O PODER DA COMUNICAÇÃO NA ENFERMAGEM A existência do homem é marcada pela comunicação. No decorrer da vida, ele passa a influenciar e a ser influenciado pelo meio em que vive. O desenvolvimento da comunicação adquire complexidade pela própria necessidade de domínio da linguagem, leitura, processo de raciocínio e análise do mundo e de si próprio. A eficácia da Comunicação está no conseguir partilhar um significado… A Comunicação é definida como o ato de produzir e receber mensagens por meio da linguagem, é também compreender e compartilhar mensagens enviadas e recebidas. O modo como se dá seu intercâmbio exerce influência no comportamento das pessoas envolvidas em curto, médio ou longo prazo. Na área da saúde é fundamental saber interagir com outras pessoas. O profissional da área da saúde tem como uma das bases do seu trabalho as relações humanas, sejam elas com o doente, seus familiares ou com a equipe multidisciplinar. Como comunicar… No contexto da prática assistencial da enfermagem, a comunicação constitui-se num instrumento básico para o cuidado, sendo ferramenta primordial para formação de vínculo e satisfação das necessidades do doente. O profissional deve ter em conta na comunicação a importância do processo comunicativo não podendo esquecer que as expressões faciais, o tom de voz, a audição, o tato e a escrita são também formas de comunicação amplamente utilizadas, conscientemente ou não. Além da informação ou de algum dado objetivo, o que se sente em relação ao que está sendo transmitido é sempre percetível pelo tom de voz utilizado para transmitir a mensagem, pelas palavras escolhidas, pela ênfase que é dada a determinada elocução e pela postura corporal assumida ao transmitir a mensagem. Muitas reclamações não ocorreriam se houvesse maior e melhor informação… Uma comunicação de qualidade estabelecida entre profissional de saúde, equipe de saúde, doente, família, beneficia a adesão e o sucesso do tratamento, redução dos gastos em saúde, maior confiança do utente/profissionais de saúde, redução do nível de ansiedade do doente/família. Diante disso, a qualidade da comunicação, no contexto da saúde, não é direcionada somente ao utente/profissional de saúde, mas para a toda a equipa multidisciplinar e família. Diante disso, percebe-se que a comunicação é parte integrante dos cuidados da enfermagem, a qual colabora para que o doente consiga enfrentar e conviver com as diferentes etapas que se apresentam durante o processo de doença. Saber escutar… O escutar também é um cuidado e, não é apenas ouvir, mas permanecer em silêncio ao lado, utilizar gestos de afeto que expressem aceitação e estimulem a expressão de sentimentos vivenciados pelo doente. Assim, a forma de comunicar muda uma situação, para melhor ou para pior. Quando temos que transmitir más notícias? A má notícia tem sido definida como qualquer informação que envolva mudança drástica na perspetiva de futuro da pessoa, num sentido negativo que envolve progressão da doença, dor ou perdas de funções que se tornarão crónicas ou permanentes ou a necessidade de tratamentos prolongados, dolorosos ou custosos que podem enfraquecer e/ou mutilar o corpo. Elas também podem ser mensageiras de prognósticos que apontam para um tempo de vida mais curto do que o esperado, ou mesmo para a proximidade da morte. O processo de transmitir más notícias ao doente é desafiador e complexo. Portanto, o problema da comunicação levanta as seguintes questões: o que deve ser dito? Quem deve dizer? Como deve ser dito? Para quem deve ser dito? Os profissionais de saúde ficam preocupados com o fato do utente conseguir tolerar a comunicação de um diagnóstico. Por vezes ficam em conflito interno, entre contar, ou não, uma má notícia para o seu doente e/ou a seus familiares. Diante disso, há a necessidade de os profissionais questionarem-se em relação à maneira como irão dividir essas informações com as pessoas envolvidas, bem como informar-se sobre o que o doente sabe realmente e o que não quer saber e qual o profissional mais bem preparado para o fazer. Na comunicação de más notícias são normalmente adotadas algumas estratégias específicas: (ver caixa) Ambiente tranquilo, sem interferências e com privacidade, uma conversa franca, sem ilusões e sem falsas expectativas. Uso de linguagem percetível evitando termos técnicos de modo que o utente compreenda o que está a ser transmitido, Posicionar-se ao mesmo nível que o utente, sente-se se o utente estiver sentado Informação individualizada e o conteúdo transmitido, de acordo com as necessidades ou desejos do doente envolvendo outras pessoas se o utente assim o desejar Responder a todas as eventuais perguntas e esclarecer todas as dúvidas, dando tempo ao utente/familiar de assimilar tudo o que foi transmitido Reconhecer as emoções e sentimentos que podem eclodir neste momento por parte do utente/pessoa significativa No final da comunicação, fazer uma síntese das principais questões abordadas e assegurar-se de que tudo o que foi dito, foi compreendido. Assim, abre-se a possibilidade de se fortalecer o laço entre profissional de saúdedoente e de garantir a qualidade desta relação. Saber compartilhar uma notícia dolorosa com um doente não é apenas um desafio, é também uma arte, pois o profissional da saúde deve falar sem rodeios sobre o diagnóstico, prognóstico e tratamento, mas sem retirar a esperança. Os doentes e seus familiares, quando recebem uma má noticia, normalmente passam pelos seguintes estágios: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Cabe ao profissional de saúde e ao Enfermeiro em particular, saber lidar com a diversidade da resposta humana a esta comunicação. Enfª Maria José Silva Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica