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UNA CITTÀ A MISURA DI UOMO
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MANIFESTO POR UMA ARQUITETURA NA ESCALA
HUMANA
Nikos A. Salìngaros
Publicado como Conclusão do livro Doze Aulas de Arquitetura — Desenho Sustentável
através de Algorítmo, Umbau-Verlag, Solingen, Germany, 2010. A presente versão em
português é a tradução por Lívia Salomão Piccinini.
Nós somos a verdadeira avant-garde: um grupo de arquitetos, urbanistas e
sociólogos prontos para criar uma nova cidade na escala humana e recriar os subúrbios
e as desumanas periferias, com o objetivo de gerar um tecido urbano vivo. Nós temos
as regras para fazer isto. Estas regras foram tomadas da ciência e da matemática, mas
embora nós as tenhamos publicado de maneira livre em artigos, livros, vídeos e na web,
elas são desconhecidas e ignoradas pelos “arquitetos de nome” responsáveis por
construir e modernizar as cidades atualmente (melhor dito, degradando a construção e
a renovação). Mas como esses indivíduos estão apenas no jogo pelo poder, eles não se
interessam pelo desenvolvimento científico, a não ser quanto ao mau emprego de
termos científicos tais como fractal e caos, usados de maneira errada e desonesta com o
intuito de promover seus projetos monstruosos.
Durante as últimas décadas, a sociedade perdeu um dos seus direitos fundamentais:
a liberdade de escolher o caráter do nosso ambiente de viver, o que é um verdadeiro
golpe de estado contra a própria democracia. Em todos os lugares nos são impostos
prédios e estruturas monstruosas, com suas superfícies alienígenas e desumanas
enquanto os tecidos urbanos de escala humana são destruídos e substituídos por
estruturas monstruosas, estacionamentos gigantescos e vias rápidas que cortam os
centros das nossas cidades. Experimentações sociais são implementadas em escalas
massivas, tratando as pessoas em geral como se fossem brinquedos. Tudo isso tem sido
apresentado como um maravilhoso “progresso”, mas, ao invés disso, é, com freqüência,
a máscara política de uma suposta liberação. Na análise final, isto é somente uma
grande propaganda.
A essência fundamental da vida reside na produção de informação. Cada ser vivo é
1 um sistema complexo de informações, no qual uma parte reside no material genético, e,
nos seres humanos, uma outra parte é guardada como um corpo de conhecimentos.
Esta “memória” é guardada como conhecimento cultural, técnico, científico, artístico,
etc. A Arquitetura é também um depósito de informações que, através dos séculos,
foram descobertas e desenvolvidas pelas diversas culturas. O International Style perdeu
todo este conhecimento e, hoje, a auto-proclamada avant-garde continua a desprezar as
informações herdadas.
Meu grupo de amigos e colaboradores desenvolveu e redescobriu leis para uma
Arquitetura na escala humana que nós temos publicado, abertamente, na Internet. Os
movimentos da Arquitetura contemporânea, ao contrário, praticam a mistificação,
declarando que é necessário escolher um arquiteto famoso para desenhar qualquer prédio
“importante”. Eles afirmam que estes arquitetos famosos e da moda possuem um
conhecimento secreto que os permite produzir um desenho inovador. Essa mistificação
destrói as possibilidades da informação-aberta-para-todos, e destrói a liberdade de
escolha.
A ciência contemporânea é o mais democrático sistema que existe atualmente, pois
permite a livre crítica de seus resultados. Ela não é apenas baseada na autoridade de
um indivíduo particular, mas representa a combinação do trabalho coletivo de
gerações. Eu sou membro de um movimento de urbanismo de “fontes abertas” e
“colega-para-colega” (P2P ou produção entre pares), onde a noção de que o “expert”
pertencente à avant-garde possui um conhecimento secreto e escondido sobre desenho,
parece ser fundamentalmente anti-democrática. As informações úteis devem poder ser
verificáveis, ou seja, devem estar abertas para todos que desejem testá-las e aplicá-las, e
não serem mantidas escondidas como um segredo pseudo-religioso que se tornou um
dogma. Manter-se aberto é o caminho que o conhecimento científico tomou para
avançar e rejeitar o obscurantismo. A avant-garde de hoje não é nada mais do que um
movimento obscurantista. Por que todo esse aço, vidro e concreto e nenhum traço de
um ornamento harmonioso, nos prédios da moda?
Foi o meu grupo de amigos que desenvolveu novos resultados, fundamentais, para
planejar o tecido urbano: conceitos como carga fractal, cidade em rede, escalonamento
universal e hierarquia, códigos geradores, arquétipos, coerência urbana, linguagem de
formas, micro-cirurgia urbana e outros. A auto-proclamada avant-garde ignora tudo
isso. Além disso, os arquitetos famosos não se importam nem um pouco pela maior
parte das atividades de construção na Terra: a auto-construção nas favelas, o problema
da habitação social, a periferia urbana, o crescimento das favelas no mundo, o consumo
assustador das áreas rurais devido ao espalhamento urbano. A Humanidade constrói
para sobreviver, o que é muito distante das propostas obscenamente caras dos prédios
da moda. Somente quando eles vêm a oportunidade de obter lucro, os arquitetos de
“nome” propõem projetos paranóicos, que não entendem nada das necessidades dos
homens como indivíduos. O arquiteto de “nome” nunca gasta tempo para aprender algo
sobre a biologia e a sociologia humana. Nós, ao contrário, trabalhamos constantemente
esses problemas. Nós estamos desenvolvendo técnicas de desenho participativo e
planejamento que irão nos capacitar a salvar as periferias urbanas e a reestruturar a
habitação informal de maneira a gerar um ambiente realmente humano.
Em cada país se pode encontrar várias tradições de construção e planejamento
sustentável amarrados à escala humana. Não há exceção: cada país, cada povo,
desenvolveu mais de uma tradição arquitetônica com a medida do ser humano, porque
essa é a natureza humana. A Arquitetura da escala humana é uma extensão da nossa
biologia. Meus amigos e eu temos mostrado que a evolução da regras arquitetônicas
possui as mesmas fontes das regras físicas e biológicas. Somente com a industrialização
2 se perderam estas ligações fundamentais entre Biologia e Arquitetura. Hoje nós
esquecemos tudo isso, em uma amnésia fatal. As linguagens e tradições de desenho têm
sido rejeitadas pelo movimento modernista – o International Style – ao ponto de, hoje,
não sermos mais capazes de reconhecer a riqueza arquitetônica existente ao redor do
mundo.
É necessário pesquisar novamente, nas modestas tradições arquitetônicas, na
Arquitetura esquecida pelos magazines brilhantes, procurando não apenas na
Arquitetura vernácula e histórica, mas também na auto-construção: a Arquitetura das
favelas ao redor do mundo. Fora do mundo da moda, onde um estilo é imposto porque
é “aprovado pela intelligentsia internacional” os seres humanos constroem, de acordo com
os seus corações e seus corpos. Eles fazem o melhor que podem, com os materiais
disponíveis, para construir um ambiente para viver e estar com a família.
É chocante ver como as tradições arquitetônicas do mundo inteiro vêm sendo
enterradas pela avant-garde de hoje, mesmo que aquelas tradições estejam ainda sendo
praticadas na frente dos seus olhos! A propaganda negativa é tão efetiva que ela não
permite que mesmo os arquitetos (não a maioria da população) percebam e valorizem
sua própria cultura construtiva. As pessoas não vêem isso porque alguém das elites
proclamou que aquela tradição arquitetônica é um sinal de “decadência”, uma prática
retrógrada e que, assim, ela se coloca como um impedimento para o desenvolvimento
hiper-tecnológico prometido pela classe consumista global das elites. Uma
monumental fraude!
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