ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA NO BRASIL: IMPLICAÇÕES DOS MODELOS INSTITUCIONAIS NA ATUAÇÃO DO PROFESSOR TUTOR Roberta Rossi Oliveira Palermo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PEPG em Educação: História, Política, Sociedade Agência de Fomento: CAPES Eixo Temático 3: Pesquisa, Formação de Professores e Trabalho Docente Categoria: Comunicação Oral A articulação – formação e identidade do professor tutor – torna-se atualmente, uma discussão complexa, tendo em vista a necessária identificação do modelo de educação a distância, que influencia e determina a atuação do professor tutor. O MEC – Ministério da Educação e Cultura, por exemplo, não reconhece o tutor como professor, porém é o mesmo órgão que amplia a possibilidade de educação na modalidade a distância, destacando-a como estratégica para o país. Por consequência, não há como o professor tutor ser reconhecido como participante da carreira docente, por exemplo, pelo sindicato dos professores. A UAB – Universidade Aberta do Brasil tornou-se, concretamente, o modelo de educação na modalidade a distância, ratificado pelo governo, ou melhor, constituído por ele por meio do MEC – Ministério da Educação. No entanto, ela mesma não legitima o trabalho do tutor como professor. Os diferentes modelos de educação a distância, no entanto, permitem compreender que há diversos tipos de tutoria, que podem ou não fazer a mediação de conhecimento, mas que levam ao reconhecimento de mais uma faceta do trabalho docente. Assim, é possível verificar os contornos do contexto da atuação do professor tutor. Assim coloca-se o problema de estudo – as implicações dos modelos institucionais na atuação do professor tutor, no ensino superior e na modalidade a distância no Brasil. Metodologia de pesquisa Em relação à metodologia específica da pesquisa – pesquisa bibliográfica – vale lembrar aqui a orientação de textos como o de Strehl (2011), que apresenta a pesquisa bibliográfica como instrumento de investigação e o de Traina & Traina Jr. (2011), que se volta especificamente para a operacionalização da pesquisa bibliográfica. São autores segundo os quais a pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e 2 consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de um tema. Modelos de educação à distância Compreender os modelos pelos quais as instituições desenvolvem seus cursos, e sua respectiva estrutura na modalidade a distância torna-se condição para a análise da atuação do professor tutor. Em Gomes (2011) há uma importante contribuição acerca das características das gerações de EAD em relação as formas de comunicação mais utilizadas, conforme demonstrado no quadro apresentado e adaptado, com base nas pesquisas de Moore & Kearsley (1996). A partir da identificação dos modelos pelos quais as instituições se organizam é possível compreender o “lugar” do professor-tutor na respectiva estrutura. Além disso, é possível identificar diversas instituições e vários modelos que orientam suas práticas, sua atuação na modalidade a distância. No Quadro 01, a seguir, são apresentadas, por Gomes (2011) as características das gerações de EAD em relação a: formas de comunicação, tutoria e interatividade, em cada uma das gerações de EAD. QUADRO 01 – Características das gerações de EAD em relação a: formas de comunicação, tutoria e interatividade Característica 1ª geração – 1880 2ª geração – 1921 3ª geração – 1970 Formas de comunicação Correios e correspondência. Rádio, TV e outros recursos didáticos, como: caderno didático, apostilas, fita K-7. Integração áudio e vídeo e correspondência. Gerações de EAD Tutoria Interatividade Instrução por correspondência. Aluno/material didático escrito. Atendimento esporádico, dependendo de contatos telefônicos, quando possível. Suporte e orientação ao aluno. Discussão em grupo de estudo local e uso de laboratórios da universidade nas férias. Pouca ou nenhuma interação professor/aluno. Guia de estudo impresso, orientação por correspondência, transmissão por rádio e TV, Audiotapes gravados, conferências por telefone, kits para experiências em casa e biblioteca local. 4ª geração – Atendimento síncrono e Recepção de lições por Comunicação síncrona e 1980 rádio/ televisão/ assíncrono, dependendo assíncrona com o tutor, audioconferência de contatos eletrônicos. professor e colegas. 5ª geração – Síncrona e assíncrona. Atendimento regular por Interação em tempo real ou não, 2000 um tutor, em determinado com o professor do curso e com local e horário. os colegas de curso. Fonte: Adaptação: Silvane Guimarães Silva Gomes. MOORE, M.; KEARSLEY, G. 1996. É possível, hoje, propor uma nova adaptação ao quadro proposto, por exemplo, em relação às formas de comunicação em algumas universidades: a perspectiva 3 síncrona1 é muito presente e, por vezes, constitui o diferencial da aprendizagem e das relações construídas no ambiente virtual (AVA). A construção de saberes profissionais pelo professor tutor Na perspectiva de compreensão da relação educação e trabalho, a escola atualmente, especialmente quanto à modalidade de ensino a distância, reflete uma função utilitarista da educação. Se partirmos do pressuposto que a escola reflete a sociedade, é possível verificar a necessidade da sociedade atual em se “ter” em detrimento do “ser”, que impõe abstração, questionamentos, construção e desconstrução de conhecimentos, saberes e reflexão sobre eles. A escola passa a compor a manutenção da alienação que se instala na sociedade, pois não forma, apenas entrega conteúdos que se espera serem aplicáveis automaticamente na vida cotidiana e se não os forem, esses conteúdos, informações, conhecimentos, automaticamente não serão validados ou relevantes para discussão e apreensão pelos estudantes. Nesse contexto, o professor tutor, sua formação ou não formação se revelam no seu fazer. Se partirmos da afirmação que a não reflexão no trabalho é uma condição para alienação torna-se compreensível o discurso de vários professores tutores que declaram ter várias turmas com um número significativo de alunos, nas quais a mediação e mediatização são desconsideradas. Não há no espaço e tempo de atuação desse profissional, possibilidade de reconhecimento identitário – que, segundo Dubar (1997) depende da natureza das relações de poder neste espaço, do lugar que o indivíduo ocupa dentro da instituição e das relações estabelecidas com seu grupo de pertença. Ou seja, essa falta de identidade profissional está ligada à própria situação funcional do tutor e ao seu percurso de formação para esse tipo de atuação. Formação, segundo Tardif e Raymond (2000) implica em articulação pelo profissional dos saberes adquiridos nas diferentes fontes identificadas (a história de vida, o percurso de escolarização, a formação profissional específica, as ferramentas profissionais e a própria prática do ofício). Os professores-tutores em exercício atuam de forma a considerar menor, ou menos importante sua atuação, visto que a relação professor-aluno, na maioria das vezes, não se instala. Sua formação, ou seja, a Comunicação SÍNCRONA – atendimento online, ou seja, por meio de chats, fóruns, videoconferências, entre outros, onde as pessoas estão conectadas simultaneamente. Comunicação ASSÍNCRONA – ambiente online acessível sem definição de horários para desenvolvimento das atividades propostas, o aluno fica livre para compor suas respostas às atividades nos horários possíveis para ele, considerando um cronograma pré-estabelecido. 1 4 construção de seus saberes profissionais acaba restrita à utilização das ferramentas tecnológicas próprias à EAD. A política educacional relativa à EAD no Brasil Cabe neste momento lançar mão do conceito de política educacional – definida por Santos (2011, n.p) como “(...) os meios através dos quais o Estado atua, positivamente, para garantir que esse direito público e subjetivo, de natureza social e com status de bem jurídico comum seja efetivamente realizado em nosso país”. No que tange à política para a educação a distância no Brasil, os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (BRASIL/MEC, 2007) mencionam, logo na apresentação, que “(...) no contexto da política permanente de expansão da educação superior no País, implementada pelo MEC, a EaD coloca-se como uma modalidade importante no seu desenvolvimento”. Então, é possível afirmar que se tem um objetivo claro em relação à modalidade de educação a distância como estratégia do Estado brasileiro para acesso à educação superior. É importante destacar a falta de clareza do documento em relação ao Corpo de Tutores. É mencionada, por exemplo, a necessidade de qualificação adequada ao projeto do curso. Como compreender o que significa qualificação adequada? Poder-se-ia supor que esta qualificação adequada estaria vinculada à graduação na área do curso ou ao título do respectivo curso de graduação a que estaria vinculada a atuação do professor tutor. E quanto à experiência? Não são mencionadas e sequer citadas outras competências, por exemplo, de cunho pedagógico e tecnológico. Ainda no mesmo documento, define-se a equipe multidisciplinar e são identificadas as atribuições do docente e do tutor. Sendo algumas considerações um tanto quanto contraditórias, tais como Equipe Multidisciplinar – “Em educação a distância, há uma diversidade de modelos, que resulta em possibilidades diferenciadas de composição dos recursos humanos necessários à estruturação e funcionamento de cursos nessa modalidade.”. Quanto aos Docentes, é dito “[...] é enganoso considerar que programas a distância minimizam o trabalho e a mediação do professor. Muito pelo contrário, nos cursos superiores a distância, os professores veem suas funções se expandirem, o que requer que sejam altamente qualificados.”. Em relação aos Tutores “O corpo de tutores desempenha papel de fundamental importância no processo educacional de cursos superiores a distância e compõem quadro diferenciado, no interior das instituições.” E acrescenta o documento: O tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a 5 distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico. (BRASIL/MEC, 2007, p. 19-21) As atribuições de docentes e tutores são mencionadas, mas há maior ênfase nos modelos definidos pelas respectivas instituições para operacionalização de seus cursos nesta modalidade de ensino. Em nome da chamada autonomia universitária não se define um modelo de educação a distância para ser operacionalizado no Estado brasileiro. Outra questão nuclear nesta análise é o lugar do tutor, chamado a desempenhar as atribuições de um professor, mas sem a identidade e sem clareza de sua atuação, uma vez que essa atuação é dependente do modelo ora definido pela instituição na qual atua. Conforme já citado no documento - Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (BRASIL/MEC, 2007), a educação a distância passa ser estratégica para política de expansão da educação superior no País, justificando assim a criação da Secretaria de Educação a Distância Claro está o reconhecimento em relação à atuação de parte dos profissionais que atuam nesta modalidade de educação, ou seja, os professores e, sobretudo quando se associam as atribuições profissionais para a tutoria a distância, mencionada no documento Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância (BRASIL/MEC, 2007, p. 21): (...) a tutoria a distância, que atua a partir da instituição, mediando os processos pedagógicos junto a estudantes geograficamente distantes, e referenciados aos polos descentralizados de apoio presencial. (BRASIL/MEC, 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf. Acesso em 22/12/2012) Quando se coloca a necessidade de mediação, não há como dissociar a atuação de um professor que, na modalidade a distância, pode-se acrescentar ao título tutor, mas é impossível reduzi-lo a uma nomenclatura que nada ou pouco explicita quando se denomina simplesmente tutor. Mesmo com tamanha complexidade e necessidade de articulações e coordenações de ações, de discussões, de efetivação de políticas já existentes e de novas políticas tão necessárias para a modalidade, a Secretaria de Educação a Distância – SEED criada pelo Decreto nº 1.917, de 27 de maio de 1996, é simplesmente extinta no início de 2011, sem nenhum aviso ou discussão do porque não haveria mais este lócus de discussão, de estudo, da educação na modalidade a distância. 6 Se, com a SEED o tutor não é claramente definido e muito menos é definida sua prática como sendo de natureza docente, tampouco com sua extinção esta figura é tratada pelas instituições, nas quais também se opte por desenvolver cursos na modalidade de educação a distância, como um profissional pertencente à carreira docente. Assim, o tutor passa a ser reconhecido como figura de segunda classe em grau de importância em relação à equipe pedagógica e, por conseguinte, pouco remunerado. Torna-se, assim, uma figura descolada do processo educacional, ainda que, contraditoriamente, seja ressaltada sua importância em relação à qualidade da modalidade de educação a distância. O tutor é um profissional solitário, dependendo do modelo instituído da modalidade de educação a distância pela instituição na qual atua. Não há discussão de seu fazer, de sua prática. Assim sendo, uma pergunta se coloca: como desenvolver a criticidade nos processos ensino e aprendizagem, se não são previstos tempo e espaço para o professor tutor problematizar sua prática? Essa é, sem dúvida, a condição específica que marca a situação do professor tutor nos cursos de educação a distância no ensino superior. A prática do professor tutor está impregnada de regras, o que o leva a dissociar-se de seu fazer, tomando-o como algo pronto e acabado, com um conteúdo passível apenas de transmissão e não como construção coletiva de conhecimento. A modalidade de educação a distância possibilita a ampliação ao acesso, sem dúvida alguma, ao ensino superior no Brasil, porém não se pode deixar de reconhecer que se o objetivo inicial era este, nos últimos anos têm-se transformado em um grande e lucrativo negócio para os empresários da área de educação. Uma das figuras que colaboram nessa rentabilidade é a do professor tutor, tendo em vista sua condição funcional – não é reconhecido como professor, é pouco remunerado e atende a um número alto de alunos – ou seja, passa a ser figura economicamente estratégica na estrutura dos cursos e programas de formação nesta modalidade. Associações e Sindicatos Um ano antes da publicação da atual LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 9394/96 é criada a ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância. As discussões neste contexto estavam bastante acaloradas especialmente com a necessidade de inclusão da modalidade de educação a distância, revelada no Art. 80 da LDB então em tramitação, que diz: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.” (BRASIL/MEC, 1996. 7 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm Acesso em 23/12/2012) A ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância se define como: A Associação Brasileira de Educação a Distância, sociedade científica, sem fins lucrativos, voltada para o desenvolvimento da educação aberta, flexível e a distância, criada em 21 de junho de 1995 por um grupo de educadores interessados em educação à distância e em novas tecnologias de aprendizagem. Seus objetivos principais são: [...] Apoiar a "indústria do conhecimento" do país procurando reduzir as desigualdades causadas pelo isolamento e pela distância dos grandes centros urbanos; - Promover o aproveitamento de "mídias" diferentes na realização de educação à distância; - Fomentar o espírito de abertura, de criatividade, inovação, de credibilidade e de experimentação na prática da educação à distância. (BRASIL/ABED, 2012. Disponível em: http://www2.abed.org.br/institucional.asp?Institucional Acesso em: 23/12/2012) Um dos objetivos definidos pela ABED merece destaque: “Apoiar a ‘indústria do conhecimento’ do país procurando reduzir as desigualdades causadas pelo isolamento e pela distância dos grandes centros urbanos” – especialmente quando se associa esse objetivo à ideia de “missão da Associação”: Missão: “Contribuir para o desenvolvimento do conceito, métodos e técnicas que promovam a educação aberta flexível e a distância, visando o acesso de todos os brasileiros a educação”. (BRASIL/ABED, 2012. Disponível em: http://www2.abed.org.br/institucional.asp?Institucional Acesso em: 23/12/2012) Impõe-se aqui um posicionamento crítico. Torna-se importante refletir acerca de como o conhecimento está sendo concebido em nosso país. Cabe ressaltar que conhecimento não é algo que se possa fragmentar e vender em pacotes, ainda que seja possível constatar que muitas e verdadeiras “indústrias do conhecimento” o façam. Será que apoiar a “indústria do conhecimento” é o caminho para de fato ampliar o acesso ao conhecimento às pessoas que se encontram em locais distantes dos grandes centros? Afinal de qual educação estamos falando? Qual educação é desejada para esta sociedade? Tem-se um discurso que não se efetiva na prática das políticas do Estado brasileiro e também das associações, sindicatos e outros lócus de fundamental importância para a discussão sobre tais questões. Para a ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância – o profissional “tutor” é identificado e reconhecido como professor. Seu perfil é assim definido: Além do exigido de qualquer docente, quer presencial, quer a distância, e dependendo dos meios adotados e usados no curso, este professor deve ser capaz de se comunicar bem através dos meios selecionados, funcionando mais como um facilitador da aprendizagem, 8 orientador acadêmico e dinamizador da interação coletiva (no caso de cursos que se utilizem de meios que permitam tal interação). (Disponível em: http://www2.abed.org.br/faq.asp?Faq_ID=17 Acesso em: 19/12/2012) Já o SINPRO-SP – Sindicato dos Professores de São Paulo, não reconhece o tutor como integrante da carreira docente, porém demonstra alguma preocupação acerca da importância de se discutir as implicações da atuação desse profissional – tutor – quando, em julho de 2009, inseriu em sua página, na área intitulada Notícias, as seguintes considerações: SINPRO-SP promove debate sobre EAD A quem pertencem os direitos autorais das apostilas ou conteúdo para internet que o professor elabora? Como fica a propriedade de imagem na EAD? Que implicações traz o termo “tutor” para atividade docente? [...] o debate “O professor no ensino a distância: legislação aplicável e sua interpretação.”. (SÃO PAULO/SIMPRO. 2009. Disponível em: http://sinpro.org.br/noticias.asp?id_noticia=1102 Acesso em: 19/12/2012) É importante destacar aqui que há um entendimento de que realmente o tutor desempenha atividade docente. Mas, o SINPRO – Sindicato dos Professores de Minas Gerais levanta a mesma discussão no artigo intitulado “O trabalho na EaD como preocupação do SINPRO-MG: relatos de participantes do evento” e considera: Preocupado com estas questões, o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (SINPRO-MG) realizou, em julho de 2007, o Seminário sobre Trabalho na Educação à distância. Entre as várias atividades e palestras do evento, apresentamos uma oficina com o tema “Educação a distância e os impactos no trabalho docente”, quando colhemos alguns depoimentos de docentes que já tiveram alguma relação com educação à distância. Esses depoimentos contribuem para as reflexões sobre o trabalho docente na educação à distância, especialmente no tocante às condições de trabalho. Os participantes da oficina enfatizaram questões sobre as condições de trabalho e condições de vida, focalizando mais o trabalho do tutor do que o do professor. Entre os argumentos das principais intervenções dos participantes, podemos destacar os seguintes: Na educação a distância não existe aula e, por isso, também não existe professor. As atividades da EaD são desenvolvidas em sistema de polidocência, isto é, por um conjunto interdependente e multidisciplinar de docentes. Embora a Educação a distância esteja regulamentada num plano mais geral, ela carece de regulamentação em termos trabalhistas. Os sindicatos se assumem ausentes na defesa dos direitos trabalhistas dos tutores (como docentes da EaD) e esses educadores sentem-se desamparados. Embora os tutores não sejam professores, compõem a categoria docente. Sendo docentes, os tutores deveriam ser amparados pelos sindicados dos docentes/professores. Nota de Rodapé: Vale destacar que na educação a distância não há aulas e, portanto, não há o professor em si. Temos na verdade um conjunto de docentes composto por educadores (elaboradores de conteúdo, tutores e outros). Mais detalhes sobre essas questões podem ser consultados em Mill (2006). 9 (SÃO PAULO/SIMPRO. 2009. Disponível em http://www.sinprominas.org.br/imagensDin/arquivos/341.pdf Acesso em 25/12/2012). Um sindicato é indiscutivelmente uma instância privilegiada de discussões de interesses profissionais para ambos interessados – empresa e empregado – na perspectiva de mediações necessárias para atendimento às necessidades de ambos os lados. Quando este sindicato – SINPRO-MG – declara de forma objetiva, que na modalidade a distância não existe a figura nem mesmo do professor, isso é, no mínimo, preocupante. Afinal, que modelo de educação na modalidade a distância esse sindicato está tomando como referência? Apenas é citado em nota de rodapé o autor “Mill (2006)” como apoio teórico das ideias e conceitos expostos. Não há referência a modelos identificados no Brasil e que estejam em consonância com esta definição. A nota de rodapé inserida pode induzir facilmente à associação da educação na modalidade à distância com simples estudos dirigidos, o que não é o caso. Mesmo com todos os percalços dessa modalidade de educação é possível afirmar que há aula sim e há também professores nesta modalidade de ensino. Se assim não fosse, o que de fato estaria ocorrendo nas graduações para formação de pedagogos e pedagogas oferecidos na modalidade à distância, por exemplo, pela UAB – Universidade Aberta do Brasil? Conclusões É importante considerar neste contexto, a atuação da UAB – Universidade Aberta do Brasil. Ela é, concretamente, um modelo de educação na modalidade à distância, ratificado pelo governo, ou melhor, constituído por ele por meio do MEC – Ministério da Educação. Assim, a articulação – formação e identidade do professor tutor – torna-se nesse momento uma discussão mais complexa, tendo em vista a necessária identificação do modelo de educação a distância, que influencia e determina a atuação do professor tutor. É possível verificar os contornos do contexto da atuação do professor tutor. O MEC – Ministério da Educação e Cultura, por exemplo, não reconhece o tutor como professor, porém é o mesmo órgão que amplia a possibilidade de educação na modalidade a distância, destacando-a como estratégica para o país. Por consequência, não há como o professor tutor ser reconhecido como participante da carreira docente pelo sindicato dos professores. A UAB – Universidade Aberta do Brasil tornou-se, concretamente, o modelo de educação na modalidade a distância, ratificado pelo 10 governo, ou melhor, constituído por ele por meio do MEC – Ministério da Educação. No entanto, ela mesma não legitima o trabalho do tutor como professor. Os diferentes modelos de educação a distância, no entanto, permitem compreender que há diversos tipos de tutoria, que podem ou não fazer a mediação de conhecimento, mas que levam ao reconhecimento de mais uma faceta do trabalho docente. Referências Bibliográficas ABED - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Disponível em: http://www2.abed.org.br/ Acesso em: 23/12/2012. BRASIL. Ministério da Educação. 2007. Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf Acesso em: 22/12/2012. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm Acesso em: 23/12/2012. DUBAR, C. 1997. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Tradução Annette Pierrette R. Botelho e Estela Pinto Ribeiro Lamas. Porto Editora. GOMES, S. G. S. 2011. E-Tec Brasil – Tópicos em Educação a Distância. Evolução histórica da EAD. Disponível em: http://ftp.comprasnet.se.gov.br/sead/licitacoes/Pregoes2011/PE091/Anexos/Eventos_modulo_I/t opico_ead/Aula_02.pdf Acesso em: 28/06/2013. MOORE, M. G.; KEARSLEY, G. 1996. Distance education: a systems view. Belmont: Wadsworth Publishing Company. In: GOMES, S. G. S. 2011. E-Tec Brasil – Tópicos em Educação a Distância. Evolução histórica da EAD. Disponível em: http://ftp.comprasnet.se.gov.br/sead/licitacoes/Pregoes2011/PE091/Anexos/Eventos_modulo_I/t opico_ead/Aula_02.pdf Acesso em: 28/06/2013. SANTOS, A. do N. 2011. Curso: gestão de políticas educacionais e direito a educação. Justificativa. São Paulo: Escola do Parlamento. Câmara Municipal de São Paulo. Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0CDMQ FjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.camara.sp.gov.br%2Findex.php%3Foption%3Dcom_content% 26view%3Darticle%26id%3D6321%3Agestao-de-politicas-educacionais-e-direito-a-educacao-nobrasil%26catid%3D133%3Aeventosanteriores%26Itemid%3D252&ei=Tx3qUOfSO4jq9AT74YH4Dw&usg=AFQjCNFgSXdvyhArAbBp qLa_hKXZz9vJ_A&sig2=5rrH_rNPfbx9FWYA47R0kw Acesso em: 06/01/2013. SINPRO – SINDICATO DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO. SINPRO-SP promove debate sobre EAD. 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