“Mortalidade Infantil em uma amostra de Recém-nascidos no Município do Rio de Janeiro, 1999-2001” Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca Autores: Ana Paula Esteves Pereira Silvana Granado Nogueira da Gama Maria do Carmo Leal INTRODUÇÃO Panorama Geral da Mortalidade Infantil 50.0 Taxa de Mortalidade Infantil - Brasil: dados de 1990 a 2002 e metas até 2010 47.5 45.0 40.0 35.0 29.7 30.0 25.0 2006 27.8 24,9 24.0 Neonatal 19.8 20.0 Pós-neonatal 15.0 10.0 5.0 1990 Dados 1992 1994 1996 1998 2000 2002 Meta Mundo para as Crianças Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Gráfico retirado do relatório da Rede de Monitoramento Amiga da Criança 16/9/2004 2004 2006 2008 2010 Meta Presidente Amigo da Criança INTRODUÇÃO Panorama Geral da Mortalidade Infantil Apesar da redução da TMI, o Brasil ocupou a 84ª colocação dentre os 226 países ranqueados no ano de 2005 Em 2006 passou para a 113ª colocação com taxa de 24,9 por mil NV. Outros países da América Latina em 2005: Colômbia -- 20,1 óbitos por mil NV; Argentina --15,2 óbitos por mil NV; Uruguai --12 óbitos por mil NV Países desenvolvidos em 2005: Alemanha, Holanda, Suíça, França, Espanha entre outros tiveram taxas em torno de 4 óbitos/mil NV Noruega, Japão e Suécia de 3 óbitos por mil NV. (2005, World Factbook CIA) INTRODUÇÃO Panorama Geral da Mortalidade Infantil TMI e seus componentes, Neonatal e Pós-Neonatal no município do Rio de Janeiro, 1994 - 2004 30 25 2005 20 15 13,9 10 6,3 5 4,6 0 1994 1995 1996 Infantil 1997 1998 1999 Neonatal 2000 2001 2002 2003 2004 Pós-Neonatal Fonte: CISA/SES-RJ; GIE/SVS/SMS-RJ OBJETIVOS Objetivo geral: Identificar e descrever óbitos infantis numa amostra de nascimentos no município do Rio de Janeiro. Objetivos específicos: Calcular a taxa de mortalidade infantil, neonatal e pósneonatal da amostra estudada; Caracterizar e comparar a mortalidade infantil em três diferentes estratos de maternidades da pesquisa; Descrever os óbitos neonatais e pós-neonatais segundo a causa básica principal do óbito; Avaliar a associação entre os fatores de risco e óbito infantil, neonatal e pós-neonatal METODOLOGIA “Estudo da Morbi-mortalidade e da Atenção Peri e Neonatal no Município do Rio de Janeiro” Composto por amostra de 10.072 puérperas que se hospitalizaram em maternidades do município do Rio de Janeiro, por ocasião do parto, entre julho de 1999 e março de 2001; Amostragem estratificada três grupos de maternidades: municipais e federais (34,8% dos partos); estaduais, militares, filantrópicas e privadas conveniadas com o SUS (34,4%) e as maternidades privadas não conveniadas com o SUS (30,8%) METODOLOGIA Linkage dos dados Banco de dados 10.186 nascidos vivos da amostra; 5.946 óbitos infantis ocorridos no período de junho de 1999 à março de 2002, no município do Rio de Janeiro (Dados sobre mortalidade -- coletados do Sistema de Informações de Mortalidade - SIM, fornecido pela Coordenação de Epidemiologia da SMS/RJ) Foi utilizado o método do relacionamento probabilístico de registros que se baseia em três processos: Padronização de registros; Blocagem de registros; Pareamento de registros METODOLOGIA Linkage dos dados Foi utilizado o conceito de escore limiar para a classificação dos pares em três categorias: verdadeiros, falsos e duvidosos. Este conceito foi proposto por Newcombe no ano de 1959 e encontra-se detalhado em artigo científico mais recente (Newcombe, 1989). os pares que apresentaram o escore acima de um “limiar superior” foram classificados como verdadeiros; os com escore abaixo de um “limiar inferior” foram considerados pares falsos. os que mostraram valores de escore intermediários entre os dois limiares, foram tidos como duvidosos e revisados manualmente. No decorrer das três etapas os registros foram trabalhados segundo os passos descritos em : Reclink Guia do usuário (Camargo & Coeli, Coeli, 2000; Camargo & Colei 2002). RESULTADOS TABELA 1 Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) da amostra estudada e proporção de seus componentes Estudo Original Neonatal precoce Neonatal tardia Pósneonatal Total Estudo atual Total n % TMI n % TMI n % 58 82,9 5,7 12 17,1 1,2 70 100 TMI 42,7% 6,9 100 23,2% 3,7 100 34,1% 5,5 100 100% 16,1 22 14 94 57,9 25 57,3 2,2 1,4 9,2 16 42 70 42,1 75 42,7 1,6 4,1 6,9 38 56 164 RESULTADOS FIGURA 1 Percentual da causa básica do óbito infantil da amostra 7% 2% 2% 5% 8% 51% 9% 16% 2% 2% Afecções do período perinatal 5% 7% Mal formações congênitas 8% Doenças infecto-parasitárias Doenças respiratórias Mal definidas Causas externas 9% Outras causas 16% DO não encontrada 51% RESULTADOS FIGURA 2 Percentual da causa básica do óbito Neonatal e Pós-neonatal segundo peso ao nascer e tipo de prestador Neonatal > 1500g < 1500g 100% Pós-neonatal > 1500g Neonatal Privado Público < 1500g Privado Público 0,3 80% 60% 11,2 40% 20% Pós-neonatal 2,3 0,6 1,8 1,7 0% . . Afecções do período perinatal Doenças respiratórias . . Mal formações congênitas Causas externas . . Doenças Infecto-parasitárias Outras causas RESULTADOS Mortalidade infantil segundo tipo de prestador, complexidade da maternidade e destino do RN Neonatal TABELA 2 Taxa RR Tipo de prestador Estrato 3 Estrato 2 Estrato 1 Total 2,8 7,9 19,9 10,6 1 Complexidade Sem UTI Com UTI Total 7,6 13,3 10,6 RN transferido? Não Sim 8,1 87,9 *significativo < 0,05 2,78* 7,00* Pós-neonatal IC L inf L sup Taxa RR 1 1,54 5,03 4,48 10,94 1,6 4,7 9,9 5,6 1,32 2,33 4,7 6,3 5,6 1 1,36 4,8 36,1 1 1 1,75* 1 10,85* 5,40 21,82 2,98* 6,23* 7,47* IC L inf L sup NV 1,24 7,19 3,03 12,82 3162 3412 3612 10186 0,89 2,08 4756 5430 10186 2,37 23,56 9379 91 RESULTADOS Mortalidade infantil segundo local de residência materna, peregrinação para o parto, sexo e tipo de gestação Neonatal TABELA 3 Taxa RR Residente no MRJ Sim Não Total 9,4 20,7 10,7 1 Peregrinação Não Sim Total 7,9 19,0 10,5 Sexo do RN Feminino Masculino Total 8,4 12,3 10,4 Gestação Única Gemelar ou mais Total 9,2 32,5 10,1 *significativo < 0,05 2,21* IC L inf L sup Taxa RR 1,45 3,36 5,4 7,0 5,6 1 1,30 1,75 3,31 5,1 7,2 5,6 1 1,41 1,10 1,98 5,1 6,0 5,6 1 1,18 1 1,98 6,31 5,1 19,6 5,7 1 2,41* 1 1,48* 1 3,53* Pós-neonatal 3,83* IC L inf L sup NV 0,63 2,71 8973 1160 10133 0,83 2,38 7742 2422 10164 0,76 1,82 4900 5023 9923 1,76 8,30 9457 369 9826 RESULTADOS TABELA 4 Mortalidade infantil segundo variáveis socioeconômicas Neonatal Pós-neonatal Taxa RR IC L inf L sup Taxa RR IC L inf L sup NV Escolaridade <que 4 série 4 a 7 série EF completo EM e mais Total 16,0 11,5 10,1 6,7 10,1 2,16* 1,56* 1,20 3,91 1,05 2,32 0,85 2,20 8,1 8,1 4,4 2,5 5,2 3,27* 3,26* 1,26 8,50 1,77 5,98 0,77 4,12 876 3127 2280 3652 9935 Faixa etária Até 19 20-34 35 e + Total 13,4 8,3 14,4 10,0 1,60* 1,06 2,43 6,8 4,4 6,9 5,2 1,53 1 1,56 0,83 2,81 1945 6838 1179 9962 Cor da pele Branca Parda Negra Total 7,2 13,5 13,6 10,2 1 1,30 2,72 1,22 2,96 4,8 5,7 6,1 5,3 1 1,19 1,26 Trabalho da mãe Sim Não Total 9,1 10,6 10,0 1 0,86 1,56 3,4 6,3 5,2 1,36 1 1 1,73* 1,88* 1,90* 1 1,16 1,04 2,87 1,78 1 1,83* 0,73 3,31 0,68 2,11 0,65 2,47 5025 2823 1835 9683 1,15 2,92 3836 6133 9969 RESULTADOS Mortalidade infantil segundo apoio familiar, satisfação materna e pré-natal TABELA 5 Neonatal Pós-neonatal T axa RR A poio do pai gest. Sim N ão ou pai falecido 9,8 12,6 1 1,29 Total 10,1 D esejo de engravid. Sim N ão 8,8 11,2 Total 10,1 Satisfação da m ãe Sim N ão 9,0 19,7 Total 10,1 C om quem m ora C om panheiro P ai/m ãe/am igos Só com filhos ou só 9,0 13,0 26,4 Total Índice K otelchuck 0e1 10,1 2 7,7 3e4 Total 3,6 10,1 21,2 IC L inf L sup 0,73 2,26 T axa RR 4,7 9,8 1 2,11* IC L inf L sup 1,09 4,10 5,2 1 1,28 0,95 1,72 2,9 7,0 2,19* 1,39 3,47 4,6 10,0 1 2,39* 1,50 3,81 2,93* 0,90 1,37 2,31 6,24 4,9 4,2 11,6 1 2,16* 1,11 4,21 1 8928 1017 9945 1 0,84 2,36 0,36 0,73 1,97 7,64 5,0 5,98* 2,16* 4453 5461 9914 5,2 1 1,44 8904 1032 9936 5,2 1 NV 8200 1462 265 9927 4,00 8,94 9,6 3,49* 1,96 6,22 2778 1,24 3,78 3,7 1,35 0,62 2,96 2993 2,7 5,0 1 3660 9431 RESULTADOS Mortalidade infantil segundo IG, BPN, escore Apgar e anomalia congênita TABELA 6 Neonatal Taxa RR Idade gestacional < 37 Não Sim Total 2,9 61,4 9,9 1 Peso ao nascer < 2500g Não Sim Total 2,5 77,9 9,3 Apgar <7 no 5ominuto Não Sim Total 5,0 210,5 10,1 Anomalia Congênita Não Sim Total *significativo < 0,05 7,1 70,7 8,4 Pós-neonatal IC L inf L sup 21,42* 15,74 29,16 1 31,38* 22,86 43,09 1 42,29* 35,13 64,58 1 9,96* 5,84 17,01 Taxa RR 3,1 19,6 5,0 1 2,9 23,6 4,7 4,1 55,6 5,1 4,3 32,6 4,9 IC L inf L sup 6,30* 3,83 10,38 1 8,03* 4,77 13,49 1 13,57* 6,22 32,27 1 7,60* 3,29 17,56 NV 8374 1140 9514 8864 873 9737 8839 228 9067 9159 198 9357 RESULTADOS Mortalidade infantil segundo perdas anteriores, paridade, doença crônica e uso de cigarro e/ou álcool na gravidez TABELA 7 Neonatal Pós-neonatal Taxa RR Morte de NV anteriores Não Sim Total 6,9 34,3 9,2 1 Paridade Primigesta 1-2 3e+ Total 9,9 8,2 15,9 10,0 Doença Crônica da mãe Não Sim Total 8,6 18,8 9,8 Fumou e/ou bebeu na GV Não (nenhum) Álcool (somente) Fumo (somente) Ambos Total *significativo < 0,05 9,0 11,3 13,7 13,9 10,0 IC L inf L sup 4,93* 2,78 8,77 1,21 1 0,84 1,74 1,94* 1 1,25 1,52 1,55 RR 5,7 17,8 6,7 1 IC L inf L sup 3,12* 1,39 7,01 0,47 1 0,94 0,25 0,88 1,24 3,05 3,0 6,4 6,0 5,0 1,41 3,39 4,7 8,7 5,2 1 1,86 0,74 2,14 0,80 2,89 0,75 3,17 4,3 6,1 8,3 10,6 5,2 1 1,43 1,95 1 2,19* Taxa 2,48* NV 4602 408 5010 0,46 1,94 4042 4408 1514 9964 0,95 3,61 8610 1171 9781 0,67 3,03 0,82 4,60 1,05 5,86 7320 1326 731 574 9951 RESULTADOS Resumo dos resultados Correção da taxa de mortalidade original: em 21% para o componente neonatal precoce; em 73% para o neonatal tardio; em quatro vezes para o pós-neonatal Na análise por causa básica do óbito: semelhante às do MRJ para o ano de 2000; elevada % de óbitos por causas “evitáveis”; significativa diferença entre o setor público e privado alta taxa e proporção de óbitos por APP em RN com “boa viabilidade” ( PN > 1500g) RESULTADOS Resumo dos resultados Se associaram apenas com o óbito neonatal: nascer em estabelecimentos com UTI neonatal; não ser residente no município do Rio de Janeiro; peregrinação em busca de atendimento para o parto; ser do sexo masculino; mães em extremos etários; mães da raça negra; mães que moram sozinhas, com alta paridade e portadoras de doença crônica RESULTADOS Resumo dos resultados Se associaram com o óbito neonatal e pós-neonatal idade gestacional; peso ao nascer; índice de Apgar e tipo de gestação; anomalias congênitas; tipo de prestador e transferência do RN; escolaridade materna e satisfação com a gravidez; assistência pré-natal RESULTADOS Resumo dos resultados Se associaram apenas com o pós-neonatal trabalho materno remunerado; desejo materno pela gravidez; apoio do pai na gravidez; uso de cigarro e/ou bebida alcoólica durante a gestação; DISCUSSÃO Reflexão sobre a qualidade da assistência ao pré- natal, parto e ao recém-nascido elevada taxa de óbitos neonatais ocorridos por afecções no período perinatal em RN “viáveis” resultados semelhantes encontrados nos municípios de Belo Horizonte e São Paulo (Lansky et al., 2002; Kilsztajn, Kilsztajn, et al., 2003) Possíveis falhas nos programas de atenção primária à saúde infantil muitos óbitos causados por doenças infecto-parasitárias e respiratórias refletindo também as grandes desigualdades sociais da nossa população DISCUSSÃO Publicações com a mesma amostra Gestação na adolescência se associou com: baixa escolaridade, residir em favela, assistência pré-natal inadequada, falta de apoio do pai, gravidez indesejada, BPN e prematuridade (Gama et al., 2002) Situação desfavorável entre as mulheres negras: mais adolescentes, com baixa escolaridade, sem trabalho remunerado e vivendo sem companheiro (Leal et al., 2005) Apoio do pai, morar com o companheiro e o trabalho remunerado da mãe apontam a contribuição de fatores sociais e a rede de apoio nos desfechos negativos ao nascimento Situação desfavorável no SUS (Leal et al. 2004) outros estudos apontaram associação variáveis (Ribeiro et al. 2004; Franç França et al. 2001) destas DISCUSSÃO Pré-natal possível processo de auto-seleção do grupo com prénatal adequado -- mulheres com melhores condições de vida (Halpern et al., 1998) maior adequação de pré-natal observada nesta amostra: mães mais instruídas, com maior freqüência vivendo com os pais do RN, têm menos filhos e se mostraram satisfeitas com esta gestação Todavia, o papel do pré-natal como protetor do BPN foi mantido, mesmo controlado por estas variáveis. Acredita-se que o mesmo seja verdadeiro em relação ao óbito infantil já que este é altamente associado com o BPN. CONCLUSÃO O processo de “linkage” empregado neste trabalho apontou a relevância de se criar um campo que possibilite identificar o indivíduo por um número que permita acompanhá-lo em relação às internações e óbitos a partir de bancos de dados disponíveis em nível nacional, tais como o SINASC, o SIM e SIH/SUS. O estudo reafirmou que a determinação da mortalidade infantil deve estar imbricada com o estudo do baixo peso ao nascer e prematuridade, além de fatores socioeconômicos. A mortalidade infantil resulta de uma complexa cadeia causal, na qual os determinantes proximais são desencadeados, por sua vez, por fatores intermediários e distais (Victora et al., 1997), apontando a necessidade de uma análise hierarquizada dos dados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos diversos países, assim como em diferentes regiões do Brasil, os estudos sobre mortalidade infantil apontam uma forte influência dos determinantes proximais como o baixo peso ao nascer e a prematuridade nas taxas de mortalidade infantil. Por outro lado, é sabido que outros fatores desencadeiam uma sucessão de eventos que fatalmente irão culminar com um nascimento prematuro e/ou com baixo peso, aumentando drasticamente as chances da ocorrência de um óbito infantil. A análise hierarquizada é uma alternativa aplicável já que se ajusta um grande número de covariáveis, assumindo a sobredeterminação de algumas sobre as demais. A escolha de critérios para a seleção de variáveis de confusão ultrapassa o aspecto puramente estatístico. OBRIGADA!