d) Tiago diz ou faz alguma coisa que tenha despertado suas suspeitas? e) Até aqui, você percebeu algo que possa ser uma pista que indique se a mãe de Pedro está viva ou não?
PASSO 5 – Registro final e orientação para a próxima etapa da leitura •
Peça aos alunos que registrem em seus diários de leitura o que consideraram relevante nas discussões. •
Conclua a aula fazendo uma avaliação sobre as discussões e orientando para a leitura da próxima semana. Não se esqueça de distribuir o roteiro para a terceira semana de leitura (capítulos 4 e 5). •
Se houver tempo, seria interessante a leitura coletiva do início do capítulo 4, nessa ou numa aula próxima. Aula 4
PASSO 1 – Outras impressões sobre a obra •
Novamente, está previsto para o momento inicial da aula que os alunos e você compartilhem suas impressões pessoais sobre a obra. PASSO 2 – Personagens planas e esféricas: quando a personagem nos surpreende. •
Peça para os alunos retomarem as suas anotações em relação à pergunta: a) Duas personagens parecem mudar de personalidade, confundindo Pedro. Quem são? O que acontece com elas? 10
Aproveite para explicar aos alunos os dois tipos característicos de personagens: a personagem plana e a personagem esférica (ou redonda). A personagem plana é aquela que apresenta características típicas, invariáveis, quer sejam econômicas ou de qualquer outra ordem. São personagens pouco complexas, que em geral apresentam reações previsíveis. As personagens planas geralmente representam um tipo, por exemplo, uma dona de casa boazinha, sempre abnegada e dedicada aos filhos e ao marido e que permanece assim durante toda a narrativa. O patrão autoritário e desumano, que sempre explora os empregados. O mocinho que nunca mente, é sempre corretíssimo em qualquer situação, fiel e não violento. Por serem típicas, não há necessidade de o autor se estender em sua descrição. Basta apontar algumas características que o leitor já cria uma imagem acabada da personagem em sua mente. A personagem esférica (ou redonda) é mais complexa, exige que o autor apresente uma variedade maior de características para que o leitor forme uma ideia sobre as características físicas, psicológicas e ideológicas da personagem. Mas a característica principal de personagem esférica é a sua ambiguidade. Veja o que diz a respeito Cândida Vilares Gancho 9 : “Um personagem esférico pode ser julgado de modos diferentes por personagens, narrador, leitor; portanto, poderá apresentar características morais diferentes, dependendo do ponto de vista adotado”. Peça aos alunos que respondam às seguintes perguntas: a) Quais personagens da história vocês diriam que são planas e quais são esféricas? b) Vocês acham que em contos de enigma ou de mistério predominam personagens planos ou esféricos?Justifiquem. Uma boa narrativa de enigma vai dando pistas verdadeiras e falsas no decorrer da trama, para confundir o leitor e evitar que ele chegue à solução do mistério antes do fim da narrativa. Assim, é preciso que haja pelo menos algumas personagens esféricas que, pela ambiguidade ou complexidade de seu comportamento, podem apontar para pistas falsas e garantir o suspense da narrativa. •
Retome a questão do roteiro: Que pistas surgem para ajudar Pedro a desvendar o mistério da morte de sua mãe? PASSO 3 – Registro final e orientação para a próxima etapa da leitura •
Conclua a aula fazendo uma avaliação sobre o que acharam das discussões e orientando para a leitura da próxima semana. Não se esqueça de distribuir o roteiro para a quarta semana de leitura (capítulo 6). •
Se houver tempo, procure levar os alunos a levantarem hipóteses sobre a continuação da história:
a) O que Pedro vai encontrar na clínica? b) Se sua mãe está lá internada, quem a internou? Por quê? 9
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2000. (Série Princípios). 11
Aula 5
PASSO 1 – Finalizando a análise do romance Inicie a conversa com as impressões pessoais dos alunos sobre o final do romance. Você poderá fazer perguntas sobre o que acharam do final, se eles esperavam que terminasse dessa maneira. PASSO 2 – resgatando e sistematizando as impressões pessoais •
Proponha as seguintes questões:
Localize o trecho que explica o título do livro e procure justificar por que ele tem esse nome.
O trecho que explica o título do livro está no último parágrafo da pág. 135. Ele retoma a ideia já discutida na aula 2: Pedro quis mostrar que as distâncias são relativas. O que é longe para um pode ser perto para outro. Alguém pode estar perto de você, mas ao mesmo tempo longe, se você não sabe onde a outra pessoa está; ou se ela está perto, mas não interage com você, como a própria mãe de Pedro (e seu tio também). É por isso que Pedro afirma que não é fácil dizer qual a distância exata das coisas. Repare se o fim do livro faz referência a outras partes, ou seja, se partes da história passaram a fazer mais sentido agora no final. Dê exemplos. Sim, por exemplo, Pedro fala várias vezes em memória durante o livro. A falta de memória de como era seu pai é um exemplo. O último filme a que foi assistir com Marina, em que o amigo da personagem principal também tinha problemas com a memória, é outro exemplo. Ao encontrar a mãe, a questão da falta de memória passa a ser tema fundamental. Não é à toa também que o narrador conta a história do livro O estranho caso do cachorro morto, cuja personagem principal, com quem Pedro se identifica bastante, tem o nome pelo qual a mãe de Pedro o chama ao final. •
Sugira que os alunos comentem as qualidades finais da obra: o trabalho de construção da narrativa feita pelo escritor, entrecortando a narrativa das ações com digressões (pensamentos) da personagem‐narrador, o tipo de linguagem do narrador, que procura imitar a fala de um adolescente etc. Também é o momento de indicar possíveis pontos de fragilidade da obra, caso entendam que haja. (Por exemplo, por que Pedro não conta ao tio, no final, sobre o “roubo” do livro da mãe? A história do roubo fica “solta”.) Sugestão para finalizar o projeto Para este momento, seria interessante propor que os alunos busquem na internet comentários de outros leitores sobre a obra. Seria muito interessante para o aluno poder produzir o seu próprio comentário sobre a obra e disponibilizar em algum site. Por exemplo, o site da Livraria Cultura tem um espaço para comentários dos leitores. Acesse <www.livrariacultura.com.br>, faça uma busca pelo título da obra e será aberta a página com as referências do livro: é só clicar sobre o título que outra página 12
será aberta com acesso à sinopse do livro e aos comentários de leitores. Lá eles poderão ler o que outros leitores acharam da obra e comparar com as suas próprias apreciações. Avaliação do projeto Ao longo do projeto, avalie a participação do grupo. Observe as dificuldades recorrentes no processo e reflita sobre formas de reorganizar o seu trabalho, de modo a trabalhar sobre tais dificuldades. Você pode acompanhar, com os alunos, elaborando instrumentos escritos de acompanhamento dos registros e discussões. À semelhança do que é sugerido por Kátia Bräkling no texto Leitura e formação de leitores 10 e apresentado a seguir: DIÁRIO DE LEITURA DATA DIFICULDADES ENCONTRADAS TRECHO LIDO FACILIDADES DE LEITURA COMENTÁRIOS PESSOAIS Ao final do projeto, faça uma avaliação com eles. Isto poderá ser feito de modo mais informal, solicitando que eles comentem o que acharam da experiência de ler um livro desta forma: fazendo um diário e discutindo o livro durante a leitura. 10
Disponível em: <www.educarede.com.br>. Acessado em: 09 set 2009. 13
Anexo 1
Cronograma de leitura do romance A distância das coisas, de Flávio Carneiro Semana 1 Semana 2 Semana 3 Distribuição dos capítulos no período Capítulo 2 Capítulo 3 Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4 Aula 5 Apresentação do projeto de leitura e leitura do capítulo 1 feita pelo professor e acompanhada pelos alunos Foco de discussão: Foco de discussão: Foco de discussão: Foco de discussão: O foco narrativo A estrutura do texto As personagens O conto de enigma e a postura do leitor Personagens esféricas e planas: quando a personagem nos surpreende Avaliação da obra: o enredo e a forma de construção da narrativa Capítulos 4 e 5 Semana 4 Capítulo 6 14
Roteiro para o diário de leitura do livro A distância das coisas, de Flávio Carneiro ROTEIRO 1 – Capítulo 2 Atenção! Antes de ler os capítulos, veja o que será foco de discussão em aula: •
Sobre o que trata a história? •
Quem é o narrador? Como o narrador se posiciona na narração? Ele participa da história ou só “assiste de fora” e conta tudo o que está acontecendo? •
Que imagem é possível ter das personagens pela expressão de suas ações, sentimentos e idéias relatadas no texto. Como você descreveria Pedro, o tio, o pai, a mãe e Marina? 1. Registro das impressões pessoais (Durante e depois da leitura faça anotações sobre os trechos que você considerou mais interessantes, os acontecimentos mais importantes, pistas para desvendar o mistério, possíveis incoerências nas ações e nos sentimentos das personagens, características da linguagem, expressões não compreendidas, relações entre o texto e sua vida pessoal ou com algum outro texto lido ou filme,) _____________________________________________________________________________________________
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_____________________________________________________________________________________________ 2. Uma pergunta‐desafio: Há um trecho deste capítulo que pode explicar o título do livro. Qual é? _____________________________________________________________________________________________
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3. Registro da observação e análise de alguns elementos do romance Entram aqui as suas observações que você conseguir fazer sobre o foco da discussão, destacado no quadro sombreado acima. _____________________________________________________________________________________________
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4. Resultado da discussão em classe: Entram aqui as anotações finais sobre o que você alterou ou complementou com relação às suas anotações anteriores, durante as discussões em sala. _____________________________________________________________________________________________
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Roteiro para o diário de leitura do livro A distância das coisas, de Flávio Carneiro ROTEIRO 2 – Capítulo 3 Atenção! Antes de ler os capítulos, veja o que será foco de discussão em aula: •
Como o narrador organiza a seqüência dos fatos na narrativa até o momento: ele apenas narra os acontecimentos ou intercala‐os com suas impressões? •
Que características de Tiago chamaram sua atenção? O que ele tem em comum ou diferente em relação aos outros personagens? •
A história contada por Tiago sobre o último dia em que esteve com a mãe de Pedro é convincente ou pode levantar suspeitas? Por quê? •
Até aqui, você percebeu algo que pudesse ser uma pista que indicasse se a mãe de Pedro está viva ou não? 1. Registro das impressões pessoais (Durante e depois da leitura faça anotações sobre os trechos que você considerou mais interessantes, os acontecimentos mais importantes, pistas para desvendar o mistério, possíveis incoerências nas ações e nos sentimentos das personagens, características da linguagem, expressões não compreendidas, relações entre o texto e sua vida pessoal ou com algum outro texto lido ou filme,) _____________________________________________________________________________________________
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2. Registro da observação e análise de alguns elementos do romance (entram aqui as suas observações que você conseguir fazer sobre o foco da discussão, destacado no quadro sombreado acima) _____________________________________________________________________________________________
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_____________________________________________________________________________________________ 3. Resultado da discussão em classe: (entram aqui as anotações finais sobre o que você alterou ou complementou com relação às suas anotações anteriores, durante as discussões em sala) _____________________________________________________________________________________________
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Roteiro para o diário de leitura do livro A distância das coisas, de Flávio Carneiro ROTEIRO 3 – Capítulos 4 e 5 Atenção! Antes de ler os capítulos, veja o que será foco de discussão em aula: •
As mudanças (muitas vezes surpreendentes) de personalidade ou atitude de certas personagens. Dois personagens parecem mudar de personalidade, confundindo Pedro. Quem são? O que acontece com eles? •
Que pistas surgem para ajudar Pedro a desvendar o mistério da morte de sua mãe? 1. Registro das impressões pessoais (Durante e depois da leitura faça anotações sobre os trechos que você considerou mais interessantes, os acontecimentos mais importantes, pistas para desvendar o mistério, possíveis incoerências nas ações e nos sentimentos das personagens, características da linguagem, expressões não compreendidas, relações entre o texto e sua vida pessoal ou com algum outro texto lido ou filme). _____________________________________________________________________________________________
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_____________________________________________________________________________________________ 2. Registro da observação e análise de alguns elementos do romance (entram aqui as observações que você conseguir fazer sobre o foco da discussão, destacado no quadro sombreado
acima).
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_____________________________________________________________________________________________ 3. Resultado da discussão em classe: (entram aqui as anotações finais sobre o que você alterou ou complementou com relação às suas anotações
anteriores, durante as discussões em sala)
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Roteiro para o diário de leitura do livro A distância das coisas, de Flávio Carneiro
ROTEIRO 4 – Capítulo 6 O final do livro surpreendeu você? Registre livremente suas impressões sobre o livro. Procure falar não só sobre a história, mas também sobre a forma como foi escrita.
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