UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
ANDRÉ RIANI COSTA PERINOTTO
CIRCULAÇÃO DE IMAGENS TURÍSTICAS:
FOTOGRAFIAS DE PARNAÍBA/PI NAS MÍDIAS
São Leopoldo/RS
Agosto de 2013
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
ANDRÉ RIANI COSTA PERINOTTO
CIRCULAÇÃO DE IMAGENS TURÍSTICAS:
FOTOGRAFIAS DE PARNAÍBA/PI NAS MÍDIAS
Tese apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de
Doutor, pelo Programa de PósGraduação
em
Ciências
da
Comunicação da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos.
Orientador: Prof. Dr. Fabrício Lopes
da Silveira
São Leopoldo/RS
Agosto de 2013
Ficha catalográfica
P445c
Perinotto, André Riani Costa
Circulação de imagens turísticas : fotografias de
Parnaíba/PI nas mídias / por André Riani Costa Perinotto. –
2013.
224 f. : il., 30cm.
Tese (doutorado) — Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Comunicação, 2013.
Orientação: Prof. Dr. Fabrício Lopes da Silveira.
1. Comunicação. 2. Turismo. 3. Circulação. 4. Imagens
fotográficas. 5. Cartografia. I. Título.
Catalogação na Fonte:
Bibliotecária Vanessa Borges Nunes - CRB 10/1556
Ao meu pai, José Alexandre J. Perinotto
(meu amigo, meu exemplo, meu herói, meu mestre, meu pai).
Meus sinceros agradecimentos
Ao
programa
DINTER
(Doutorado
Interinstitucional)
em
Ciências
da
Comunicação UNISINOS/UFPI, realizado junto a Capes, em nome dos
coordenadores Profa. Dra. Christa Berger (UNISINOS) e Prof. Dr. Gustavo Said
(UFPI).
Ao meu orientador Prof. Dr. Fabrício Lopes da Silveira, pela paciência,
orientações, conversas formais e informais, além da amizade demonstrada ao
longo desses anos de doutorado.
À minha amada, querida e dedicada esposa Cíntia, pela parceria, amizade,
confiança, apoios, fidelidade e amor, em todos esses anos de convivência, em
especial no período do DINTER, em que estive ausente assistindo às aulas em
Teresina/PI e nos períodos de orientação em Porto Alegre/RS.
Aos meus amados familiares, pelos incentivos, compreensão de minha
distância nesses anos de doutorado e pelo amor e carinho dedicados a mim,
em especial minha mãe.
Aos professores do PPGCom UNISINOS, pelas aulas em Teresina/PI e pelas
informações e conhecimentos transmitidos.
Aos meus amigos e colegas professores da UFPI – campus Parnaíba, pela
compreensão de meu afastamento de poucos meses para conclusão dessa
tese, pela preocupação com minha saúde e mensagens de estímulo.
Aos meus alunos de graduação, em especial às minhas alunas de Iniciação
Científica Voluntária, Márcia e Dilene, pelos apoios na pesquisa e na amizade
demonstrada.
Por fim, ao meu avô José Perinotto (in memorian) pelo exemplo de trabalho e
seu incentivo indireto.
“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força
de sua alma, todo o universo conspira a seu favor”.
(Johann Goethe)
“A persistência é o menor caminho do êxito”.
(Charles Chaplin)
RESUMO
Propomos aqui, através do método cartográfico de pesquisa em Comunicação,
analisar a circulação de fotografias turísticas em diferentes mídias. Deste
modo, ao realizarmos uma discussão sobre a relação entre Comunicação e
Turismo, observamos o quanto é importante a contribuição das imagens
fotográficas para a atividade turística e para o fenômeno turístico em vários
aspectos. Assim, passeamos por entre as imagens fotográficas nas mídias
selecionadas, cartografando a circulação como um flâneur em trânsito por
diferentes mídias. Neste movimento, pudemos nos deparar com aproximações
e distanciamentos, rupturas, territorialidades e prolongamentos de diferentes
circuitos e ações da circulação. A produção de mapas/cartas para a análise
geral de nosso objeto foi preponderante e contribuiu também para ilustrar
esses caminhos e esses circuitos, essas ações da circulação.
Palavras-chave: Comunicação; Turismo; circulação; imagens fotográficas;
cartografia.
ABSTRACT
We propose here, through the cartographic method of communication research,
analyze tourist photograph’s movement in different medias. In this way, when
we conduct a discussion on the relationship between Communication and
Tourism we observed how important is the contribution of photographic images
for tourist activities and for the tourism phenomenon in several aspects. Thus,
we strolled through the photographic images in the selected medias mapping
the circulation as flâneur in transit through different medias. In this movement,
we may come across with similarities and differences, breaks, territoriality and
prolongations of different circuit and circulation actions. The generation of maps
for an overview of our object was preponderant and also contributed to illustrate
these ways and these circuits, these circulation actions.
Keywords: Communication;
cartography.
Tourism;
circulation;
photographic
images;
Lista de Figuras:
Figura 01: Zona costeira do Estado do Piauí e a indicação do município
de Parnaíba..................................................................................................
22
Figura 02: Igreja Nossa Senhora das Graças.............................................
118
Figura 03: Monumento da Independência................................................... 118
Figura 04: Cajueiro Humberto de Campos..................................................
119
Figura 05: Estação de Floriópolis................................................................
119
Figura 06: Praça da Graça..........................................................................
120
Figura 07: Pedra do Sal............................................................................... 121
Figura 08: Entardecer da Pedra do Sal.......................................................
122
Figura 09: Entardecer da Pedra do Sal.......................................................
122
Figura 10: Delta do rio Parnaíba.................................................................
123
Figura 11: Delta do rio Parnaíba.................................................................
123
Figura 12: Lagoa do Portinho, com barco de pescador em sua margem e
dunas ao fundo............................................................................................. 124
Figura 13: Lagoa do Portinho, com suas árvores de carnaúbas presentes
na paisagem.................................................................................................
124
Figura 14: Lagoa do Portinho......................................................................
125
Figura 15: Lagoa do Portinho......................................................................
125
Figura 16: Castelo do Maracujá..................................................................
126
Figura 17: Ponte Simplício Dias..................................................................
127
Figura 18: Vista Panorâmica da Avenida São Sebastião............................ 127
Figura 19: Vista aérea nas proximidades do rio Igaraçú.............................
127
Figura 20: Representa o artesanato de Parnaíba.......................................
129
Figura 21: Representa o artesanato de Parnaíba.......................................
129
Figura 22: Porto das Barcas, visão de um angulo superior........................
129
Figura 23: Porto das Barcas........................................................................ 130
Figura 24: Centro Cívico.............................................................................. 130
Figura 25: Mosaico de imagens fotográficas de paisagens diferentes de
Parnaíba....................................................................................................... 131
Figura 26: Mosaico de imagens fotográficas de paisagens diferentes de
Parnaíba....................................................................................................... 131
Figura 27: Folder 1. Fotos, mapa reduzido da cidade de Parnaíba e a
capa.............................................................................................................. 136
Figura 28: Folder 1. Foto de embarcação usada pela empresa e mapa
ilustrativo do Delta........................................................................................ 136
Figura 29: Folder 2. Imagem fotográfica do Delta e desenho sobre
imagens fotográficas, paisagens e animais da região de Parnaíba............. 137
Figura 30: Folder 3. Mosaico de imagens fotográficas de diversas
paisagens diferentes....................................................................................
138
Figura 31: Folder 3. Imagem ilustrativa, mapa do litoral norte da região
nordeste do Brasil, mostra-se desde o Maranhão até o Ceará.................... 139
Figura 32: Folder 4. Imagens fotográficas do Porto das Barcas, uma
versão da imagem noturna e outra versão de dia, no mesmo lado do
folder............................................................................................................. 140
Figura 33: Folder 4. Imagem de um ângulo superior, muito
provavelmente feita de cima da ponte Simplício Dias, dos prédios
históricos do Porto das Barcas, além disso, o folder contém um mapa
ilustrativo do local......................................................................................... 140
Figura 34: Folder 4. Imagem fotográfica produzida a partir do rio Igaraçú
do prédio principal do Porto das Barcas, contém parte escrita sobre a
história do local e seus potenciais turísticos................................................ 141
Figura 35: Folder 4. Outra imagem fotográfica feita a partir do rio Igaraçú
de outro prédio do Porto das Barcas, também contém parte escrita sobre
o local........................................................................................................... 141
Figura 36: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, com o foco na “pedra”,
apresentando a estrutura de barracas e a estrada ao fundo....................... 153
Figura 37: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, também com o foco na
“pedra”, porém com a paisagem mais ampliada, apresentando a estrutura
de barracas e a estrada ao fundo................................................................ 154
Figura 38: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, apresentando a parte
das ondas mais fortes do setor da praia em um plano mais ampliado........ 154
Figura 39: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, apresentando a ponta
da praia e os detalhes mais fechados para as barracas dos bares............. 154
Figura 40: Imagem aérea da Avenida São Sebastião, sentido bairrocentro, principal Avenida que liga a BR-343 ao centro e a região mais
antiga da cidade........................................................................................... 155
Figura 41: Imagem aérea da Avenida São Sebastião, sentido centrobairro............................................................................................................. 155
Figura 42: Imagem aérea da região central de Parnaíba, com destaque
para a Praça da Graça ao centro da fotografia e da visão aberta e ampla
captada na imagem...................................................................................... 156
Figura 43: Imagem aérea da região central de Parnaíba, apresentando a
região da Avenida Getúlio Vargas, que interliga a antiga Estação de Trem
com o Porto das Barcas............................................................................... 156
Figura 44: Imagem aérea do colégio e da Praça do Centro Cívico, com
destaque para a arquitetura antiga da edificação do colégio....................... 157
Figura 45: Imagem aérea da Ponte Simplício Dias, com o rio Igaraçú e o
Porto das Barcas também em destaque no centro da fotografia................. 157
Figura 46: Imagem aérea da região central da cidade, destaque para as
antigas edificações, potencial turístico para um turismo histórico-cultural... 158
Figura 47: Imagem aérea ampliada da área urbana do município de
Parnaíba, uma imagem fotográfica que não se repete nas outras mídias
com tanta amplitude do horizonte urbano.................................................... 158
Figura 48: Imagem aérea ampliada da área urbana do município de
Parnaíba, uma imagem fotográfica que não se repete nas outras mídias... 159
Figura 49: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação
de praias no braço do rio e ao fundo vista da vegetação nativa.................. 159
Figura 50: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação
de praias no braço do rio.............................................................................. 160
Figura 51: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação
de praias no braço do rio e vegetação típica de regiões de dunas.............. 160
Figura 52: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação
de praias no braço do rio e o horizonte na fotografia................................... 160
Figura 53: Imagem aérea de um dos braços dos rios distributários que
formam o Delta do Parnaíba, detalhe para uma pequena ilha fluvial........... 161
Figura 54: Imagem aérea dos geradores da usina eólica, localizada
próxima à praia Pedra do Sal, uma nova característica da paisagem......... 161
Figura 55: Imagem do helicóptero que foi utilizado no passeio de
Juscelino e ao fundo o prédio do aeroporto de Parnaíba............................. 162
Figura 56: Imagem de dentro de uma embarcação, ao fundo um dos rios
distributários que formam o Delta e uma embarcação típica da localidade. 173
Figura 57: Imagem de dentro de uma embarcação, ao fundo um dos rios
distributários que formam o Delta................................................................. 174
Figura 58: Um dos braços do Delta, com as dunas típicas da região em
primeiro plano e em segundo plano uma embarcação e um pescador........ 174
Figura 59: As carnaúbas.............................................................................
174
Figura 60: Paisagem típica do Delta, com um braço de rio distributário,
as dunas se aproximando da água e a vegetação abundante. Além disso,
formação de ilhas no rio............................................................................... 175
Figura 61: Um dos diversos braços de rio do Delta, com mangues
(vegetação local) e os pescadores............................................................... 175
Figura 62: Um dos diversos braços do Delta, com mangues (vegetação
local) e o pescador/coletor........................................................................... 175
Figura 63: As dunas do Delta do Parnaíba aproximando da margem do
rio, cobrindo a vegetação............................................................................. 176
Figura 64: Pôr do Sol, no Porto das Barcas, destaque para a Carnaúba
na entrada do Porto e para o telhado histórico preservado......................... 176
Figura 65: Arquitetura do Porto e um frequentador do espaço preservado
para o lazer. Ressalta-se a fotografia em preto e branco............................ 177
Figura 66: Arquitetura do Porto embarcações abandonadas e presença
de certa sujeira nas margens do rio Igaraçú. Como na fotografia anterior,
uma imagem em branco e preto................................................................... 177
Figura 67: Arquitetura do Porto, uma das ruas que chegam até a
margem do rio, luminárias antigas e presença de comércio de artesanato
local.............................................................................................................. 177
Figura 68: Ponte Simplício Dias de noite....................................................
178
Figura 69: Trecho central da Avenida São Sebastião, imagem no plano
horizontal...................................................................................................... 179
Figura 70: Trecho central da Avenida São Sebastião, imagem no plano
horizontal, fim de tarde................................................................................. 179
Figura 71: Igreja Nossa Senhora das Graças vista através de um
carrinho de pipoca........................................................................................ 180
Figura 72: Lagoa do Portinho, retratada com as suas dunas e o espelho
d’água, com pessoas em embarcações em lazer........................................ 180
Figura 73: A praia, Pedra do Sal, com embarcação típica dos pescadores
locais, os frequentadores da praia e as formações rochosas ao fundo que
dão nome para a paisagem.......................................................................... 181
Figura 74: O pôr do Sol na praia, Pedra do Sal, com embarcação típica
dos pescadores locais e as formações rochosas ao fundo que dão nome
para a paisagem........................................................................................... 181
Figura 75: A praia e o destaque maior para o céu azul............................... 182
Figura 76: A praia e o destaque maior para a fauna local, uma ave
comum da região litorânea........................................................................... 182
Figura 77: O iguana....................................................................................
183
Figura 78: O guará......................................................................................
183
Figura 79: Pôr do Sol na lagoa do Sobradinho...........................................
184
Figura 80: Dunas da lagoa do Sobradinho.................................................. 184
Lista de Tabelas:
Tabela 01: Cartões postais e análise dos indicadores que foram surgindo
ao longo da pesquisa................................................................................... 109
Tabela 02: Folders e análise dos indicadores que foram surgindo ao
longo da pesquisa........................................................................................ 134
Tabela 03: Imagens fotográficas do perfil do Facebook e apresentação
dos indicadores que foram surgindo ao longo da observação.................... 147
Tabela 04: Imagens fotográficas do grupo do Flickr e apresentação dos
indicadores que foram surgindo ao longo da observação........................... 165
Lista de Mapas/Cartas:
MAPA GERAL DA CIRCULAÇÃO DAS IMAGENS FOTOGRÁFICAS
NAS DISTINTAS MÍDIAS............................................................................ 198
Mapa das caracterizações que foram surgindo: mídias e
caracterizações........................................................................................... 199
Mapa das caracterizações que foram surgindo: paisagens (imagens
fotográficas) e caracterizações................................................................. 200
Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais que surgem nas
imagens fotográficas na mídia cartão postal, a territorialização das
imagens – Imagem de Satélite do GoogleMaps...................................... 201
Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais que surgem nas
imagens fotográficas na mídia folder, a territorialização das imagens
– Imagem de Satélite do GoogleMaps..................................................... 202
Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais que surgem nas
imagens fotográficas na Internet, a territorialização das imagens –
Imagem de Satélite do GoogleMaps........................................................ 203
Mapa Geral: Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais
mais frequentes nas imagens nas 03 distintas mídias e a
territorialização das imagens – Imagem de Satélite do GoogleMaps... 204
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................
16
1 COMUNICAÇÃO E TURISMO: A RELEVÂNCIA DA FOTOGRAFIA
NESSA RELAÇÃO....................................................................................
34
1.1 Fotografia: conceituações e aproximações.........................................
40
1.2 Turismo e fotografia: uma intima relação............................................
50
1.2.1 Fotografia e cartões postais.......................................................
57
1.2.2 Fotografia e folders....................................................................
63
1.2.3 Fotografia e Internet...................................................................
67
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................
74
2.1 O método cartográfico nos estudos de Comunicação.........................
81
2.2 Uma proposta cartográfica: uma trama de imagens turísticas............
92
2.2.1 Pesquisa com cartões postais turísticos....................................
94
2.2.2 Pesquisa com folders de empresas de turismo.........................
97
2.2.3 Imagens digitais disponibilizadas na Internet: Fotografias em
sites.............................................................................................
100
3 IMAGENS FOTOGRÁFICAS DE PARNAÍBA NAS MÍDIAS:
OBSERVAÇÕES E ANÁLISES.................................................................... 106
3.1 Cartões postais turísticos....................................................................
108
3.2 Folders de empresas de turismo.........................................................
133
3.3 Internet: nova ordem das imagens fotográficas................................... 143
3.3.1 Primeiro site (perfil no Facebook)..............................................
145
3.3.2 Segundo site (Flickr: rede social de imagens)...........................
162
4 CIRCULAÇÃO DAS IMAGENS FOTOGRAFICAS TURÍSTICAS DE
PARNAÍBA.................................................................................................... 186
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
212
REFERÊNCIAS.............................................................................................
217
16
INTRODUÇÃO
A formação acadêmica é importante na caminhada de um pesquisador,
proporcionando-o as escolhas das áreas dos cursos, os setores de atuação, as
metodologias de trabalho, as leituras, os contatos, as relações de orientação,
assim formando suas linhas de pesquisa, as formas de trabalho e definindo
seus temas de predileção (constituindo-se, enfim, a identidade de um
autor/pesquisador). Dessa forma, não seria diferente na caminhada para se
chegar ao projeto e, posteriormente, à transformação nessa tese de doutorado.
Assim, ressaltamos que nossa graduação se deu em Turismo, com
trabalhos que reuniam muitas fotografias para explicar e demonstrar a
paisagem notável da área estudada, à época do Trabalho de Conclusão de
Curso, em 2002. Já na pós-graduação, houve um trabalho aprofundado com
mapeamento e inserção dos principais atrativos e recursos turísticos em um
grande mapa organizado que foi o “produto” final da dissertação de Mestrado
em Geografia, no ano de 2006, com mais produção de imagens fotográficas
que foram sobrepostas no próprio mapa final da dissertação, para ilustrações e
elucidações das localizações geográficas ali apontadas. Além disso, o curso de
Turismo, em suas matrizes curriculares, evidencia a importância da
comunicação, seja ela na forma em que for, pois no turismo é fundamental a
relação de ser humano com ser humano e essa relação pede/solicita/necessita
a consideração de certos aspectos comunicacionais.
Aqui, em função das experiências anteriores de formação, é importante
ressaltar que a imagem em turismo é fundamental para que se faça o
destino/localidade
ser
conhecido/descoberto,
para
que
os
potenciais
turistas/clientes possam conhecer a destinação comunicada, provavelmente
instigando ao consumo/viagem. E assim também fazer com que o produto
turístico deixe de ser intangível, ou seja, com que o cliente/turista possa
visualizar/ver/admirar o destino a ser viajado antes de consumi-lo, pois para
consumir, em turismo, é necessário o deslocamento até a localidade.
Em função de toda essa “bagagem” de pesquisa com imagens
fotográficas nos trabalhos de conclusão, estudos nas graduações anteriores e,
por reconhecimento fundamental da comunicação no turismo, é que houve a
17
investida em um curso de pós-graduação, um curso de doutorado em Ciências
da Comunicação, voltando-se a tais temas: a comunicação, a fotografia e o
turismo. Este é o conjunto temático desta tese. Para alimentar essa “bagagem”
de pesquisas e de forma de trabalho, as percepções do cotidiano nos fazem
levantar novos questionamentos, podendo surgir nessas observações e nessas
problematizações novas pesquisas, novas hipóteses e novas teses.
Assim, o problema de pesquisa que aqui será apresentado,
posteriormente, surgiu através de observações de processos midiáticocomunicacionais no município de Parnaíba/PI. Ou melhor, surgiu da percepção
da “falta” de comunicação turística mais efetiva, capaz de “vender” e
“apresentar” a paisagem e a localidade de Parnaíba para “o mundo”, bem
como, da carência de circulação da imagem fotográfica dessas paisagens em
diferentes mídias. Basicamente, esta foi a situação indeterminada da qual
partimos e o que motivou a investigação.
Afinal, parece um paradoxo que, num mundo tão conectado, tão
midiatizado, seja possível ainda uma percepção como essa: de certo
“isolamento” de Parnaíba. Entretanto, foi o que nos ocorreu na época, em
2008, na fase de preparação para a nomeação ao cargo de professor efetivo –
Dedicação Exclusiva no curso de Bacharelado em Turismo, na Universidade
Federal do Piauí (UFPI). Após passar no concurso público, houve um interesse
por pesquisar mais sobre a região de futura moradia, trabalho e pesquisa.
Algumas imagens foram pesquisadas na mídia Internet, em diversos sites,
sobre imagens e informações do município de Parnaíba, mas muito pouco
material foi encontrado, poucas informações e quase nenhuma imagem sobre o
município ou sobre a região.
Ao longo de mais de dois meses tentando pesquisar imagens
fotográficas e/ou vídeos, foram localizados poucos vídeos no YouTube.
Também foram encontrados poucos sites em geral que tratassem do município
de Parnaíba com imagens.
Os vídeos que estavam disponibilizados no YouTube foram feitos por
uma única agência de turismo de Parnaíba, – no caso, a agência Moraes Brito
– com narrações diversas que meramente descreviam as imagens mostradas.
18
Ao fim, convidava-se o espectador do vídeo a visitar a região do Delta de
Parnaíba e a cidade de Parnaíba. Além disso, os vídeos possuíam imagens de
passeios (visitas, roteiros de visitação da agência) e algumas imagens aéreas.
Na ocasião, para que pudéssemos encontrar os vídeos, foram
colocados no sistema de buscas do site YouTube os nomes “Parnaíba” ou
“Delta do Parnaíba”, e somente os vídeos dessa agência apareceram.
Além desses fatores particulares, que serviram como ponto de partida
para a construção de uma problemática e como estímulo para novas
observações da comunicação do município de Parnaíba, em 2008, surgem
outros fatores, como a indagação sobre pesquisas científicas na temática de
Comunicação e Turismo, com a pouca participação de estudos de
comunicação sobre a região escolhida e na região de estudo. Além disso,
poucos trabalhos científico-acadêmicos são publicados unindo e transpassando
o campo da Comunicação com as aplicações e observações reais e potenciais
do turismo. Recentemente, alguns autores estão se preocupando com essa
temática e iniciam um processo de escrita sobre turismo, imagens e
comunicação (principalmente nos cursos de pós-graduação em Turismo e de
Comunicação nas regiões sul e sudeste do Brasil).
Vale ressaltar que o turismo depende muito da comunicação, seja para
comunicar o atrativo, seja para a comunicação entre empresas, entre outros
fatores. Em termos tecnológicos e midiáticos, a comunicação turística se dá de
diversas formas, seja por mídias impressas, televisão, rádio, Internet, entre
outros. Ao variar as mídias e os aparatos tecnológicos, as localidades/atrativos
podem ser comunicadas aos diferentes visitantes/turistas. Assim, o tema
comunicação e turismo foi um dos fatores trabalhados e discutidos também
aqui.
No ano de 2010 surgiu a oportunidade de um DINTER (Doutorado
Interinstitucional) entre a UNISINOS e a UFPI, no curso de pós-graduação em
Ciências da Comunicação. Para a inscrição no processo de seleção do
DINTER, o projeto inicial da tese requerido ao candidato a uma vaga no curso
de pós-graduação surgiu como fruto de outro projeto, aliando comunicação,
fotografia, turismo e educação socioambiental. O projeto então apresentado à
19
época da inscrição ao DINTER veio a partir dos questionamentos e percepções
levantadas durante a realização de um projeto de extensão, intitulado “A
Percepção do olhar pelas comunidades do Delta do Parnaíba através da
fotografia socioambiental” (edital “PROEXT MEC/CULTURA 2008”), promovido
pelo Ministério da Educação, em conjunto com o Ministério da Cultura, e teve
como instituição proponente a Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus
Parnaíba. O projeto rendeu bons frutos (relatórios, capítulo de livro, trabalhos
de conclusão de curso, artigos e resumo apresentado em evento), dentre eles,
o projeto apresentado para o ingresso no DINTER.
Ao longo do curso de Doutorado, diversas disciplinas foram cursadas,
com os debates, as discussões, a “entrada ao campo” da Comunicação com
leituras diversas e de diferentes autores, além das orientações, e fizeram com
que o projeto de doutorado pudesse ser amadurecido. O processo de
reformulação, recriação do projeto da tese ocorreu de forma gradual, ao longo
dos três semestres de disciplinas concentradas, ministradas pelos professores
da UNISINOS na cidade de Teresina/PI.
O amadurecimento do projeto teve fortalecimento com o Seminário de
Tese, realizado no começo do segundo semestre de 2011, com todos os
alunos do DINTER e com professores do PPG da UNISINOS.
No primeiro semestre de 2010 foram cursadas as disciplinas dos
professores José Luiz Braga (Pesquisa Avançada em Comunicação) e Efendy
Maldonado (Epistemologia da Comunicação). Essas disciplinas concentradas
em duas semanas foram essenciais para que o campo e a discussão
epistemológica e metodológica da Comunicação fossem absorvidos e
debatidos como uma nova reflexão do trabalho (projeto). No segundo semestre
de 2010 foram cursadas as disciplinas dos professores Fausto Netto
(Processos Midiáticos) e Fabrício Silveira (Tecnologias e Culturas Midiáticas).
Nos mesmos moldes das disciplinas anteriores, essas disciplinas também
foram concentradas, proporcionando assim leituras e debates que colaboraram
para a reformulação dos observáveis do projeto da tese e de como funcionam
os processos midiáticos.
20
No primeiro semestre de 2011, último semestre de disciplinas do
DINTER, foram cursadas as disciplinas dos professores José Luiz Braga
(Estudos Empíricos) e Jiani Adriana Bonin e Denise Cogo (Mídias, Identidades
Culturais e Cidadania), contribuindo para um fortalecimento dos observáveis e
proporcionando debates metodológicos que proporcionaram uma solidificação
da metodologia desse texto final.
Em agosto de 2012, realizamos o exame de qualificação de tese. Na
ocasião, a banca fez suas colocações pertinentes ao trabalho, em que pese,
houve após tal ação, mais algumas orientações presenciais, para definir quais
os próximos passos, quais os recortes, qual seria a conjuntura de avanço do
trabalho, quais as escolhas deveriam ser tomadas por nós, após tal aprovação
no exame. A tese foi estabelecida conforme as análises dos objetos empíricos
foram surgindo, com a percepção das ações de circulação das imagens
fotográficas constantes nas mídias estabelecidas.
Ao longo desses mais de 07 semestres, entre 2010 e 2013, foram
sendo produzidos textos, alguns já publicados1 em revistas e em eventos, já
com a preocupação em inserir o viés comunicacional nas produções científicas
no Turismo. Assim, metodologias foram testadas, textos foram escritos e
criticados, as publicações foram sendo aprimoradas com uma preocupação de
já haver um costume em trabalhar e alinhar o discurso do turismo com a
comunicação. Assim, muitas das passagens que fizemos entre comunicação e
turismo foram amadurecendo nestes espaços de trabalho.
1
Podemos citar, nesse caso, algumas revistas em que houve publicação, quais sejam: quatro artigos na
revista “Rosa dos Ventos” do curso de pós-graduação em Turismo, da UCS (Universidade de Caxias do
Sul), tendo como editora-chefe a Profa. Dra. Susana Gastal; dois artigos na revista “Turismo e
Sociedade”, da Universidade Federal do Paraná; um artigo no periódico RBTur “Revista Brasileira de
Pesquisa em Turismo”, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Turismo (ANPTUR);
um artigo na Revista Eletrônica de Turismo Cultural da USP; cinco artigos no periódico TURyDES da
Universidad de Málaga/Espanha; um artigo no periódico Anuário de Geociências da UFRJ; um artigo na
Revista Educação: Teoria e Prática da UNESP/Rio Claro; e dois artigos na Revista Turismo: Estudos e
Práticas da UERN; além desses artigos em periódicos reconhecidos pelo Qualis/CAPES, foi publicado um
capítulo de livro sobre “Fotografia, Turismo e Educação”, no livro Cultura e Extensão Universitária:
democratização do conhecimento (São João del Rei/MG: Editora Malta, 2010). Também houve: um
resumo publicado em evento de âmbito nacional sobre comunicação e difusão da ciência; um resumo
expandido em evento Regional de Comunicação - Encontro Nordeste de História da Mídia; um trabalho
completo publicado em evento de âmbito internacional - 5º Congresso Latino-Americano de Investigação
Turística. Além dessas publicações, foram proferidas algumas palestras de âmbito regional e local, com
temas ligados à relação Comunicação e Turismo e também uma palestra sobre a importância da
fotografia para o Turismo.
21
Assim, do projeto inicial que foi apresentado no ingresso ao Programa
DINTER ficaram mantidos os temas da comunicação, do turismo e da
fotografia. Mantemos, portanto, uma proposta multidisciplinar desde o princípio.
Porém, os observáveis de estudo seriam imagens fotográficas e mídias já
consolidadas (com foco em um nicho específico, os turistas), para descobrir
como se dá a circulação nessas mídias escolhidas e que se preocupam em
atingir o público-alvo, os turistas. Em consequência, há um estudo da
circulação das imagens fotográficas de paisagens turísticas, a partir do estudo
de circulação em diferentes mídias e em circuitos midiáticos distintos e
específicos.
O município de Parnaíba é a região que tratamos de estudar, focando o
modo como ela vem sendo representada em distintas formas ou distintos
espaços midiáticos de orientação turística. Parnaíba/PI está inserida entre as
coordenadas de 02º 29' e 02º 55' de latitude sul e 41º 25' e 41º 52' de longitude
oeste de Greenwich. A área de estudo limita-se a leste com o município de Luís
Correia e a oeste com o Estado do Maranhão. É uma localidade do Delta do
Parnaíba, conforme a figura 1, que é uma área da zona costeira brasileira,
caracterizado por ser um delta em mar aberto nas Américas.
22
Figura 01: Zona costeira do Estado do Piauí e a indicação do município de
Parnaíba.
Parnaíba/PI
N
Imagem orbital, mostrando a zona costeira do Estado do Piauí, através da caracterização de
suas unidades paisagísticas, indicação do município de Parnaíba/PI e do sentido Norte do
mapa.
2
Fonte: INPE (2007 apud CAVALCANTI e VIADANA, 2007 – adaptada para este trabalho).
A região é formada por cinco barras arenosas (Igaraçú, Canárias, Caju,
Carrapato ou Melancieira e Tutóia), a partir do rio Parnaíba, divisor natural dos
Estados do Piauí e Maranhão. O Delta é composto por mais de setenta e cinco
ilhas.
Aqui, vale ressaltar que Parnaíba pertence aos sessenta e cinco
destinos indutores do turismo, segundo a classificação que o Ministério do
Turismo realizou a partir de 2003. Esses destinos indutores, classificados pelo
Ministério, deveriam ser fonte de investimentos e de melhorias para que o
produto “Brasil” fosse vendido com o máximo de excelência, tanto para os
brasileiros quanto para o público estrangeiro. Sendo assim, essa região é
2
Agostinho Paula Brito Cavalcanti: ex-pesquisador e professor da UFPI, foi aluno de Mestrado e
Doutorado da UNESP de Rio Claro e sempre abordou, em seus trabalhos de pós-graduação, a região do
litoral do Piauí. Foi um dos pioneiros com trabalhos aliando a questão interdisciplinar do Turismo com a
Geografia na região de Parnaíba e do Delta do Parnaíba. O trabalho em específico utilizado como fonte
de referências sobre a região é um artigo da revista da UNESP, em que Cavalcanti e Viadana mostram a
região do litoral e as ações antrópicas.
23
importante para o Estado como uma fonte de atração turística e a atividade
turística é uma forma de agregar renda ao Estado, principalmente ao município
de Parnaíba, que é o maior município (em número populacional) da região
norte do Estado. Por mais esse motivo, o turismo deverá ser estudado,
principalmente com relação à forma como esse destino turístico (Parnaíba –
Delta – Litoral) é promovido/comunicado/vendido.
Com relação aos ciclos econômicos presentes na região, ao longo dos
anos, o Delta do Parnaíba presenciou o ciclo da carne-seca, em meados do
século XVIII, e a exploração agroextrativista da carnaúba, a partir do século
XX.
Parnaíba, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
Estatística, 2010), possui área de 436 km², com população de 145.729 mil
habitantes. A cidade conta com certa infraestrutura básica para receber o
turismo, como: alguns poucos hospitais, postos de saúde, rodoviária, aeroporto
(porém, não existem voos comerciais), meios de hospedagem e alguns
serviços de alimentação. Parnaíba também é servida por duas rodovias
federais: a BR-343 (Teresina-Parnaíba) e BR–402 (Fortaleza-Parnaíba-São
Luis). Possui clima tropical subúmido, do tipo seco, com chuvas retardadas,
sendo o período chuvoso de janeiro a julho (Cavalcanti e Viadana, 2007).
O município tem como atividades econômicas o comércio, atividades
de produção comercial e o turismo. Parnaíba tem como produtos de exportação
a cera de carnaúba, óleo de babaçu, gordura de coco, folha de jaborandi,
castanha de caju, algodão e couro. Além disso, Parnaíba dispõe da nova
instalação da ZPE (Zona de Processamento de Exportação), que poderá
contribuir para a vinda ou criação de novas empresas na cidade com a isenção
de impostos.
A
região
do
município
de
Parnaíba
é
considerada
turística,
principalmente pela existência do Delta do Parnaíba. Além disso, a cidade
possui a praia da Pedra do Sal. Ao mesmo tempo, está próxima 12km da
cidade de Luís Correia/PI (litoral), caracterizando um turismo focado em
passeios ao Delta e no segmento de “Sol e Mar”.
24
O município de Parnaíba possui paisagens notáveis3, que são um tanto
diferenciadas das demais do Brasil, com relação ao Delta do rio Parnaíba: os
mangues, as praias ainda pouco urbanizadas, uma cidade com quase 300
(trezentos) anos, portanto, histórica, com casarões e ruínas. Atualmente, está
se tornando uma cidade também universitária, com a instalação de novos
cursos na Universidade Federal do Piauí (desde 2006), além de ter a
Universidade Estadual do Piauí e novas instituições particulares de ensino
superior.
Uma região rica em possibilidades de imagens fotográficas, paisagens
notáveis e com grande potencial turístico, por conta: dos biomas que se
misturam, pelas praias ainda um tanto quanto pouco exploradas, pelo delta de
um rio em mar aberto, as dunas que se fundem com a mata e a água, além dos
prédios e monumentos históricos no centro da cidade. No entanto, como citado
nos parágrafos anteriores, pouco se dá a ver sobre a região em termos
turístico-comunicacionais em mídias utilizadas mais comumente nas atividades
turísticas. No entanto, na conjuntura dos últimos cinco anos, em que tivemos
contato constante com a prefeitura e a secretaria municipal de turismo (por
meio da docência na Universidade Federal do Piauí ou na Chefia do Curso de
Turismo), não houve qualquer esforço e/ou trabalhos específicos, por parte do
poder público, para planejar, organizar ou mesmo diagnosticar como se dá a
comunicação turística da cidade e de como ela é divulgada/comunicada.
Assim, esse foi o quadro geral que estudamos.
Consideramos importante tal caracterização da região para que os
leitores que, por acaso, desconheçam sobre a localidade, tenham uma
aproximação da realidade observada e estudada, além de manifestar a
importância da atividade turística para o município, em que a comunicação
turística é fundamental para atrair novos e atuais visitantes.
Dessa forma, optamos por trabalhar o corpus da pesquisa com
características de comunicar especificamente ao público de turistas ou
potenciais turistas para Parnaíba. Optamos pelas mídias produzidas pelas
3
Paisagem notável: termo utilizado pelos geógrafos e arquitetos urbanísticos para denominar uma
paisagem que chama atenção (seja para o “belo” ou para o “estranho”), uma paisagem que seja diferente,
muitas vezes, do cotidiano de quem a vê.
25
empresas e pelo poder público da cidade de Parnaíba, mídias essas que,
dentre nossos observáveis, acreditamos serem relevantes ao turismo e que
compõem a comunicação turística mais simples e direta.
Observáveis esses que são os seguintes: cartões postais; folders de
agências de viagens; e imagens postadas, colocadas em circulação na Internet
(como
um
novo
arranjo
das
imagens
fotográficas,
aproveitando
a
democratização das redes). Vale ressaltar que, para a comunicação turística, é
significante que essas imagens fotográficas cheguem até os potenciais
turistas/visitantes. Selecionamos então mídias mais diretas ao turismo e a
atividade turística (folders e cartões postais) e meios indiretos, aproveitando o
boom da Internet e dos usos dessas mídias em diversos e diferentes suportes
técnicos.
Além desses observáveis, a princípio pensamos na mídia revista
impressa, por conta de uma circulação específica que ela possui. Mas somente
tivemos acesso às imagens fotográficas de Parnaíba em revistas das empresas
aéreas TAM, GOL e da revista “Viagem e Turismo” através da Internet. O
acesso a tais revistas ficou um pouco comprometido na logística dessas
revistas até Parnaíba. Algumas delas, como as revistas das empresas aéreas
(com matérias específicas sobre o litoral do Piauí, com algumas poucas
imagens fotográficas de Parnaíba), não têm circulação fora dos aviões da
empresa, não sendo vendidas em bancas de jornal, por exemplo.
É importante lembrar que trabalhamos a circulação das imagens
turísticas, uma vez que acreditamos que as imagens fotográficas em circulação
possam atingir diversos e diferentes públicos que tenham acesso a
determinadas mídias distintas (sejam elas: cartão postal, folder ou a Internet)
ocorrendo assim uma comunicação turística através da fotografia. A Internet,
nesse caso, funciona como espaço de circulação, ou não, dessas imagens
fotográficas, sendo postadas em diferentes espaços na rede, sites ou redes
sociais.
Em um contexto geral, a problemática da pesquisa surgiu das
observações, das vivências e experiências com um conjunto de objetos
empíricos definidos. A partir das colocações e das observações anteriores,
26
surgiu uma questão problema, que foi norteadora da tese: Qual a circulação
das imagens fotográficas turísticas do município de Parnaíba/PI em
distintas mídias4?
Nesse momento vale ressaltar que não fizemos um estudo baseado no
imaginário, muito menos trabalhamos com semiótica e os significados das
imagens fotográficas. Acreditamos ser importante demonstrar esse fato, na
redação da tese, para que os leitores não procurem aqui por tais ações, nem
em nossas análises, nem no cerne da pesquisa. Os estudos das imagens
fotográficas que surgiram junto às mídias estudadas foram importantes para
seguir os caminhos da circulação dessas imagens. Apesar de acreditarmos
que, ao apresentar essas imagens, a importância, a diferenciação e a
aproximação entre elas foram relevantes para diagnosticarmos a circulação de
tais imagens fotográficas.
Assim, devemos salientar que foi desenvolvida a tese em diferentes
capítulos (Comunicação e Turismo: a relevância da fotografia nessa relação;
Procedimentos metodológicos; Imagens fotográficas de Parnaíba nas mídias:
observações e análises; Circulação das imagens fotográficas turísticas de
Parnaíba; e Considerações Finais), em diferentes frentes e momentos, para
que as respostas surgissem através das observações, das análises e dos
mapeamentos. No entanto, para que essas produções de respostas
acontecessem, foram necessários objetivos que pudessem ser alcançados,
objetivos esses que nos propusemos atingir no desenrolar do trabalho. Assim,
seguem abaixo, pontuados:
Objetivos
Objetivo Geral:
4
Existem diversas definições de mídia encontradas na literatura acadêmica. Conforme definição de Sarah
Thornton (1996), por exemplo, as mídias podem ser consideradas de três tipos: mídia de massa, mídia de
nicho e micromídia. A primeira diz respeito às produções broadcasting (TV aberta, jornais e revistas que
possuem grande distribuição e circulação, rádios AM e FM), as de nicho correspondem ao narrowcasting
(como os canais de TV por assinatura, por exemplo). No caso de nossa tese, estaríamos enfatizando
prioritariamente as micromídias, que são os meios de baixa circulação (folhetos, cartões postais, fanzines,
etc), além dos microblogs (blogs, flogs, etc), como também é o caso dos sites de redes sociais como o
Twitter e Facebook (CORNUTTI, 2010).
27
- Analisar e descrever a circulação de diferentes imagens fotográficas em
distintas mídias, através do mapeamento de circuitos e fluxos midiáticos onde
as fotografias irão aparecer.
Objetivos Específicos:
- Observar por onde andam essas fotos de Parnaíba, demarcando assim quais
os meios e as mídias em que elas se reproduzem, através, também, das
inovações tecnológicas.
- Desenvolver cartas/mapas que permitam abranger a circulação das imagens
e como cada mídia faz usos da fotografia, como forma de ilustração.
- Averiguar quais as fotografias de paisagens turísticas se reforçam, através de
observação das imagens veiculadas nos “roteiros turísticos do receptivo”5
vendidos, mais especificamente nos folders.
- Investigar parte dos processos de comunicação turística da região estudada a
partir dessas mídias pesquisadas.
Neste primeiro momento, como vemos, desenvolvemos a introdução do
trabalho, com a contextualização dos principais elementos da pesquisa, a
trajetória até a questão-problema e os objetivos que nos propusemos alcançar.
Já no segundo capítulo, intitulado “Comunicação e Turismo: a
relevância da fotografia nessa relação”, houve uma preocupação em aproximar
o campo comunicacional do Turismo, utilizando, neste sentido, as imagens
fotográficas e a fotografia, através de autores de diferentes áreas. Visto que a
região escolhida para o estudo é de relevância turística e depende da atividade
turística, foi sustentado o sentido do valor de comunicar essa região. A
discussão teórica sobre essa importância da Comunicação para o Turismo teve
de ser posta e debatida. Assim houve um acompanhamento dos objetos
empíricos, observados sob os aspectos da circulação, para então, em âmbito
geral, diagnosticar como se dá essa comunicação turística.
Após um capítulo teórico, tecemos um terceiro capítulo, denominado de
“Procedimentos metodológicos”, no qual nos coube debater com autores que
nos deram embasamento para discutir e sustentar nossa ideia de uma
5
Entendemos nos estudos de Turismo que esse termo se refira ao passeio proposto pela agência ao
turista, o roteiro vendido no folder ao turista.
28
metodologia que serviu para a análise no âmbito do campo comunicacional. Tal
metodologia ou método (classificação diferente segundo alguns dos autores da
metodologia escolhida) foi o da “cartografia” na Comunicação. Além disso,
foram explicitados os observáveis dessa tese, os objetos empíricos são
apresentados, como também são explicados os passos seguidos para a
seleção dos mesmos, os descartes de outros que não foram utilizados e,
principalmente, demonstramos um sentido de organização do trabalho para
que este tenha relevância para o campo e para o embate científico. O capítulo
também foi subdividido, para que fique mais claro como foram trabalhados
todos os observáveis, separadamente, e como se chegou até eles, como foram
selecionados e definidos.
Depois dos procedimentos metodológicos, um quarto capítulo foi posto,
denominado “Imagens Fotográficas de Parnaíba nas Mídias: observações e
análises”. Por si só já explica o que há por vir de conteúdo, porém, houve uma
preocupação em não perder o foco nos debates que foram feitos nos capítulos
que o antecedem, e, muito menos, na sua essência analítica, conforme foi
indicado em nossos procedimentos metodológicos. O capítulo tenta, em
princípio, fundir a análise em seu todo, através de tabelas e de análise das
imagens fotográficas captadas nas distintas mídias catalogadas e escolhidas,
para que posteriormente nos aprofundássemos no tema da circulação.
Assim, um quinto capítulo foi denominado de “Circulação das imagens
fotográficas turísticas de Parnaíba”. Como é um capítulo teórico-analítico, o
aporte aos teóricos da Comunicação que nos remetem a tais temas foram
frequentes e importantes. Como os objetivos e a questão problema solicitam
respostas dessa circulação das imagens em distintas mídias, optamos por
desenvolver um capítulo nessa junção de teorias que se aproximam e que
podem explicar os circuitos e os fluxos dessas imagens fotográficas (fotografias
turísticas) nas distintas mídias. Tal capítulo possui também a função de, no seu
desenrolar, captar a essência do debate em torno da circulação e a sua
importância para se entender como se dá a comunicação do turismo. Os
resultados dessas observações foram debatidos e, posteriormente, criamos
mapas/cartas sobre essa circulação (como forma de ilustração) observada,
29
analisada e debatida, para ilustrar e demonstrar mais claramente como se dão
alguns dos processos de comunicação turística da região estudada.
Por fim, chegamos ao último capítulo, que se refere às “Considerações
Finais” do trabalho, em que ocorre o fechamento de tudo que foi esclarecido,
discutido, descoberto e definido ao longo das observações, análises, leituras e
mapeamentos.
Já com relação aos temas abordados ao longo da tese, buscamos uma
coerência e um sentido para que ficasse evidente a preocupação em fazer um
trabalho coerente, correto e apropriado. Esses temas serão, abaixo, elencados,
bem como as leituras bases que foram feitas, os autores consultados e o que
mais motivou nossas escolhas. Essas consultas bibliográficas foram realizadas
nas bibliotecas da UFPI (Campus Parnaíba e Campus Teresina) e da
UNISINOS, numa coletânea particular de acervo de artigos, periódicos e livros,
através do empréstimo de livros e periódicos do orientador, consultas em sites
da Compós e da InterCom, em revistas que tratam do campo comunicacional,
como também em sites de revistas acadêmicas que abordavam temas afins e
correlatos
aquele
aqui
proposto.
Estes
movimentos
proporcionaram
embasamento mais aprofundando acerca dos seguintes temas:
- Comunicação, turismo e fotografia (imagens): com relação a esse
tema, um tanto quanto amplo para ser debatido, buscamos refletir sobre
autores que trouxessem assuntos que cruzassem entre Comunicação e
Turismo, turismo e imagens, turismo e fotografia, para dar embasamento geral
sobre os meandros do alicerce de investigação, que giram em torno desses
três eixos. Assim, alguns desses autores foram referenciados, sejam eles lidos
em livros ou em periódicos acadêmico/científicos, tais como: Gastal (2005),
Gândara (2008), Urry (1996), Buratto (2004), Albernaz (2009), Locks, (2006),
Parásio e Ferreira (2010), Ruschmann (2002). Ao longo das leituras, como se
verá, alguns nos chamaram mais atenção do que outros.
- Fotografia (história e filosofia) e imagens fotográficas: nesse item de
referências, uma coisa chama a atenção: houve uma preocupação em fornecer
um breve relato ao leitor sobre a fotografia e sua importância na comunicação.
Lembramos que a entrada no campo comunicacional é recente (DINTER em
30
Comunicação, como citado nos parágrafos anteriores) e que a leitura realizada
sobre fotografia e sua história se deu nas disciplinas ou ao longo da escrita da
tese. Tais autores utilizados foram: Borges (2003), Fabris (1991), Lopes (1998),
Kossoy (2001), Alencastro (2010). No entanto, para que a discussão sobre a
fotografia não ficasse apenas no âmbito da técnica e da história, foi necessário
aprofundar a epistemologia e a filosofia por trás da fotografia e da imagem
fotográfica. Utilizamos os seguintes autores: Flusser (2009), Barthes (1984),
Benjamin (1994 e 2006), Sontag (2004), Aumont (1993) e Bourdieu (1965).
- Circulação: a escolha por essa temática é o apoio para nossa tese,
uma vez que buscamos trabalhar a circulação das imagens fotográficas de
Parnaíba nas distintas mídias. Os autores que utilizamos como base para nos
referenciarmos são: Braga (2004 e 2012), Fausto Neto (2001) e Ferreira
(2005). Em consequência disso, surge intrínseco o tema de remediação, a
partir da observação e da análise da circulação das imagens nas distintas
mídias.
Pois
muitas
dessas
imagens
podem
estar
configuradas
e
reconfiguradas em outras mídias, ou seja, uma imagem fotográfica de uma
mídia pode estar sendo remediada/reproduzida em outra mídia, principalmente
quando se trabalha com a Internet. Assim, para que os conceitos e as teorias
sobre remediação nos dessem embasamento para o tratamento de nossos
observáveis e para que pudessem ser debatidas, foram acompanhados textos
de Bolter e Grusin (1998) e Silveira (2007).
- Comunicação e cartografia: houve preocupação em dar sentido e
fundamento teórico para a escolha da metodologia e dos procedimentos
metodológicos definidos, além de demonstrar que, em comunicação, já existem
e já foram realizadas outras pesquisas com muita proximidade com a nossa.
Nossa leitura se apoiou em Rosário (2008), Deleuze e Guatarri (2004), MartínBarbero (2004) e Aguiar (2008). Além dessa nossa base de referências, outros
autores foram trabalhados e debatidos para diversificar e para colaborar com a
construção de nosso referencial, tais como: Deleuze (1999), Martín-Barbero
(2006), Rolnik (1989, 2006), Bragança (2011), Farina (2007), Fischer (2008),
Fonseca e Kirst (2003), Guidotti (2007), Kirst et al. (2003).
31
- Estudos com cartões postais: a escolha pelos cartões postais se deu
por conta de ser uma mídia orientada especificamente aos turistas e ao
turismo, onde as imagens são utilizadas para promover a localidade, ou mesmo
como uma forma do turista manter as imagens de sua visitação. As leituras
sobre esse tema em particular foram feitas basicamente em periódicos, já que
foram encontrados ao longo da pesquisa bibliográfica poucos livros sobre o
assunto. Assim, os trabalhos referenciados e debatidos são análises de artigos,
a maioria sendo estudos de casos isolados de (usos de) cartões postais de
certas
regiões.
Esses
autores
também
auxiliaram
na
compreensão
metodológica dos nossos observáveis e dos nossos objetos empíricos. São
eles: Siqueira e Siqueira (2011), Belchior (1986), Calazans (1984), Cornejo e
Gerodetti (2004), Fernandes Júnior (2002), Franco (2006), Hunt (2005),
Quanchi (2004), Patrício (2004), Mellor (2000) e Velloso (1999).
- Estudos com folders (folhetos): a escolha pelos folders se deu por
conta
de
ser
uma
mídia
que
é
utilizada
para
demonstrar
aos
turistas/consumidores os passeios que a empresa realiza para as viagens.
Além disso, é um material que se apóia em produtos das agências de turismo,
que é pré-selecionado e já fabricado para ser, posteriormente, vendido aos
turistas, antes de o circuito turístico ocorrer. Assim, acontece a tentativa de se
comunicar, através das imagens, o que poderá ser possível ver e “sentir” ao
longo do passeio, comunicado na mídia folder. Os autores que contribuíram
para a discussão sobre folders são: Albuquerque (2009), Bahl (2004), Balanzá
e Nadal (2003), Kotler (1994), Roman e Maas (1992), Zaidan (2009).
- Estudos com imagens na Internet e Internet: dar referência sobre a
Internet como uma nova mídia, atuando nas questões de tecnologia e de
formação de novos circuitos e de fluxos atuais e diferentes, transpassando
mídias e suportes que por ela possam cruzar. Assim, o interesse de se
trabalhar sobre as imagens na Internet surgiu da necessidade de entender
como ocorre a circulação das imagens fotográficas nessa mídia que, muito
contemporaneamente, absorve imagens e suportes de outras mídias. Os
autores trabalhados nesse item foram Braga (2012), Castells (2001),
32
Maldonado (2002), Martín-Barbero (2006), Peruzzo (2005), Recuero (2009),
Santaella (2003), Sodré (2002) e Vizer (2010).
Nesse sentido, os temas, anteriormente, apontados e escolhidos para o
desenvolvimento desse texto, definiram o desenvolvimento da aproximação do
Campo Comunicacional com o do Turismo, demonstrando nossa preocupação
de forma a construir um espaço novo de diálogo entre as áreas e os campos
em destaque.
Assim, no desenvolvimento desse nosso capítulo introdutório pudemos
acompanhar a trajetória das escolhas, dos motivos e dos caminhos percorridos
até o momento da formatação do tema de pesquisa, também da produção da
problematização e da criação dos objetivos que tentamos atender e responder
ao longo da tese. Para tanto, também foram colocados nos parágrafos
anteriores os motivos da criação dos capítulos da tese, juntamente com os
autores levantados, lidos e consultados ao longo do trabalho.
Após verificar nossos observáveis e nossos objetos empíricos e de ver
a importância do turismo para a região estudada, retomamos resumidamente
que, ao trabalharmos e estudarmos o turismo, desde 1999, e por diversas
leituras e pesquisas, consideramos o turismo como uma atividade bastante
complexa e relativamente recente no campo científico. Por isto poucos estudos
foram realizados sobre a conexão entre o turismo e a comunicação. Além dos
relatos anteriores, ao longo da produção do texto final da tese buscamos ler
outros trabalhos e pesquisas que aprofundaram essa relação, enfocando
temáticas como a imagem dos destinos turísticos, registros fotográficos e
outros menos direcionados designadamente pelas imagens fotográficas.
Nesse momento, é válido lembrarmos a proximidade da Comunicação
com o Turismo através de muitos cursos de graduação e pós-graduação em
Turismo, que estão ou foram criados e geridos em Faculdades, Centros ou
Departamentos de Comunicação, como os casos dos cursos de Bacharelado
em Turismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio Grande do Sul, e
o Bacharelado em Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP
(Universidade de São Paulo), entre outros importantes cursos que existem no
Brasil.
33
Outra menção importante são as revistas científicas de Turismo, que
recebem muito bem os trabalhos que aliam a comunicação ao turismo, pois são
temas poucos abordados, novos entre os pesquisadores da área de Turismo e
a maioria dos materiais publicados são dos pesquisadores de Comunicação.
Entre alguns temas que já foram publicados em revistas científicas e em
eventos acadêmicos/científicos, que temos conhecimento e já tivemos contato,
estão: turismo e cinema; turismo e o uso da Internet; turismo e cartões postais;
turismo e fotografia; turismo e mídias; imagens, comunicação e turismo; entre
outros temas que aproximam as duas áreas ou campos de pesquisa.
Sobre a relação de comunicação e turismo, podemos destacar uma
reportagem veiculada no site UOL (2012, p. 1). Diz-se:
Acabaram as viagens reservadas com meses de antecedência, pois
os turistas conectados de hoje mudam seus planos de um dia para
outro, estando sempre à procura de contato humano, analisaram
especialistas reunidos no Japão. “Compreender o uso das novas
tecnologias é fundamental para que a indústria do turismo possa
continuar a crescer”, destacou Philip Wolf, fundador do centro de
análises PhoCusWright. [...] “Não há mais 'on' e 'off', os novos
consumidores estão conectados todo o tempo e passam de um
aparelho a outro. Os profissionais de turismo que não se adaptarem
vão perder mercado”, disse Wolf. [...] A utilização dos meios móveis
de telecomunicações modifica radicalmente a relação entre o cliente
e os fornecedores dos serviços de viagem. Dois terços das reservas
de hotel feitas a partir de um terminal móvel são logo para a noite
seguinte, contra 15% daquelas provenientes de um PC fixo;
notebooks, smartphones ou tablets oferecem a possibilidade de
reprogramar sem parar o percurso. [...] Esses novos meios permitem
aos profissionais de turismo conhecer melhor seus clientes, mas
estes últimos são mais desconfiados e exigentes quando usam as
ferramentas de comunicação mais modernas.
Devido a estes fatos, supracitados, e às experiências profissionais e de
pesquisas, verificamos a necessidade de elaborar essa tese. Assim,
esperamos que ela sirva tanto para o campo comunicacional, quanto para a
área de abrangência do turismo.
Dessa forma, para dar sequência, seguimos com o próximo capítulo,
este, como citado nos parágrafos anteriores, possui caráter teórico e trata
sobre comunicação, turismo e fotografia.
34
1 COMUNICAÇÃO E TURISMO: A RELEVÂNCIA DA FOTOGRAFIA NESSA
RELAÇÃO
Trigo (1999) observa que os fatores que levaram ao desenvolvimento
do turismo, foram os mesmos que transformaram profundamente o mundo no
âmbito das relações econômicas, políticas, sociais e culturais. O autor destaca
que nas sociedades pós-industriais o turismo – assim como o lazer, as artes,
os esportes e a preocupação com a qualidade de vida – torna-se a cada ano
mais expressivo e, com isso, ganha cada vez mais destaque nos meios de
comunicação, nos negócios internacionais, no interesse e no cotidiano das
pessoas.
As circunstâncias expostas por Trigo (1999) evidenciam o turismo
como prática social que ocorrerá em conformidade com os parâmetros que
caracterizam a organização social. Neste ínterim, Correia atenta para o fato de
que, no momento atual:
As relações entre o indivíduo e a sociedade foram alvo de uma
mediatização generalizada no decurso da qual a construção de
imaginários, a formulação de normas e a consolidação de visões de
mundo dependem cada vez mais da presença de órgãos de
comunicação social (1999, p. 1).
Neste sentido, verifica-se que a mídia será um espaço fundamental
para construção das identidades regionais e nacionais com posicionamento
turístico e também para que estas sejam percebidas pelo turista como tal.
A influência do discurso midiático sobre o percurso da ação do turista é
verificado por Urry (1996) ao relatar que, quando o turista está viajando, ele se
põe a procurar as imagens de paisagens anteriormente vistas em revistas, sites
e anúncios, a fim de capturá-las para si. Destarte, o turista procura percorrer os
lugares vistos nas mídias e procura sentir as emoções que nestes veículos as
imagens lhe transmitiram. Enfatizamos que “os seres humanos agem em
relação à realidade com base no significado que lhe atribuem e esse
significado provém em primeira instância dos processos de integração social e
de mediação simbólica” (Correia, 1999, p. 01). Neste sentido, vemos o turista
35
impulsionado pelo imaginário midiático, prosseguindo à ação. O olhar do turista
é socialmente construído pela mídia, que, em certo grau, lhe guia até na
eleição dos locais a serem fotografados. Outro aspecto a ser avaliado é que no
plano do real o turista busca vivenciar as expectativas que o imaginário lhe
aprovisionou e, com isso, dá-se uma ruptura.
O trabalho Gastal (2005), professora da UCS, que trabalha na interface
de Comunicação e Turismo, foi bastante útil na perspectiva de pensarmos a
necessidade da comunicação para o turismo e o uso das mídias para o
turismo. A autora tenta evidenciar a íntima relação que se cria entre turismo,
imagens e imaginários, e explica porque, atualmente, ao pesquisar, ao atuar
profissionalmente ou ao perpetrar uma reflexão sobre viajantes (turistas) e as
viagens, não se pode ignorar, de forma nenhuma, essa relação.
Assim, a procura de imagens fotográficas expressivas e adequadas
para um destino turístico não se exaure com o ato de fotografar múltiplos temas
eventuais. É necessário conferir alguns aspectos relevantes que influenciam,
ou influenciarão, a imagem do destino. Desta feita, é necessário destacar que
este nosso trabalho possui aspectos relacionados com as imagens fotográficas,
as fotografias em distintas mídias e, sobretudo, a circulação dessas imagens
nessas mídias, que indiretamente possamos ajudar a desenvolver a (ou a
compreender o desenvolvimento de uma) imagem de um destino, bem como
fomentar o campo de investigação científica relacionada com a Comunicação,
o Turismo e a imagem dos destinos turísticos.
Dessa forma, as causas e o que motiva o turista ao eleger um lugar
para viajar, involuntariamente de seus motivos de condução, estão arroladas
inteiramente com a vocação turística do destino, que podem ser: sol e praia,
montanhas, saúde, cultura, comércio, negócios, eventos, gastronomia, esporte,
ecoturismo, entre outros diversos. Por sua vez, esta vocação fica adjunta e
acoplada com os atrativos: naturais, artificiais, culturais e sociais que têm nos
destinos turísticos.
Esta vocação deve estar relacionada diretamente com a imagem do
destino turístico. Acreditamos que assim será possível desenvolver um turismo
de acordo com a realidade local, bem como corresponder com as expectativas
36
e necessidades dos turistas. Desta forma, a atividade turística pode gerar
benefícios econômicos, sociais e ambientais. Entretanto, para obter tais
benefícios é necessário um planejamento correto e adequado com a imagem
do destino, sendo que a fotografia é um dos mais significativos instrumentos de
promoção turística para desenvolver tal imagem.
Através das abordagens utilizadas na comunicação, normalmente, é
possível distinguir dois importantes aspectos da imagem. O primeiro aspecto se
refere à imagem mental, que pode ser definida como sendo aquela elaborada
no imaginário das pessoas – ou seja: são todas as imagens que a mente
produz a partir de experiências vividas, das mensagens recebidas e
assimiladas bem como através da compreensão do mundo. Já o segundo
aspecto se refere àquela imagem que vale como suporte para a comunicação,
constituindo-se de maneira concreta e efetiva através de meios como
fotografia, televisão e cinema (BIGNÉ, 2000).
Acreditamos ser importante desenvolver uma imagem do destino
turístico baseada em fotografias que representem em sua complexidade os
aspectos
da
localidade
(paisagísticos,
climáticos,
naturais,
culturais,
gastronômicos, artísticos e folclóricos, como também da história, dos costumes
e dos comportamentos da população). Pois ao viajar até Parnaíba, o
turista/consumidor terá acesso aos locais, atrativos turísticos e recursos
paisagísticos, que estavam projetados em forma de imagens fotográficas nas
mídias por eles acessadas. Deste modo, eles comprovarão, ou não, a
autenticidade da paisagem e da imagem fotográfica.
Nisto, cabe ressaltar que estamos partindo aqui de uma consideração
concreta do valor da imagem no turismo. Pois a intenção do trabalho não é
esta, bem como não é ampliar o debate ao nível da discussão semiótica, como
foi dito em parágrafos anteriores.
Destarte, observamos que as fotografias podem gerar ou desestimular
a demanda, no sentido de que o turista irá decidir-se por visitar, ou não, um
destino em função da imagem fotográfica que este destino turístico possui. As
fotografias indicam, assim, um conjugado de anseios e percepções de um
possível passeio para um destino desejado.
37
A imagem é formada pelo conjunto de todas as impressões recebidas
pelos consumidores sobre o destino. Segundo Valls (1992), esta formulação
terá um valor afetivo e sentimental que denotará atração ou repulsa e poderá
servir como referência no ato de decisão de eleição do destino turístico a ser
viajado. Por isso a importância de estudar diferentes mídias e diferentes
imagens circulando nessas mídias.
O desenvolvimento da atividade turística se baseia em imagens e tenta
ao máximo enfatizar certos detalhes que chamem a atenção do público.
Devemos, então, ter consciência de que elas são selecionadas e bem
pensadas. Por isso, ter certo conhecimento sobre o local é essencial. É através
das fotografias, disponibilizadas nas diferentes mídias, que o turista vai
elevando suas expectativas de viagem, ao ponto de querer ir conhecer o que
vê.
Os registros fotográficos, segundo Santos e Santos (2007), possuem
diversas funções que podem ser apropriadas no turismo, são elas:
segmentação do mercado (fototurismo); elemento educacional (turistas e
população local); como manifestação artística dos fotógrafos locais; mecanismo
de marketing (cunho comercial); material de pesquisa de campo; registro
histórico e ferramenta de planejamento e gestão. Frente a isso, o Turismo é um
campo de estudo que necessita de um acervo material para levantar dados
históricos e até mesmo geográficos, para construir um plano de ação com
poder de gerar uma movimentação turística relevante.
De acordo com Falco (2011), a mídia é capaz de agendar os lugares a
serem levados em conta como turísticos por famílias em férias, por casais em
lua-de-mel, por crianças, idosos etc. Cria-se, assim, uma espécie de cartografia
turística, que irá designar locais atrativos nos mais diversos segmentos
turísticos.
Com relação às fotografias impressas em material de mídia turística, o
filósofo britânico De Botton (2005, p. 16) afirma “Os responsáveis pelo folheto
tinham tido a sinistra intuição de como transformar os leitores em presas fáceis
por meio de fotografias cujo poder insultava a inteligência e desrespeitava toda
e qualquer noção de livre arbítrio”. Assim, o marketing poderia facilitar a
38
demanda turística, através de imagens fotográficas e de paisagens que os
produtores de folhetos/folders queriam e que muitas vezes não condiziam com
a realidade local. Muitas vezes, a imagem que é passada no folheto/folder, é a
imagem que os produtores escolhem a partir de seus produtos oferecidos. Uma
questão interessante, ante o fato de que um de nossos observáveis é a mídia
folder.
Segundo Gastal (2005), a imagem para a atividade turística é
voluntariamente mais importante do que os textos. Além do mais, com os
avanços tecnológicos e a sua consequente popularização, permitiu-se que uma
maior parcela de consumidores tivesse acesso às técnicas de manipulação de
imagens, através das máquinas fotográficas e softwares de computadores. À
vista disso, a atual civilização da imagem contradiz aquilo que Urry (1996)
afirmou “a câmera não mente”, pois a câmera como instrumento é diferente do
que acreditamos que seja imagem. Por essa razão, a representação de
imagem fotográfica requer muito cuidado quando é veiculada nos cartões
postais, folders, reportagens em jornais, revistas e em sites da Internet, para
não ultrapassar os limites do que é “real”.
Ao debatermos sobre os temas das fotografias, uma interessante
passagem no texto de Sontag (2004, p. 41), retrata sobre o embelezamento da
fotografia “fotografar é atribuir importância. Provavelmente não existe tema que
não possa ser embelezado; além disso, não há como suprimir a tendência,
inerente a todas as fotos, de conferir valor a seus temas”. Além disso, Sontag
(2004, p. 106) apresenta uma visão sobre o modo como a câmera fotográfica
pode interferir no olhar, ao se fazer (produzir) uma imagem fotográfica “[..] o
tipo de beleza que só a câmera revela – um recanto de realidade material que
o olho não enxerga normalmente ou não consegue isolar; ou a visão de cima,
como a de um avião –, eis os alvos principais da conquista do fotógrafo”.
Deste modo, as fotografias têm uma influência significativa na
percepção de um destino turístico. Por isto, às vezes, a análise e a
compreensão de alguns aspectos fundamentais que compõem a estrutura e
composição de uma fotografia, significativa e de qualidade, tais como: temas,
cores, iluminações, pessoas e equipamentos turísticos, que eventualmente são
39
fotografados.
Aqui
cabe
ressalvarmos,
que
embora
seja
importante
apresentarmos diferentes olhares sobre a fotografia (sua importância, seus
usos, sua história e as diversas reflexões sobre ela) nesses aspectos das
imagens fotográficas, o nosso interesse maior foi sobre a circulação dessas
imagens fotográficas nas diferentes mídias estudadas.
Retomando, sobre o aspecto desta composição das fotografias é a
identificação do tema que será fotografado, ou seja, a determinação do
elemento principal que deverá aparecer nas fotografias. Em geral, os temas
relacionados com a atividade turística abordam paisagens naturais dos
destinos turísticos, contendo praias maravilhosas, ilhas paradisíacas, vales e
riachos como tema principal das imagens fotográficas. Isto é facilmente
perceptível na maioria dos materiais promocionais elaborados, tanto por
empresas públicas, como pelas empresas privadas envolvidas com o turismo.
Porém, a imagem fotográfica de um destino turístico não deveria ser
desenvolvida somente através destes recursos naturais, mas também através
de, por exemplo: fotografias de hotéis, restaurantes, centros de informações,
estradas e ruas, mercados públicos, entre outros locais, que compõem os
equipamentos turísticos e a infraestrutura existente nos destinos. Estas
escolhas de temas, com características mais tangíveis, busca reduzir a
insegurança que os turistas possuem ao escolher um destino para viajar. Com
isto, os turistas teriam uma melhor e mais adequada percepção da qualidade
existente nos produtos e serviços, bem como da existência de infraestrutura
básica e de apoio existente no destino turístico.
Ainda sobre a importância da fotografia para a comunicação e
principalmente para o turismo, vemos em Sontag (2004, p. 19):
[...] a fotografia desenvolve-se na esteira de uma das atividades
modernas mais típicas: o Turismo. Pela primeira vez na história,
pessoas viajam regularmente, em grande número, para fora de seu
ambiente habitual, durante breves períodos. Parece decididamente
anormal viajar por prazer sem levar uma câmera. As fotos oferecerão
provas incontestáveis de que a viagem se realizou, de que a
programação foi cumprida, de que houve diversão. As fotos
documentam seqüências de consumo realizadas longe dos olhos da
família, dos amigos, dos vizinhos. Mas a dependência da câmera,
40
como equipamento que torna real aquilo que a pessoa vivencia, não
se enfraquece quando as pessoas viajam mais [...].
Assim, a máquina fotográfica e a expansão do turismo são simultâneos
em termos temporais. Com a premissa de que os dispositivos imagéticos na
atualidade são produtores de uma experiência que atrai os visitantes/turistas de
maneira imprescindível na relação dispositivo e imagem. De tal modo que o
dispositivo é o que viria constituir a mídia, fazendo da imagem o lugar de uma
experiência que abriria caminho para um diálogo com outras mídias. Nessa
circunstância, a fotografia se abre ao múltiplo, produzindo atravessamentos, e
associando um contexto de virtualidades.
A fotografia aqui estabeleceu um diálogo capital com outras mídias:
cartão postal, folders e mídias digitais (Internet). A concepção de que a imagem
pode funcionar como uma interconexão, uma fronteira que permite trocas e
atravessamentos
diversos
entre
as
imagens,
nos
pareceu
bastante
interessante para pensar o modo como a fotografia integra o cenário da relação
comunicação e turismo.
Como notamos nessa apresentação do capítulo, procuramos salientar
a fotografia como uma linha de ajuntamento clara entre dois campos do
conhecimento e duas práticas sociais, de ciências sociais aplicadas.
Comunicação e Turismo.
Ao passo que, ao finalizarmos essa parte introdutória, daremos
prosseguimento com os sub-capítulos constituintes de certa lógica que
procuramos interligar a fotografia como fonte de suas diversas relações com o
turismo, sua história, e a funcionalidade nas ações que estão por vir durante o
trabalho.
1.1 Fotografia: conceituações e aproximações
A imagem fotográfica foi fundamental no trabalho, pois contribuiu com a
forma como é feita a comunicação turística. Assim, nas próximas páginas
buscamos expor pensamentos, conceitos e aproximações de temáticas
voltadas ao tema da fotografia. Nesse sentido, diversos autores (Aumont,
41
Sontag, Flusser, Barthes e Benjamin)6 foram trabalhados para que esse
referencial sirva de base para sustentar o que é fotografia, como encaramos
essa
temática
e
quais
conceitos
foram
levantados,
construídos
e
desconstruídos ao longo da caminhada até o trabalho final de tese.
Desse modo, decidimos trabalhar, de início, com a apresentação do
instante fotográfico, que se tornou possível por volta de 1860, e permitiu, enfim,
o acesso a uma representação de um instante extraído de um acontecimento
real. Foi a partir dessa possibilidade de retenção de um instante qualquer que
se percebeu que os supostos instantes figurados pela pintura tinham sido
inteiramente reconstruídos (AUMONT, 1993).
Segundo Alencastro (2010, p. 73),
Assim, talvez a grande revolução tecnológica do século XIX – na
corrida pelo desenvolvimento de um suporte fotográfico mais prático e
barato – tenha sido conquistada pelo empresário George Eastman.
Com o slogan “You press the Button, we do the rest”, Eastman foi o
responsável por introduzir no mercado, em 1888, a máquina
fotográfica Kodak. além de conseguir chegar a um formato de câmera
capaz de resolver vários problemas apresentados pelos
equipamentos fotográficos produzidos até o momento (a Kodak era
leve, pequena, portátil e, principalmente, economicamente viável), o
estadunidense desenvolveu uma fórmula de negativo que mudaria
para sempre o destino da fotografia: o filme flexível (em rolo). [...]
Nesse momento, observamos uma ruptura interessante dentro da
história da fotografia no século XIX. Num primeiro momento, com o
desenvolvimento dos cartões postais, como referido, a imagem
fotográfica já passa a ser reproduzida de forma massiva. Contudo, as
consequências provocadas pela inserção do rolo de filmes no
mercado foram ainda maiores [...].
Afora do impulso na esfera econômico-social, que democratizou a
entrada de parte da sociedade à foto (acesso às imagens, máquinas
fotográficas, produção de imagens, entre outras ações ligadas à fotografia), em
consequência desse fato, a população passou à categoria de produtores de
imagens fotográficas. Isso quer dizer, se ao mesmo tempo fora necessário
depender de fotógrafos para ter fotos, com a popularização das técnicas e das
6
Julgamos ser fundamental a leitura e a aproximação às visões, conceituações e ideias que esses
autores têm sobre o tema da Fotografia, uma vez que não estamos escolhendo um autor como cerne e
centro de defesa temática da fotografia, mas como uma forma de apresentar os caminhos que
percorremos para fundamentar e demonstrar nossa preocupação em ter o tema da Fotografia bem regado
de informações, que nos dessem base para que, ao encaminhar o capítulo para o tema de ligação entre o
Turismo e Comunicação, a Fotografia fosse essa ligação.
42
máquinas fotográficas, os sujeitos incidem da qualidade de receptoras para,
agora em produtores.
De acordo com Alencastro (2010, p. 75):
Com essa democratização da fotografia, assistimos ao seu
crescimento de maneira rápida, intensa e incessante, permitindo a
reprodução da imagem de maneira ilimitada (LOPES, 1998). Em
outras palavras, quando a mão do homem deixa de ser responsável
pela produção das imagens e dá lugar a uma técnica mais veloz e
reprodutível, acompanhamos uma verdadeira revolução tecnológica –
e que traz reflexos até hoje, entre outros âmbitos, na constituição das
memórias sociais e individuais. no entanto, ao longo do século XX, a
fotografia sofreu tantas outras modificações, impactos e
reformulações, principalmente quando ela se insere no contexto da
midiatização. Além disso, também serviu de inspiração para o
desenvolvimento de uma linguagem visual em movimento (cinema,
televisão) e, mais tarde, também passou por reconfigurações com a
migração para o suporte digital.
Aqui, podemos refletir que a fotografia pode ser considerada uma
técnica que não apenas revolucionou a forma de se produzir imagem
congelada, mas também representou o embrião da chamada imagem em
movimento,
na
medida
em
que
serviu
de
base/inspiração
para
o
desenvolvimento do cinema e, alguns anos depois, da televisão. Além disso,
como já referido, a fotografia começa a ser disseminada no momento em que
passa a ilustrar, por exemplo, os cartões postais (ainda no final do século XIX).
Uma interessante passagem no texto de Sontag (2004, p. 14) retrata a
fotografia e o modo de pensar a imagem fotográfica:
[...] fotos, a imagem é também um objeto, leve, de produção barata e
fácil de transportar, de acumular e de armazenar. No filme de Les
carabiniers (1963), de Godard, dois lúmpen-camponeses preguiçosos
são induzidos a ingressar no Exército do rei mediante a promessa de
que poderão saquear, estuprar, matar ou fazer o que bem
entenderem com os inimigos, e ficar ricos. Mas a mala com o butim
que Michael-Ange e Ulysse trazem, em triunfo, para casa, anos
depois, para suas esposas, contém apenas centenas de cartões
postais de monumentos, de lojas de departamentos, de mamíferos,
de maravilhas da natureza, de meios de transporte, de obras de arte
e de outros tesouros catalogados de todo o mundo. O chiste de
Godard parodia, nitidamente, a magia equívoca da imagem
fotográfica. As fotos são, talvez, os mais misteriosos de todos os
objetos que compõem e adensam o ambiente que identificamos como
43
moderno. As fotos são, de fato, experiência capturada, e a câmera é
o braço ideal da consciência, em sua disposição aquisitiva.
Pensando na técnica e no fazer fotografia, Benjamin (1994, p. 94)
expõe:
Apesar de toda a perícia do fotógrafo e de tudo o que existe de
planejado em seu comportamento, o observador sente a
necessidade irresistível de procurar nessa imagem a pequena
centelha do acaso, do aqui e agora, com a qual a realidade
chamuscou a imagem, de procurar o lugar imperceptível em que o
futuro se aninha ainda hoje em minutos únicos, há muito extintos, e
com tanta eloqüência que podemos descobri-lo olhando para trás. A
natureza que fala a câmera não é a mesma que fala ao olhar; é
outra, especialmente porque substitui a um espaço que ele percorre
trabalhando conscientemente pelo homem, um espaço que ele
percorre inconscientemente. Percebemos, em geral, o movimento
de um homem que caminha, ainda que em grandes traços, mas
nada percebemos de sua atitude na exata fração de segundo em
que ele dá um passo. A fotografia mostra essa atitude, através dos
seus recursos auxiliares: câmera lenta, ampliação. Só a fotografia
revela esse inconsciente ótico, como só a psicanálise revela o
inconsciente pulsional.
Benjamin (1994) também leva em consideração, a exemplo de Freud,
que o aparato fotográfico e os processos necessários para tornar positivas as
imagens capturadas pela câmara têm a capacidade de colocar diante de
nossos
olhos
e
tornar
conscientes
determinadas
particularidades
da
representação das quais tínhamos apenas algumas “representações latentes”:
Características estruturais, tecidos celulares, com os quais operam a
técnica e a medicina, tudo isso tem mais afinidades originais com a
câmara que a paisagem impregnada de estados afetivos, ou o retrato
que exprime a alma do modelo (BENJAMIN, 1994, p. 96).
Podemos perceber uma afinidade do pensamento de Walter Benjamin
com o pensamento de Freud, quando este comenta sobre o movimento do
inconsciente que, mobilizando algo já presente na memória como resultado de
alguma experiência empírica vivida pelo sujeito que contempla uma imagem
fotográfica, torna-se consciente e dá um novo sentido a essa representação:
44
[...] acentuar certos aspectos do original, acessíveis à objetiva –
ajustável e capaz de selecionar arbitrariamente o seu ângulo de
observação –, mas não acessíveis ao olho humano. Ela pode,
também, graças a procedimentos como ampliação [...], fixar imagens
que fogem inteiramente à ótica natural (BENJAMIN, 1994, p. 108).
Assim, os potenciais turistas poderão, através desse inconsciente ótico,
ser despertados à visitação, ao verem as imagens fotográficas em distintas
mídias. Portanto, as fotografias poderão ser utilizadas na atração dos turistas
pelas empresas ou destinações, como uma forma de motivar a viagem do
potencial visitante. Além disso, os turistas, ao levarem suas máquinas
fotográficas para os passeios, irão escolher o que fotografar a partir de seus
inconscientes óticos. As fotografias seriam fragmentos, construídos a partir de
um conhecimento estético do seu produtor e podem estar carregadas de
sentido.
Com isso, a fotografia (turística) contribui para o turismo na construção
de “modelos de desejos”, de modo que a produção se viabiliza no processo
pelo qual o gosto que se atribui a um universo de turistas/consumidores é
transferido aos produtos ofertados, como sua propriedade fundamental,
aproveitando esse inconsciente ótico. Uma vez que todas as pessoas são
consideradas potencialmente turistas/consumidores, em algum grau, para o
turismo, todos vêm ganhar significação através da lógica do consumo. Dela
deriva a complexa classificação de uma totalidade de gostos existentes,
possíveis e imagináveis, transformados em padrões de consumo que se
sobrepõem no contexto dessa lógica. No que se refere a essa incessante
produção de projetos turísticos e/ou novos produtos, podemos mencionar o
pensamento de Pierre Bourdieu, ao asseverar que “o campo de produção de
bens culturais, ele próprio regido pela dialética da pretensão e da distinção,
oferece sem cessar novos bens ou novas maneiras de se apropriar desses
bens” (BOURDIEU, 1965, p. 54).
Bourdieu, um precursor da interpretação em que a fotografia é vista
como representação, visou responder às colocações de autores que viam o
signo fotográfico como reflexo da realidade, afirmando que “[...] se a fotografia
45
é considerada como registro perfeitamente realista e objetivo do mundo visível,
é porque se lhe destinou (desde a origem) usos sociais tidos por realistas e
objetivos“ (1965, p. 34).
Flusser (2009, p. 25) foi ainda mais longe, escrevendo e refletindo
sobre uma filosofia da fotografia, pois somente ela dará condições de libertar
os homens da previsibilidade simbólica do aparelho, acreditando que:
A filosofia da fotografia é necessária porque é reflexão sobre as
possibilidades de se viver livremente num mundo programado por
aparelhos. Reflexão sobre o significado que o homem pode dar a
vida, onde tudo é acaso estúpido, rumo à morte absurda. Assim vejo
a tarefa da filosofia da fotografia: apontar o caminho da liberdade.
Desse modo, cada pessoa ao fazer uma leitura de uma imagem
fotográfica, pode ter despertado, em si, qualquer forma de sentido. Não
importa, às vezes a intenção do fotógrafo, ou qual o tipo de aparto técnico
utilizado, muitas vezes o que importa é a imagem e a livre interpretação (olhar
construído) de que é feito dela. Sendo assim, mesmo que as agências ou
empresas de turismo de Parnaíba fotografem as paisagens, muitas vezes
haverá diferentes percepções, mas de nada isso adianta se não houver onde
essa imagem possa circular, até atingir o consumidor/turista.
A crescente circulação de mensagens visuais, ao longo deste século
XXI, seguida de uma sucessão de avanços técnicos e tecnológicos ocorridos
na área da imagem, possibilitou à fotografia assumir novos vínculos com outros
campos e segmentos sociais. No domínio do fenômeno turismo, os textos
imagéticos empregados no relato visual da informação assumem diversas
formas na função de passagem do sentido. A fotografia aplicada no turismo
constitui-se num texto visual e turístico completo e numa forma eficaz de
manifestação visual. No entanto, é preciso considerar a fotografia como um
dispositivo técnico (que exprime regras de um trabalho, no caso, a fotografia
turística),
além
comunicacional.
de
se
constituir
em
um
acontecimento
turístico
e
46
Colaborando nessa discussão técnica, podemos citar os dizeres de
Flusser (2009), que articula sobre a coerência inerente do aparelho fotográfico,
que seria uma lógica midiática. Assim, fazendo o fotógrafo articular/assinalar
certos fatos. Destarte, não seria o fotógrafo que perpetra a foto e sim a
máquina fotográfica que a faz, permitindo ao fotógrafo, assim, fazer a foto.
Desse modo, no entender de Flusser (2009), a máquina é quem dominaria o
fotógrafo.
Contudo, segundo Barthes (1984), tecnicamente, a fotografia está no
entrecruzamento de dois processos inteiramente distintos: um, de ordem
química – trata-se da luz sobre certas substâncias; outro, de ordem física –
trata-se da formação da imagem através do dispositivo óptico.
A mecanização vai caracterizar a fotografia. A tecnologia e a pesquisa
para o aperfeiçoamento da câmera fotográfica fizeram da fotografia uma “arte
popular” – Bourdieu, por exemplo, fala em “arte média” –, ou seja,
compartilhada por todos. Mas o processo de registrar mecanicamente uma
imagem em condições iguais ao olho humano, num determinado momento,
trouxe outras proporções. Ela pode representar, em caráter real, a visão
tradicional do fotógrafo frente a um objeto em vista. As imagens fotográficas,
como observa Flusser (2009), são superfícies que pretendem representar algo.
Na maioria dos casos, algo que se “encontra lá fora no espaço e no tempo. As
imagens são, portanto, resultado do esforço de abstrair duas das quatro
dimensões de espaço tempo, para que se conservem apenas as dimensões do
plano” (FLUSSER, 2009, p. 07).
Deste modo, a fotografia cativa e desencanta as pessoas pelo fato de
apropriar e representar o real, de informar, de assinalar critérios funcionais,
plásticos e técnicos, e que, muitas vezes, não são percebidos pelo olho
humano comum. A informação e a expressão plástica do mundo real são os
ingredientes essenciais dessa espécie de fotografia. Cabe ao fotógrafo
selecionar os elementos de um tema e o que valorizar através da fotografia.
Isso porque fotografar é, antes de tudo, atribuir valor, dar importância,
prioridade a determinados atores e componentes de uma cena, registrados
numa imagem fotográfica, em detrimento de outros. Contudo, não podemos
47
nos afastar da questão de que as fotografias são imagens técnicas, ou seja,
elas são frutos de uma técnica e produzidas por uma câmera fotográfica. O
aparelho fotográfico, conforme lembra Flusser, pode servir de modelo para
todos os outros aparelhos da atualidade e do futuro imediato. Ou seja, as
imagens tradicionais desembocam nas técnicas e “passam a ser reproduzidas
em eterno retorno” (FLUSSER, 2009, p. 18). Ele vai além, ao afirmar que tudo,
atualmente, tende para as imagens técnicas e que são elas a memória eterna
de todo empenho. Refletindo, em suas palavras, todo o ato científico, artístico,
turístico, comunicacional e político:
[...] visa a ser fotografado, filmado e videoteipado. Como a imagem
técnica é a meta de todo ato, este deixa de ser histórico, passando a
ser um ritual de magia. Gesto eternamente reconstituível segundo o
programa. Com efeito, o universo das imagens técnicas vai se
estabelecendo como a plenitude dos tempos (FLUSSER, 2009, p.
18).
É importante saber que o equipamento utilizado permite que a
fotografia aconteça com certa precisão. Porém, estes aparatos somente são
instrumentos que o fotógrafo utiliza, podendo estar condicionados ao
posicionamento, conhecimento e vivência da realidade que pretende retratar.
Assim, o fotógrafo deve utilizar o plano visual com elementos precisos, como
se fosse uma “mala de viagem”, cuja ocupação requer racionalidade e utilidade
dos componentes.
A fotografia é um objeto, é uma representação do real. Barthes (1984)
afirma que a fotografia como objeto possui três práticas: fazer, suportar e olhar.
O fazer é a ação do fotógrafo, que ele nomeia de operador; o suportar é o
referente, o objeto fotografado, que ele chama de spectrum; e o “olhar” somos
todos nós, todas as pessoas, denominadas de spectator. Ainda, seguindo a
ótica de Barthes, a descrição do conteúdo da imagem fotográfica deve
apresentar o contexto que o operador se propôs a representar por meio do
spectrum enquanto objeto referente e as respostas para as necessidades de
informação manifestadas pelo spectator.
48
Assim, refletindo sobre essas três práticas de Barthes para se
compreender uma imagem fotográfica, reportamo-nos novamente às suas
teorias “a fotografia sempre traz consigo seu referente, ambos atingidos pela
mesma imobilidade amorosa e fúnebre [...] estão colados um ao outro [...]”
(BARTHES, 1984, p. 15). O referente adere à imagem e, assim, podemos
considerar que a fotografia é a representação da projeção.
Isso colocado, em consonância com o exposto por Alencastro (2010)
que no caso da imagem fotográfica, têm diversos espaços onde a imagem
fotográfica começou a surgir, novo ambiente de conformação social. E ainda
corroborando com o a ideia de Alencastro (2010, p. 78):
“[...] com o aprimoramento da técnica de captura da imagem, seja ela
estática, seja em movimento, e que hoje é possibilitada por
dispositivos cada vez mais baratos, práticos e portáteis [...] É possível
que, ao longo da história, o homem nunca tenha sido capaz de
produzir e consumir toda essa quantidade de imagens como nos dias
de hoje”.
Ainda, sobre a imagem fotográfica é interessante observar, também, o
que Barthes (1984) ressalta e nomeia da leitura feita pelo receptor de tais
imagens
(receptores
esses
que,
em
nosso
caso,
são
os
turistas),
estabelecendo as diferenças entre studium e punctum.
•
Studium é a leitura grossa da fotografia “[...] que não quer dizer, pelo
menos de imediato, “estudo”, mas a aplicação a uma coisa, o gosto por
alguém, uma espécie de investimento geral, ardoso, é verdade, mas sem
acuidade particular” (BARTHES, 1984, p. 45).
•
Punctum seria o detalhe que quase não se vê, e é aquilo que chama a
atenção, fora do normal, “nesse espaço habitualmente unário, às vezes (mas,
infelizmente, com raridade), um “detalhe” me atrai. Sinto que basta sua
presença para mudar minha leitura, que se trata de uma nova foto que eu olho,
marcada a meus olhos por um valor superior. Esse “detalhe” é o punctum (o
que me punge)” (BARTHES, 1984, p. 68).
Façamos agora, apresentado Barthes, um breve exercício hipotético de
aproximação desses conceitos apresentados com o Turismo. É interessante
49
notar essa passagem sobre o studium e o punctum pois, muitas vezes, as
imagens colocadas nas mídias (utilizadas no turismo) não atingem o que se
propõem desse punctum, ou seja, não pungem (não chamam a atenção) ao
ponto de despertar a vontade, particular, de viajar para aquela localidade. Em
contrapartida, muitas vezes a visão geral de uma imagem fotográfica, studium,
é utilizada para que mais pessoas e mais leitores tenham essa perspectiva da
generalidade da imagem fotográfica.
Dessa forma, a fotografia, que tem se destacado e aperfeiçoado
através das novas tecnologias, permite reviver a memória dos lugares,
influencia a vida humana de tal forma que as imagens passam a ser
imaginadas e vistas com um novo olhar. Assim, Urry (1996, p. 83) expressa
que: “a imensa expansão da popularidade da fotografia, no final do século XIX,
indica a importância dessas novas formas de percepção visual e seu papel na
reestruturação do olhar do turista, que estava emergindo naquele período”.
Ainda, na concepção de Urry (1996), a fotografia dá forma à viagem e imprime
sentido à visitação.
Mesmo com todos os avanços tecnológicos verificados desde a
“descoberta” da fotografia, foi no século XX que ela passou a ser veiculada –
através dos meios de comunicação de massa – para grande parcela da
população.
Tendo
em
vista
o
contexto
econômico,
tecnológico
e,
principalmente, social, no qual a fotografia está inserida, os meios de
comunicação de massa passaram a exercer um papel fundamental na
disseminação e popularização de uma narrativa visual. Ilustrando as páginas
de jornais e revistas, mais tarde servindo de inspiração para o desenvolvimento
da linguagem digital (com a Internet), o certo é que, como argumenta Lopes
(1998), “a fotografia é um momento chave da comunicação de massa. Está na
base do cinema e da televisão e é quase omnipresente na imensa panóplia de
tecnologia visível”.
Nessa totalidade, uso da fotografia na atualidade parece caminhar na
direção das hibridizações dos dispositivos imagéticos e da experiência visual.
As novas modalidades da fotografia apresentadas no contexto das novas
mídias, por exemplo, promovem uma reorganização não apenas na própria
50
essência do que foi instituído como (sendo) o fotográfico, mas também na
relação do observador com a imagem fotográfica.
Postas essas discussões e algumas aproximações e distanciamentos
na busca por sustentar o que acreditamos sobre a fotografia e a imagem, é
importante que o foco do trabalho continue no sentido de aproximar a
Comunicação e o Turismo. Para tanto, a seguir, entramos em uma
condensação de ideias e conceituações que nos fazem refletir sobre a
importância da fotografia para o turismo. E sobre as mídias que podemos
considerar aliadas diretas ao turismo.
1.2 Turismo e fotografia: uma intima relação
Na introdução dessa tese, explicitamos como é a relação do município
de Parnaíba com o turismo: caracterização da área, potencial turístico e, em
geral, relatamos o quão importante é a atividade turística para a região. Além
desse fato, também apontamos alguns diferenciais de paisagem e de atração
turística, que acreditamos serem pertinentes na escolha da imagem fotográfica
como fato a ser explorado.
Pois a imagem fotográfica, podendo ser uma das principais
ferramentas de comercialização de destinos turísticos, apresenta grande valor
quando utilizada como diferencial na promoção de destinos. Ao criar a imagem
visual de um local, é importante destacar as características que venham a
tornar aquele produto único aos olhos do cliente. Gândara (2008, p. 10)
escreve que “é fundamental que, ao estabelecer sua imagem, os destinos
turísticos destaquem as características que lhes possam diferenciar da
concorrência”, possibilitando, assim, vantagens no mercado competitivo.
Gomes (2008, p. 05) comenta também que:
A busca de uma imagem distintiva e a procura de qualidades
especiais são, aliás, tarefas a que muitos actores, grupos ou
instituições se entregam, em nome das cidades, para a construção de
imaginários urbanos e de narrativas e, pela sua tradução em obra
física, em paisagens construídas, que atraiam e satisfaçam a procura
turística.
51
Os mecanismos utilizados para despertar o interesse dos indivíduos
em conhecer um atrativo turístico se utilizam muito de imagem, tais como
propagandas em revistas, folders de agências, cartões postais, divulgação na
televisão e Internet, utilização de outdoor, dentre outras mídias, como meio de
promoção de destinos turísticos.
Essa mesma exposição ocorre com os locais turísticos que se tornaram
conhecidos de muitas pessoas por meio dos inúmeros meios de divulgação e
promoção de um destino turístico. Neste sentido, as imagens em fotografias
caracterizam-se como uma ferramenta de grande significação, uma vez que as
imagens dos locais mostrados podem ser vistas em vários lugares (mídias
distintas) e por um grande número de pessoas ao mesmo tempo.
A aplicação da fotografia no turismo trouxe para mais perto um mundo
visível de paisagens, culturas e lugares diversos. As fotografias utilizadas como
registro de localidades e eventos, ou mesmo como um recurso de marketing
turístico, passaram a ocupar um espaço substancial nas atividades do turismo.
O apelo realístico que as fotografias contêm facilita o esforço para decodificálas ou lê-las. Além disso, a forma automática com que as fotografias são feitas
contribui, de forma significativa, para a rapidez de sua produção. Assim, as
fotografias podem passar a simular uma atualidade. Na fotografia turística está
mais favorável para exprimir uma noção de informação, atualidade e
similaridade no relato visual. Esses elementos, num nível instrumental,
compõem um fazer fotográfico, em que é preconizado o papel fundamental da
fotografia como útil para a informação do turismo.
O turismo é uma atividade que pressupõe deslocamentos. Para que
esses deslocamentos ocorram faz-se necessário criar mecanismos que
estimulem o consumidor (turista) a evadir-se de seu local habitual e refugiar-se
em um local que o tenha despertado, o interesse em conhecê-lo.
Assim, o turismo é uma das atividades que mais utiliza a imagem para
se promover e atrair turistas, pois o turista, antes de comprar um lugar, para
desfrutar de suas férias, por exemplo, “compra” uma imagem, com um sonho
ou um desejo.
52
Partindo desse pressuposto, Gândara (2008, p. 04) comenta que “a
imagem é um elemento fundamental na estratégia de marketing de qualquer
destino turístico”. Assim, a imagem de um lugar quando retratada nas distintas
mídias, pode mostrar a paisagem e a cultura de uma localidade, fazendo com
que as pessoas se transportem para os locais que estão sendo ilustrados.
Diante disto, ao vender uma imagem de determinado local, não se
deve pensar somente em agradar o cliente, com a finalidade de que a compra
seja concretizada, mas também proporcionar um produto de qualidade, que
venha realmente a satisfazer o turista.
O cliente pode definir qual lugar visitar, pela fotografia, focando em
elementos característicos do local e facilitando a sua eleição, já que este já
vem com uma imagem visual previamente criada no seu imaginário, diante das
percepções e experiências prévias vivenciadas ao longo da sua decisão por
viajar. Ou seja, se o turista, ao ser apresentado a um roteiro, ou lugar, que
privilegia o cultural, este buscará encontrar um local que tenha como principal
atividade elementos que incluam a diversidade cultural do local e o que esta
venha a lhe proporcionar como novo e enriquecedor, no que tange a
experiências que envolvam aspectos sociais, culturais, além de emocionais.
Isso é importante ressaltar, porém, como forma de demonstrar o quão
necessário e relevante é a fotografia para o turismo e não de encaminhar
nossa tese para um estudo de imaginários e de semiótica.
Assim, podemos discorrer o que Sontag (2004, p. 101) relata sobre a
fotografia e o recorte que a imagem proporciona da beleza:
É comum, para aqueles que puseram os olhos em algo belo,
lamentar-se de não ter podido fotografá-lo. O papel da câmera no
embelezamento do mundo foi tão bem-sucedido que as fotos, mais
do que o mundo, tornaram-se padrão de belo. Anfitriões orgulhosos
de sua casa podem perfeitamente mostrar fotos do lugar onde moram
para deixar claro aos visitantes como se trata de uma casa, de fato,
maravilhosa [...]
Então, podemos observar o valor que a imagem agrega a determinado
lugar, pois, segundo Silva (2007, p. 23), “[...] as imagens acabam por se tornar
53
mais importantes que o próprio objeto de consumo em si. No caso específico
do turismo, elas, com frequência, sobrepõem-se às localidades; transformando,
dessa forma, mitos e símbolos em objetos de consumo”.
No tocante ao valor que a imagem criada de determinada localidade
exerce sobre o turista, não se pode deixar de pensar em como estas chegam
até o cliente, e o quão importante é o papel da comunicação na divulgação
destes destinos turísticos. Pois é através da comunicação que o produto a ser
vendido torna-se conhecido.
Porém, segundo Parasio e Ferreira (2010, p. 03), “ações de
comunicação são relevantes tanto para construir uma boa imagem de lugares
medianos em termos de atrações turísticas, quanto para (por omissão ou ações
de caráter negativo) sepultar esse potencial de alguns municípios”. Neste
sentido, deve-se pensar em como utilizá-las corretamente para que a venda e a
comercialização da imagem atinjam positivamente seus objetivos.
De acordo com Locks (2006, p. 01), “quando o assunto é Turismo, ou
melhor, produto turístico, envolvendo atrativos que motivam o turista a
deslocar-se para determinada região, a imagem é fundamental no momento
decisório”. Assim, sobre a utilização da imagem como mecanismo de
comercialização turística, Albernaz (2009, p. 07) comenta o seguinte “para ser
comercializada, uma destinação turística necessita ser projetada por meio de
imagens que provoquem nos possíveis turistas o comportamento de desejo de
consumo daquele destino e dos atrativos, serviços e experiências que ele pode
oferecer”.
Podemos dar como exemplo da utilização das fotografias: um turista ao
visitar as praias do litoral do Piauí, ao reconhecer nessa paisagem, uma visão
ou uma paisagem notável, tende a captá-la, por meio técnico com o “aparato” e
posteriormente postar isso no meio digital da Internet, para que seus
“seguidores” ou amigos virtuais, possam ver sua aventura e por onde ele
passeou. Porém, após isso feito, a fotografia postada na rede poderá circular
pela Internet, ou mesmo ser novamente utilizada em outra mídia (como folder,
por exemplo) e será reutilizada e alguma agência de turismo que achou
interessante aquela foto poderá utilizar essa mesma fotografia para divulgar a
54
localidade turística, por considerar aquela foto interessante por transparecer e
chamar a atenção dos potenciais futuros visitantes.
Segundo Gastal (2005, p. 35) que trata da construção de sentido e não
em marketing:
[...] as máquinas fotográficas são companheiras fiéis aos viajantes,
nas suas versões tradicional ou digital. As fotos, depois, serão
mostradas para amigos e parentes, antes de serem depositadas num
canto qualquer, de onde surgirão, vez ou outra, para surpreender o
viajante e transportá-lo, de novo, para a deliciosa experiência de estar
em lugares diferentes da sua rotina.
Em turismo, a fotografia é produzida para comunicar, informar e
documentar uma visitação. Ela compreende ao instante em que o produtor da
foto inclui e, de certa forma, sobrepuja o seu artefato de trabalho, no caso, o
seu tema. Portanto, ele domina e emprega a fotografia para destacar, com
segurança, aspectos e situações marcantes de uma paisagem, uma cultura ou
um patrimônio histórico. É importante frisar que, embora estejam aqui
classificados didaticamente em termos diferentes – paisagem, cultura,
patrimônio histórico, eventos –, eles são exemplos de temas fotográficos (ou
fotografáveis). De maneira geral, a fotografia possibilita a apreciação de temas
simples (cotidianos) ou mais complexos de serem abordados.
Ao longo dos processos de criação de folders, cartazes, cartões
postais, portais de turismo, sites personalizados, convites, banners, mostras
fotográficas, publicações, entre outros, os procedimentos fotográficos são
ferramentas importantes para o êxito do turismo. Ao conceituar a fotografia
turística e o seu papel no turismo, podemos assinalar que ela mostra, revela,
expõe, documenta, registra, arquiva. Ela dá conhecimento e auxilia a dar
confiabilidade a visualização relacionada ao turismo. A utilização de uma
fotografia, no turismo, está condicionada ao seu “valor turístico” (forma de
atrair, valor de atração, de motivar o deslocamento), plástico, informativo e
funcional, os quais são usados para transmitir informação útil em conjunto com
o texto que lhes está associado.
55
A fotografia pode ser feita, no turismo, de escolhas, de seleções, de
edições: o ângulo do tema a cobrir, o que enquadrar, o que recortar num plano
bidimensional. As escolhas são feitas, também, de acordo com a ocasião que o
tema representa em termos de valor informacional turístico. Ou seja, o
apontamento de uma definida paisagem, um determinado evento cultural, a
divulgação e a revitalização de um parque temático, do patrimônio histórico de
uma localidade são temas selecionados devido à sua relevância informacional
e plástica para um determinado turista, grupo, agências ou companhias. Por
sua vez, uma fotografia turística pede pela informação, credibilidade visual, a
importância, a proximidade, o interesse humano, a raridade, a plasticidade e a
sua objetividade. Todo turista quer saber de novidades. Ele deseja conhecer,
visitar o que ainda desconhece.
O avanço da tecnologia tem proporcionado maior comunicação entre
as pessoas através, principalmente, da televisão e da Internet. Essa
midiatização7 possibilita, antes do deslocamento para o destino escolhido, o
conhecimento prévio sobre o local. E, segundo Gastal (2005), essas formas
diversificadas de deslocar-se apresentam (costuram) imagens e imaginários:
Imagens porque, na própria cidade ou no estrangeiro, antes de se
deslocarem para um novo lugar, as pessoas já terão entrado em
contato com ele visualmente, por meio de fotos em jornais, folhetos,
cenas de filmes, páginas na Internet. Imaginários porque as pessoas
terão sentimentos, alimentados pelas amplas e diversificadas redes
de informação que as levarão a achar um local romântico, outro
perigoso, outro bonito, outro civilizado (GASTAL, 2005, p. 13).
Atualmente, uma ferramenta digital tem se destacado com relação às
imagens na Internet, e que pode ser utilizada para atrair turistas/consumidores,
que seria a ferramenta street view do Google Earth. Também proporciona ver
as imagens antes de o turista ir aos lugares que, por ventura, poderá querer
conhecer quando viajar.
No turismo, a fotografia precede saber antecipar, com precisão, o
interesse do olhar do turista, as circunstâncias de divulgação e visibilidade da
fotografia, as estratégias em jogo. Embora o pareça, a leitura da imagem
7
Mais à frente retomaremos sobre midiatização.
56
fotográfica não é imediata. Ela resulta de um processo no qual intervêm não só
as mediações que estão na oferta do olhar, que produz a imagem fotográfica,
mas também aquelas presentes na esfera do olhar de quem a recebe.
Nos parágrafos anteriores, procuramos construir uma forma de refletir
sobre a relação da fotografia com o turismo, ou mesmo, das práticas turísticas
com o uso da imagem fotográfica e sobre como podemos utilizar isto para
nossas análises da circulação da imagem fotográfica e da importância da
fotografia para comunicar o que é turístico e o que pode atrair o
turista/consumidor.
Está se criando uma relação com a imagem própria do dispositivo
fotográfico: vemos cada vez mais imagens fotográficas em tela, sejam aquelas
produzidas por nós próprios, sejam em contato com diferentes fluxos midiáticos
atuais ou históricos que foram também reunidos e cujo acesso está cada vez
mais disponível, como o recurso de busca do Google imagens. A materialidade
da foto impressa, objeto que era ligado a um anseio de salvaguarda de
memórias, está de alguma forma em declínio (apesar de que esta função
existirá se atualizando a esses novos regimes). Relações de proximidade e
tamanho também são reguladas pelas formas de apresentação possíveis, bem
como a batelada de fotos que vemos e o tempo que levamos para penetrar em
cada uma. Aglomeradas nestes arquivos, as fotografias estão a nossa
disposição ao passar de uma tecla.
Assim, a subjetividade dos consumidores/turistas é afetada por novos
estatutos de memória que adquirem diante da visibilidade de fotografias
experimentadas por intermédio de computadores e rapidamente sobrepostas a
outras que sucedem, ao mesmo tempo em que as experiências vividas são
também partilhadas em forma de fotografias. O conhecimento pessoal funde-se
com as demais, constituindo um ambiente consumido como fluxo, para além
das noções de acontecimento e evento.
Após visto mais sobre como pensamos e como construímos nosso
pensar sobre a fotografia, a seguir, teremos três sequências de relações da
fotografia com as mídias por nós estudadas (cartões postais, folders e Internet).
57
A seguir, trataremos separadamente cada uma delas: sobre a história,
conceitos e as relações da fotografia com essas outras formas midiáticas.
1.2.1 Fotografia e cartões postais
Historicamente, os cartões postais foram criados oficialmente na Áustria,
em 01 de Outubro de 1869, por Emmanuel Hermann, no intuito de conseguir
uma tarifa menor e facilitar a comunicação entre as pessoas, turistas e
familiares distantes ou mesmo entre o destino visitado e o turista que ali
estava.
Os consumidores dessas imagens fotográficas, nos cartões postais,
estariam criando uma noção desses lugares – sem nunca terem sido vistos de
perto – através dos enquadramentos realizados pelos fotógrafos. Além disso, a
autora salienta ainda que nem sempre o objetivo das expedições fotográficas
foram apenas informativos/documentais:
De um primeiro registro prototípico, voltado preferencialmente para os
monumentos e a paisagem, passa-se à documentação de usos e
costumes diferentes dos ocidentais, de territórios, de caminhos, com
um intuito francamente propagandista (FABRIS, 1991, p. 32).
Em 1869, surgiram os primeiros cartões postais. E esse novo suporte
para a imagem fotográfica foi um grande aliado na difusão da imagem
fotográfica em seu momento de massificação. Com objetivos bem específicos –
no que diz respeito ao seu caráter publicitário –, o cartão postal colocou ao
alcance do público de massa um verdadeiro inventário do mundo (FABRIS,
1991). Um dos resultados dessa massificação da imagem fotográfica é o
rompimento das barreiras geográficas, o que pode ter inserido a população
dentro de uma “nova lógica espaço-temporal”.
Pensando, também, no uso dos cartões postais, Borges (2005, p. 62)
comenta que estes são, “hoje, peças cruciais dos acervos das cidades, são
documentos que tanto informam quanto permitem a análise do espaço público”.
58
Ainda, mesmo com todas as dificuldades, o objetivo maior do cartão
postal havia sido alcançado: estar disponível a todos. É válido lembrar que,
naquele período, entre 1860 e 1880, a correspondência era transportada a
cavalo ou em diligências. E tudo isto era muito caro. Por isso, com o uso do
cartão postal, enviado a descoberto, a tarifa era metade do valor da carta
fechada. No início, precisamente no primeiro ano do cartão postal, somente os
austríacos detinham-no como fonte de comunicação. Porém, no ano seguinte,
Alemanha, Inglaterra, Suíça e Luxemburgo também resolveram adotá-lo. E,
nos anos seguintes, ainda, vários outros países europeus fizeram o mesmo.
Porém, no Brasil, chegou em 28 de abril de 1880.
No início, o cartão postal foi elaborado a partir de uma folha de
cartolina tamanho 8,5 cm por 12 cm, tendo na frente apenas o símbolo do
Império Austríaco; no canto superior direito e no verso, espaço para o endereço
do destinatário (FABRIS, 1991).
Apesar da fotografia já existir anos antes do cartão postal, esta não era
muito utilizada, por ser um elemento custoso. Segundo Fabris (1991) somente
os nobres da época é que tinham acesso a ela. As camadas médias e mais
simples nem sabiam da existência da fotografia, a não ser com raras exceções.
A popularização do cartão postal começou nos primeiros anos da
década de 1890, quando surgiram na Europa os primeiros postais que traziam
pequenos desenhos e pinturas numa das faces. Mesmo assim, demorou
alguns anos para que tal reproduzisse fotos de pessoas, cidades e paisagens.
Quando começaram a imprimir fotos numa das faces, a procura aumentou,
sendo, dessa forma, um disseminador da fotografia e, principalmente, um meio
de comunicação visual de importante poder. Naquela época, os livros, os
jornais e as revistas traziam escassas ilustrações. O cartão postal, dessa
forma, passou a auxiliar a comunicação entre as pessoas, gerando dessa
forma uma comunicação midiática visual.
O surgimento dos postais deu-se pela necessidade de uma
comunicação direta e objetiva, voltada para os valores sociais, econômicos e
tecnológicos de uma determinada época para suprir uma necessidade
comunicativa simplificada, atentando para a importância de sua midiatização.
59
As mídias, sem dúvida, são responsáveis pelas experiências obtidas
com o não deslocamento do local de origem, na medida em que possibilitam o
conhecimento de determinados destinos por meio das imagens. Dessa forma,
Buonanno (2004) comenta:
Não existe dúvida da relevância da mídia para propagação de
referências sobre o outro. Através dos meios de comunicação tem-se
“recursos disponíveis para ampliar nossas geografias imaginárias,
pluralizar nossos mundos simbólicos de vida, familiarizar-nos com o
outro e o distante, construir ‘sentidos de lugares imaginários’. Viajar
pelo mundo sob a proteção da experiência mediada (BUONANNO,
2004, p. 346).
Assim, o cartão postal surge como um meio de divulgação de diversas
localidades, por fazer constar imagens fotográficas que permitem a construção
de vontades e necessidades de deslocamento para viajar até esse destino ou,
ainda, que aceitam o acesso a uma memória revivida a partir desse contato
visual, a partir de viagens já realizadas. Dessa maneira, Belchior (1986) afirma
que:
a concepção, que em nossos dias freqüenta a “mídia”, do cartão
como divulgador apenas da beleza panorâmica, a ponto de certas
paisagens de cidades e regiões serem conhecidas como o “seu
cartão postal”, impede que se tenha idéia das dimensões que este
meio de divulgação de imagens atingiu durante a sua Idade de Ouro.
[...] “Entesourasse” o postal apenas o permanente, o natural ou
construído pelo homem, e não o transitório dos acontecimentos e do
progresso, e jamais seria descoberto o sentido que o transformou em
objeto de colecionismo através dos tempos (s/p.).
Para Sontag, a fotografia desenvolve-se na esteira de uma das
atividades modernas mais típicas: o turismo (SONTAG, 2004, p. 19). Neste
sentido, os cartões postais servem como um produto para referenciar, também,
a atividade turística. Cornejo e Gerodetti, (2004, p. 13) relatam que o cartão
postal era uma micro-mídia eficiente que permitia a troca de mensagens
breves, acrescidas de imagens, ou seja, era algo que falava aos olhos, num
elemento convidativo a conhecer tal lugar e inspirar sonhos; por meio deles era
claro perceber o compartilhar da alegria do outro na alusão de ter o destinatário
vivendo aquele sonho.
60
O cartão postal pode ser entendido como o início do processo de
globalização por meio da imagem de um mundo que se internacionalizava pelo
crescimento do comércio e dos fluxos migratórios. Isto é, a facilidade de se
arquivar o presente momento para o futuro, além de se tornar acessível a todos
os públicos (FERNANDES JÚNIOR, 2002, p. 17).
Além disso, Bilac (1908 apud VELLOSO, 1999) definiu os postais como
“o melhor veículo de propaganda e reclame de que podem dispor os homens,
as empresas, a indústria, o comércio e as nações”, por atingir de forma
imediata o objetivo, repassando a mensagem visualmente.
A expansão da produção de cartões postais se deve ao crescimento do
uso da imagem na vida cotidiana e de sua imediata incorporação na
transmissão de mensagens. Podemos considerar o cartão postal como a
primeira e mais democrática forma de comunicação interpessoal que envolve
um processo industrial de produção da informação (FERNANDES JÚNIOR,
2002).
A utilização dos postais é feita para tentar se lembrar dos momentos da
viagem e informar sobre esse passeio; é um veículo de comunicação
interpessoal, fato este que a imagem executa em uma linguagem direta com
quem a adquire. O cartão postal tem o poder de reter e se apropriar das
vivências de cada indivíduo que esteja envolvido ou não turisticamente, além
de ser o elemento inicial de comunicação entre familiares e amigos dos
viajantes, ou seja, o postal seria um relator de notícias.
O relacionamento dos cartões postais com o turista se dá,
primeiramente, pela comunicação visual, pelo que é retratado nas paisagens
fotografadas e, dessa forma, criam uma gama de expectativas nos turistas com
relação a usufruir daquilo que é exposto no espaço turístico divulgado.
É importante que a imagem fotográfica contida no cartão postai
corresponda com a realidade local, ali transmitida pela imagem visual para que
haja credibilidade do destino visitado.
De acordo com Mellor (2000), cartão postal é a micro-mídia ideal para
a emergente classe trabalhadora que não tinha prática na comunicação escrita.
61
Tal instrumento possui uma força midiática intensa, pois atinge vários públicos,
por meio de uma única imagem, a qual, muitas vezes, é a única mensagem
transmitida.
Atualmente, nos países em que o turismo é um setor econômico muito
representativo, registra-se um alto consumo de cartões postais de todos os
tipos (felicitações, convites, paisagens, entre outros). Segundo Protet (2002
apud FRANCO, 2006), ingleses consomem cinquenta cartões postais por
pessoa, anualmente.
A comunicação feita entre o cartão postal e o turista pode resgatar,
talvez, uma época passada, viver lembranças e compartilhar momentos, pois a
imagem fotográfica detém informações únicas de diferentes e determinados
momentos vividos.
De acordo com Kossoy:
O espaço urbano, os monumentos arquitetônicos, o vestuário, a pose
e as aparências elaboradas dos personagens estão ali congeladas na
escola habitual do original fotográfico: informações multidisciplinares
nele gravadas apenas aguardam sua competente interpretação
(KOSSOY, 2001, p. 101-102).
A imagem, de fato, é um elemento chave no setor do turismo, pois é o
que instiga o turista a se sentir convidado a conhecer aquela localidade
turística. “A impossibilidade do cliente ver o produto turístico antes de comprálo faz com que este só possa ser apresentado por meio de fotos, filmes [...]. É
preciso “mostrar” o produto turístico da forma mais atraente possível”
(RUSCHMANN, 2002, p. 68).
A ideia foco do turista com relação aos cartões postais, antigamente,
era a de se comunicar com quem ficou no lugar de origem, mostrando para o
outro o que foi visto ou conhecido, no propósito de deixar claro que esteve de
fato lá. Isso demonstra o quanto o Turismo está ligado com a imagem
fotográfica no plano de desenvolvimento, pois a imagem ajuda a construir e
compartilhar conhecimento.
62
Para Buratto (2004, p. 05):
A linguagem fotográfica desenvolveu-se a partir da revolução
tecnológica ocorrida com a Revolução Industrial e constituiu-se no
mais moderno recurso da época de difusão do conhecimento, na
medida em que registrava, a partir de imagens cristalizadas, a
memória individual e local, transformando-a assim, em um documento
histórico [...]. Isto posto, podemos, através desses elementos,
analisar como a materialidade da viagem instiga o imaginário do
indivíduo, como a materialidade representada pelas “máquinas
comunicacionais”, estabelece uma rede complexa com o imaginário e
como a forma se acopla ao sentido [...]. A exploração de tais símbolos
estimula o encontro com o imprevisível que, por sua vez, faz emergir
o imaginário cultural, fenômeno este que ultrapassa as barreiras do
tempo e que tende a surgir de acordo com o meio cultural histórico de
cada viajante, isto é, seu imaginário manifesta-se segundo a
simbologia presente no seu cotidiano.
Patrício (2004, s/p) argumenta que:
O cartão postal torna possível uma operação de apropriação do
mundo minitaturizado, através de imagens clichês que promovem o
resgate de uma paisagem visitada ou oferecem seu acesso a
possíveis futuros visitantes. O cartão postal fotográfico é um tipo de
“promessa de felicidade”, em pequenas doses, bem de acordo com o
espírito do século XIX, que vai continuar vingando no inicio do século
XX.
A mensagem visual de um cartão postal não determina a mensagem
escrita, pois o postal seria a “ponte” de uma mídia-suporte tanto para quem
visualiza, quanto para quem escreve e lê, podendo ou não estarem
relacionados.
Um fator que Quanchi (2004) sugere considerar é a existência da
mensagem escrita. Essa nem sempre estará associada à mensagem visual,
visto que o cartão postal tanto é uma mídia-suporte para a palavra escrita (em
seu verso) quanto suporte à mensagem visual. E essas podem estar ou não
inter-relacionadas. Essas mensagens escritas pelos que adquirem o cartão, no
espaço do verso do cartão postal, são escritas muitas vezes para informar
como foi na viagem, para dizer como está a viagem, ou como foi a experiência
de visitar aquelas paisagens que constam no cartão postal.
63
A seguir, damos prosseguimento com a nossa preocupação em
examinar a relação das mídias estudadas no trabalho com a fotografia, assim,
o estudo e as relações que se apresentarão serão com os folders, muitas
vezes utilizados pelas empresas de turismo e agências de viagem para
comunicar e vender seus produtos aos potenciais clientes/turistas.
1.2.2 Fotografia e folders
Com relação à sua história, tendo por base os estudos que realizamos,
notamos que, desde seu surgimento, no século XIX, vários argumentos são
direcionados aos folders/folhetos como meio de divulgação turística. As
imagens que constam nos folders podem instigar os turistas a guardarem-no
como forma de lembrança de uma determinada viagem, sem apenas utilizá-lo
como fonte de propagação, mas também como um instrumento capaz de
instigar sensações e reviver lembranças.
Baseados nas leituras realizadas, para fundamentar e examinar as
relações dos folders com a fotografia, estimamos ser importante descrever
brevemente trabalhos históricos e certos conceitos relativos à mídia
folder/folheto. Desse modo, os canais comunicativos estabelecem uma maior
divulgação e promoção de uma localidade, de forma a atingir os turistas
potenciais e suprir as suas necessidades. Assim, a utilização de um
mecanismo apropriado permite a construção da imagem que se almeja,
tornando-o um instrumento capaz de estimular o interesse no processo de
decisão na escolha por algum local.
Utilizamos uma pesquisa bibliográfica relacionada ao referencial teórico
sobre folders/folhetos e o turismo, na necessidade de se buscar mais
pesquisas realizadas com tal material empírico e sobre essa mídia em
específico.
Com base nos poucos textos (artigos em periódicos e eventos na área
de Turismo ou de Comunicação) pesquisados, que tratam do assunto,
percebemos que um dos intuitos desses trabalhos sobre essa mídia folder foi
de observar a influência dessa mídia no turismo e nos turistas, no processo de
64
decisão por uma viagem ou por compras. Assim, essa mídia, uma das
principais fontes de comunicação com os turistas/consumidores, tendo em vista
seu objetivo de alcance, e que desperta a atenção para certo produto turístico,
especifica através das imagens, ali expressas, as características do produto e
da região.
Portanto, corroboramos que, seja através de jornais, revistas, folders,
boletins informativos, televisão, Internet ou outras mídias, o intuito da
mensagem nelas expressas é tornar acessível uma maior quantidade de dados
referentes a um determinado destino e alcançar o público-alvo.
Segundo Ruschmann (2003, p. 43) “Uma comunicação eficaz [...] é
aquela onde o comunicador (emissor) consegue detectar os gostos e as
preferências das pessoas (receptores), criando imagens que as influenciem
favoravelmente, estimulando-as a viajar por uma destinação específica”. Assim,
as imagens apresentam um papel fundamental na propagação de uma
determinada localidade, visto que incentivam na criação de perspectivas dos
diferentes destinos.
Os folders constituem um mecanismo relevante da mídia impressa,
pois divulgam as características dos produtos e dos locais, com o intuito de
estimular nos visitantes a decisão por viagens ou mesmo por compras, e assim
satisfazer seus anseios e necessidades mediante imagens e elementos verbais
que os caracterizam. E ainda:
[...] aquilo que se procura durante as férias é um conjunto de imagens
fotográficas, como as que se vêem nos folhetos das excursões,
distribuídos por agências de turismo, ou em programas de televisão.
Quando o turista está viajando, ele se põe a buscar essas imagens e
as captura para si. No final, os viajantes demonstram que estiveram
realmente em determinado lugar, exibindo sua versão das imagens
que haviam visto originalmente, antes da viagem (URRY, 1996, p.
87).
Dessa forma, vale salientar que os folders/folhetos:
existem desde o século XII – sob a forma de um poema de amor num
pequeno livreto. Os folhetos veicularam idéias políticas que acabaram
65
em revoluções. Podem ser pequenos de tamanho, mas impulsionam
grandes negócios. Nem todo mundo tem dinheiro para fazer
propaganda na mídia, mas quase todo negócio precisa e produz
material promocional (ROMAN e MAAS, 1992, p. 113).
Os folders/folhetos permitem que se tenha acesso a certa localidade e
ao produto que esta possui e, dessa maneira, é possível avaliá-los. Como
descrevem BALANZÁ e NADAL (2003, p. 182), “através do folheto o
consumidor pode, pelo menos, ver e estudar aquilo que talvez mais tarde
resolverá comprar”.
De acordo com Middleton (1992 apud Bahl 2004, p. 17):
As imagens turísticas que o turista faz dos lugares são decisivas para
a escolha de um destino turístico. Estas, por sua vez, são baseadas
mais em expectativas do que na realidade e determinam se os
turistas se sentem ou não atraídos pela localidade. Cabe ao
marketing turístico manter, alterar ou desenvolver estas imagens,
para influenciar os turistas em potencial.
Vale salientar que a publicidade e as técnicas de promoção são
mecanismos que auxiliam o marketing turístico na divulgação das localidades e
assim permitem que as informações sejam adquiridas, influenciando os turistas
na tomada de decisões.
Neste mesmo segmento, Kotler (1994, p. 151) menciona como as
imagens são determinantes quanto à forma que as pessoas reagem diante das
informações que obtêm de um determinado lugar.
A imagem de um local é a soma das crenças, das ideias e das
impressões que as pessoas têm dele. As imagens apresentam-se como uma
simplificação de várias associações e informações ligadas ao local. Elas são
produto de uma mente que tenta processar e “tirar a essência” de uma série de
dados sobre um local.
Vale ainda destacar, conforme Ward e Gold (1994), que “a promoção
de um local é definida como o uso consciente de publicidade e marketing para
transmitir imagens seletivas de localidades ou áreas geográficas específicas
para um público-alvo”.
66
A comunicação nos folders permite que os mais variados gostos dos
consumidores passem pelo processo de identificação e análise, para, então,
reunir as informações que conduzirão à compra de um determinado produto.
Através de materiais publicitários, como os folders, torna-se possível influenciar
o potencial consumidor para a compra de um produto turístico mediante as
expectativas criadas com as imagens expressas.
Segundo Ruschmann (2003), os folders podem ser subdivididos em
duas categorias: institucional e comercial. A primeira apresenta as informações
sobre as localidades como a cultura, gastronomia, belezas naturais, entre
outras, de forma que sejam divulgadas e tornem-se importantes atrativos
turísticos. Os que pertencem à categoria comercial possuem a finalidade de
instigar a compra dos produtos dos mais variados destinos turísticos.
Alguns motivos, conforme afirma Albuquerque (2009), caracterizam os
folders como mecanismo de promoção das mais diversificadas localidades
como:
I.
Sua produção envolve valores de investimentos menores que
outras mídias, com um nível de ruído praticamente inexistente. A mensagem é
transmitida de forma fidedigna e o material pode ser consultado inúmeras
vezes.
II.
Quando um turista recebe por livre e espontânea vontade um
folheto promocional e se interessa pela mensagem, aquele esforço de
comunicação passa a ter mais chances de perdurar e se desdobrar para outras
pessoas, pois aquela mídia poderá ser guardada, manuseada em um segundo
momento e, é claro, influenciar a tomada de decisão de quem a detém.
III.
Por ter a possibilidade de ficar mais tempo acionando um
consumidor,
normalmente
possui
uma
carga
maior
de
informações,
aumentando a visibilidade do que se quer vender, e, especificamente no
tocante ao tema turismo, quanto mais informação melhor.
De acordo com Zaidan (2009), é importante que o folder/folheto:
Atue como embalagem dos produtos e destinos turísticos,
contendo no seu interior aquilo que o folheto pretende vender;
67
Inclua informação sobre os produtos turísticos, útil para os
consumidores e os intermediários;
Motive, ajudando à promoção e a venda;
Mostre a imagem do produto e da empresa, e possa ser exibido
nos pontos de venda.
Em geral, como observamos nas leituras realizadas dos textos que
utilizamos para o referencial teórico sobre folder/folheto, uma questão nos
chamou a atenção, que seria sobre: a beleza da paisagem fotografada e
inserida nessa mídia. Deste modo, as imagens são as que surgem
fundamentais para atrais o olhar nos folders, na inserção aos folders. Porém,
destacamos também importância da qualidade da técnica na fotografia.
Como mídia utilizada na atividade turística, o folder tem sua
importância e sua abrangência de afetação nos turistas restrita, atingindo aos
que tem acesso a esse material impresso, muitas vezes, somente na localidade
visitada.
Por fim, em uma questão de ordem, deixamos para discutir a relação
fotografia e Internet a seguir, pois entrou nesse debate questões de circulação
e circulação entre mídias, base de estudo da tese.
1.2.3 Fotografia e Internet
No turismo, a Internet tem sido uma plataforma fundamental no que se
refere à rápida expansão de serviços de informação, aplicações comerciais,
promoção, divulgação e comércio eletrônico. Segundo O’Connor (2001), a
informação é um fator de fundamental importância no turismo, já que sem ela o
setor não funcionaria. O turista antes de sair para uma viagem precisa de
informação para que possa planejar e fazer escolha.
A Internet confere como um novo meio de comunicação, de influência
mútua e arranjo social (CASTELLS, 2001). Assim, segundo Alencastro (2010),
chegando em três acepções basilares, quem sabe interação seja a palavrachave
desse
original
procedimento
comunicacional;
pois,
são
consideração essencial que a Internet, age na disposição da sociedade.
nessa
68
Nesse contexto trazido e nas conceituações demandas por Castells,
Maldonado (2002) reflete sobre como “as mídias nos inícios do século XXI
apresentam, de acordo com uma característica histórica relevante desde o
século XX (rádio/TV; fotografia/cinema), uma interconexão cada vez mais
intensa entre elas”. Desse modo, Alencastro (2010) exemplifica como se
formam os distintos sites de compartilhamento de conteúdo (redes sociais, por
exemplo) formatados pelo meio do conceito da Web 2.0. Afora o estimulo na
concepção de atuais elaboradores de conteúdo (aqui cabe as imagens), uma
das implicações deste artifício, para a foto, é o compartilhamento desses
registros visuais. Destacamos como exemplos: Orkut, Flickr, Facebook,
Multiply, além de blogs, flogs que, nesse caso, atraem o usuário da Web 2.0 a
participar e dividir as imagens fotográficas produzidas com diferentes
internautas.
Diante do aumento do uso da Internet, inclusive como meio de divulgar
e, em consequência, promover o turismo em determinados destinos, a
utilização da mesma é fator decisivo para a tomada de decisão na hora da
escolha de um destino turístico. Dessa forma, a utilização de ferramentas da
web como as redes sociais para divulgar determinado local também é muito
importante. De acordo com Recuero (2009, p. 32):
Sites de Redes Sociais agem através de softwares sociais
programados que permitem aos indivíduos conectados alocarem
espaços no ciberespaço, habilitando-os à expressão e às trocas
sociais e interações mútuas ou reativas.
O conhecimento sobre comunidades virtuais, na Internet, nos propicia a
discorrer sobre as propriedades que as analogias colocadas pela fotografia iráo
ter quando ela incide a surgir no espaço digital/virtual. Para Sodré (2002, p.
21), os arquétipos da Internet, principalmente por meio dos mecanismos de
interação, registram uma “tendência à ‘virtualização’ ou telerrealização das
relações humanas, presente na articulação do múltiplo funcionamento
institucional e de determinadas pautas individuais de conduta com as
tecnologias da comunicação”. Imersos no meio técnico, os processos
69
relacionais e comunicacionais entre atores sociais passam a se dar a partir de
fluxos de tempos (não-linear) e espaços que já não estão mais vinculados à
ideia da co-presença. As tecnologias midiáticas, por sua vez, deixam de ser
observadas como suportes técnicos para a realização da comunicação e
passam a ser observadas como mídias propriamente, sendo imprescindíveis
para a realização de determinadas relações sociais. Com isso, parece ser cada
vez mais tênue a diferença entre as relações que acontecem face a face e as
relações mediadas por tecnologias midiáticas.
Diante disso, Castells (2001) nos coloca que “a Internet é um
instrumento que desenvolve, mas que não muda os comportamentos; ao
contrário, os comportamentos apropriam-se da Internet, amplificam-se e
potencializam-se a partir do que são”.
Destarte, acreditamos que a Internet é peça constitucional para a
sustentação de qualquer projeto turístico, pois as possibilidades de
comunicação dessa rede “social” alcançam um número extremamente elevado
de usuários. O turista/consumidor da atualidade deseja e procura produtos
turísticos individualizados, pois ele próprio sente-se um sujeito distinto/singular
na rede mundial de computadores.
Moesch (2002) relaciona turismo, comunicação e cultura, sublinhando
que antes de ser um fenômeno econômico, o turismo é uma experiência social
que envolve pessoas que se deslocam no tempo e no espaço em busca de
prazer e diversão que atendam não apenas a suas necessidades físicas
imediatas, mas também a seus imaginários. Nesse sentido, a comunicação
visual tem papel fundamental para o desenvolvimento do turismo. Para Castells
(1997), o sistema de comunicação gera a virtualidade real, na qual, as
existências concretas, materiais e simbólicas das pessoas são submersas em
um cenário de imagens virtuais, em mundos de fantasias, nas quais as
aparências não estão somente nas telas, mas transformadas na experiência
em si, na experiência a ser “vivida”. As tecnologias de comunicação
possibilitam um novo espaço de visitação, de testemunho, de experimentação
visual sem a necessidade de translado físico e temporal real.
70
Muito se fala nas mídias sociais, atualmente, seja em eventos, artigos,
publicações diversas, ou seja mesmo no dia-a-dia. Acreditamos que as mídias
sociais continuarão a crescer (tanto na interação de pessoas quanto no número
de usuários) e algumas pesquisas nacionais e internacionais começam a
apontá-las como plataformas para a pesquisa e planejamento de viagens,
influenciando algumas tomadas de decisões de muitos consumidores.
É interessante frisar que as redes sociais sempre existiram e o “boca a
boca” sempre foi importante para propagar aspectos positivos e negativos de
um determinado produto ou marca. A diferença hoje é que a tecnologia permitiu
que essas redes crescessem rapidamente, propiciando a interação de milhares
de pessoas. O “boca a boca” virtual passa a atingir um grupo maior de amigos
virtuais, fãs e seguidores, em poucos minutos e sem limites geográficos.
Diante disso, os destinos turísticos são fortemente impactados, pois a
credibilidade vem da opinião de amigos e familiares, que passaram pelas
mesmas experiências e dificuldades, e essa opinião do usuário das redes
sociais está exposta para todos da rede, inclusive suas imagens fotográficas
postadas.
Intensificada a sua capacidade de reprodutibilidade (pela condição
digital de produção, circulação e recepção), a imagem fotográfica pode
integrar-se radicalmente aos complexos processos de midiatização e é
amplificadora dessas mesmas condições de midiatização do mundo. De acordo
com Kuhn Júnior (2009), a interpenetração das imagens se constitui no
estatuto mesmo da imagem contemporânea. Por exemplo, a fotografia
importou “procedimentos pictóricos”, e estes adquiriram “traços estilísticos” da
fotografia; depois, serão igualmente levados à computação gráfica: a infografia.
A infografia está revolucionando o mundo da fotografia (Kuhn Júnior, 2009).
Ainda, Kuhn Júnior (2009, p. 76) comenta:
O processo de produção das imagens pós-fotográficas é triádico,
pressupondo três fases interligadas, mas delimitadas. O processo de
produção da infografia se desenvolve nas seguintes etapas: a) o
programador constrói o modelo de um objeto em uma matriz de
números; b) a matriz numérica deve ser transformada de acordo com
outros modelos de visualização; c) o computador traduzirá essa
matriz em pixels para tornar o objeto visível na tela do computador.
71
Uma vez armazenada na memória do computador, a imagem estará
disponível e poderá ou não ser transferida para outros computadores.
Dadas essas características, temos que tais imagens sofrem pouco
as restrições do tempo e do espaço.
Ao migrar para a Internet, as fotografias ficaram cada vez mais
atreladas ao atual, numa firme atualização de imagens feitas pelos usuários.
Uma vez alterada a forma de se relacionar com a fotografia, seja de forma
ativa, postando imagens na Internet e interagindo com outras pessoas, seja
apenas comentando fotos de amigos e familiares, ou até mesmo de outras
pessoas que apenas postaram imagens fotográficas na Internet, devemos
considerar, em implicação disso, consequências na constituição da memória
identitária (de vida e de viagens) desses indivíduos. A memória que ele passou
a ter dessas imagens não é mais aquela que era produzida na hora em que a
família, ou amigos, se reuniam para olhar os álbuns das viagens. Nos dias de
hoje, ela passa por um constante exercício de reordenação e reinterpretação,
que começa desde o momento em que as imagens são produzidas (muitas
vezes com objetivos já traçados), passa pelo momento em que ela é publicada
na Internet (e recebe títulos, legendas, notas, etc) e vai continuar repercutindo,
a todo instante, a cada novo comentário e/ou interferência do público receptor
(desde familiares, amigos, amigos virtuais e até desconhecidos).
As especificidades do receptor no ambiente digital provocam uma
reconfiguração das ideias tradicionais que se tinha sobre ele. “A produção e a
recepção são aproximadas pela interface computacional em rede. Os atores
podem se confundir em suas atividades. O consumo não é mudo e tampouco a
produção, por parte do receptor, secundária e/ou somente simbólica”
(CHEMELLO, 2009, p. 79).
Martín-Barbero (2006) vê que a Internet propõe a “deslocalização” dos
saberes que passam das instituições aos indivíduos. Isso modificaria tanto o
estatuto cognitivo quanto o instrumental das condições do saber, interferindo
nas dinâmicas das relações.
Segundo Gastal (2005), não se pode esquecer que, com a mídia
Internet, democraticamente aberta aos diversos de seus “navegadores”, os
72
turistas estão postando as suas fotografias de viagens para as comunidades
virtuais ou redes sociais virtuais de que fazem parte. Assim, ocorre a
midiatização da fotografia, com o início do processo de circulação dessas
imagens fotográficas em uma mídia digital, aberta e, muitas vezes, sendo
mediadas pelos donos de blogs e em redes sociais diversas, além do Google
Earth, que também proporciona, quando são ativadas as fotos postadas por
pessoas.
As edições, mediadas, que podem ocorrer nas diferentes micro-mídias
da Internet, fazem ou escolhem os temas a serem colocados nessas mídias.
Também ocorrem afetações das fotos dos turistas nos próprios turistas, assim
fotos pessoais, agora, são fotos públicas na Internet (principalmente nos sites
de relacionamentos sociais: Facebook, Orkut, Flick, Multiply, etc). É
interessante notar que nesse momento ocorrem convergências de meios (nos
atuais processos de circulação e de remediação, assim faz-se a interação,
afetando produtores e receptores).
Na relação turista e empresa, consumidor e vendedor, turista e turista,
empresa e empresa, a Internet entra como uma nova ferramenta de
comunicação, como observado na reportagem do UOL (2012, p. 02):
O Conselho Mundial da Viagem e do Turismo (WTTC, na sigla em
inglês) encerrou na quinta-feira (19/04/2012) sua reunião anual,
tentando compreender esses “novos consumidores” que o setor terá
que atrair, se quiser atingir seu objetivo de crescimento no longo
prazo de 4% por ano e manter sua parte de 9% no Produto Interno
Bruto mundial. Viajantes, hoteleiros e dirigentes das empresas de
transporte aéreo viram seu trabalho perturbado pelo emprego da
Internet, ampliado recentemente pelo boom de smartphones e tablets
multimídia. Um terço dos seres humanos estão conectados hoje e
39% estarão em 2016. Mais da metade da humanidade (56%) dispõe
de um telefone celular clássico ou “inteligente” – aparelhos que ainda
têm margens significativas de desenvolvimento na Ásia e na África.
Dessa forma, as fotografias são postadas, muitas vezes, no sentido de
que não se percam no tempo as imagens fotográficas retiradas em dado
momento, dotadas de um dado significado para seu autor, em dado local, e
assim por diante, uma forma de que, para o autor, fique gravado, e que ele
possa acessar em vários momentos e, além disso, mostrar aos demais, uma
73
forma de dispositivo interacional, virtual, em que pese a realidade da imagem,
da fotografia e em que pese a realidade da interação entre receptor e emissor,
nessa mídia interacional, Internet.
Essas fotografias postadas pelo produtor ou emissor, de localidades ou
paisagens visitadas, podem fazer a imaginação, o sonho, o despertar desejos e
necessidades dos receptores para visitações dessas localidades, mas com
outros interesses, outras vontades, outros sonhos do que o produtor imagina,
pensa ou relaciona com a localidade ou a paisagem fotografada.
Ao finalizar esse capítulo, buscamos ao longo das referências,
citações,
conceituações
e
exemplificações,
aproximar os campos
da
Comunicação e do Turismo, sempre com o tema da Fotografia como pano de
fundo, dando base para que pudéssemos nos aproximar do foco central da
circulação
das
imagens
fotográficas.
Nesse
sentido,
para
que
o
aprofundamento acadêmico/científico ocorra, necessitamos demonstrar e
apresentar os procedimentos que utilizamos e nos quais nos baseamos para
chegar aos objetivos propostos e para responder a questão central levantada
anteriormente.
74
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste
capítulo,
apresentamos
os
procedimentos
metodológicos
basilares para responder ao problema de pesquisa. Para tanto, explicitaremos8
sobre quais os passos que buscamos em nossas escolhas e os motivos dessa
caminhada.
Assim, tentamos conceber como método a aproximação simultânea do
problema de pesquisa a partir de três frentes, quais sejam:
- aproximação empírica: fomentada por contatos com o empírico,
consistindo em um pensar metodológico que avança em paralelo com
incursões ao campo, e não, como é bastante comum na pesquisa científica, por
antecipação;
- aproximação teórica: é também articulada a partir de contatos com o
empírico. Os pontos nos quais deve haver certo aprofundamento definido pelo
problema-objeto e trabalhos científico/acadêmicos que tratem do objeto de
nossa tese;
- aproximação inferencial: identificando neste as articulações do que é
problematizado para, em um segundo momento, aferir o que foi construído no
campo teórico.
Isto posto, antes de falarmos sobre os passos dados na tese, podemos
fazer uma referência sobre método. O termo “método” surge para se referir a
um caminho a ser feito, assim podendo indicar os passos que o pesquisador irá
escolher para fazer seu estudo (sua pesquisa).
Segundo Rosário:
[...] o paradigma do método se constitui pela organização do modo de
agir do cientista mediante modelos que colocam à parte tudo que não
é da ordem do científico. O termo ‘modelo’, inclusive, indica a
existência de um molde exemplar e padronizado capaz de reproduzir
uma estrutura e permitir que ela seja visibilizada, reproduzida e,
consequentemente, estudada. Como tal, ele serve de cópia e é assim
que tem sido usado mais comumente nas ciências. O método, na
maioria das vezes, produz um modelo padrão que, confirmado pela
8
Fundamentamos os seguintes temas: cartografia e comunicação; cartografia como método; mídias
selecionadas para o estudo e seus usos.
75
capacidade de atingir os resultados esperados (e desejados), é
copiado e reproduzido em um grande conjunto de pesquisas e
aplicado a diferentes objetos sem considerar suas especificidades. O
uso de um padrão rigoroso possibilitaria que a subjetividade, as
experiências pessoais e a intuição não atrapalhassem o trabalho
científico, mas, sobretudo, garantiria que sua aplicação obteria
resultados e estaria adequada aos propósitos da ciência. Nesse
processo, o pesquisador alcançaria a verdade. Ilusão bem
engendrada. O que desestabiliza o modelo é o fato de ignorar as
especificidades de cada objeto e de cada problematização, em
detrimento do funcionamento perfeito e da falsa idéia de que o
percurso oferecido pode levar à verdade e à realidade [...]
(ROSÁRIO, 2008, p. 128-129).
Reproduzir os usos propostos pelos modelos leva, quase todas as
vezes, a resultados muito similares e sem valor científico autêntico. Nessa via,
a pesquisa passa a ser uma linha de montagem e de produção em série que
invalida seu caráter de indagação, especulação, exploração e criação. O
pesquisador, por sua vez, torna-se um operário em detrimento do artesão que
o constituiu. Enfim, “a ciência não progride quando os modelos são
confirmados pela investigação, mas quando certas anomalias forçam os
cientistas a questioná-los” (ALVES, 2004 apud ROSÁRIO, 2008). Não é isso,
ao menos, que se espera nesse nosso trabalho.
Organizar e adotar um conjunto de procedimentos para desenvolver
uma investigação é, sem dúvida, essencial; contudo, não é verdadeiro o
argumento de que o sucesso da ciência se deve unicamente a métodos e a
metodologias uniformes e padronizadas. Feyerabend (2007 apud ROSÁRIO,
2008) pergunta se realmente devemos crer que as “regras ingênuas e
simplórias que os metodólogos tomam como guia são capazes de explicar tal
labirinto de interações”.
Ainda, segundo Rosário (2008, p. 200),
Por outro lado, modelos prontos são aparentemente mais seguros
porque trazem consigo o capital simbólico de metodólogos que detêm
autoridade e reconhecimento. Além disso, são mais rapidamente
aplicáveis, já que eliminam as etapas de reflexão, de criação, de
testes e de revisão. Mas, exatamente por isso, são muitas vezes
limitadores e engessadores.
76
Rosário (2008) nos coloca que o fato de a ciência ter-se pautado por
regularidades, ordenamentos, regramentos e universalidades levou a que
fossem ignoradas minorias, diferenças, multiplicidades em prol de certezas e
de verdades. Em contrapartida, fenômenos teóricos e metodológicos dignos de
estudo se constituem a todo o momento e exigem pontos de vista originais em
procedimentos, percursos e reflexões. Conforme Feyerabend (2007 apud
ROSÁRIO, 2008):
Há estudos das várias tradições [...] que influenciaram cientistas e
deram forma à sua pesquisa; eles mostram a necessidade de um
tratamento do conhecimento científico que seja mais complexo do
que aquele que emergira do positivismo e de filosofias similares.
Mesmo que a rigidez e a ordem hegemônica dominem o ambiente
científico, Feyerabend (2007 apud ROSÁRIO, 2008) observa que “estamos
bem longe da velha ideia de ciência como um sistema de enunciados
desenvolvendo-se por meio de experimentação e observação e mantido em
ordem por padrões racionais duradouros”.
As trajetórias do campo comunicacional, com seus mitos e suas
realidades, vieram apontando não apenas para suas tradições, mas também
para outras potencialidades capazes de fazer a diferença. A partir da
virtualidade da ciência começam a se revelar atualizações de proposições
teóricas e metodológicas que se distinguem das demais. Elas podem tanto ser
produto do desdobramento dos caminhos da própria ciência, como ser fruto da
invenção sobre ela (ROSÁRIO, 2008).
A cartografia pode ser considerada uma dessas atualizações ou
desdobramentos criativos. Ela se desprende dos mitos da ciência em vários
aspectos, entre os quais (adaptado de ROSÁRIO, 2008, p. 206):
a) não se declara neutra, pelo contrário, é parte do objeto;
b) procura tensionamentos, subjetivações e afecções;
c) não toma distanciamentos, mas se aproxima do que vai ser estudado,
refletindo-se nele;
77
d) não se constrói sobre modelos metodológicos prontos, mas sobre a trajetória
do pesquisador;
e) não propõe a busca da verdade, e sim um caminhar, um ponto de vista
sobre
o
mundo,
procurando
conhecimentos,
suas
versões
e
sua
expressividade.
“A própria escolha do tipo de projeção a ser usada é fruto da ideologia
– do dominador ou do dominado. Portanto, trata-se de uma ferramenta
profundamente comprometida. Os mapas9 refletem, muitas vezes, o conjunto
de valores do autor” (ROSÁRIO, 2008, p. 206). Ainda de acordo com Rosário
(2008, p. 211):
Um dos pontos de sustentação da cartografia é a conexão densa que
estabelece entre novos olhares à pesquisa científica e a eliminação
da rigidez do método. Alterando a forma de mediação entre o
cientista e a natureza, a ela se alia a subjetividade – o que não podia
acontecer na ciência moderna. Já a linha de reflexão que parece mais
se adequar à cartografia é aquela que trata o objeto, primeiramente,
na sua complexidade inerente. Desse modo, acolhe a idéia de que o
processo de conhecimento do objeto e o próprio objeto são
indissociáveis. Da mesma maneira, aceita que o método e os
procedimentos metodológicos precisam ser desenvolvidos, revisados
e, por vezes, recriados na intersecção com o objeto.
É importante que observemos que a cartografia não se espera um
método científico enrijecido e finalizado. “De forma alguma pretendemos ao
título de ciência. Não reconhecemos nem cientificidade, nem ideologia, apenas
agenciamentos” (DELEUZE e GUATTARI, 2004, p. 34). A cartografia pode ser
entendida como um procedimento, como um método ou como uma
9
Com relação às palavras mapa e carta que surgirão em nosso trabalho, acompanharemos a explicação
de que, em português, como os dois vocábulos coexistem, carta e mapa têm, praticamente, tudo em
comum. A tradição na língua portuguesa, entretanto, não permite que se chame mapa o documento
ligado diretamente à navegação ou de cunho oceanográfico. A Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) dá a seguinte definição ao termo mapa: "Representação gráfica, em geral uma superfície plana e
numa determinada escala, com a representação de acidentes físicos e culturais da superfície da Terra, ou
de um planeta ou satélite". Já a palavra carta tem a seguinte explicação: "Representação dos aspectos
naturais e artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade humana, permitindo a avaliação
precisa de distâncias, direções e a localização plana, geralmente em média ou grande escala, de uma
superfície da Terra, subdividida em folhas, de forma sistemática, obedecida um plano nacional ou
internacional". Como, no caso de nossa tese, não trabalhamos com mapas de navegação, acreditamos
que possam ser utilizados os dois vocábulos juntos, para dar mais clareza ao leitor.
78
metodologia, a depender do âmbito que ela ocupa na pesquisa e das intenções
do pesquisador com o seu uso (ROSÁRIO, 2008).
Corroborando com as nossas escolhas e nossos passos traçados no
trabalho da tese Rosário (2008, p. 219) coloca que:
A proposta cartográfica pode ser, também, uma forma para perceber
a
comunicação
na
contemporaneidade,
buscando
novas
perspectivas, aceitando caminhos diferentes, traçando percursos
alternativos, permitindo as subjetividades e, mais uma vez, não se
deixando dominar pelos mitos. Nessa via, uma reflexão cartográfica
permite que, paralelamente aos mundos da pesquisa já existentes,
sejam criados outros panoramas, novas paisagens e múltiplos
cenários.
Assim, a ideia inicial dos procedimentos dessa nossa pesquisa foi a de
agrupar imagens fotográficas turísticas diversas sobre a região escolhida e ver
como elas aparecem e surgem circuladas nas mídias selecionadas, nesses
distintos registros fotográficos. Assim, o roteiro do corpus que observamos foi o
seguinte:
•
Cartões postais – Ao todo foram coletados vinte e cinco cartões
postais, sendo desses: quatorze cartões publicados e veiculados pela
prefeitura municipal de Parnaíba e onze cartões de uma gráfica da cidade (são
os únicos disponíveis, atualmente, na cidade). O cartão postal é uma mídia
única e específica aos turistas, importante observável. Para a configuração
analítica e de discussão dessa mídia foram realizadas leituras de uma
coletânea de artigos científicos da Intercom (que já foram publicados em
versões passadas do evento e de sua revista), outros textos da coletânea de
referência bibliográfica foram obtidos em sites internacionais sobre cartões
postais (postcards). Assim, esses textos da coletânea de artigos foram
analisados e formaram a base de fundamentação e debate ao longo da tese.
Dessa forma, observamos como esses autores tratam dos cartões postais,
relacionando-os com o nosso trabalho.
•
Imagens fotográficas produzidas por empresas de turismo (em
folders) – para verificar quais as paisagens e os roteiros produzidos e vendidos
pelas agências aos turistas – “roteiros turísticos do receptivo”.
79
•
Imagens fotográficas produzidas e postadas por turistas, obtidas
em sites da Internet, como blogs, flogs, em alguma “comunidade ou perfil” na
rede social virtual, onde já foi observado o Multiply (em um trabalho produzido
para a disciplina de “Mídias, identidades culturais e cidadania”, onde pudemos
observar algumas fotos postadas e que já produzem certo circuito específico e
uma circulação própria).
Os circuitos dos postais e dos folders de agências de viagens são os
circuitos básicos, já preexistentes. E o terceiro e grande circuito, Internet, que
faz parte dos outros dois circuitos, do “eu fui lá” (dos turistas, aliás, já afetados
relativamente pelas empresas de Turismo, que levou esse turista a um
determinado passeio, para ver e observar determinada paisagem).
As análises dos observáveis, nessas fotografias, foram feitas conforme
pede a metodologia da cartografia, não como categoria de classificação
estanque, mas essas classificações foram surgindo conforme foram feitas as
observações e as análises das mídias e das imagens que iam surgindo a partir
dessas mídias. Assim as classificações ficaram em função das:
diferentes mídias em que elas são reproduzidas;
paisagens e dos locais (atrativos turísticos) fotografados e das
prováveis repetições dessas paisagens fotografadas.
Após isso, foram realizadas as separações das imagens dos locais
(pontos/paisagens) e o exame do modo como elas conversam e se distanciam.
Essas aproximações das imagens fotográficas servem para nossa seleção
como uma forma de observar, nas diferentes mídias, a circulação acontecendo.
Acreditamos que, com essas classificações que surgiram, foram sendo
observadas para dar mais clareza na diferenciação das imagens e, assim, fora
esclarecendo a nossa busca constante pela circulação das imagens
fotográficas, nas distintas mídias.
Para tanto, pudemos ter algumas variações da tipologia observada
nessas imagens fotográficas, seguindo com indicadores que fossem surgindo,
como:
Diurno ou noturno;
80
Aparecem pessoas ou não – Presença Humana como foco da imagem;
Locais urbanos ou locais naturais, ou ambos na mesma imagem;
Praias;
Delta.
Os aspectos relevantes em que essas classificações foram definidas,
ou foram surgindo, se devem ao fato de que, ao olhar as imagens fotográficas,
buscamos a circulação das imagens, das paisagens, das fotografias. Muitas
vezes os turistas buscam se imaginar dentro dessas paisagens, ou mesmo
como essa fotografia foi tirada, ou, além disso, quais aspectos poderiam
chamar mais a atenção desse potencial visitante. Assim, o tratamento dessas
tipologias, ou classificações, pode se repetir, ou não, em outras imagens da
mesma mídia, ou mesmo em mídia distinta da que foi observada. A partir disso,
podemos definir e analisar se houve certa circulação da imagem fotográfica, na
mesma mídia, ou em mídias distintas.
Pensamos nessa forma de classificação, nos moldes dos indicadores
que fossem surgindo, pois no método cartográfico, como visto anteriormente,
tivemos que visitar, “viajar” sobre os objetos empíricos, para que eles nos
trouxessem o que buscamos, fazendo assim com que o método tenha um
fluxo.
Vale ressaltar que as imagens utilizadas na tese não foram produzidas
por nós, mas montamos um mapa com essas observações e análises. O tema
da cartografia, portanto, é um tema que terá interesse metodológico.
Discutimos, a seguir, a noção de cartografia que foi importante para elaborar o
nosso discurso metodológico. Dentro disso é que foram aparecendo, para a
descrição, apresentação e justificativa dos recortes pontuais, um ou outro
regime de imagens, que foram levantados e acompanhados.
A coleção conjunta de imagens turísticas envolve uma diversidade de
relações entre imagem e lugar/ambiente turístico – as relações mantidas por
Prefeitura, por agências de turismo e pelo próprio turista. Assim como há
diversidade de relações, há variação de olhares. Os vários olhares podem ser
considerados “de perspectiva turística”, mas essa “mesma” perspectiva
81
comporta pontos de vista diferenciados. Assim, aparece também a variação de
circuitos pelos quais tais imagens circulam – cada um deles, naturalmente,
fazendo coisas e processos diferenciados. Esses três ângulos de construção
do objeto (relações imagem/lugar, pontos de vista e circuitos), são previstos
como componentes de um processo de circulação mais amplo, que os
relaciona.
O que articula o observável é a decisão de trabalhar circuitos
comunicacionais, uma vez que foram escolhidos alguns deles. Logo, investigar
os processos que ocorrem nestes circuitos – que são naturalmente
comandados pelos pontos de vista variados – constituem diferentes relações (o
que significa estudar variações, diversidade). Paralelamente, como se percebe,
a existência de articulações entre os diferentes circuitos – articulações que são
estabelecidas pelo macro-objeto comum (turismo) e pelo objeto de pesquisa
específico (imagens de Parnaíba) – levou a que investigássemos o processo
de circulação que desenvolve tais articulações e como estas se fazem.
Em todas as alternativas, procuramos desenvolver uma sistemática de
observação de nossas coleções de fotos com duas preocupações principais:
que estejam relacionadas com a problemática e que possam funcionar como
uma estratégia de (olhando sistematicamente as fotos) buscarmos indicadores
que favoreçam responder ou descobrir coisas sobre as perguntas. Esse deve
ser o núcleo principal (e prático) de uma metodologia de abordagem: relacionar
um trabalho de observação a um problema, como processo para descobrir
coisas sobre nosso objeto. A metodologia utilizada em uma pesquisa é, sem
dúvida, o alicerce de um trabalho, pois sem ela não existe pesquisa e se torna
muito difícil ao pesquisador responder o seu problema.
2.1 O método cartográfico nos estudos de Comunicação
Em nossa pesquisa, a opção pela cartografia implicou, entre vários
movimentos, a observação do fluxo das imagens fotográficas em si. O recorte
deixou de ser feito sobre certos formatos e foi feito em termos de determinado
tempo (definido em função da processualidade e dos prazos da tese de
82
doutoramento). Assim, o trabalho passou a ser também a cartografia dessas
imagens fotográficas – nesse nosso caso, fotografias em mídias distintas da
cidade de Parnaíba –, com uma preocupação de nos afetar, perceber as forças
e movimentos presentes nessas imagens fotográficas e nessas distintas
mídias, buscando os circuitos e a circulação ocorrida das imagens fotográficas
nessas mídias.
O trabalho buscou uma reflexão do ponto de vista metodológico,
considerando a desconstrução e o rizoma como inerentes à cartografia e
essenciais para a articulação do problema de pesquisa. A cartografia é
defendida como método, e também como filosofia para a reflexão metodológica
e a articulação dos procedimentos para encaminhar cada problema de
pesquisa existente. De acordo com Fischer (2008), o cartógrafo (pesquisador)
constrói um mapa do que observa, considerando forças, movimentos,
aberturas, articulações e linhas de fuga, verificados no terreno.
A história da cartografia, de acordo com Aguiar (2008), nos traz como
sentido etimológico o de “carta escrita”. Por alguns anos, o termo “cartografia”
ficou restrito ao campo da geografia, mas atualmente não é possível pensar
nela apenas como a “ciência ou arte de compor mapas e cartas”, pois passou a
ser vista também pelo prisma do que convencionamos dizer de filosofia da
multiplicidade, ou seja, a cartografia busca em diferentes territórios as
especificidades necessárias para compor uma área dinâmica.
A cartografia aqui trabalhada não se propôs somente a construir mapas
(para uma ilustração dessa cartografia), mas a investigar relações, alternativas
e entrelaçamentos presentes nos caminhos-objetos e que, na academia, pode
ser visto como um modelo de se fazer pesquisa. Ela assume relevância na
pesquisa, pois o que se espera não é apenas uma coleta de dados, mas a
possibilidade de produzir em cima dos dados já existentes.
A ideia de trabalhar com uma metodologia/método que contemple o
“trânsito” pode ser associada ao conceito de cartografia, proposto por MartínBarbero (2004), que se chama “mapa noturno”. Além dele, outro autor, Santos
(2002), coloca a necessidade de atentar para fixos e fluxos, para a
consideração do tempo na observação. Assim, Santos (2002) provoca seu
83
leitor a entender o objeto de pesquisa como território a ser percorrido e
analisado com um olhar atento, assim como uma exploração geográfica.
Por esses motivos, dos parágrafos anteriores, consideramos que, para
fazer o estudo diante da circulação das imagens fotográficas em diferentes
mídias, ao espacializar essas imagens como um território e ao escolher
fotografias de paisagens, buscamos certa exploração geográfica dessa
circulação.
Assim, Farina descreve que:
Uma cartografia busca traçar os movimentos sucedidos em um
terreno subjetivo, provocados por conjuntos de intensidades que o
invadem, atravessam, abalam, transformam. Cartografar esses
movimentos tem a ver com a prática que lhes dá visibilidade e
sentido. Uma cartografia problematiza um território subjetivo,
investiga-o processualmente, sem representá-lo, sem interpretá-lo.
Esse método de pesquisa não pretende apreender ou imobilizar ditos
movimentos, mas pensar seus efeitos enquanto eles acontecem,
como também, seus rastros pelo terreno. É um método em processo
de criação afinado com o seu objeto de investigação [...] (2007, p.
04).
A cartografia busca, em diferentes “regiões”, as especificidades para
compor um olhar, busca perceber as dinâmicas, os circuitos, os fluxos e as
intensidades que se mostram nas imagens fotográficas.
Um exemplo de pesquisa com o procedimento metodológico na
perspectiva da cartografia é o de Fischer (2008), em que a autora trabalha em
uma viagem exploratória que principia com o que Bergson (1999) chama de
ampliação da memória e fuga da necessidade de agir no presente. Fischer
trata de perceber o objeto de pesquisa e dele se aproximar de uma forma
específica. Demanda pelo próprio objeto em interação com o pesquisador que
poderá diferir radicalmente daquilo que, no princípio, foi considerado. Por esse
motivo é interessante não se prender em hipóteses prévias na cartografia.
Assim, de acordo com Fischer (2008), esse movimento implica estar aberto
para mudanças, inclusive no próprio objeto de pesquisa.
Ideia essa que compartilhamos durante nossas seleções de imagens e
nossas observações nas mídias selecionadas, buscando esses movimentos,
84
estando abertos para mudanças de fluxos e fixos, dentro da demanda que a
circulação de imagens nos trouxe.
Como procedimento novo para pensar a comunicação e que rompe
com muitos dos paradigmas mais enraizados da ciência, a cartografia, por
vezes, tende a ser considerada como um procedimento sem rigor ou sem
consistência. Contudo, acreditamos que não é assim que ela se configura.
Segundo Rosário (2008), a cartografia não é apenas um desenho do objeto, ela
vai muito além disso. Justamente pelo viés qualitativo e pela conexão atenta ao
objeto, busca o discernimento de aspectos e de processos que comumente não
são apreendidos por um olhar previamente direcionado. Ela pode propor a
dissolução dos caminhos e de alguns sentidos codificados.
Assim, a cartografia busca, de certo modo, desconstruir os discursos,
de certo modo, de verdade estabelecidos, tensionando linhas de força,
capturando o novo, buscando a alteridade e o que é negado ou está escondido.
Dessa forma, ela desacomoda a pesquisa que determina os objetos, modela os
métodos e direciona os sujeitos (FISCHER, 2008).
Porém, um dos obstáculos que se fez visível no cartografar, quando
esse é trazido à comunicação, é o da composição do mapa, já que este não é
apenas uma cópia ou uma reprodução. Segundo Rosário (2008), além disso,
não há um modelo a ser seguido e aplicado na sua construção, tampouco um
roteiro com os passos a serem dados. Assim, a cartografia precisa contar com
a invenção, já que ela impele o pesquisador a criar a sua própria forma de fazer
pesquisa; conduz à elaboração de um roteiro particular que contemple as
especificidades do objeto; arrasta o investigador por diversas perspectivas do
objeto: amplitudes, intensidades, extensões, tensões, fluxos e proporções.
Invenção essa que nos levou para caminhos novos, na questão das
observações, das tensões das imagens e nos caminhos dos circuitos dessas
imagens nas diferentes mídias que selecionamos.
Segundo Fischer (2008), “não podemos dizer que as cartografias se
tratam de método pronto, e sim de uma janela que abre para que o
pesquisador constitua seu próprio método de se mover e se deixar afetar”.
85
Uma observação intrigante em nossa metodologia, pois as postagens
na Internet das imagens fotográficas eram feitas pelos produtores e se, por
algum motivo, houvesse a retirada dessas imagens nessa mídia, o tempo de
pesquisador nosso poderia ser atingido, conforme está na metodologia da
cartografia.
De acordo com Rosário (2008, p. 216-217):
A cartografia leva inevitavelmente à conexão entre investigador e
objeto e ocorre uma interpenetração, nem um nem outro continua o
mesmo, estão modificando-se mutuamente. A essência do processo
surge, justamente, nessa conjunção (objeto-cartógrafo): no entre ou
na dobra. Martín-Barbero (2004), nesse sentido, escreve sobre
pregas, intervalos, intertextos como expressão da organização do
cartógrafo. Ao perambular pelos domínios do objeto, o pesquisador
se pauta pelas suas percepções e intuições, pode, também,
considerar os princípios, os critérios, as regras e o roteiro. MartínBarbero (2004) compreende esse sujeito num entre: viajante e
nômade que pratica um exercício artesão.
Coube a nós, portanto, deixarmos nos afetar por aquilo que
percebemos e que nos foi sensível. O mergulho é um dos recursos do
cartógrafo; imersão no objeto, nas linguagens, nos afetos, nas tramas. Assim
buscamos essa imersão ao focalizarmos a circulação dessas imagens
fotográficas.
A cartografia demanda que o pesquisador se assuma como parte da
pesquisa. É imprescindível falar do objeto, mas também de como o objeto é
visto no aspecto de quem o vê. Foi tentando nessa noção, nessa postura ou
ainda nessa bagagem que constituímos, não nos primeiros momentos de
pesquisa e sim a partir de uma observação preliminar do objeto, nossa
observação, que estava inicialmente desenhada dentro de parâmetros bastante
convencionais, considerando o domínio observado como estanque, parado e
desvinculado de nós. Contudo, uma série de provocações que partem do nosso
objeto, tanto quanto de nós e das circunstâncias vividas, fizeram-nos adotar a
perspectiva cartográfica. Era como se a proposta metodológica inicial não fosse
capaz de dar conta da riqueza do objeto.
Podemos considerar que o trabalho foi criado de acordo com a
amplitude que a pesquisa apresenta e com o grau de intensidade que o
86
investigador e sua amostra são capazes de suportar. Segundo Rosário (2008),
o critério é responsável por organizar as escolhas e as direções, porém precisa
estar sempre aberto à recomposição; é construído a partir de marcadores
lógicos sem excluir a afecção e a sensibilidade. Por mais bem intencionada que
seja a sua criação, esta é, todas às vezes, uma baliza de julgamento, um
parâmetro que vai gerar inclusões e exclusões, tanto teóricas quanto
metodológicas e sociais. Contudo, o critério é necessário para iniciar e dar um
traçado ao percurso, bem como para encontrar tensionamentos, multiplicidades
e focos, decidindo por onde seguir. Pode ajudar compartilhá-lo desde o início,
tornando-o explícito e relatando suas linhas de fuga.
De acordo com Rolnik (2006), o que fundamenta o princípio do
cartógrafo deve estar ligado a uma razão vitalizante. Ainda, Rosário (2008)
expõe que no campo da Comunicação vale refletir sobre as causas e as metas
que movem as pesquisas da área e, desse modo, a forma como os princípios
dos pesquisadores são constituídos e aceitos.
A presença da subjetividade na cartografia (e na pesquisa em geral) foi
fato, segundo Rosário (2008, p. 216):
Contudo isso não significa o envolvimento do cartógrafo com o objeto
a tal ponto de não haver discernimento. A observação minuciosa e
atenta é fundamental, só ela poderá capturar a diferença. É nesse
exercício que vão ser gestadas as ponderações teóricometodológicas sustentadas pela argumentação, comprometidas com
as lógicas do objeto e com a coerência das reflexões sobre noções e
conceitos. Se for no fazer cartográfico que os aspectos interessantes
são enlaçados, não quer dizer que a pragmática é realizada sem a
reflexão anterior do cartógrafo.
Assim, conforme Rosário (2008, p. 208):
A regra compõe outro dos elementos possíveis de considerar no fazer
cartográfico. O que se revela importante é o fato de que ela não é
configurada por um viés de medidas, padrões e modelos, mas nasce
da sensibilidade do corpo vibrátil do cartógrafo. Deste modo o rigor se
constrói, então, na conexão com o objeto, o pesquisador, o princípio,
a proposta da investigação. É possível que a regra seja abarcada
pela subjetividade e pela intuição que vão ao encontro das
singularidades do objeto, mas oferecem variantes que refugiam
também a objetividade e a sistematização, tendo em vista o modo
87
como o caminho se apresenta. Portanto a regra ajuda, ainda, a
delinear táticas e norteiam sobre como reger o procedimento.
Para Rolnik (2006), o teor dá elasticidade a entrada e ao discernimento
e se junta em uma singular: a regra de prudência, segundo Rosário (2008), isto
é, estar continuamente prevenido e ponderando os limiares que se
apresentam. Assim, desse modo, Rosário (2008) diz que o que orienta a
cartografia em termos de regras são os limites que se dão a ver, as fronteiras
que se mostram no campo e nas relações com os sujeitos e objetos. É
interessante pontuar a experiência cartográfica como uma busca pelo
aprofundamento do modo de olhar o objeto e de fazer pesquisa. A cartografia
faz realmente o corpo do cartógrafo/pesquisador acabar com o mito das
fórmulas prontas, assim, “cartografar é seguir o movimento de ecceidades10
que se conectam e produzem desvios ao invés de regras e, a partir daí, novos
movimentos. A cartografia é um terceiro que se produz, podendo se conectar a
outros, infinitamente” (KIRST et al., 2003).
De acordo com Guidotti:
O interessante na cartografia é que ela é sempre irrepetível, porque
os movimentos são outros e, portanto, as vivências e intensidades
são também outras. Cada desenho gerado por uma cartografia pode
servir a outros viajantes, mas a viagem sempre será singular, pois a
cartografia é, sobretudo, movimento (2007, p. 121).
A cartografia, para os geógrafos, é um movimento que acompanha as
transformações da paisagem, ou seja, não apresenta o elemento estático que
compõe o mapa. O cartógrafo desenvolve um desejo de apropriação da
paisagem através de um impulso que aponta não para a revelação dos
sentidos, mas para a criação dos mesmos, ele surge assim como uma espécie
de antropófago, pois “vive de expropriar, se apropriar, devorar e desovar,
transvalorado. É através dos olhos do cartógrafo que a paisagem ganha
discursividade” (ROLNIK, 1989, p. 67).
10
sf (lat ecce+i+dade) Filos. Na linguagem escolástica, significa aquilo que faz com que uma essência se
individualize e esteja presente no mundo.
88
No seu movimento, o cartógrafo/pesquisador abre mão de um mapa
que coincida perfeitamente com o território, um mapa que defina de antemão
todos os detalhes do caminho específico a ser percorrido, para executar uma
cartografia que se faz no fluir do próprio trabalho.
A construção do mapa, então, não tem receita, é o espelho do olhar
que o cartógrafo foi capaz de produzir. Contudo, só será um mapa cartográfico
se respeitar o objeto, se considerar diferentes amplitudes e intensidades, se
registrar espacialidades. De acordo com Rosário (2008), o investigador, no
entanto, precisará da sua sensibilidade para envolver-se e deixar-se levar pelo
movimento. A abordagem de Martín-Barbero (2004, p. 15) permite entender,
como matéria-prima do mapa, a “multiplicidade de questões e experiências, de
dados duros que vão construindo articulações”.
Assim, o que a cartografia propõe são novas maneiras de fazer mapas
e, na área da Comunicação, o cartógrafo pode embrenhar-se com MartinBarbero (2004, p. 17) e outros pesquisadores na empreitada do exercício
artesão que “aspira unicamente a renovar o mapeamento dos estudos de
Comunicação”. Ele entende que:
[...] já começamos a inventar: começando por indisciplinar os saberes
diante das fronteiras dos cânones, des-pregando a escrita como meio
de expressividade conceitual e, finalmente, mobilizando a imaginação
categorial, que é aquilo que torna pensável o que até agora foi
pensado, abrindo novos territórios ao pensamento (MARTÍNBARBERO, 2004, p. 19).
Novas tentativas de cartografar as práticas da fotografia estão
ganhando força nas teorias, “onde os novos cartógrafos se utilizam do discurso
pelos direitos humanos e pela diversidade como uma espécie de GPS a
delimitar as áreas, os relevos e as fronteiras do desenho geopolítico
continental” (BRAGANÇA, 2011, p. 01).
O mapa assume uma dupla função: é imagem e representação do
mundo, é instrumento de descobrimento e conquista, ilustração (AFFERGAN
s/d apud BRAGANÇA, 2011).
Para Bragança:
89
A cartografia, seja uma técnica científica que auxilia na
documentação e medição dos espaços, seja uma metáfora cultural
que promove novos parâmetros de representação das múltiplas
alteridades, apresenta-se como um importante instrumento conceitual
para pensarmos como a cultura das mídias dimensiona, hoje em dia,
os processos de constituição de subjetividades e os limites
definidores de novos mapas [...] (2011, p. 02).
Assim,
a
primeira
impressão
sobre
um
trajeto
metodológico
indeterminado é uma (aparente) ‘desordem’ que se constitui em função da
diferença desse procedimento em relação aos que costumam ser usados. Essa
confusão, contudo, permanece assim somente até que as lógicas do objeto
sejam capturadas e conectadas às lógicas do cartógrafo (pesquisador) e às da
cartografia.
O método cartográfico recebe da topologia o aprendizado da
observação e da descrição detalhada, aceitando sugerir linhas e formas, fluxos
e movimentos, assim também, amplitudes e intensidades na representação do
mapa (ROSÁRIO, 2008). A expressão “desenho do mapa” vem como metáfora,
mas concebe muito bem a ideia de rizoma e de cartografia, porém, para que os
leitores pudessem acompanhar esse mapa criado mentalmente e descrito por
nós, acreditamos ser relevante ilustrar esse mapa, afora da metáfora, na
tentativa de facilitar essa criação mental da cartografia.
Segundo Rosário (2008, p. 212):
O rizoma é uma mescla de tramas que se concordam, se misturam,
se embaralham, se juntam e se afastam. É a trama da pesquisa.
Afinal, o trajeto feito pelo pesquisador no procedimento da cartografia
traz em si um pouco disso que chamamos de caos, ou pouco dessas
tramas e embaralhamentos – o que acontece é que os mitos da
ciência têm imposto à apresentação da pesquisa o ocultamento das
linhas de fuga, dos ajustes, dos retornos. Enfim, se a pesquisa é um
rizoma – que poucos conseguem perceber –, o mapa a ser construído
é, igualmente, rizomático e, ainda, o próprio cartógrafo é rizoma.
Para entender a trama que compõe o rizoma e que, por consequência,
se organiza no percurso da cartografia, talvez seja coerente recorrermos à
abordagem feita por Deleuze (1980 apud Rosário, 2008). Ao falar sobre o
dispositivo (de Foucault), o autor observa que ele se modifica o tempo todo,
90
seguindo direções múltiplas e heterogêneas, configurando, assim, um
emaranhado de linhas. Dessa forma, segundo Deleuze (1980 apud Rosário,
2008), “desemaranhar as linhas do dispositivo é, em cada caso, levantar um
mapa/rizoma, cartografar”, sendo que esse trajeto se realiza de forma
pragmática e não na análise teórica, tendo em vista que é na primeira que se
compõem as multiplicidades e os conjuntos de intensidades.
Para se desenhar um mapa/rizoma, podemos ressaltar a leitura que
Deleuze e Guattari (2004) fazem, que esse desenho, por estar conectado com
o real, seja inesperada, tenha sua própria ordem e, nessa via, sua estrutura
não pode ser calculada previamente e nem aplicada a modelos sem que se
corra o risco de só ratificar hipóteses. Tanto o trajeto feito como a constituição
do mapa são frutos de uma experimentação que se liga à aventura e à
turbulência na cientificidade.
O “roteiro” (mapa/rizoma) pode recuperar, de certa forma, um elemento
comum na pesquisa comunicacional (ROSÁRIO, 2008), mas, em acréscimo,
ele é capaz de expressar as preocupações e inquietações do cartógrafo. É
nesse plano que se expressam as problematizações, uma vez que elas vão dar
a direção ao cartógrafo. Contudo, o roteiro – assim como o objeto, a
problematização e o pesquisador – vão sendo construídos e desconstruídos,
territorializados e desterritorializados durante toda a trajetória, já que os
elementos da pesquisa se interpenetram de forma dinâmica.
Outro elemento trazido por Rolnik (2006), para se acrescentar nessa
discussão, são os equipamentos. Segundo Rosário (2008), eles são os
subsídios que compõem a bagagem do cartógrafo, têm o papel de auxiliar a
caminhada, a formação dos apontamentos, a coleta dos dados, o processo de
observação e o inventário das memórias. Como todo viajante que faz sua mala,
o cartógrafo precisa mais uma vez escolher, decidindo aquilo que é importante
levar, mas pela intuição ou pela experiência sabe aquilo que não deve faltar.
Por isso, as escolhas de mídias diferentes, com um objeto único (imagem
fotográfica), assim, nos fez trilhar por uma cartografia de onde estas postagens
e essas imagens estejam, ou ainda quais as imagens mais publicadas de tais
paisagens turísticas (ou não).
91
Assim, um mercado de ideias, opiniões, crenças, sentimentos, entre
outros, é operado por interlocutores, cujo modo de participação e posição que
ocupam na rede simbólica foi determinado por contextos. Os interlocutores
podem ser indivíduos ou “comunidades discursivas”, conceito que designa os
grupos que produzem e/ou fazem circular discursos (imagens fotográficas), que
neles se reconhecem e são por eles reconhecidos (MAINGUENEAU, 1993;
ARAÚJO, 2000).
Esse modo de pensar a comunicação põe em relevo a ideia de
“polifonia”, que referencia justamente a presença de múltiplas vozes, que ora
se articulam sinergicamente, ora concorrem entre si. O que todos desejam, em
última análise, é a possibilidade de “fazer ver e fazer crer”, que remete para a
construção da realidade, portanto, para o poder simbólico (BOURDIEU, 1999;
ARAÚJO, 2000). Assim, podemos representar cartograficamente essa
concepção de comunicação.
Existem outras noções relevantes na cartografia, como de espaço.
Desse modo Rosário (2008, p. 209-210) nos coloca que:
É no espaço que o mapa se dá a ver, configurando-se pelos registros
e reflexões acerca do objeto/problema e se materializando no traçado
do investigador. O espaço é o ambiente dos territórios, das paisagens
e dos cenários. À medida que adquirem força e intensidades – sendo,
portanto, atravessadas pelo tempo e pelo pesquisador –, essas
paisagens vão sendo esquematizadas pelo investigador, suas linhas,
marcas e traços nascem pela mão do cartógrafo e se territorializam.
Mas se, por outro lado, perdem a potência, tendem a se desfazer e se
desterritorializam. O cartógrafo, por conseguinte, além de atentar à
paisagem, precisa estar atento ao fluxo que constitui o objeto e ao
fluxo que o constitui.
Sempre irá existir em cartografia, como visto nos parágrafos anteriores,
um fluxo de intensidade. Porém, para fins de um trabalho de tese, um trabalho
acadêmico, é preciso em algum momento parar (contudo não deter) esse fluxo,
a fim de poder representá-lo.
Assim, traçar um percurso trilhado, rumo à outra cartografia da região
estudada em uma tentativa de redescobrir a região, de retraçar seus limites e
fronteiras, de uma relação entre territórios, para além dos limites das
paisagens, de expor as paisagens em uma carta comunicacional-turística nova,
92
demonstrando, os roteiros mais visitados, utilizados ou vendidos, através desse
mapeamento, dessa cartografia das imagens fotográficas, nas diferentes e
distintas mídias a serem pesquisadas. Ao mesmo tempo, podendo colaborar de
forma indireta para criação de futuros ou novos roteiros (a partir do momento
que se detecte poucas imagens fotográficas midiatizadas e em circulação de
determinada paisagem) e que possam confirmar aqueles roteiros turísticos
mais utilizados e já com demanda e oferta turística real e potencial.
O mapa/carta não visa a representar o objeto tal qual, mas verificar
processos, detalhes, transformações, fluxos, amplitudes, entre outros. A
construção do mapa é, em si, uma experimentação e, dessa forma, permite o
exercício, a análise e o ensaio. O resultado desse processo é a
elaboração/desenho de paisagem(ns) dinâmica(s), capaz(es) de apontar
elementos diversificados do espaço do objeto. Para Benjamin (2006), as
paisagens são fruto das transformações que as cidades sofrem aos olhos do
flâneur.
2.2 Uma proposta cartográfica: uma trama de imagens turísticas
Foi a partir desses conceitos e desse modo de pensar, debatidos e
apresentados nos parágrafos anteriores, que partimos para fazer nossa
pesquisa e nos baseamos nesse pensamento para a criação e o passeio sobre
os nossos materiais coletados e observados.
Pelo olhar de Benjamin (2006), o cartógrafo pode ser um flâneur que se
deixa levar pelas ruas da cidade. De acordo com Rosário (2008, p.215).
Vagando, ele é arrebatado pelos prédios, pela multidão, pelas vias e
assim constrói paisagens que se desenham no seu caminhar. Seus
instrumentos são o olhar e o próprio corpo, os sentidos com os quais
ele capta espaços, relatos, disfarces, máscaras, relações, não sendo
incomum se apoderar de dados e de saberes – e esses se tornam
rizomas. Assim, ele adquire força a cada passo dado.
A dialética do flâneur apresenta, “de um lado, o homem que se sente
olhado por tudo e por todos, como um verdadeiro suspeito; de outro, o homem
que dificilmente pode ser encontrado, o escondido” (BENJAMIM, 2006, p. 46).
93
A nossa ideia foi justamente essa de um flâneur, para conhecer melhor
nossos
objetos,
passear
sobre
as
imagens
fotográficas
nas
mídias
selecionadas, na busca pela circulação das imagens fotográficas, sem, no
entanto, perder a questão da pesquisa e do fazer ciência, apoiado em um
método, como o cartográfico.
Com relação ao pesquisador/cartógrafo, Rosário (2008, p. 218) coloca
que:
As exigências do próprio objeto de pesquisa, as especificidades da
comunicação turística (nesse nosso caso), a imaginação criadora, a
imaginação exploratória, a intuição criativa são, igualmente, alvos do
cartógrafo. Essa posição, entretanto, não implica um pesquisador
desobrigado com a organização e o método da pesquisa, mas exige
um sujeito compromissado com o seu objeto/problema, com
caminhos teórico-metodológicos que precisam ser construídos – e,
portanto, não estão prontos – e com a realidade da ciência
contemporânea. Assim, o compartilhamento da experiência do
investigador, portanto, parece ser elemento chave e cabe a ele
descrever, analisar e fazer circular o seu olhar, indo, além disso, em
direção ao debate e à ponderação sobre intensidades, tensões,
devires, hegemonias, enfim, os processos do objeto e da própria
pesquisa.
Essa preocupação nos atingiu e nos manteve sempre atentos ao
corpus e aos objetos, nos preocupamos em fazer a indicação teórica de nosso
método escolhido e indicar os passos e os caminhos metodológicos que nós
definimos importantes na busca por nossa resposta.
Assim, a ideia de cartografar proporciona uma facilitação na análise
dos fluxos e dos circuitos das imagens, e também das paisagens mais
fotografadas. Desse modo, podendo fazer com que a carta traçada seja
sobreposta e possa surgir uma cartografia mais completa.
Visto isso, a partir da cartografia, estabelecemos um território para
aprofundamento, que foi desenvolvido nos moldes da análise, considerando a
noção de que fluxos e fixos devem ser considerados simultaneamente, através
de aproximações pela via da inteligência e da intuição.
Assim, para encontrar onde circulavam e quais eram as paisagens
mais fotografadas, acreditamos ser interessante, para visualizar essa
circulação e essas paisagens (localidades) captadas e midiatizadas, cartografar
94
(mapear). Trabalhar, em uma das perspectivas, com cartografia, comunicação
e turismo.
A concepção de cartografia suscita questões que dizem respeito à
relação de representação. Assim, esperamos que através do desenho (da
imagem, do mapa ou carta), seja possível situar essas paisagens em uma carta
(mapa), para que fiquem mais claros os pontos mais fotografados na
localidade, facilitando uma leitura que poderia ser mais extensa e confusa aos
olhos dos leitores. A representação de uma descrição espacial, através de uma
cartografia, fica mais ilustrativa e capaz de aglutinar melhor a análise e a
descrição.
Portanto, é dessa forma, pela articulação de um modo de ver apto de
contemplar a mudança e a duração, que panoramas de imagens fotográficas,
assim como os cenários das mídias pesquisadas, podem ser traduzidos
qualitativamente, ou transcodificados criativamente (FISCHER, 2008), e é
possível promover a expansão da visão, devolvendo as articulações
comunicativas à virtualidade, retornando-lhes seus devires. A visão cartográfica
propõe, resumidamente, uma epistéme em que se busca reconstituir a
vitalidade da comunicação turística e rearticular sua força de resistir a
enclausuramentos (FISCHER, 2008).
Assim, um desafio, nesta metodologia, foi sair do diagrama como
representação gráfica de um mercado simbólico e visualizar esse mercado de
comunicação turística aplicado ao mapa de um território. Com as tecnologias
disponíveis, buscamos analisar a descrição de fluxos. Este passo é importante
para a configuração do âmbito de abrangência de cada mídia, dado
fundamental, por exemplo, em um planejamento de comunicação turística.
2.2.1 Pesquisa com cartões postais turísticos
O cartão postal como mídia tem a funcionalidade de causar ou
despertar desejos no futuro visitante, pois cria, em torno do espaço turístico,
momentos de lazer, resultando em um marketing simplório do lugar, pois tais
95
imagens são consideradas como manipuladoras no momento da divulgação,
para que ocorra de forma sucinta a “venda” turística daquela localidade.
Além disso, o cartão postal, em termos promocionais, é um misto da
mala direta com a chancela do apelo testemunhal do emitente para o
destinatário. Vale lembrar que recomendações de parentes e amigos são um
dos fatores mais influentes nas decisões sobre compra ou escolha de produtos
turísticos. Por esse motivo, não se pode deixar de destacar o uso publicitário
dos cartões postais, que promovem toda sorte de produtos, incluindo,
especialmente, o setor de serviços como hotelaria e transportes. Tanto que
hoje são distribuídos, em algumas localidades, para os turistas em meios de
hospedagem, serviços de alimentação e em agências de viagens.
Os cartões postais, ao difundirem a imagem do lugar, contribuem para
a sua notoriedade, dando-lhes prestígio. Reciprocamente, a notoriedade de um
lugar suscita a proliferação de cartões postais e de fotografias. Podemos
concluir que é a paisagem a geradora dos cartões postais e das fotografias.
Forma-se, então, um ciclo turístico repetitivo entre o que se vê e o que deve ser
visto. As paisagens criam os cartões postais, e os cartões postais criam as
paisagens, numa espécie de ciclo socioeconômico fechado. Entretanto,
devemos observar que as imagens fotográficas de paisagens são construídas
por fotógrafos e editores de modo a atender às suas percepções sociais e
culturais em relação ao elemento fotografado. Entendemos que o que é
mostrado é mais do que o fotógrafo acredita que deve ser visto; depende do
mercado-alvo. As imagens dos cartões postais são socialmente construídas de
modo a representar determinado grupo social (BREWER, 2004 apud FRANCO,
2006), como fica demonstrado na preferência por determinadas imagens e
ângulos.
É notável que tal instrumento de comunicação, o cartão postal, seja um
documento daquilo que envolve o setor turístico. Observam-se os postais como
veículos de comunicação, com certa circulação, que necessitam de pouco
espaço e que contêm mensagens atrativas ao público alvo (turistas) no
estímulo e interação entre o receptor e visitante, na necessidade de captar a
atenção de quem poderá vir a consumir, dentro dos aspectos turísticos. Essa
96
circulação dá-se pela adesão dos turistas a tais cartões, para que enviem aos
seus familiares, amigos, parentes, contribuindo, dessa forma, na multiplicação
da comunicação visual e na propagação de tal destino turístico. O cartão é um
elemento que não pára, pois sempre está em contato com um alguém.
Nessa pesquisa propomos, em sua metodologia, um breve estudo de
análise e interpretação dos cartões postais da cidade de Parnaíba, divulgados
por uma gráfica e pela prefeitura municipal da cidade.
Foram utilizados vinte e cinco cartões postais, como amostra de
análise dessa mídia. Os produzidos pela Prefeitura Municipal possuem em seu
verso uma explicação sobre a paisagem fotografada. O restante dos cartões
postais foi coletado em agências de viagens e em bancas de jornal. Vale
ressaltar que ocorreram ao menos duas saídas de coleta por semestre, desde
o primeiro semestre de 2010 até o primeiro semestre de 2012, confirmando
esse número total de vinte e cinco cartões postais publicados e expostos para
que os turistas e a comunidade tivessem acesso.
Nesse trabalho, os cartões postais utilizados são os da cidade de
Parnaíba. A identificação é feita na frente de cada cartão, no canto direito, e
alguns ainda possuem um breve histórico turístico, sendo eles: Porto das
Barcas, Avenida São Sebastião, Igreja de N. Srª da Graça, Monumento da
Independência, Estação Floriópolis, Cajueiro de Humberto de Campos,
Artesanato, Memorial Humberto de Campos, praia Pedra do Sal, Delta do rio
Parnaíba, lagoa do Portinho, Vista aérea de Parnaíba, Castelo do Maracujá,
Praça da Graça, Centro Cívico e Ponte Simplício Dias.
Por meio de tais cartões buscamos analisar o espaço, tempo,
elementos inseridos na fotografia, repetição e a classificação. Também foram
vistas quais as paisagens mais comunicadas e como ocorre a circulação
dessas imagens fotográficas na mídia cartão postal. A coleta destes cartões
postais não teve um critério especifico, pois são os únicos em duas séries de
divulgação turística da cidade. Para facilitar essa análise produzimos uma
tabela, que foi colocada nessa tese no item análises e resultados, com
temas/classificações de indicadores que foram surgindo ao longo das leituras
que íamos fazendo dessa mídia.
97
De acordo com Calazans (1984), os cartões postais possuem uma
finalidade de mensagem isolada, mas que trabalha de forma agrupada, em
uma intercalação com outros postais.
Em cada cartão postal foi interessante observar a mensagem
transmitida, com seus valores culturais e naturais de uma sociedade única,
porém que não foram relevados e não interferiram nas análises e nos
interesses dessa tese. Hunt (2005) compreende que cartões postais fornecem
documentação histórica e social do passado, permitem voltar no tempo e
descobrir lugares que não podiam ser vistos de outro modo.
É interessante ressaltar que os cartões postais produzidos pela
prefeitura foram enviados posteriormente às coletas dos cartões postais nas
bancas e outros locais por meio de uma lista de e-mails do Secretário Municipal
de Turismo, onde os cartões postais estavam sendo digitalizados. Assim
percebemos que os cartões postais poderiam estar em processo de
remediação. Entendemos que remediação é a reutilização do material de uma
determinada mídia em outra mídia. Porém, ao longo dessa nossa tese maiores
detalhes aparecerão sobre o assunto da remediação. Inclusive, no capítulo
teórico-analítico sobre a circulação, procuramos discorrer sobre os conceitos e
as práticas de remediação, pois observamos nessa circulação certas ações de
remediação das imagens fotográficas.
2.2.2 Pesquisa com folders de empresas de turismo
A relação entre fotografia e turismo permite destacar um importante
mecanismo para que esta relação aconteça: os folders. Por serem
representantes dessa interação, os folders/folhetos funcionam como uma
importante fonte de análise das fotografias turísticas.
A exemplo de alguns autores que se utilizaram dos folders/folhetos
como foco de estudo para a confecção dos seus textos, a composição dos
folders pode conter uma originalidade que cause um mínimo de impacto a
destacar-se no cotidiano de quem os recebe. No que se trata ao conteúdo, a
redação precisa manter um contato direto, pois esta estratégia torna-se mais
98
eficiente quando se inserem elementos que caracterizam um determinado
público. Vale constar ainda indicações de roteiros turísticos que os turistas
possam usufruir, informações sobre acomodações e preços disponibilizados.
Assim, essa mídia torna-se um possível estímulo à venda.
Segundo observamos, também o título do folheto deve instigar o
receptor a identificar as suas informações e mensagens. Os elementos
integrantes como o texto – deve ser direto e que desperte à atenção –, as
imagens e cores, devidamente posicionadas e vibrantes de forma a destacá-lo,
entre outros. A junção desses mecanismos influencia na leitura dos folders.
Porém, nesse nosso trabalho, o título do folder não foi relevante, mas vale
como contribuição nas discussões sobre essa mídia, uma vez que nosso foco
está nas imagens fotográficas de Parnaíba contidas nessa mídia selecionada e
pesquisada.
Optamos primeiramente por comentar sobre os cenários importantes
das cidades que utilizaram os folders, constatando-se que a imagem sofreu
alguma interferência artística para agregar algum tipo de impacto que desperte
a atenção do turista. Outro ponto relevante relaciona-se à capa dos
folders/folhetos, que não precisa, necessariamente, ser objetiva. Precisa
apenas atrair o olhar para o folheto e depois para o destino. Ainda como
observado nas leituras realizadas na pesquisa bibliográfica sobre essa mídia,
os slogans também completam as estratégias para despertar o interesse do
turista na capa.
Na maioria dos versos dos folhetos, utilizados pelos autores lidos para
essa tese, insere-se uma pequena ilustração do mapa das cidades ou regiões,
destacando as cores e legendas de alguns bairros, além das informações
gerais, dos dados sobre a cidade, clima, número de habitantes. Nas páginas
interiores, colocam-se as ilustrações que possuem mais significado com o
objetivo de impressionar. No caso de nossos observáveis, esse detalhe foi
notado para observação, porém não foi o principal objeto na análise dos
materiais catalogados.
Em algumas pesquisas recentes sobre folders e turismo, nos materiais
utilizados para análise há os que apresentam potencial internacional, pois nos
99
textos constam idiomas como Português, Inglês e Espanhol, ainda para
completar, adicionaram-se um mapa simplificado da região e a relação das
agências de turismo com os seus respectivos contatos. Em nosso material
levantado observamos em seu conteúdo esse potencial internacional, não
somente através dos idiomas, mas também através das imagens.
A necessidade de apresentar a imagem dos diversos destinos
proporciona a criação dos folders como canais de comunicação, visto que
podem divulgar as características de localidades e de seus produtos turísticos.
Dessa forma, isso motiva a estudar a importância dos folders novamente e
identificá-los como fontes de pesquisas para quem almeja realizar uma viagem
ou mesmo adquirir seus produtos.
As imagens fotográficas de Parnaíba que aparecem nos folders foram
o principal critério utilizado na escolha dos folders/folhetos inseridos para
análise.
Neste momento da pesquisa realizamos coletas e posterior análise dos
folders turísticos. Os folders coletados nas empresas turísticas de Parnaíba
foram elaborados pelas diferentes agências de turismo do município. De
acordo com os dados cadastrais elaborados por Francisca Porto – SEBRAE
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a cidade de
Parnaíba possui um total de dezesseis agências de viagens e turismo, porém,
somente algumas trabalham com o turismo receptivo. São elas: Clip Turismo,
Igaratur, Ecoadventure Tour, Morais Brito Viagens e Turismo.
Foram coletados, no total, somente 09 folders ao longo dos meses
entre julho/2010 e março/2012, dentre estes, apenas 04 foram submetidos à
análise como mecanismo de comunicação destinado à promoção da cidade de
Parnaíba, devido à ausência de imagens fotográficas relacionadas ao
município de Parnaíba nos materiais coletados. Com a análise realizada nos
próximos capítulos, essa “ausência” de imagens nos folders pode ser
respondida, uma vez que uma das intenções desse trabalho foi o de investigar
parte dos processos de comunicação turística da região estudada a partir
dessas mídias pesquisadas.
100
Alguns aspectos são perceptíveis quando se observam as imagens
contidas nos folders em questão. Como, por exemplo, a presença humana, que
é tida como um dos elementos fundamentais para atrair a atenção de quem
utiliza os folders ou folhetos turísticos como fonte de conhecimento de um
determinado lugar turístico. O folder deve ser material a ser utilizado para
mostrar locais possíveis em que outras pessoas já estiveram visitando.
Outro fator marcante é a predominância das fotos de lugares naturais
que caracterizam a região, além dos atrativos turísticos da cidade em si. Isto
permite ao receptor (turista) um estímulo para deslocar-se ao destino e
desfrutar das suas belezas.
Ao separar os observáveis dos folders/folhetos, tentamos classificá-los:
o folder 1 – compõe-se de duas partes: foto a (capa) e foto b (parte interior); o
folder 2 – Igaratur: Passeio ecológico do Delta; o folder 3 – Sua aventura na
rotas das emoções começa aqui; e o folder 4 – Ecoadventure Tour, apresenta
somente a parte da frente. Foi criada uma tabela separando-os e
demonstrando seus indicadores de classificação principais de aproximação e
de distanciamento.
Mediante os expostos, uma imagem que transmite comunicação, que
transmite informações sobre uma cidade turística, através, por exemplo, dos
folders/folhetos turísticos, é base para que os diversos destinos relacionados
ao Turismo sejam valorizados e cada vez mais conhecidos e visitados.
Foi devido a isso que nós utilizamos essa micro-mídia específica de
produtos turísticos, que são muito utilizados para comunicação entre empresas
e seus clientes reais e potenciais.
2.2.3 Imagens digitais disponibilizadas na Internet: fotografias em sites
Antes de darmos início sobre conceituações, definições e explicações
sobre: como, quando, onde, quem e porque de nossas escolhas sobre a
Internet, é importante frisar que a circulação das imagens é fundamental para
essa comunicação turística que buscamos em nosso trabalho e a Internet é a
“chave do sucesso”, nessa busca pela circulação das imagens fotográficas.
101
Com o avanço tecnológico houve uma maior produção e acesso à
informação através da Internet, que segundo Träsel (2009, p. 02), proporcionou
“a abertura de novos canais para a distribuição de notícias”. Ou ainda, vale
mencionar, de acordo com Alsina (2009, p. 77), que “a Internet estende a
outros canais as funções que os meios já possuíam”.
Nas palavras de Cunha Filho (1999 apud Peruzzo 2005, p. 49), com
relação à Internet, possui mais:
características de um ambiente de comunicação do que propriamente
um meio. As listas de discussão, os fóruns on-line, as ‘salas de batepapo e o correio eletrônico são ferramentas de comunicação de fato
interativas, baseadas em estruturas não verticais onde os pólos de
emissão e recepção tem flexibilidade suficiente para se alternarem de
modo semelhante à conversação oral.
Dessa forma, permite exemplificar em comunicação a circulação, que
utiliza outros meios para fazer circular, por exemplo, as notícias como a
utilização de blogs, pois apresenta diversificadas operações utilizando várias
tecnologias da mídia estabelecidas nas relações entre quem produz e recebe
as informações e mensagens. Assim, conforme os usuários dos blogs o
utilizam e mantém relação com outras pessoas, inicia-se uma nova maneira de
funcionamento tanto dentro quanto fora da comunidade conforme surgem
outros circuitos.
Há ainda outros meios utilizados para transmitir informações, como as
redes sociais, pois possuem elementos que facilitam o processo de circulação
e potencializam para discutir-se sobre os vários acontecimentos, estendendose além dos canais distributivos de informações mais tradicionais no âmbito
turístico e comunicacional.
Dessa maneira, a utilização destes dispositivos que têm a finalidade de
troca de informações, interfere no sentido da comunicação de forma a facilitar a
circulação das mensagens que se deseja transmitir, gerando assim, novos
circuitos.
Há uma aceleração no processo de circulação das informações em
escala mundial devido a fatores como rápido processo da globalização e os
102
grandes avanços da tecnologia, o que possibilita uma produção rápida,
eficiente e que atinge os mais diversos públicos e, ainda, distribui a informação
de forma globalizada.
Entramos,
então,
num
mundo
de
cyberinformação
e
cybercomunicação onde a própria aceleração da velocidade da
circulação das palavras, dos dados e das imagens na Rede
expandem, em forma quantitativa e qualitativa, a produção, a
circulação e o consumo de informação, criando formas de valores de
sentido antes inexistentes. Da mesma forma, acontece com as novas
modalidades interativas de intercomunicação e autoexpressão
pessoal no espaço digital. As três dimensões tendem a se misturar
nos processos de circulação dentro das novas ecologias virtuais,
onde se articula a informação com a intercomunicação e a expressão
pessoal. A midiatização institui literalmente o “espírito de época” de
nossa cultura tecnológica (VIZER, 2010, p. 43-44).
Em todo o mundo e nos mais diversos tipos de atividade, o advento da
Internet promoveu mudanças significativas. Para o turismo, o desenvolvimento
tecnológico proporcionou aos interessados em viajar a possibilidade de acessar
informações sobre vários lugares com bastante facilidade.
É através desses recursos de informações oferecidos e facilitados pela
Internet que vários turistas planejam suas viagens, muitos deles sem
precisarem se deslocar para espaços físicos de empresas (agência de viagens)
que comercializam roteiros de viagens, para conhecer destinos e podendo
fazê-los pela web.
As relações humanas, atuais, estão em uma cultura digital, a que se
refere às novas conformações sociais em que a presencialidade está cada vez
mais indissociada do ciberespaço; se refere a uma “realidade multidimensional
artificial ou virtual globalmente em rede, sustentada e acessada pelo
computador”, em que os humanos podem interagir: novos princípios de
visualidade são estabelecidos (criados na fronteira do real e do virtual) e “não
tocam apenas a superfície e a aparência das imagens. Elas trazem
consequências epistemológicas, pois muda com elas o modo de representação
das coisas” (SANTAELLA, 2003, p. 141). Ainda, segundo Santaella (2003, p.
143), “o sensorium humano está engajado em um ambiente eletrônico que se
tornará ‘virtualmente’ indistinto das realidades sociais e materiais que as
103
pessoas habitam ou desejam habitar”. A transformação do leitor e do receptor
na posição de co-autor e de co-criador do ambiente cibernético na interface
com espaço cibernético, um misto de sentidos. O leitor/receptor interage
colaborando com sua realização (SANTAELLA, 2003, p. 95); suas livres ações
associativas e interativas, no contexto das infinitas versões virtuais, é que
permitem juntar fragmentos, compondo novas e próprias versões.
Ainda sobre as relações humanas e a midiatização da sociedade, uma
importante discussão sobre circulação e Internet foi produzida pelo professor
Dr. José Luiz Braga, e, entre seus diversos textos, um nos chamou atenção,
sendo esse um de seus atuais trabalhos, intitulado “A política dos internautas é
produzir circuitos”, em um trecho desse manuscrito há uma explicação de como
podemos entender a forma pela qual a Internet pode colaborar com a
circulação, desse modo aplicaremos isso às imagens fotográficas com a
comunicação turística. Dessa forma, Braga (2012, s/p) comenta que:
Uma tendência freqüente é a de pensar “circulação” como referência
ao processo desenvolvido pelo produto midiático, da emissão à
recepção. Nessa perspectiva, mensagem, informação, produtos da
mídia circulam. Eventualmente, considera-se um segundo movimento
de circulação do produto, após a recepção. Temos aí “respostas”,
novos produtos derivados dos primeiros, re-mediação, remakes,
multimediação, cross-media. Todos esses processos evidenciam que
o círculo do produto é bem mais amplo que a relação “curta” da
emissão à recepção.
Além do que colocamos supracitado, Braga (2012, s/p) ainda discorre
sobre uma nova forma de se observar e entender essa circulação que ocorre a
partir da Internet e de seus fluxos:
Trata-se de substituir a ênfase na produção – e no “produto que
circula” – por uma percepção de circuito mais ampla – procurando
enfocar a observação em nível mais abstrato. A comunicação social
pode ser vista como um fluxo incessante de idéias, informações,
injunções e expectativas que circulam em formas e reconfigurações
sucessivas. À diferença das interações conversacionais, o fluxo
interacional abrangente em uma sociedade não se manifesta como
uma ida-e-volta entre participantes. Na conversação, o que se
entende por “resposta” é uma fala que o receptor “devolve” ao
emissor inicial, na forma de retorno. É freqüente que se enfatize, na
104
Internet, essa capacidade de viabilizar retornos imediatos e pontuais
sobre uma “fala inicial” – adota-se a expressão “interatividade” para
expressar essa possibilidade. Embora efetivamente exista,
entendemos que os processos fundamentais de circulação
midiatizada são de outra ordem – tanto na Internet como nos meios
de massa. Percebemos, então, um fluxo comunicacional contínuo e
adiante. Após a apropriação dos sentidos de uma mensagem
qualquer, seus receptores podem sempre pôr em circulação no
espaço social sua resposta. Essa resposta, independente de um
retorno imediato, segue adiante, em processos diferidos e difusos.
Eventualmente, no conjunto da circulação e pelo embaralhamento
cultural dos múltiplos circuitos, as idéias, proposições, imagens,
posições polêmicas e tendências expressas se reforçam, se
contrapõem, desaparecem ou retornam. O “retorno” que
consideramos relevante, nesse nível, é o do circuito ampliado e não a
volta imediata ao ponto de partida.
Alguns exemplos já podem ser vistos no uso da Internet para a
comunicação turística, como é o caso da Embratur (Instituto Brasileiro de
Turismo), aproveitando-se do momento dos eventos esportivos internacionais
que irão ocorrer no Brasil – Copa do Mundo em 2014 e Olímpiadas em 2016 –
para promover o nosso país no exterior.
Assim, pensando na utilização da Internet, a Embratur criou um jogo no
Facebook para promover o país para os sul-americanos no período póscarnaval. Utilizando da ferramenta virtual da Internet, a rede social Facebook, a
Embratur conseguiu elaborar uma promoção focada a um público objetivo (os
sul-americanos), com certa criatividade e repercussão. Uma tendência que se
mostra cada vez mais utilizada no setor turístico. A promoção se chama
“Encuentra tu color” e o jogo consiste em presentear com uma viagem para
uma das sedes da Copa aquele que melhor esconder o mascote nas fotos, que
possuem paisagens turísticas (imagens fotográficas) do Brasil, como Manaus,
Recife, Brasília e Porto Alegre. O jogo no Facebook vale somente para os
turistas sul-americanos, assim a ferramenta virtual de promoção turística não é
para os brasileiros.
Em nosso trabalho de busca por imagens de paisagens da região de
Parnaíba, utilizamos a ferramenta de busca do Google, para afinar e dar um
foco na pesquisa dessas imagens fotográficas. Foram realizadas, ao longo dos
últimos 03 anos (2010, 2011 e 2012), diversas buscas na ferramenta online do
site do Google, com diferentes palavras de pesquisa: Parnaíba; Turismo em
105
Parnaíba; Delta do Parnaíba; praias de Parnaíba e litoral do Piauí. Assim, com
esses termos escolhidos, foram detectados diversos sites, porém ficamos
atentos à diversidade, repetições e diferenciações de cada objetivo desses
sites encontrados nas buscas realizadas.
Os observáveis, nesse caso, após certa apuração e aprimoramento,
em que utilizamos a ferramenta de busca do Google, ao utilizar algumas
palavras-chave que possam nos fornecer os links que procuramos de sites, ou
redes sociais, com as imagens11 fotográficas de Parnaíba.
Após o exame de qualificação, em que a banca colaborou e indicou um
maior recorte nos observáveis dessa mídia e nas diversas vezes que fizemos o
levantamento na Internet, ao longo desses três anos, pudemos detectar duas
diferentes tipologias (dois tipos) de sites que continham as imagens
fotográficas de Parnaíba: 1 no Flickr e 1 perfil em rede social (Facebook). A
escolha por esses sites está na aparição das imagens fotográficas, nos
objetivos e nas características diferentes desses sites.
Vale ressaltar que após essas apresentações das formas de trabalho,
escolhas e fundamentações dos procedimentos metodológicos iremos abordar
as aplicações e as análises.
Para tanto, segue a análise de cada mídia e as imagens fotográficas
constantes nessas mídias observadas e analisadas, sempre atentos nas ações
de circulação que possam ocorrer, para que posteriormente possamos trazer a
discussão e os resultados das observações da circulação dessas imagens
fotográficas existentes.
11
As imagens fotográficas levantadas durante toda a pesquisa irão aparecer em seguida, quando forem
analisadas nos capítulos subsequentes da tese.
106
3
IMAGENS
FOTOGRÁFICAS
DE
PARNAÍBA
NAS
MÍDIAS:
OBSERVAÇÕES E ANÁLISES
De
acordo
com
Fischer
(2008),
o
cartógrafo/pesquisador
se
“movimenta no território” pesquisado, seu ângulo de observação dos problemas
sofre mudanças ao longo do trajeto, à medida em que vão se incorporando as
desconstruções do percurso. Ao considerar o movimento como essencial à
pesquisa, as verdadeiras diferenças de natureza passam a ser fundamentais,
enquanto diferenças meramente qualitativas se tornam ultrapassadas. O que
nos chama a atenção são as diferenças de natureza, e entre elas aquelas que
nos afetaram, conforme seguimos no método cartográfico. Além disso,
cartograficamente, entendemos como as diferenças de natureza remetem à
diferença de natureza essencial no espaço, entre fluxos e fixos, entre
movimento e congelamento, como proposto por Deleuze (1999).
Desse modo, neste capítulo, iremos abordar as análises e os
resultados que obtivemos a partir dos objetos empíricos levantados ao longo da
pesquisa. Iniciamos com um breve texto geral e depois partiremos para as
análises individuais de cada uma das mídias escolhidas (cartões postais,
folders/folhetos e Internet) e cada uma das imagens fotográficas de Parnaíba
selecionadas e identificadas, nesses materiais catalogados.
A separação e descrição das diferentes mídias funcionaram justamente
para observarmos esses movimentos, congelamentos, fluxos, fixos e o espaço,
como supracitado. Foi importante essa distinção das mídias, no trabalho, para
viajar sobre o material (flâneur), ter e buscar as afetações, e diante disso
perceber a circulação das imagens fotográficas entre elas.
O processo de cartografar e as discussões que ele nos proporcionou
nos levaram a traçar um diagnóstico da realidade, que pôde extrapolar o
campo estrito da Comunicação: ao perceber de onde emanam as informações
sobre as imagens fotográficas, como circulam e como essas mídias interagem
com outras, percebendo também as relações que permeiam não só as relações
comunicativas, mas as relações sociais (principalmente turísticas).
107
No entanto, como já identificados nos referenciais teóricos debatidos e
discutidos em parágrafos anteriores, entendemos que uma fotografia de
paisagem natural ou de um equipamento turístico sem nenhuma pessoa
transmite uma sensação de liberdade, tranquilidade, descanso e ócio ao turista
que pretende viajar, ao invés de uma fotografia composta por pessoas
caminhando, conversando e dançando, que transmite sensação de movimento,
diversão, festa e, talvez, até de novas amizades. Um ponto importante é que
não se pode cair na tentação de transmitir todos os aspectos distintivos do
destino em uma imagem promocional, sob pena de não fazer chegar ao
receptor nenhuma mensagem pela contaminação do espaço fotográfico, que
assim se torna ilegível. Apesar de não ser o foco principal de pesquisa,
observamos outro aspecto significativo das fotografias relacionadas com a
atividade turística são as cores. Pois, certamente, as tonalidades transmitem e
influenciam sensações e emoções relacionadas com o destino fotografado.
Essa observação foi realizada como um aporte ao objeto principal da tese, que
ressaltamos ser da circulação das imagens fotográficas das paisagens e dos
atrativos nas mídias.
É importante destacar que tais fotografias buscam retratar, de certo
modo, a necessidade turística do destino, ou seja, não produzem ou promovem
temas falsos e ilusórios em relação às características socioambientais
existentes, para que não ocorram, desta forma, distorções da imagem através
da percepção dos turistas. Ao visitar a região, “vendida” pela fotografia, através
da mídia acessada, o turista/consumidor verá como é essa paisagem, podendo
evidenciar ou não a imagem fotográfica veiculada.
Observamos também que as fotografias relacionadas com os destinos
turísticos possuem como seu principal propósito informar as características e
atributos dos atrativos turísticos naturais e culturais bem como dos
equipamentos turísticos existentes no destino. Isto ocorre com o intuito de
informar e “persuadir” o turista a viajar até este destino como também de
sensibilizá-lo sobre os principais aspectos socioculturais existentes, obtendo
com isto maior valorização de tais aspectos. Além disso, ações dos outros
sujeitos produtores, pesquisados, de imagens fotográficas, tais como os
108
turistas, inserem suas imagens nas mídias, com outros intuitos, nesse caso
para a divulgação de um passeio feito ou de uma visitação realizada, e recorta,
através da máquina fotográfica, um momento dessa visitação, para posterior
visão de retomada de sua memória e de mostra para seus próximos. Essas
fotografias, através de suas imagens nas distintas mídias utilizadas no turismo,
circulam, ou não, para atingir determinados públicos de determinadas mídias.
A
seguir,
passamos
às
análises
de
cada
mídia
pesquisada
separadamente e, também, demonstrando a proximidade e o distanciamento
das imagens fotográficas contidas em cada uma dessas mídias com relação às
outras mídias pesquisadas.
Para dar um panorama das imagens fotográficas contidas nessas
mídias estudadas, elaboramos tabelas ilustrativas de cada mídia, com as
caracterizações e indicadores que surgiram dessas observações, conforme
solicita o método cartográfico, classificações essas que não foram préestabelecidas e sim que surgiram dessa incessante “viagem” (ao modo de um
flâneur) sobre os observáveis.
3.1 Cartões postais turísticos
Para os fins desse nosso trabalho, foram analisados os cartões postais
que ilustram paisagens de Parnaíba. Esses cartões são geralmente vendidos
nos correios, centro histórico, nas empresas de turismo no Porto das Barcas e
em bancas de revistas, com valores acessíveis ao “bolso do cliente”, em média,
cada cartão postal nos custou R$ 4,00, além disso, alguns deles foram doados
pela prefeitura. Porém, atualmente, há pouca exposição dessa mídia visual ao
adentrarmos nesses locais de venda.
Atualmente, o cartão postal perdeu seu poder de ser um veículo de
comunicação voltado para um foco turístico, com o propósito de divulgação dos
diversos lugares do mundo com sua história, geografia, modo de vida, usos e
costumes de povos e países, urbanismo, meios de transporte e ainda a própria
evolução da fotografia e da indústria gráfica. Hoje ele é um item de coleção, ou
mesmo, uma ferramenta de resgate dos passeios e das visitações realizadas
pelos turistas/visitantes, que os adquiriram.
109
Percebemos que, na maioria dos cartões postais (objetos de estudo),
há ausência da presença humana, a qual não poderia vir a “competir” com o
atrativo principal, a paisagem turística, pois desta forma arriscaria a relação
emissor-destinatário. Além disso, atualmente, os direitos de imagens podem
interferir na veiculação de imagens de pessoas, sendo também um empecilho
para a exposição fotográfica de pessoas em mídias.
A circulação física da mídia, não a circulação midiática, dos cartões se
dá por meios de alguns processos que procedem desde sua criação até seu
destino final. Primeiramente, tem-se a criação, a elaboração, o processo de
produção em série de diferentes postais. Após, são destinados aos mostruários
das bancas de jornal e revistas que, consequentemente, estimularão os turistas
para que os comprem e assim, possam enviá-los, através dos correios, aos
destinatários. Esses cartões postais comunicam as imagens fotográficas dos
locais que o emissor conheceu e para onde ele viajou, podendo fazer com que
o receptor tenha o desejo e a vontade de visitar futuramente essa localidade.
Através
da
tabela
01
observamos
algumas
características
e
indicadores dos cartões apresentados, como uma forma ilustrativa de suas
aproximações, reciprocidades, diferenças e sempre em busca das ações da
circulação das imagens fotográficas. Podemos perceber que determinadas
imagens foram repetidas, tais como: Porto das Barcas, lagoa do Portinho, Delta
do Parnaíba e Pedra do Sal, por serem locais que mais identificam a cidade e,
assim, tornam-se de fácil acesso.
lugares
naturais
lugares
urbanos
presença
humana
delta
praia
noite
dia
Tabela 01: Cartões postais e análise dos indicadores que foram surgindo ao
longo do trabalho
X
X
X
X
X
X
X
X
X
lugares
urbanos
lugares
naturais
presença
humana
delta
praia
noite
Dia
110
X
111
X
X
X
X
X
X
X
X
X
lugares
naturais
lugares
urbanos
presença
humana
delta
praia
noite
Dia
112
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
lugares
naturais
lugares
urbanos
presença
humana
delta
praia
noite
Dia
113
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
lugares
naturais
lugares
urbanos
presença
humana
delta
praia
noite
dia
114
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
lugares
naturais
lugares
urbanos
presença
humana
delta
praia
noite
dia
115
116
X
X
Ao fazer tais inserções da tabela com as imagens fotográficas, é
necessário apresentar ao leitor as descrições do que observamos e um relato
dessas paisagens, para ambientação e conhecimento do que consta nessas
imagens fotográficas. Por conseguinte, conforme o método cartográfico,
fizemos essa “viagem” sobre o material coletado, para dar aprofundamentos,
aproximações e distinções, e na busca, posterior, de relações. Vale ressaltar,
mais uma vez, que não visamos um estudo de semiótica, mas tal análise em
separado de cada mídia nos possibilitou esse aprofundamento e posterior
análise da circulação.
Assim, verificamos que há variações quanto à tipologia das fotografias
no que se trata ao período em que foram tiradas – em sua maioria, pela manhã
(vinte e dois postais), e os demais na parte da tarde (03 postais). Quanto à
presença de pessoas, notamos que praticamente não há a presença de seres
humanos como foco central dos postais, pois a intenção é mostrar determinado
local ou paisagem.
Outra variação marcante é relacionada às características dos lugares
em que se situam, ou seja, se são lugares urbanos ou naturais. Dos vinte e
cinco cartões em análise, doze constam imagens de lugares urbanos, doze de
lugares naturais e Um outro, que pode ser considerado tanto de locais urbanos
quanto de naturais.
Durante a pesquisa, pudemos perceber que os locais de venda dos
cartões postais estão pouco distribuídos, sendo vendidos: no centro histórico
da cidade, no Porto das Barcas, além de bancas de revistas e nos correios.
Porém, aqueles utilizados nesse trabalho também abrangem os que foram
117
adquiridos através de doação da Prefeitura de Parnaíba. Lembramos também
que todos os cartões postais produzidos pela Prefeitura foram enviados por email, sem custo para nós e são os mais atuais, em termos de imagens e de
material. Os valores dos cartões postais se diversificam de acordo com o local
em que são vendidos, não existe um valor tabelado, os que adquirimos por
meio de compra, tiveram em média seu preço em R$ 4,00.
As imagens fotográficas nos postais geralmente repetem os locais,
porém, em ângulos diferentes. Os locais mais empreendidos pelo turismo local
são as praias, o Delta do Parnaíba. As imagens que mais se repetem são das
praias, da lagoa do Portinho e do centro histórico da cidade. Estamos aí
analisando o que, provavelmente, são as paisagens que mais atraem os
visitantes para Parnaíba, uma vez que as grandes atrações vendidas aos
turistas são as praias e o Delta.
Algumas fotos apresentam-se em um plano geral de suas imagens e
outras já possuem um plano focal, ou seja, diferenciam os elementos principais
dos secundários. Podemos verificar, por exemplo, na primeira figura da igreja
Nossa Senhora da Graça (figura 2) e na segunda figura do Monumento da
Independência (figura 3), os quais estão focados em seu elemento principal, o
ponto turístico; o mesmo ocorre com a terceira figura do Cajueiro de Humberto
de Campos (figura 4), e na quarta figura da Estação Floriópolis (figura 5), os
quais estão destacados, enfatizando seu elemento principal.
118
Figura 02: Igreja Nossa Senhora das Graças.
Localizada no centro da cidade de Parnaíba/PI, construída por Simplício Dias, originalmente
em estilo barroco, no ano de 1770.
Figura 03: Monumento da Independência.
Monumento da Independência marca a data de 19 de Outubro de 1822, registrando a
Independência do País no Estado do Piauí.
119
Figura 04: Cajueiro Humberto de Campos.
Cajueiro Humberto de Campos (o jardim e a praça construídos a mais de cinquenta anos atrás)
atualmente é um dos pontos turísticos de Parnaíba.
Figura 05: Estação de Floriópolis.
Conjunto de estações ferroviárias piauienses de fundamental importância para o transporte
urbano e interurbano do Estado no início do século XX.
Em sua totalidade, os visitantes de Parnaíba passam pelos centros
históricos. Porém, os cartões postais disponíveis já não são tão atualizados,
podendo assim deixar a desejar para a comunicação visual da cidade como
potência turística, pois o visitante, ao chegar, pode se deparar com uma
paisagem diferente da exposta na mídia cartão postal.
A proposta dos cartões se detém em mostrar o todo, pois os elementos
secundários estão integrados a esse todo, por isso não há uma necessidade de
120
se prender a um objeto específico, pois o que vale é a informação ampla para a
conquista do turista para o destino, compreendendo que as imagens não
apresentam um foco dominante, mas sim o espaço total.
Podemos exemplificar com a figura do Cajueiro Humberto de Campos
(apresentada anteriormente), que possui um atrativo em destaque, porém isso
não significa que tal elemento seja o foco dominante do espaço integral, e sim
que é apenas um ponto de apoio ou equilíbrio para o espaço, como afirma
Calazans (1984).
Sobre algumas paisagens que aparecem nas imagens fotográficas dos
cartões postais, julgamos importante acrescentar breves relatos do que são e
os motivos de suas imagens estarem nos cartões postais. Assim, começamos
a explicar sobre: A igreja Nossa Senhora das Graças é um monumento
histórico com características arquitetônicas no estilo barroco, situada no centro
da cidade, famosa por seus acervos visuais e, em seus primórdios, visitada
pela elite parnaibana; o Monumento da Independência dá destaque ao
movimento da independência do Brasil no Piauí e está associada à Praça da
Graça (figura 6); a Estação Floriópolis, foi a segunda parada do trem que fazia
linha Teresina para Parnaíba e que tinha intuito de se tornar polis, fato este não
ocorrido, situada entre a escala urbana e natural; Cajueiro de Humberto de
Campos, patrimônio natural, situado na zona urbana (rua Coronel José
Narciso, localiza a herma de Humberto de Campos).
Figura 06: Praça da Graça.
121
Os cartões postais são elementos de divulgação imediata, que causam
no turista o desejo de conhecimento daquilo propagado naquela imagem.
Conclui-se, dessa forma, que tal ferramenta é uma chave para a comunicação
turística de uma cidade, sendo utilizado de uma forma atual, pois se deve
repassar na imagem divulgada o elemento mais próximo do real, para que não
cause depois um sentimento de insatisfação no visitante.
As imagens fotográficas dos cartões postais de Parnaíba, em sua
grande maioria, possuem alto índice de luminosidade (lembramos do foco de
atração turística do município que é o de “Sol e Mar”). Mesmo algumas estando
em fim de tarde, possuem tonalidades fortes e vibrantes em suas cores, com
tendências para amarelo e verde (atentamos que outro tipo de atração turística
é o Ecoturismo). Verificamos que não há, com frequência, presença humana
nos cartões, uma vez que os cartões postais “vendem” a paisagem e as
imagens para diferentes pessoas.
Essa mídia, em termos de imagem, é
impessoal; o que a torna pessoal são os espaços para que os compradores
dessa mídia possam escrever.
Na praia Pedra do Sal (figuras 7, 8 e 9), localizada no município de
Parnaíba, a 15km (quinze quilômetros) do centro da cidade, existe uma vila de
pescadores. Em suas fotos é mostrada a simplicidade do local no cenário
turístico, possuindo alguns barcos rústicos.
Figura 07: Pedra do Sal.
122
Figuras 08 e 09: Entardecer da Pedra do Sal.
O Delta do rio Parnaíba (figuras 10 e 11, a seguir), formado por ilhas e
ilhotas, o com biomas mesclados em paisagens raras, as águas ainda um tanto
quanto limpas, as raízes aéreas dos manguezais, a cata do caranguejo, a
sinuosidade dos igarapés e as dunas, que podem chegar a mais de 40 metros
de altura, podem impressionar turistas e visitantes locais. Acreditamos que o
natural é o foco e, de fato, é isso que a mensagem do cartão imprime, pois não
há outro elemento no cartão a não ser somente o Delta, sem presença
humana, nas imagens a seguir.
123
Figura 10: Delta do rio Parnaíba.
Figura 11: Delta do rio Parnaíba.
A lagoa do Portinho (figuras 12, 13, 14 e 15) também se remete ao plano
do “sozinho”, ou seja, foco somente para a imagem fotográfica da paisagem
natural do lugar.
124
Figura 12: Lagoa do Portinho, com barco de pescador em sua margem e
dunas ao fundo.
Figura 13: Lagoa do Portinho, com suas árvores de carnaúbas presentes na
paisagem.
125
Figuras 14 e 15: Lagoa do Portinho.
O Castelo do Maracujá (figura 16), patrimônio histórico local, é
inspirado na arquitetura dos castelos medievais europeus. Atualmente, o
espaço é ocupado pela Secretaria Municipal de Turismo.
126
Figura 16: Castelo do Maracujá.
Prédio da atual Secretaria Municipal de Cultura e da Secretaria Municipal de Turismo.
Parnaíba, como já citado no começo dessa tese, é importante para o
Estado do Piauí, por sua história, sua localização no litoral e por seu tamanho
populacional. As paisagens urbanas surgem com frequência nas imagens dos
cartões postais, principalmente relacionados aos temas da cultura e da história
da cidade. Surgem em alguns cartões postais as imagens da área urbana da
cidade, tais como: ponte Simplício Dias (figura 17), que fica próxima ao centro
histórico e liga o continente até a Ilha de Santa Izabel; vista da Avenida São
Sebastião (figura 18), principal ligação entre a rodovia BR-343 e o centro da
cidade; além da vista aérea da cidade (figura 19), em que surgem o rio Igaraçú,
a ponte Simplício Dias e parte do continente e parte da ilha. Demonstramos
aqui que, apesar das paisagens notáveis existentes no litoral, do Delta do
Parnaíba e na lagoa do Portinho, existem outras paisagens que são
midiatizadas nos cartões postais da cidade, principalmente relacionados ao
setor urbanizado da região.
127
Figura 17: Ponte Simplício Dias.
Figura 18: Vista Panorâmica da Avenida São Sebastião.
Figura 19: Vista aérea nas proximidades do rio Igaraçú.
Sobrevoo da cidade de Parnaíba, paisagem em plano de voo.
128
O cartão postal é composto de frente e verso. A frente refere-se a uma
imagem a ser divulgada, além de ser a mensagem inicial a ser transmitida. O
verso é vazio, com espaço para escrita, o qual é utilizado para deixar uma
mensagem escrita e o endereçamento postal. Porém, em alguns dos nossos
objetos de estudo existe uma prévia explicação, com um significado do porquê
daquela paisagem ter sido fotografada, algumas com o histórico do lugar.
A cidade de Parnaíba possui um acervo de cartões postais dos pontos
turísticos da cidade. É perceptível que as fotografias dos cartões estão
“preocupadas” em mostrar as imagens das paisagens locais, um pouco da
paisagem vivida pela população local, imagens dos artesanatos e a natureza,
fazendo assim uma associação do cultural, social e ecológico.
Percebemos que os modelos dos cartões se repetem de forma intensa
e ainda há uma repetição dos locais fotografados; encontra-se a identificação
geralmente no canto inferior esquerdo e no verso do cartão postal, alguns
apresentam um pouco do histórico daquele atrativo turístico em seu verso.
Como já analisamos e descrevemos em parágrafos anteriores as
imagens fotográficas mais disseminadas são as do litoral: lagoa do Portinho, a
praia Pedra do Sal e o Delta do Parnaíba, porém se vê algo sobre o artesanato
local (figuras 20 e 21), sobre o Porto das Barcas (figuras 22 e 23), o
monumento do Centro Cívico (figura 24) e os patrimônios culturais, também
consideramos pontos fortes para o turismo da cidade. Além disso, existem dois
cartões postais diferenciados dos demais, pois apresentam mosaicos de
paisagens distintas e diferentes da cidade de Parnaíba (figuras 25 e 26), onde
algumas delas se repetem, se parecem com as demais em termos de
localizações que já foram fotografadas em outros cartões postais.
129
Figuras 20 e 21: Representa o artesanato de Parnaíba.
Figura 22: Porto das Barcas, visão de um angulo superior.
130
Figura 23: Porto das Barcas.
Figura 24: Centro Cívico.
131
Figuras 25 e 26: Mosaico de imagens fotográficas de paisagens diferentes de
Parnaíba.
Mosaico de imagens fotográficas de paisagens de Parnaíba. Ambos os cartões postais
representam atrativos e pontos principais da cidade de Parnaíba.
Para Siqueira e Siqueira, “o postal é ambíguo, cujos significados são
flutuantes como é o próprio imaginário dos turistas” (SIQUEIRA e SIQUEIRA,
2011, p. 04). Borges comenta que “os cartões postais, hoje peças cruciais dos
acervos das cidades, são documentos que tanto informam quanto permitem a
análise do espaço público” (BORGES, 2003, p. 172).
Nessa perspectiva do acervo dos cartões postais, sendo cruciais ao
documentarem as imagens da cidade, é que buscamos verificar as
proximidades e as diferenças dessas imagens fotográficas colocadas em cada
um desses cartões. Assim, foram identificados nos cartões postais fotografias
132
mostrando o cotidiano local e os elementos que compõem esse cotidiano,
como os barcos de pesca à beira da praia, o centro sendo apresentado por
vista aérea, a praça central sendo mostrada em algumas perspectivas, entre
outros elementos. Em sua maioria, como já relatamos, são fotos diurnas, em
áreas urbana e natural, sem presença humana, e, vale ressaltar, que possuem
diferentes ângulos e outros até com uma visão panorâmica do local. Isso pode
significar que a fotografia é um elemento que transporta a vivência local para
aquele indivíduo que está fora daquela rotina (turista), ou seja, é uma forma de
envolver o turista com a realidade e os costumes locais.
Tais argumentos retratam como o turismo se relaciona com a imagem,
e os postais são ferramentas visuais de comunicação que canalizam e
transmitem, de certa forma, as vivências locais.
Porém, acreditamos que o cartão postal vem sendo esquecido, pois ao
procurar esse material para pesquisa, além de serem poucos os locais, os
vendedores nos disseram (informalmente) que há pouca saída desses cartões
postais, até mesmo sua utilização vem diminuindo, fato este decorrente,
provavelmente, das novas tecnologias e da rapidez que elas oferecem ao
processo de comunicação, satisfazendo de uma forma mais intensa a clientela,
em uma sociedade midiatizada.
Passeamos sobre as imagens fotográficas nas mídias selecionadas, ao
observar a circulação, cartografando a circulação como flâneur. É necessário,
analisarmos e observarmos as outras mídias, para que essa investigação da
circulação das imagens ocorra.
Assim, a seguir, verificaremos o outro componente do corpus da
pesquisa levantado que são os folders. Buscamos verificar em todas as mídias
pesquisadas as proximidades das imagens e as diferenças, sempre tratando
com atenção a circulação dessas imagens.
133
3.2 Folders de empresas de turismo
Os folders devem estabelecer uma relação de comunicação com os
diversos receptores, propagando os produtos que as agências possuem e as
localidades (paisagens) que esses passeios irão proporcionar. Utilizando a
ferramenta de marketing de forma a estimular a promoção do destino e, assim,
apresentar as características dos produtos e dos locais, constando imagens
que favoreçam uma destinação específica, estimulando-os à decisão de
compras e viagens.
Nas análises das imagens fotográficas dos folders de Parnaíba,
elaboradas pelas agências de turismo do próprio município, percebemos que
há um funcionamento da circulação das imagens fotográficas. Os elementos
escritos e, principalmente, os elementos visuais, permitem destacar os efeitos
existentes a construir as imagens que caracterizam as atratividades da cidade.
Elaboramos, para uma melhor visualização das imagens, desse
material catalogado e do que separamos como mais relevantes itens
observados nessa mídia, uma ilustrativa (tabela 02), abaixo, com indicadores
de classificação do que foi surgindo ao longo dos olhares sobre o material
empírico,
como
uma
forma
esclarecedora
de
suas
aproximações,
reciprocidades, diferenças e na busca da circulação das imagens fotográficas.
134
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Delta
praia
Lugar
natural
Lugar
urbano
Presença
humana
Noite
Dia
Tabela 02: Folders e análise dos indicadores que foram surgindo ao longo da
pesquisa
x
135
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Os atrativos turísticos que mais se sobressaem relacionam-se às
belezas naturais, como podem ser vistas nas figuras 27 e 28 (folder 1) e figura
29 (folder 2). Na figura 30 (folder 3), essa ênfase é maior por destacar um
mapa ilustrativo do Delta do Parnaíba, além de explicar de forma sucinta e
objetiva sobre o destino e o acesso a este.
136
Figura 27: Folder 1. Fotos, mapa reduzido da cidade de Parnaíba e a capa.
Fonte: Igaratur.
Figura 28: Folder 1. Foto de embarcação usada pela empresa e mapa
ilustrativo do Delta.
Fonte: Igaratur.
A imagem do Delta, que se apresenta como o atrativo de maior
importância do turismo em Parnaíba, é feita ainda pela divulgação tanto na
parte escrita quanto na sua foto, das variadas espécies de animais e das
vegetações, além de dunas e praias que se fazem presentes.
137
Analisando sobre a ênfase em divulgar as belezas naturais,
percebemos a redução do espaço que realmente deveria destinar-se à
atividade turística, pois a propaganda da cidade limita-se ao Delta e, por isso,
não apresenta os demais atrativos naturais e histórico-culturais existentes e
que também possuem grande potencial no turismo, como a praia, a lagoa,
entre outros. Assim, limitou a circulação das demais imagens fotográficas, das
outras paisagens existentes na região, como observamos nos cartões postais.
Figura 29: Folder 2. Imagem fotográfica do Delta e desenho sobre imagens
fotográficas, paisagens e animais da região de Parnaíba.
Fonte: Clip Turismo.
Na figura acima, observamos os aspectos naturais, as suas belezas, o
contato e presença dos seres humanos com a flora e a fauna e destaca-se o
passeio, os turistas que ali foram fotografados, no ato da visitação, remete a
certa “aventura” em meio à natureza.
Contudo,
fica
claro
que
essas
características
apresentadas
anteriormente não se restringem aos atrativos de Parnaíba, mas à interação
entre os três Estados: Ceará, Piauí e Maranhão, que divulgam os destinos
comuns, respectivamente, Jericoacoara, o Delta e os Lençóis Maranhenses.
A figura 30 (folder 3) é outro exemplo de como a divulgação do
município de Parnaíba, através de suas agências, ainda é mínima e não
138
enaltece as demais atratividades que possui. Poucas imagens se repetem com
relação aos outros folders catalogados e analisados.
Figura 30: Folder 3. Mosaico de imagens fotográficas de diversas paisagens
diferentes.
Fonte: Ecoadventure Tour.
Acreditamos que as imagens que os dois folders, citados acima,
apresentam como o atrativo de maior importância da cidade é o Delta. Há
ainda outro aspecto relevante: a promoção dos destinos de outras localidades.
Dessa forma, entendemos que as agências de turismo da cidade parecem não
elaborar pacotes que despertem o interesse dos turistas em conhecer os outros
destinos turísticos de Parnaíba. O que fazem é transmitir informações sobre
outros locais, de outras regiões e outras cidades que não a de Parnaíba.
No entanto, destaca-se na contracapa do folder 3, figura 31, a
presença de um mapa que ilustra como ter acesso às diversas localidades que
se
apresentam
na
chamada
Rota
das
Emoções,
composta
por
Jericoacoara/CE, Delta do Parnaíba/PI e Lençóis Maranhenses/MA, e ainda,
mostram as atividades turísticas e de aventura que podem ser desenvolvidas:
Surf, Wind surf, Kite surf, cavalgada, passeios náuticos, entre outros.
139
Figura 31: Folder 3. Imagem ilustrativa, mapa do litoral norte da região
nordeste do Brasil, mostra-se desde o Maranhão até o Ceará.
Fonte: Ecoadventure Tour.
Com relação ao folder 4, figura 32, 33, 34 e 35, ilustrado abaixo, há a
identificação de outro destino turístico existente em Parnaíba, chamado Porto
das Barcas. Um atrativo que merece destaque, pela mídia folder, tanto como o
Delta do Parnaíba, tão citado anteriormente.
O Porto das Barcas possui algumas atratividades relacionadas à
visitação turística que são apresentadas no próprio folheto como fonte
divulgadora. A imagem fotográfica também enaltece as suas formas
arquitetônicas, como, por exemplo, praça de eventos, auditório, galeria de arte,
artesanato, restaurantes, bares, sorveteria e outros.
140
Figura 32: Folder 4. Imagens fotográficas do Porto das Barcas, uma versão da
imagem noturna e outra versão de dia, no mesmo lado do folder.
Fonte: Associação Comercial de Parnaíba.
Figura 33: Folder 4. Imagem de um ângulo superior, muito provavelmente feita
de cima da ponte Simplício Dias, dos prédios históricos do Porto das Barcas,
além disso, o folder contém um mapa ilustrativo do local.
Fonte: Associação Comercial de Parnaíba.
141
Figura 34: Folder 4. Imagem fotográfica produzida a partir do rio Igaraçú do
prédio principal do Porto das Barcas, contém parte escrita sobre a história do
local e seus potenciais turísticos.
Fonte: Associação Comercial de Parnaíba.
Figura 35: Folder 4. Outra imagem fotográfica feita a partir do rio Igaraçú de
outro prédio do Porto das Barcas, também contém parte escrita sobre o local.
Fonte: Associação Comercial de Parnaíba.
Vale registrar que este folheto (folder 4) busca, de certa forma,
divulgar, não apenas a imagem e as atrações do destino, mas também a
relevância que essa mídia pode representar na contribuição significativa para a
história de Parnaíba, apresentando alguns aspectos que identificam o marco
inicial do surgimento da cidade e seu conjunto arquitetônico, como pode ser
142
visto nas imagens fotográficas que o compõem, conforme imagens já
demonstradas acima.
Percebemos ao longo dessa pesquisa que as agências de turismo de
Parnaíba pouco utilizam esses materiais (mídia), os folders turísticos, como
fonte de divulgação da cidade e de seus produtos. E ainda, vale ressaltar que
existe certa quantidade de repetições dessas peças, demonstrando que as
imagens fotográficas de certas (poucas) paisagens circulam entre as diferentes
mídias pesquisadas, com as imagens dos poucos e mesmos destinos
turísticos.
Ao fazer uma análise dos folders e obter uma percepção da
midiatização das fotografias turísticas da cidade de Parnaíba que foram
detectadas, observamos a pouca utilização dessa mídia como mecanismo de
comunicação e transmissor de informações necessárias na divulgação dos
atrativos (paisagens) mais diversificados.
Dessa forma, podemos ter como um dos resultados indiretos que a
relação entre a imagem fotográfica e o turismo exerce um papel importante na
propagação e no conhecimento de uma determinada localidade turística.
A fotografia, por meio das novas técnicas e tecnologias, permite maior
estímulo e interesse das pessoas em se deslocarem do seu lugar de origem
para outras regiões, pois torna possível relembrar a visita, os passeios e os
lugares.
A partir da análise dos folders, constatamos que, das dezesseis
agências existentes no município, apenas 04 possuíam em sua mídia, folder,
imagens fotográficas de paisagens de Parnaíba, que puderam contribuir para a
análise deste nosso trabalho. Além disso, foi possível verificar, indiretamente,
que estas agências não se preocupam somente em divulgar as imagens
fotográficas de Parnaíba, mas de outras regiões próximas como: Jericoacoara
e os Lençóis Maranhenses, transparecendo, de certa forma, uma não
valorização da própria cidade em que se situam.
Vale ressaltar que, além da maioria dos folders turísticos, elaborados
pelas agências, apresentar mais imagens e informações sobre outras
143
localidades, a quantidade desses materiais é reduzida. A repetição das
imagens demonstra uma circulação breve e curta das poucas localidades
(paisagens), podendo dificultar ainda mais o acesso e conhecimento deste e de
outras localidades na própria cidade de Parnaíba.
Isso foi importante, para se analisar o princípio da circulação em tal
mídia, dando o início ao “passeio” sobre as imagens contidas e a sua relação
com imagens fotográficas das outras mídias estudadas, como flâneur.
Desse modo, indiretamente, podemos considerar que o município tem
potencial de produtos e paisagens turísticas para serem veiculadas pelas
mídias específicas aos turistas e deve haver informações relevantes, diferentes
e distintas, estabelecendo uma comunicação turística eficaz com seus
receptores de forma que se sintam motivados a se deslocarem para a
localidade.
3.3 Internet: nova ordem das imagens fotográficas
Os cartões postais surgiram na época das imagens fotográficas
analógicas, uma época em que os cartões postais eram um dos únicos meios
de divulgação das imagens dos locais visitados e importantes para os
viajantes. Esta mídia (cartões postais) perdeu um pouco de sua importância
para as fotografias digitais, que, como a Internet, é dessa época digital. Os
turistas, ao visitarem uma localidade, utilizam suas máquinas fotográficas, ou
mesmo embutidas em celulares, para realizar diversas e inúmeras fotografias,
às vezes centenas de fotografias em uma mesma viagem. Após isso,
armazenam essas imagens fotográficas em seus computadores, tablets,
pendrives e CDs. Utilizam da Internet para postar esses arquivos em seus
flogs, blogs ou em seus perfis nas diferentes redes sociais, compartilhando,
desse modo, com seus diferentes contatos virtuais, algumas dessas imagens
que produziu e captou em suas máquinas fotográficas digitais.
A Internet, assim como as demais mídias, pode atingir públicos
variados, em qualquer lugar do planeta. Através desta mídia, comunica-se o
potencial turístico de uma localidade, assim como os meios de hospedagem e
144
demais setores que compõem o turismo para todo o mundo. Os
administradores dos setores turísticos parecem ter entendido a influência e o
benefício que esta mídia pode causar através dessa ferramenta de
comunicação tão importante atualmente.
Com a Internet, a quantidade de informações é virtualmente ilimitada e
armazenada em websites, tendo um número ilimitado de utilizadores, podendo
ter acesso a qualquer momento e de qualquer parte do mundo. Com isso,
podemos argumentar que a Internet surgiu como um meio bastante denso para
a comunicação de destinos turísticos. Segundo Marujo (2008, p. 23), a Internet
como meio de comunicação proporciona as seguintes vantagens às
organizações promotoras do turismo:
Pode chegar a um grande número de consumidores em todo o
mundo com informação a um custo relativamente baixo; divulga
informação mais completa e de mais qualidade em relação à
informação de material impresso; pode gerar reservas de forma
rápida e fácil; melhora as comunicações e as relações e, finalmente,
permite uma redução dos custos na produção e distribuição do
material impresso.
A Internet surgiu com o desenvolvimento da tecnologia, gerando
oportunidades para turismo e principalmente para as empresas do setor. A
busca pela informação e a competitividade foram fatores importantes para que
as localidades e as empresas se atualizassem para se manterem no mercado.
Com essa evolução, surgiu, por exemplo, o comércio eletrônico, possibilitando
a distribuição de produtos e serviços (também as imagens fotográficas das
localidades turísticas) entre clientes, empresas e fornecedores. Além disso, a
utilização das redes sociais permite o acesso aos potenciais e atuais clientes.
Podemos dizer que a Internet possibilita uma disseminação rápida de
informações, permitindo que as organizações públicas e privadas do turismo
possam melhorar a sua eficiência, oferecendo novos produtos e serviços onde
os consumidores, através dos mecanismos de mercado, manifestam a sua
preferência. “O turismo e a Internet são uma combinação frutífera” (MARUJO,
2008, p. 05).
145
Com o reforço da mídia Internet acreditamos que se torna mais eficaz o
transmitir e passar as mensagens e imagens de algum lugar. A mídia Internet
junto à imagem reproduz os aspectos de ideias e impressões que cada pessoa
tem em relação a um elemento em uma percepção adiantada. Assim, o poder
da
imagem
pode
encantar
visitações
e,
quem
sabe,
auxiliar
no
desenvolvimento dessa atividade (turismo) através dos meios de comunicação.
A Internet, enquanto instrumento de promoção para o turismo, é um
meio de comunicação que não deve ser ignorado. Contudo, ela não deve ser
vista como um substituto para outras atividades promocionais ou outras mídias,
mas sim como um complemento das já existentes.
Foram realizadas diversas “visitas” à Internet, na busca de definir os
observáveis desde o princípio dessa temática levantada ao longo da tese. No
começo de nossa seleção de sites, ficamos com 04 sites, porém, após revisão
e contribuições da banca examinadora do Exame de Qualificação, decidimos
por apenas 02 desses sites como corpus de observação na Internet. O foco
ficou por conta principalmente das imagens fotográficas que estão contidas
nesse outro componente do corpus da tese. Somente após isso visto é que
analisamos essa circulação das imagens selecionadas.
A seguir, seguem a análise e a descrição sobre esses sites e sobre as
imagens fotográficas de Parnaíba com as quais cada um deles conta. Além das
motivações que nos fizeram selecioná-los para essa complexa análise da
circulação, posterior, das imagens fotográficas na Internet.
3.3.1 Primeiro site (perfil no Facebook)
Em visitas constantes na rede social Facebook, buscamos no recurso
de compartilhamento as palavras “Parnaíba” e “litoral do Piauí”. Acabamos,
assim, por descobrir algumas exibições feitas pelo usuário Juscelino Miguel
dos Reis, como ele se denomina no Facebook. Ele se apresenta como natural
da Cidade de São Miguel do Tapuio/PI, residindo na capital Teresina/PI. Tem
como profissão Design, Artista Plástico e Fotógrafo. Demos continuidade em
observações constantes em seu perfil, observando algumas de suas fotografias
postadas. Notamos que trabalha exclusivamente com o nordeste brasileiro,
146
demonstra, na maioria de suas imagens fotográficas postadas, características
das belezas naturais, os elementos rústicos de ambientes e texturas áridas dos
sertões do nordeste brasileiro.
As postagens de fotos na página do usuário foram feitas praticamente
todos os dias, em horários diversos. Contudo, fotos da cidade de Parnaíba já
não foram postadas e nem atualizadas desde o começo do mês de dezembro
de 2012, conforme observamos na página desse usuário do Facebook. A
página foi visitada com os fins acadêmico-científicos, ao menos sete vezes, ao
longo dos meses de: março/2012, maio/2012, julho/2012 e dezembro/2012, nas
datas de: 23 de março de 2012, 10 de maio de 2012, 25 de maio de 2012, 02
de julho de 2012, 10 de julho de 2012, 11 de dezembro de 2012, 16 de
dezembro de 2012 e 17 de dezembro de 2012. Após buscarmos em diferentes
sites dados para elucidar nosso corpus, verificamos que esta rede social,
dentre os sites levantados, possui grande influência entre os internautas, não
apenas pelos recursos de entretenimento que o Facebook proporciona, mas,
também, pelas inúmeras postagens e diferentes formas de informação (escrita,
imagens fotográficas, desenhos, vídeos, sons, entre outros). Vale ressaltar
ainda a popularidade desta rede social no Brasil, que vem ganhando adeptos a
cada dia.
O perfil escolhido nos despertou o interesse devido às imagens ali
contidas, as quais acreditamos que possam promover, indiretamente, a
divulgação de alguns pontos turísticos e paisagens notáveis de Parnaíba. Tais
postagens propalam as imagens fotográficas da localidade nesta rede social.
Além disso, também captamos, indiretamente, certa relação do que o turista faz
no local (quais passeios ele consome, quais paisagens ele visita), o que ele
fotografa e o que esse usuário da rede social faz com a imagem produzida
(postagem, álbuns, compartilhamentos, entre outros).
Em sua página na rede social, Juscelino possui alguns álbuns de fotos.
Dentre eles, destacamos como variável de interesse para este nosso trabalho o
que ele denomina como “litoral do Piauí”. Para chegarmos até este álbum, no
perfil selecionado, foi necessário utilizar o aplicativo de busca de usuários no
Facebook. Solicitamos busca por “Parnaíba” e alguns perfis surgiram. Ao
147
investigarmos alguns, selecionamos este, pois Juscelino não é de Parnaíba, e,
ao visitar a cidade, esse turista escolhe o que fotografar e o que mais lhe
chamou a atenção, muitas vezes sem a intenção de venda da paisagem, mas
sim a vontade de fotografar para si e para mostrar aos seus contatos por onde
ele passou e o que mais lhe encantou.
Para que pudéssemos encontrar esse mesmo álbum, podemos indicar
que, na mesma ferramenta de busca do Facebook, o usuário com o nome
registrado no perfil “Juscelino Miguel dos Reis”, a partir daí, entrará na página
pessoal e optando por clicar no ícone de fotos, chegando até o álbum
denominado “litoral do Piauí”. Este álbum possui um total de trinta e sete fotos,
sendo vinte com imagens do município de Parnaíba, apresentada de diferentes
locais, desde sua praia (Pedra do Sal), o Delta e a área urbana com suas
especificidades e características, sempre com um foco mais ampliado da
paisagem (na busca do horizonte da paisagem), em que Juscelino faz de vista
aérea.
Como já utilizamos da metodologia de apresentação em tabela, segue
abaixo a tabela 03 com as imagens fotográficas catalogadas no perfil
selecionado, com os indicadores de classificação que surgiram ao longo da
observação de todas as imagens do nosso material.
x
x
Delta
praia
Lugar
natural
Lugar
urbano
Presença
humana
Noite
Dia
Tabela 03: Imagens fotográficas do perfil do Facebook e apresentação dos
indicadores que foram surgindo ao longo da observação.
148
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x
x
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152
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x
x
x
x
153
Sobre a tabela com as imagens fotográficas, novamente colocamos
que julgamos ser necessária para apresentar as descrições do que notamos e
do que surgiu dessas paisagens, para aproximar do que consta nessas
imagens fotográficas na mídia e das diferentes mídias. De imediato, conforme a
“cartografia”, realizamos esse “passeio” sobre as imagens selecionadas, para
justaposições, diferenciações e na procura de relações.
É interessante reparar nessas imagens postadas no Facebook, no
perfil de Juscelino, que ele se ateve a muitas imagens aéreas, em um plano
aberto, se aproximando inclusive de imagens já postadas nos cartões postais.
Reparamos uma grande similitude nessas imagens, nos transparecendo certa
circulação de imagem fotográfica e a ação de divulgar o “eu estive lá”.
Uma das paisagens mais fotografadas por Juscelino foi a praia Pedra
do Sal (figuras 36, 37,38 e 39) e um fato que nos chamou atenção foi um
comentário de um dos contatos virtuais de Juscelino, feito sobre uma dessas
imagens fotográficas da praia Pedra do Sal: “A Pedra do Sal é o Cartão Postal
de Parnaíba, sempre linda”. Percebemos nesse comentário que uma imagem
na mídia Internet possui uma alusão a outra mídia, cartão postal.
Demonstrando, inclusive o fato do cartão postal ser marcante e de ser um
ícone de belas imagens e de recortes da paisagem.
Figura 36: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, com o foco na “pedra”,
apresentando a estrutura de barracas e a estrada ao fundo.
154
Figura 37: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, também com o foco na
“pedra”, porém com a paisagem em um plano mais aberto, apresentando a
estrutura de barracas e a estrada ao fundo.
Figura 38: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, apresentando a parte das
ondas mais fortes do setor da praia em um plano mais ampliado.
Figura 39: Imagem aérea da praia Pedra do Sal, apresentando a ponta da
praia e os detalhes mais fechados para as barracas dos bares.
155
Um fator que nos chamou a atenção no álbum de imagens no perfil foi,
além das imagens aéreas, muitas fotografias produzidas da área urbana de
Parnaíba, pouco utilizada nos folders, mas que, nos cartões postais surge com
maior frequência. Imagens da paisagem urbana (figuras 40, 41, 42, 43, 44, 45,
46, 47 e 48) foram feitas de diversos ângulos, captando a estrutura municipal e
apresentando as características urbanísticas da cidade.
Figura 40: Imagem aérea da Avenida São Sebastião, sentido bairro-centro,
principal Avenida que liga a BR-343 ao centro e a região mais antiga da cidade.
Figura 41: Imagem aérea da Avenida São Sebastião, sentido centro-bairro.
156
Figura 42: Imagem aérea da região central de Parnaíba, com destaque para a
Praça da Graça ao centro da fotografia e da visão aberta e ampla captada na
imagem.
Figura 43: Imagem aérea da região central de Parnaíba, apresentando a
região da Avenida Getúlio Vargas, que interliga a antiga Estação de Trem com
o Porto das Barcas.
157
Figura 44: Imagem aérea do colégio e da Praça do Centro Cívico, com
destaque para a arquitetura antiga da edificação do colégio.
Figura 45: Imagem aérea da Ponte Simplício Dias, com o rio Igaraçú e o Porto
das Barcas também em destaque no centro da fotografia.
158
Figura 46: Imagem aérea da região central da cidade, destaque para as
antigas edificações, potencial turístico para um turismo histórico-cultural.
Figura 47: Imagem aérea ampliada da área urbana do município de Parnaíba,
uma imagem fotográfica que não se repete nas outras mídias com tanta
amplitude do horizonte urbano.
159
Figura 48: Imagem aérea ampliada da área urbana do município de Parnaíba,
uma imagem fotográfica que não se repete nas outras mídias.
As imagens fotográficas do Delta do rio Parnaíba (figuras 49, 50, 51, 52
e 53) surgem no perfil de Juscelino, assim como nos folders e nos postais.
Percebemos aí certa circulação12.
Figura 49: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação de
praias no braço do rio e ao fundo vista da vegetação nativa.
12
No próximo capítulo daremos continuidade nas análises e trataremos sobre essa circulação midiática,
além dos mapas/cartas dessa circulação.
160
Figura 50: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação de
praias no braço do rio.
Figura 51: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação de
praias no braço do rio e vegetação típica de regiões de dunas.
Figura 52: Imagem aérea de dunas do Delta do Parnaíba, com formação de
praias no braço do rio e o horizonte na fotografia.
161
Figura 53: Imagem aérea de um dos braços dos rios distributários que formam
o Delta do Parnaíba, detalhe para uma pequena ilha fluvial.
Uma paisagem notável que surgiu na região do município de Parnaíba,
nos últimos anos, é a da usina eólica (figura 54), com os grandes geradores
aéreos que tomam conta da paisagem. Juscelino captou através de sua
máquina fotográfica a imagem dessa paisagem e apostou em seu perfil no
Facebook, o que a difere das imagens fotográficas contidas nos postais e nos
folders. Existe, assim, uma distância entre a circulação dessa imagem
fotográfica das demais produzidas e veiculadas pelas outras mídias, ficando
restrita apenas à mídia Internet.
Figura 54: Imagem aérea dos geradores da usina eólica, localizada próxima à
praia Pedra do Sal, uma nova característica da paisagem.
162
Por fim, a última imagem fotográfica que iremos apresentar, das que
foram postadas por Juscelino, diz respeito a uma paisagem que não consta nos
cartões postais e muito menos nos folders, que é a imagem fotográfica feita do
aeroporto do município de Parnaíba (figura 55). Aeroporto esse que é
fundamental para a realização da atividade turística, mas que, pelo percebido,
não está presente, como imagem, nas outras mídias, causando certo
estranhamento em nós, pois para que o Turismo ocorra é necessário estrutura
de transporte e a veiculação da existência de tal local é necessária. A imagem
postada por Juscelino é referente ao transporte que ele utilizou para fazer as
imagens do seu passeio.
Figura 55: Imagem do helicóptero que foi utilizado no passeio de Juscelino e
ao fundo o prédio do aeroporto de Parnaíba.
Ressaltamos que através dos comentários postados nesse álbum e do
ícone “compartilhar” no Facebook, pessoas que possuem amigos ou até
mesmo moram fora da cidade de Parnaíba, acabam por divulgar através
dessas ferramentas as imagens compartilhadas do município para diversas
outras pessoas, tudo isso de forma bem prática e rápida, fazendo circular as
imagens fotográficas de Parnaíba pela Internet e em diferentes perfis.
3.3.2 Segundo site (Flickr: rede social de imagens)
Outro
site
escolhido
para
a
pesquisa
foi
o
seguinte:
(http://www.flickr.com/groups/parnaibafotoclube/pool/). O Flickr é um site de
compartilhamento e gerenciamento online de fotos, uma rede social de
163
imagens, usado no mundo todo. A escolha do site se deu através de uma
busca aleatória, na ferramenta do Google, onde selecionamos este site
supracitado por veicular imagens fotográficas de Parnaíba e por ser um tipo de
site diferente dos outros que observamos para fazer a seleção final. Para a
análise, foram realizados vários acessos com a finalidade de explorar o site em
sua totalidade.
Este site nos chamou a atenção, pois no Flickr existe uma variedade de
imagens fotográficas postadas por diferentes pessoas. O site tem por objetivo
ajudar as pessoas a encontrar fotos ou vídeos de outras pessoas na Internet
(possui link com o Facebook e o Google+, duas redes sociais mundiais). Neste
site é possível que as pessoas retirem e coloquem fotos ou vídeos a todo o
momento da Internet, usando dispositivos móveis, dos computadores
domésticos dos usuários e de qualquer software que estiverem usando para
gerenciar seu conteúdo.
De acordo com o site do Flickr:
[...] é possível permitir que seus amigos, família e outros contatos
organizem suas coisas – não apenas adicionem comentários, mas
também notas e tags. As pessoas gostam de dizer oh! e ah!, rir e
chorar, fazer piadas quando compartilham fotos e vídeos. Por que
não oferecer a elas a possibilidade de fazer isso quando vêem as
fotos pela Internet? E, à medida que essas informações crescem
como metadados, você poderá encontrar as coisas facilmente mais
tarde, uma vez que toda essa informação pode ser buscada.
Ao pesquisarmos com a palavra “Parnaíba” no local especificado no
site para buscas, apareceram alguns perfis, mas surgiu um grupo, o qual foi
selecionado por nós para fazer parte desse recorte na Internet. No Flickr, o
grupo chamado “Parnaíba Foto Clube” foi o que selecionamos. Várias são as
fotografias postadas nesse grupo, que possuía vinte e um membros até o fim
de 2012, época que fechamos nossos observáveis para analisar e observar.
Para a relevância desse nosso trabalho, foram analisadas apenas as
fotografias postadas com imagens do município de Parnaíba, uma vez que
existem, na totalidade, no álbum do grupo, duzentas imagens fotográficas,
porém a grande maioria não se refere a imagens fotográficas do município de
164
Parnaíba, ou é somente de rostos de pessoas conhecidas do grupo. Alguns
desses colaboradores do grupo (alguns deles não são parnaibanos), seguindo
as postagens mais recentes, os colaboradores não atualizavam com tanta
frequência os seus perfis no grupo e, por consequência, as imagens.
Ressaltamos que as imagens de Parnaíba não estão destacadas no
grupo no Flickr das demais fotos de outras localidades, sendo assim, mesmo
que as imagens fotográficas de Parnaíba possam surgir, elas não têm
destaque exclusivo, ou mesmo uma distinção de outras fotografias de
paisagens distintas. Consideramos, assim, que mesmo que o grupo “Parnaíba
Fotoclube” leve o nome do município na Internet e, mais, trabalhe em um site
específico de imagens fotográficas, não faz distinção de quais paisagens e de
quais localidades são essas imagens fotográficas.
Assim, no total, analisamos vinte e cinco imagens fotográficas que
estavam na listagem desse grupo e que continham imagens do município de
Parnaíba, sendo que somente na legenda dessas fotografias é que estavam
marcados como sendo imagens de Parnaíba, não havendo um espaço
específico na página do grupo para o município de Parnaíba. Cada colaborador
do grupo possui sua temática de fotografia em diferentes características. As
imagens fotográficas são caracterizadas em: eventos, atrativos turísticos,
feiras, cultura local, natureza, entre outros temas que surgem. Não ficamos
focados em um único tipo de característica, mas analisamos e observamos
aleatoriamente algumas dessas imagens contidas no grupo do Flickr escolhido.
Antes de apresentar essas imagens fotográficas e a construção da
tabela (tabela 04), conforme fizemos em todos os outros observáveis, frisamos
que os observáveis e o objeto empírico Internet foram classificados e definidos
ao fim do ano de 2012. Assim, se houve qualquer atualização desses sites, não
puderam contribuir com nossa análise e discussões após essa data. O período,
portanto, de classificação e aprimoramento visando à observação aprofundada
também veio após as considerações da banca de Exame de Qualificação, com
relação a estes observáveis na Internet, em específico a este recorte do Flickr
e ao grupo que frequenta esse espaço virtual.
165
Assim, seguindo os modelos propostos em nossa metodologia de
trabalho, para facilitar nossa observação dessas imagens fotográficas,
utilizamos de apresentação em tabela, que segue abaixo. As imagens
fotográficas foram relacionadas no grupo do Flick escolhido, com as
categorizações que brotaram ao nosso olhar, ao longo da análise de todas as
imagens do nosso material.
Delta
praia
Lugar
natural
Lugar
urbano
Presença
humana
Noite
Dia
Tabela 04: Imagens fotográficas do grupo do Flickr e apresentação dos
indicadores que foram surgindo ao longo da observação.
x
x
x
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166
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x
x
x
x
x
x
x
173
x
x
Ao apresentarmos a tabela acima, surgiram as imagens fotográficas e
para seguir a nossa metodologia de pesquisa e de análise, abaixo, faremos
uma breve descrição dessas imagens.
Nas figuras 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62 e 63 surgem paisagens e
imagens do Delta do rio Parnaíba, localização bastante difundida nas diferentes
mídias, como percebemos.
Figura 56: Imagem de dentro de uma embarcação, ao fundo um dos rios
distributários que formam o Delta e uma embarcação típica da localidade.
174
Figura 57: Imagem de dentro de uma embarcação, ao fundo um dos rios
distributários que formam o Delta.
Figura 58: Um dos braços do Delta, com as dunas típicas da região em
primeiro plano e em segundo plano uma embarcação e um pescador.
Figura 59: As carnaúbas.
Vegetação típica do município e que surgem em abundância no Delta do rio Parnaíba.
175
Figura 60: Paisagem típica do Delta, com um braço de rio distributário, as
dunas se aproximando da água e a vegetação abundante. Além disso,
formação de ilhas no rio.
Figura 61: Um dos diversos braços de rio do Delta, com mangues (vegetação
local) e os pescadores.
Figura 62: Um dos diversos braços do Delta, com mangues (vegetação local) e
o pescador/coletor.
176
Figura 63: As dunas do Delta do Parnaíba aproximando da margem do rio,
cobrindo a vegetação.
Outra paisagem que se repete em imagens novamente, agora nesse
grupo da mídia Internet, retrata imagens do Porto das Barcas (figuras 64, 65,
66 e 67). Salientamos a importância desse Porto novamente: para o turismo
local, para a história-cultural do município e para a arquitetura do Piauí.
Figura 64: Pôr do Sol, no Porto das Barcas, destaque para a Carnaúba na
entrada do Porto e para o telhado histórico preservado.
177
Figura 65: Arquitetura do Porto e um frequentador do espaço preservado para
o lazer. Ressalta-se a fotografia em preto e branco.
Figura 66: Arquitetura do Porto embarcações abandonadas e presença de
certa sujeira nas margens do rio Igaraçú. Como na fotografia anterior, uma
imagem em branco e preto.
Figura 67: Arquitetura do Porto, uma das ruas que chegam até a margem do
rio, luminárias antigas e presença de comércio de artesanato local.
178
Próximo ao Porto das Barcas, encontra-se a Ponte Simplício Dias
(figura 68). Ponte essa que foi retratada no perfil do Facebook de Juscelino e
em um cartão postal, porém não é reproduzida nos folders. Um detalhe dessa
imagem é o período do dia em que ela foi captada, noturno.
Figura 68: Ponte Simplício Dias de noite.
Imagem fotográfica obtida a partir do Porto das Barcas da Ponte Simplício Dias no período
noturno.
Interessante relatarmos que no perfil do grupo que estudamos
existiram diferentes imagens de paisagens distintas, entre elas está a imagem
da Avenida São Sebastião (figuras 69 e 70), importante via que liga o centro da
cidade à BR-343.
179
Figura 69: Trecho central da Avenida São Sebastião, imagem no plano
horizontal.
Figura 70: Trecho central da Avenida São Sebastião, imagem no plano
horizontal, fim de tarde.
O município de Parnaíba tem em sua história uma importante ligação
com a igreja católica. Assim, uma das paisagens que se repetem através das
imagens fotográficas é o da Igreja Nossa Senhora das Graças (figura 71).
180
Figura 71: Igreja Nossa Senhora das Graças vista através de um carrinho de
pipoca.
Uma importante localidade de recurso e potencial turístico também é
reproduzido em imagem no Flickr que analisamos, que é o da lagoa do
Portinho (figura 72).
Figura 72: Lagoa do Portinho, retratada com as suas dunas e o espelho
d’água, com pessoas em embarcações em lazer.
A praia (figuras 73, 74, 75 e 76), Pedra do Sal, teve reproduzida sua
imagem fotográfica em todas as mídias estudadas e no Flickr ela surge
novamente, evidenciando-nos sua importância para a atividade turística e para
a localidade.
181
Figura 73: A praia, Pedra do Sal, com embarcação típica dos pescadores
locais, os frequentadores da praia e as formações rochosas ao fundo que dão
nome para a paisagem.
Figura 74: O pôr do Sol na praia, Pedra do Sal, com embarcação típica dos
pescadores locais e as formações rochosas ao fundo que dão nome para a
paisagem.
182
Figura 75: A praia e o destaque maior para o céu azul.
Figura 76: A praia e o destaque maior para a fauna local, uma ave comum da
região litorânea.
Um diferencial de imagens que surgiu no perfil do Flickr é o das
fotografias da fauna local (figuras 77 e 78): o Iguana (réptil muito comum, tanto
nas áreas naturais quanto na área urbana de Parnaíba) e o pássaro Guará
(símbolo do Delta), que habita as ilhas do Delta do rio Parnaíba.
183
Figura 77: O iguana.
Réptil muito comum que é visto nas paisagens de Parnaíba e de todo litoral piauiense,
popularmente chamado pelo “povo” piauiense de “Camaleão”.
Figura 78: O guará.
Ave típica das ilhas do Delta do rio Parnaíba.
As imagens da lagoa do Sobradinho (figuras 79 e 80) são raras nas
mídias estudadas. Pois é uma paisagem que até então não havia sido retratada
em nenhuma das mídias estudadas e nem mesmo no perfil do Facebook, na
Internet, mas que aparece no grupo do Flickr. Essa lagoa ainda não é uma
atração turística do município, porém, uma localidade bastante frequentada
pelos autóctones para práticas de esportes e lazer. É uma paisagem com
potencial turístico ainda não explorado.
184
Figura 79: Pôr do Sol na lagoa do Sobradinho.
Figura 80: Dunas da lagoa do Sobradinho.
Dunas típicas da região, que estão próximas e nas margens da lagoa do Sobradinho.
Ao estudar a mídia Internet observamos como a digitalização permite o
armazenamento de conteúdos de mídias distintas em formato de computador,
o que torna possível recuperar e manipular softwares, diferentes sites com o
acesso de um mesmo ponto.
Ainda, não podemos deixar de lembrar a importância dessa etapa de
estudo e análise em nosso trabalho, uma vez que, para que pudéssemos traçar
uma cartografia dos nossos materiais, era preciso conhecermos cada um dos
185
materiais, cada mídia, cada imagem, nos aproximarmos e nos encantarmos
com os objetos estudados e levantados ao longo de nossa trajetória.
Após essas descrições e as análises gerais de cada mídia, e das
imagens fotográficas que foram surgindo, que se constituíram fundamentais
para construirmos nossas cartografias e nos aproximando cada vez da
circulação dessas imagens, foram fundamentais para nossa análise geral de
investigação.
Ressaltamos mais, a seguir, sobre a circulação, principalmente dentro
do foco da Internet, que foi fundamental nas análises gerais e específicas
dentro de cada mídia. Tratamos de aprofundar sobre os termos e discutimos
sobre a circulação das imagens fotográficas contidas nas diferentes mídias e a
sua relevância para a comunicação turística, por consequência.
186
4
CIRCULAÇÃO
DAS
IMAGENS
FOTOGRÁFICAS
TURÍSTICAS
DE
PARNAÍBA
Antes de descrevermos o mapa/carta geral e outros mais, que serão
apresentados ao longo desse capítulo, como parte analítica e ilustrativa, para
que possamos dar continuidade às nossas análises e observações, nos
aproximando
de
nossos
objetivos
propostos.
Deste
modo, buscando
compreender a circulação das imagens, além de perfilar quais as fotografias de
paisagens turísticas se reforçam e, assim, reconhecer os processos de
comunicação turística, iremos tratar sobre circulação midiática nos parágrafos
abaixo.
Daremos continuidade e maior aproximação a termos e contextos de
circulação perante o que analisamos, descrevemos e observamos de nossos
objetos empíricos (capítulo anterior). Para tanto, utilizamos de textos de autoria
de nossos professores do programa de Pós-Graduação em Ciências da
Comunicação da UNISINOS: José Luiz Braga, Antônio Fausto Neto e Jairo
Ferreira, que trabalham com esse tema e vêm escrevendo diversos trabalhos
em eventos científico/acadêmicos e em periódicos da área.
Para início de discussão e colocação, podemos focar as mudanças
recentes das mídias e como analisamos suas funções atuais, como é o caso
dos cartões postais – que sofreram alterações em sua função, pois tiveram
diminuído seu consumo e alterado o uso para o qual foram criados, estando
agora mais restritos a colecionadores. Hoje, com a sociedade midiatizada e
com o ambiente digital, as imagens fotográficas de antes (dos cartões postais)
estão na rede. Desse modo, as pessoas para consumir o cartão postal
necessitam viajar até o local e comprá-lo, pois raramente o receberão de
alguém pelos correios, por exemplo. Com as fotografias digitais, as pessoas
podem produzir suas imagens e imediatamente postá-las e compartilhá-las
com seus contatos, diferentemente do cartão postal que precisa ser enviado via
correio ou por transportadora.
Assim, atualmente, com as mídias em progresso e as suas funções
mudando o tempo todo, consumimos várias mídias com lógicas distintas
durante um mesmo dia, desde as mídias de massa às mídias de nicho – novos
187
processos e ambientes de segmentação estão surgindo. Para tanto, é
necessária a articulação entre os diferentes tipos de mídia – novas formas de
entrelaçamento (circulação). Buscamos esse entrelaçamento, essa articulação
existente, ou não, da comunicação turística nas distintas mídias estudadas a
partir das imagens fotográficas constantes nessas mídias para aprofundamento
da comunicação turística de Parnaíba.
É interessante observar como a utilização de dispositivos permite o
surgimento de novos processos de circulação, ao possibilitar fluxos
comunicacionais que possam retornar, ocasionados assim pela geração de
outros novos circuitos.
Desse modo, Fausto Neto (2010, p. 04) descreve que:
[...] a circulação deixa de ser um elemento “invisível” ou “insondável”
e, graças a um trabalho complexo de linguagem técnica, segundo
operações de dispositivos, explicita sua “atividade construcionista”,
gerando pistas, instituindo novos objetos e, ao mesmo tempo,
procedimentos analíticos que ensejem a inteligibilidade do seu
funcionamento e dos seus efeitos [...].
Fausto Neto (2010, p. 12), ainda, compreende o conceito de circulação,
contribuindo para a nossa discussão sobre essa temática:
[...] este deixa de ser um conceito associado à defasagem – ou
simplesmente da diferença – e passa a ser compreendida como
“ponto de articulação” entre produção e recepção. Avança como um
novo objeto, pois a circulação é transformada em lugar no qual
produtores e receptores se encontram em “jogos complexos” de
oferta de reconhecimento. É nomeada como dispositivo que é levado
em conta para realização do trabalho de negociação e de apropriação
de sentidos, regidos por divergências e não por linearidades. Este
esforço analítico se volta para formalizar um nível de existência da
problemática da circulação, desta feita como um conceito que avança
observações sobre a sua própria complexidade.
Interessante observar, nessa citação anterior, que a circulação é vista
como um lugar em que produtores e receptores se encontram, como em nosso
caso, as imagens fotográficas de Parnaíba são postadas na Internet e se
repetem algumas vezes, demonstrando essa complexidade e a não-linearidade
188
dessa circulação, onde, por vezes, tais imagens se transpassam e se
emaranham.
Seguindo essa linha de pensamento, temos que comentar que a
circulação não seria apenas um conceito que remeteria à noção de intervalo,
mais que isso: é o âmbito de uma complexa articulação entre “prosperidades
do discurso proposto e as estratégias de apropriações dos sujeitos” (VERON;
LEVASSEUR, 1986 apud FAUSTO NETO, 2010, p. 12).
Uma forma bem sucinta e de fácil compreensão sobre o termo
circulação, como comunicação baseada na interação social sobre a mídia que
apresenta duas perspectivas: a econômica – trata-se da circulação de bens – e
a circulação midiática – o que a mídia veicula (caracteriza-se como um sistema
de produção).
Além disso, a circulação pode ser entendida como uma questão
comunicacional a qual se baseia na perspectiva de uma comunicação através
do diálogo que, segundo Ferreira (2010), é uma experiência social já superada,
no mesmo processo em que há a mediação das interações sociais através de
dispositivos. Ainda, Ferreira (2010) explica que a produção se transforma em
consumidora, a qual se apropria de ofertas integradas a outros dispositivos,
como parte importante da produção de seus próprios dispositivos e que sempre
houve a relação entre os meios com a cultura. Além disso, seguindo o
pensamento de Ferreira (2010), as características que compõem uma
comunicação dialógica são:
A comunicação enquanto diálogo (conversa) é, enquanto experiência
social, superada, no mesmo processo em que a linguagem passa a
mediar as interações sociais, e, portanto, inscritas em dispositivos,
passando essa a regular processos de comunicação diferida (no
tempo e no espaço). [...] Em sociedades complexas, o que existe é a
conversa midiatizada que busca reproduzir as características da
conversa dialógica presencial, ou conversas presenciais que ocorrem
no âmbito de paradigmas conversacionais midiatizados.
Há uma emergência de uma cultura da convergência, pois existem
muitas mídias e muitos conteúdos – um ambiente plural que busca novas
formas de integração. Novos formatos de redes midiáticas – da ênfase na
189
convergência de máquinas/tecnologias para a convergência de conteúdos.
Conteúdos que atravessam várias mídias – conteúdos e plataformas. A
convergência como lógica de circulação de conteúdos nos novos ambientes
digitais. É interessante ver que imagens de uma mesma paisagem (de um
mesmo local) podem estar em diferentes mídias.
Atualmente, públicos consomem tecnologias e conteúdos da nova
comunicação digital em diferentes níveis – mas todos estão expostos. Públicos
internos e externos, locais e globais – impacto diferenciado na vida de pessoas
e
organizações. Porosidade das
instituições/organizações nesse novo
ambiente e relacionamento entre públicos – intensificação de trocas e
relacionamentos com uma nova pauta cultural, pois há a produção de conteúdo
nesse novo ambiente – uma pluralização de conteúdos (novas formas de
pluralização). Assim, ocorre a lógica do compartilhamento – troca de textos,
fotos, opiniões, entre outros, com o compartilhamento e colaboração.
Braga (2004) comenta que a sociedade midiatizada não é uma
“consequência” dos dispositivos técnicos de mídia. Em sua abordagem, é a
sociedade
que
gera
essa
necessidade,
tratando-se
da
origem
e
desenvolvimento destas tecnologias midiáticas. Ainda:
[...] é porque a sociedade crescentemente gerou a necessidade, para
processar suas interações, de comunicações mais amplas e
abrangentes, mais específicas e especializadas, mais diversas, mais
eficazes (etc.) que foi desenvolvendo mais e mais procedimentos e
tecnologias mediáticas (Braga, 2004, p. 11).
Assim, para entender o processo de midiatização pelo viés da
interação, ou seja, pela circulação, é preciso ver que o fluxo demanda uma
nova visão, já não em termos de causa e consequência – perspectiva linear –,
mas em termos de circularidade. O mesmo processo ocorre com a mediação,
que implica movimento de significados, é circulação de significados para além
de um fluxo de dois estágios (SILVERSTONE, 2003, p. 33).
Não podemos nos esquecer que a digitalização das mídias pode fazer
da Internet, dentre todas as mídias, a maior produtora de conteúdo e de
circulação de imagem. Assim como ocorreu em outros mercados, além do
190
mercado turístico, onde as tecnologias da informação e comunicação foram
aplicadas, essa etapa pode eliminar muito esforço envolvido na produção da
comunicação. Uma implicação da revolução da mídia digital é a convergência
de meios de comunicação, como observamos em alguns momentos. A
multimídia está apagando as antigas distinções rígidas entre os meios de
comunicação e o estudo da circulação observa muito isso. No atual mundo da
mídia digital, as formas convencionais de mídia devem convergir e interagir,
juntamente com outras formas híbridas, em um único meio.
Com o advindo da cultura digital, aumentam a capacidade de
circulação e de conteúdos locais – novos circuitos (coisas locais circulando
globalmente e vice-versa). Uma cultura de mobilidade do instantâneo e do
relativo, onde, por exemplo, as imagens fotográficas de Parnaíba postadas na
Internet rendem novos circuitos, com novas ações.
Assim, quando se fala sobre circulação, vale ressaltar a importância
dos circuitos na sua composição. Dessa forma, Braga (2012) comenta que o
movimento da circulação ultrapassa a relação de emissão à recepção e, há,
ainda, um segundo movimento de pós-recepção – “[...] a partir de reações
deste subsistema ‘de resposta social’ (com suas mediações e ‘desvios’
interpretativos próprios) o fluxo comunicacional não pára e um novo circuito,
diferenciado, se inicia [...]” (BRAGA, 2012, p. 05), o que pode ou não fazê-lo
retornar.
A circulação, também, é destacada por Fausto Neto (2001) como uma
esfera de articulação, lugar constituinte da relação, no processo de
comunicação. Assim, fazendo uma aproximação entre Braga e Fausto Neto,
acreditamos que interessa para a comunicação, midiática ou não, a questão
interacional como lugar de circulação entre oferta e consumo.
Em termos de circulação, mediante vivência na área de Turismo e em
observações, por exemplo: um turista posta suas fotos de viagem na mídia de
acesso, no caso a Internet, com a intenção de comunicar a mensagem de “eu
já fui” ou “já estive lá”; depois disso, uma terceira pessoa pode ter acesso a
esse site na Internet e, ao ter acesso a essas imagens fotográficas,
acreditamos que poderá ser acionado a fazer novas investigações de outras
191
mídias, buscando novas imagens, para, então, futuramente, quem sabe,
realizar uma visita também (consumo), como turista, ao local fotografado e
midiatizado.
De tal modo que se torna evidente, com o avanço da tecnologia, a
troca de informações proporcionada pela Internet. Apresentando-se então
novas formas de estabelecer uma comunicação, cada vez mais rápida e
eficiente, que consegue atingir diversos públicos, mediante novos dispositivos
como blogs e redes sociais, utilizados como fonte de circulação de imagens
fotográficas, como em nosso caso.
Vale mencionar que a comunicação estabelece uma interação entre as
pessoas por facilitar o acesso às informações e as trocas de experiências
vivenciadas.
Neste
sentido,
é
válido
argumentarmos
sobre
o
valor
comunicacional da circulação como forma de diálogo visual, em nosso caso,
que, quando inscrito em dispositivos, media as interações sociais.
Pudemos dar ênfase sobre a circulação das imagens fotográficas do
Município de Parnaíba, utilizando de dispositivos como os cartões postais, os
folders e a Internet (nosso material empírico pesquisado), cada um com uma
circulação distinta. Com a Internet, acreditamos que as imagens fotográficas de
Parnaíba recebem novo tratamento e são reenviadas no sistema mais amplo,
que pode abranger os demais.
Assim, começamos a observar uma visão de fluxo comunicacional
capaz de perceber, na circulação, no tensionamento entre oferta e diferentes
formas de apropriação, os fluxos das imagens fotográficas e o surgimento de
certa remediação13 dessas imagens fotográficas.
Assim,
Silveira
(2007)
indica
as
transformações
dadas
num
determinado produto midiático quando algumas de suas características (sua
materialidade, sua expressividade, sua narratividade, suas estratégias
habituais de representação e de usabilidade, entre outros) são apropriadas ou
“reproduzidas” por outras mídias. Dessa forma, ocorre um fenômeno, o de
“remediação”, por exemplo, quando um veículo impresso faz migrar seu
13
Esse termo foi apresentado, com conceitos e exemplificações, pois acreditamos ser importante
relacionar a remediação à circulação, como parte integrante desse processo no surgimento de circuitos.
192
conteúdo (seu produto – no caso – cartão postal impresso ou folders) para o
ambiente da Internet.
Os autores Jay David Bolter e Richard Grusin, em sua obra
“Remediation: understanding new media” (1998), adotam um discurso mais
amplo, em que as mídias atuais fazem a mesma coisa de suas antecessoras,
ou seja, reutilizam informações passadas com uma nova roupagem,
acontecendo assim o renovar dessa mídia. Os autores acabam, dessa forma,
definindo remediação como a lógica na qual uma mídia se renova a partir do
pressuposto de uma mídia anterior, fazendo com que as mesmas se
sobressaiam com essa nova abordagem, atentando-se para o acesso e uso
destas. Trata-se de perceber as melhorias dadas às mídias anteriores. Os
autores afirmam, ainda, que a remediação pode ocorrer em qualquer meio, pois
cada meio consegue se adaptar às novas técnicas e às formas do significado
social da antiga mídia, para que assim surja a remediação, tomando, dessa
forma, seu lugar nos meios de comunicação.
Marshall McLuham (1988, p. 22) defende que “[...] o conteúdo de um
meio é sempre outro meio, [...] a mensagem de qualquer meio é a mudança de
padrão que ele introduz na sociedade, acelerando ou ampliando os processos
já existentes”.
Em contrapartida, Bolter e Grusin (1998, p. 45) afirmam que McLuhan
não falava de uma simples apropriação, mas de um tipo mais complexo, no
qual a mídia é incorporada ou é representada em outra mídia, fenômeno
conhecido por eles como “remediação”; nesse pressuposto ainda se diz que,
ao introduzir-se, uma nova mídia não significa apenas a invenção de um novo
hardware e software, mais sim uma nova apropriação das outras mídias
existentes, pois, com a introdução de um novo meio, os usos dos anteriores
são redefinidos.
Como esse processo da informação acontece de forma ágil e em curto
intervalo de tempo, e devido ao surgimento de novas tecnologias que
funcionalizam todo esse trajeto, introduz-se a remediação nos meios de
comunicação, para a comodidade da sociedade. Criando-se assim novos
circuitos e colaborando na circulação, nesse caso, das imagens fotográficas.
193
Por sua vez, Dizard, (2004, p. 102) afirma:
[...] a transição de mídias era feita de maneira gradual, com um
intervalo de anos, possibilitando a adaptação das novas técnicas às
realidades sociais existentes, vivenciamos agora um período reduzido
no qual ocorre a convergência simultânea de uma vasta gama de
tecnologias de mídia.
A remediação funciona como a mediação da mediação, ou seja, a
mídia depende de outras mídias para a realização da sua função (pensando
nas distintas mídias que estudamos e observamos), preocupa-se ainda em
mostrar o real dos fatos depois do reformular dessas mídias (BOLTER e
GRUSIN, 1998, p. 55-56). Assim, a evolução das tecnologias digitais faz com
que o foco das mídias tradicionais passe a se inserir nessas novas linguagens
midiáticas (a Internet interferindo nas produções e ações de comunicação
turística). Para Pereira (2004, p. 142), “[...] evolução das tecnologias
comunicacionais compreende-se que cada nova etapa tecnológica se apropria
da
anterior
estendendo-a,
tomando-a
como
conteúdo
e,
em
parte,
aperfeiçoando-a”.
De acordo com Bolter e Grusin (1998, p. 56), “[...] além do mais, porque
toda mediação é tanto real quanto mediação do real, remediação pode ser
entendida como um processo de reforma da realidade”. Aliás (Bolter e Grusin,
1998, p. 59), a palavra remediação vem do latim remedere, que significa curar
e restaurar à saúde, em comunicação ela é uma metáfora para esse reuso,
melhoria ou restauro de algo em outra mídia. Palavra pela qual se tem a
intenção de melhorar o produto com a utilização de uma nova mídia, porém os
autores discutem a respeito disto, dando exemplo da televisão digital sendo
superior à analógica, demonstrando assim essa supervalorização da
tecnologia. Também, para Bolter e Grusin (1998, p. 60), “[...] todo meio é
justificado porque preenche um espaço vazio ou repara uma falha do meio
anterior”.
Bolter e Grusin (1998) afirmam que remediação é a característica da
mídia digital, pois implica o reconhecimento do meio anterior, da sua linguagem
e da sua representação social. Desta maneira, todos os meios têm o seu
194
sistema de produção afetado pela chamada nova mídia. A Internet, alegam os
citados autores, remedia todos os meios, melhorando-os em muitos aspectos e
acrescentando recursos novos, enquanto a Internet, especificamente, tem uma
natureza remediadora, operando de modo híbrido e inclusivo. A Internet,
escrevem esses autores, remedia os jornais, as revistas e a publicidade
gráfica.
Com isso, as possibilidades das imagens fotográficas de outras mídias
surgirem e serem remediadas na Internet aumenta, possibilitando que os
potenciais turistas vejam, na Internet, as imagens que não veriam, por
exemplo, em um cartão postal (por não ter contato com essa mídia cartão
postal acessível), ou mesmo nos folders das empresas de turismo de
determinada região ou destinação, superando barreiras geográficas facilitadas
pela distância digital dimunuída.
Desse modo, Machado (2002, p. 109) entende que a novidade
introduzida pela informática está justamente na possibilidade que ela abre de
fundir num único meio e num único suporte todos os outros meios e de invocar
todos os sentidos, pelos menos os mais desenvolvidos nos seres humanos.
Mas ela o faz de uma forma integrada, de modo que textos escritos e
oralizados, imagens fixas e em movimento, sons musicais ou ruídos, gestos,
toques e toda sorte de respostas corporais se combinam para constituir uma
modalidade discursiva única e holística. A informática nos impõe, portanto, o
desafio de aprender a construir o pensamento e expressá-lo socialmente
através de um conjunto integrado de meios, através de um discurso áudio-tátilverbo-moto-visual, sem hierarquias e sem a hegemonia de um código sobre os
demais (MACHADO, 2002, p. 110).
Esse conhecimento da linguagem e das formas tecnológicas integradas
encontra-se no contexto contemporâneo distribuído também entre os
leitores/consumidores, que passam a exercer um papel diferente. Se a mídia
convencional praticava o tradicional processo de emissão e recepção, muitos
sites e, especialmente, os blogs e as redes sociais representam esta mudança.
A força da remediação está em saber que as novas tecnologias
remediam as antigas e que estas por si tentam remediar as atuais para se
195
manter no meio. Para que essa novidade se estabeleça no “mercado” precisase de uma realidade aceita e autêntica frente aos demais fatores. Assim, Bolter
e Grusin (1998, p. 65) afirmam: “só após esse convencimento o novo aparelho
será considerado um novo meio”. Refletem também esses mesmo autores a
respeito do papel do observador, identificando que não apenas as mídias são
modificadas, mas que também a identidade do observador é alterada ou
remediada, isso apenas demonstra que o “eu” também pode se remediar à
medida que os meios de comunicação se atualizam.
Demonstra-se, assim, que essas remediações podem interferir em
escolhas, em observações e em muitos casos na pessoa que faz uso da mídia
Internet, pois suas ações, suas escolhas e as imagens que vê são reutilizações
de outras mídias em uma só.
Para Bolter e Grusin (1998), existem algumas estratégias utilizadas
pela remediação, para que ela seja concretizada, quais sejam: a transparência
ou imediação, e a opacidade, também conhecida como hipermediação. Ainda,
enfatizam Bolter e Grusin (1998, p. 231-232), há duas visões do “eu”
remediado: uma está ligada à imediação e ao comportamento virtual, ou seja,
significa que mesmo estando em um ambiente virtual, ele (o observador) se
torna real, pois há uma ideia de que o mesmo seja o controlador da situação; o
outro ponto vem a partir da hipermediação, onde os autores identificam o “eu”
da rede, ou seja, o indivíduo observador disponibiliza de multitarefas, isso quer
dizer que ele desenvolve, no mesmo intervalo de tempo, várias aplicações,
como por exemplo, ao mesmo tempo em que se está escrevendo um e-mail,
ele pode participar de videoconferência e chats – em outras palavras, isso
significa ter o controle de diferentes espaços/aplicativos simultâneos.
Com a velocidade de transmissão de mensagens icônicas ou
informações, devido à gama de inovações tecnológicas e em curto intervalo de
tempo, facilita-se assim a trajetória da remediação como elemento facilitador
desse transporte informativo nas redes ou meios de comunicação.
Exemplificando hoje a remediação na sociedade: as redes televisivas
sendo transmitidas pela web e ainda a reprodução de jornais, programas
interativos em canais ou redes sociais com a possibilidade também de chats
196
(bate papos), causando assim certa comodidade àquele telespectador, pois fica
à sua disposição a qualquer momento. Ainda vale a ressalva da utilização de
web rádios (o rádio na Internet), quando o ouvinte pede suas músicas por emails, causando uma flexibilidade nessa interação emissor e receptor.
A seguir, pontuamos e damos um exemplo de algumas dessas
imbricações entre remediação e circulação através do estudo e da pesquisa em
nossos objetos de trabalho, tal como: cartão postal e Internet (exemplo
percebido em nossos observáveis).
Atentamos sobre a assimilação do processo de remediação nos meios
de comunicação, especificamente para os conceitos e comportamento diante
desse aceleramento de novas tecnologias para a transmissão da mensagem
final.
Com o avanço tecnológico e com a necessidade de compartilhar
informações em tempo real, a remediação facilita essa reutilização de mídias
anteriores, agora sendo reutilizadas em uma nova mídia, dentro de uma
circulação, permitindo-se o uso dessas mediações como pontes estratégicas,
no repassar cognitivo, das devidas informações nos meios de comunicação.
Para Sodré (2002, p. 21), “está presente na palavra mediação o significado de
fazer ponte ou fazer comunicarem-se duas partes”. Assim, o conceito de
remediação identifica certa compreensão do funcionamento das mídias.
Quanto à remediação, entendemos que foi e é necessária essa
discussão e apresentação, pois percebemos que, na circulação das imagens
fotográficas nas distintas mídias pesquisadas, existe certa remediação, mesmo
que alguns possam discordar em algum aspecto semântico ou de tradução do
termo remediação, dessas imagens, através do “re-uso” da fotografia de certas
paisagens, ou localidades, em cartão postal, por exemplo, em outra mídia, tal
como a Internet.
Exemplo: a imagem fotográfica da Ponte Simplício Dias do cartão
postal e a fotografia postada por Juscelino em seu perfil do Facebook, da
mesma paisagem. A visão dos fotógrafos sobre o local foi praticamente a
197
mesma e acreditamos que, com essa circulação de imagens fotográficas, a
paisagem do cartão postal foi remediada na Internet.
Em suma, remediações, podemos descrever, seriam justamente todas
as formas de aparição de um meio em outro; seria a lógica formal pela qual as
novas mídias remodelam (ou são modeladas por) formas midiáticas anteriores
(SILVEIRA, 2007).
A partir da pesquisa em meio digital, vindo da experiência da pesquisa
empírica em alguns sites da Internet, observamos, a princípio, essa reutilização
(remediação), das imagens fotográficas.
A Secretaria Municipal de Turismo de Parnaíba começou, a partir de
2011, a veicular em sua lista de contatos de e-mails os cartões postais
digitalizados, configurando assim, as imagens fotográficas da mídia cartão
postal na mídia Internet. Apesar de ser em uma lista de contatos de e-mails
fechada da Secretaria de Turismo, já observamos a remediação das imagens
de Parnaíba.
Portanto, com as observações realizadas e com as análises dos
objetos empíricos, observamos esses movimentos de circulação e alguns
poucos de remediação das imagens fotográficas, que serão apresentados,
posteriormente.
A seguir, apresentaremos os mapas/cartas produzidos através das
análises em conjunto. Preocupamo-nos em abastecer as análises e os
resultados
com
observações
das
imagens
fotográficas,
com
suas
aproximações e diferenciações, em uma cartografia da comunicação dessas
imagens fotográficas. Mapas esses que foram criados para ilustrar essa análise
e para demonstrar a circularidade das imagens fotográficas, portanto, é parte
importante de todo o contexto desse capítulo.
MAPA GERAL DA CIRCULAÇÃO DAS IMAGENS FOTOGRÁFICAS NAS DISTINTAS MÍDIAS
CENTRO CIVICO
198
PRAÇA DA GRAÇA
VISÃO PANORÂMICA DA AV. SÃO SEBASTIÃO
MONUMENTO DA INDEPENDÊNCIA
ESTAÇÃO DE FLORIÓPOLIS
CARTÕES POSTAIS
CAJUEIRO HUMBERTO DE CAMPOS
CASTELO DO MARACUJÁ
ARTESANATO
IGREJA NOSSA SENHORA DA GRAÇA
PONTE SIMPLÍCIO DIAS
VISTA AÉREA DA CIDADE
PRAIA PEDRA DO SAL
PORTO DAS BARCAS
LAGOA DO PORTINHO
DELTA DO PARNAÍBA
FOLDERS/FOLHETOS
INTERNET
FAUNA
Legenda:
Mídia
Imagem fotográfica surgida em uma única mídia
Imagem fotográfica surgida em duas mídias distintas
Imagem fotográfica surgida nas três mídias
Indicação do surgimento da imagem na mídia
AEROPORTO
USINA EÓLICA
LAGOA DO SOBRADINHO
199
Mapa das caracterizações que foram surgindo: mídias e caracterizações
INTERNET
dia
Presença Humana
Delta
Lugares naturais
CARTÕES POSTAIS
noite
Lugares urbanos
FOLDERS/FOLHETOS
Legenda:
Mídia
Lugares urbanos
Caracterização surgida nas imagens fotográficas
Indica a quantidade de ocorrência da característica na mídia
praia
200
Mapa das caracterizações que foram surgindo: paisagens (imagens fotográficas) e caracterizações
Presença Humana
CENTRO CIVICO
CAJUEIRO HUMBERTO DE CAMPOS
VISÃO PANORÂMICA DA AV. SÃO SEBASTIÃO
dia
IGREJA NOSSA SENHORA DA GRAÇA
ESTAÇÃO DE FLORIÓPOLIS
Lugares naturais
CASTELO DO MARACUJÁ
Delta
PONTE SIMPLÍCIO DIAS
MONUMENTO DA INDEPENDÊNCIA
PRAÇA DA GRAÇA
ARTESANATO
PORTO DAS BARCAS
Lugares urbanos
AEROPORTO
DELTA DO PARNAÍBA
noite
PRAIA PEDRA DO SAL
USINA EÓLICA
VISTA AÉREA DA CIDADE
LAGOA DO PORTINHO
praia
FAUNA
LAGOA DO SOBRADINHO
Legenda:
Paisagem (Imagem Fotográfica)
Caracterização
201
Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais que surgem nas imagens fotográficas na mídia cartão postal, a
territorialização das imagens – Imagem de Satélite do GoogleMaps
Locais que tem sua imagem fotográfica reproduzida na mídia.
202
Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais que surgem nas imagens fotográficas na mídia folder, a
territorialização das imagens – Imagem de Satélite do GoogleMaps
Locais que tem sua imagem fotográfica reproduzida na mídia.
203
Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais que surgem nas imagens fotográficas na Internet, a territorialização
das imagens – Imagem de Satélite do GoogleMaps
Locais que tem sua imagem fotográfica reproduzida na mídia.
204
Mapa Geral: Mapa de parte do Município de Parnaíba e os locais mais frequentes nas imagens nas 03 distintas mídias e a
territorialização das imagens – Imagem de Satélite do GoogleMaps
Locais que tem sua imagem fotográfica reproduzida em somente uma mídia.
Locais que tem sua imagem fotográfica reproduzida em duas mídias distintas.
Locais que tem sua imagem fotográfica reproduzida nas três mídias.
205
A constituição dos nossos mapas/cartas, como já afirmamos outras
vezes, não tem receita, foi o espelho de nosso olhar que nos fez nos
apropriarmos e produzi-los, para que pudéssemos ilustrar esses mapas
mentais produzidos pela cartografia, pelas nossas visões das relações e das
afetações dessa circulação das imagens fotográficas nas distintas mídias.
Assim, seguindo o método cartográfico, o mapa/carta respeita o objeto, ao
ponderarmos
diferentes
amplitudes
e
intensidades,
ao
registrarmos
espacialidades. De acordo com Rosário (2008), precisávamos de nossa
sensibilidade para nos envolvermos e nos deixarmos levar pelo movimento.
Nesse exercício, ao qual o olho e o raciocínio não estão acostumados,
surgiram os cenários, as estratégias e as lógicas dos objetos. A abordagem de
Martín-Barbero (2004, p. 16) nos permitiu perceber, como matéria-prima do
mapa, a pluralidade de temas e conhecimentos, de dados duros que vão
arquitetando as tensões e a circulação das imagens.
Foram importantes as criações desses mapas/cartas para observarmos
e para nos aprofundarmos cada vez mais nas mídias, nas suas relações e em
suas imagens fotográficas, e, por consequência, na própria comunicação
turística. Constituíram-se significativos para que pudéssemos observar como é
dada a circulação, a ilustração em mapas/cartas facilitam essa visualização e a
compreensão ficou mais completa, tanto para nós que pesquisamos e
analisamos, quanto para quem entrou em contato com o estudo.
Essa espacialização por parte do mapa/carta fica ampla e aprofundada,
além de territorializar por onde estão as imagens e por onde andaram os
produtores dessas imagens fotográficas. Para o estudo de comunicação
turística esses dados revelaram-se fundamentais e importantes, uma vez que
podemos compreender demandas e ofertas de paisagens e quais paisagens
são mais consumidas.
Notamos diversas singularidades em cada mídia, por exemplo: nos
cartões postais não constam imagens com presença humana como foco e nem
imagens noturnas (ou da vida noturna) da região, caracterizando uma forma de
comunicação bem específica dessa mídia (que é o foco no público em geral,
uma mídia que informa o geral de uma localidade turística). Determinando,
206
assim, como se dá a circulação das imagens fotográficas constantes nos
cartões postais com relação às outras mídias. Também, de certo modo,
demonstrando as características dos produtos turísticos mais vendidos de
Parnaíba (Sol e Mar, com o Delta e a praia como destinos principais) ao
ligarmos a circulação das imagens dos cartões com as imagens nas demais
mídias. As imagens fotográficas da Internet, nos sites que observamos, a
característica de paisagens no período diurno corrobora com essa circulação
das imagens fotográficas em paisagens diurnas, apesar de surgirem apenas
duas imagens fotográficas de paisagens no período noturno.
Ao produzirmos os mapas/cartas e nos aprofundarmos na cartografia
das imagens fotográficas das distintas mídias entendemos como se dá, nesse
sentido, a comunicação turística. A circulação das imagens fotográficas é
fundamental na comunicação de um atrativo ou mesmo de um recurso (natural,
histórico, cultural, entre outros) potencialmente turístico, tendo em vista toda a
discussão que levantamos ao longo da tese. Para que o turista, ou mesmo um
potencial consumidor de turismo saiba da existência de um destino turístico é
preciso que este seja comunicado, e em Turismo a melhor forma como
acreditamos que se possa comunicar uma destinação é através da fotografia,
da imagem.
Nos mapas/cartas, pudemos enxergar quais localidades (Delta, praia
Pedra do Sal e o porto das Barcas) têm mais destaque nessas mídias mais
próximas da atividade turística que se utilizam da imagem como chamariz.
Além disso, observamos que alguns produtos turísticos já consolidados da
região estão sendo mais midiatizados e possuem maior circulação entre as
distintas mídias. A ilustração em mapas/cartas facilita a leitura e a análise
desses circuitos produzidos pelas imagens e passa a facilitar a noção de
espacialidade e de territorialidade como o rizoma indica.
Os circuitos criados por essas imagens em cada mídia, nos diferentes
mapas, demonstram, de certo modo, como se dá a comunicação das imagens
e das fotografias do município de Parnaíba. Lembramos o quanto é importante
a imagem, a fotografia, para o turismo e para a atividade turística, no sentido
207
de comunicar uma localidade/destino e de aproximar (deixar o mais tangível
possível) o consumidor.
Diante disso, nas formações dos mapas e dos fluxos dos circuitos que
foram surgindo, nos apareceu bem claramente uma circulação das imagens
fotográficas diurnas (sejam matutinas ou vespertinas), em todas as mídias
estudadas, uma ação de circulação de paisagens e recursos de atração de
atividades turísticas nesse período do dia, fortalecendo os produtos turísticos já
existentes e aparentando segmentar a atividade turística no município.
De acordo com Souza Junior (2011), a circulação é entendida como
uma expectativa relacional de acordo com a analogia mediada entre sujeitos e
que sua origem não se limita à utilização dos instrumentos, mas das operações
e das formas estratégicas de quem produz e consome as informações ou
mesmo de quem gera novos circuitos e, assim, quem produz circulação fornece
uma maior quantidade de dados, ideias e mensagens que atingirão os mais
diversos grupos sociais. A Internet entra nesse atravessamento de circuitos
muito claramente, ao aproximar e criar novas ações e novas funções das
imagens fotográficas.
Nesse sentido, observamos que a circulação exerce, e nela existem,
ações diversas. Podemos dar os exemplos que analisamos em nosso trabalho,
tais como:
ação do produto turístico (utilizando a imagem de uma paisagem para
atrair os visitantes e demonstrar os tipos de paisagens que ele irá presenciar
em sua visitação);
ação do colecionador dos postais (que guarda e transmite para seus
próximos o material que coletou, muitas vezes em uma ação de lembrança de
uma viagem realizada, ou mesmo, uma lembrança de uma pessoa próxima que
fez a viagem e comprou os postais para esse colecionador – por não terem
muitos locais de vendas e por já ser uma mídia de certo modo obsoleta, pois é
papel e nos moldes do consumo de imagens atuais, as digitais se
sobressaem);
ação de produzir fotografias (como já debatido e comentado nos
parágrafos do referencial teórico de nosso trabalho, os turistas em sua
208
visitação querem ter lembranças dessa viagem, e uma das fontes disso são as
fotografias, que hoje são mais acessíveis de serem produzidas, pelos
diferentes aparatos técnicos que podem ser utilizados pelos visitantes, para
produzir tais imagens fotográficas, principalmente as digitais [...])
ação de querer comprar (as agências de viagens e turismo colocam as
imagens fotográficas em seus materiais de venda, principalmente os folders
para provocar no cliente uma vontade de consumir aquela paisagem postada
em tal mídia; além disso, essa ação de querer comprar atina o potencial turista
a procurar imagens fotográficas dos possíveis locais que ele possa
visitar/consumir).
Assim, para Machado (2008), a circulação não pode ser vista apenas
como uma fonte de distribuição. É um processo mais dinâmico e flexível e tem
como objetivo principal a disseminação de informações produzidas nos
diferentes centros.
Em nossa análise, o olhar cartográfico se produziu a partir de
intensidades, encontros em circuitos que possibilitaram, a partir da experiência
de observar o objeto, produzir territórios de sentidos e de aprofundar e
descobrir conhecimentos. De acordo com Aguiar (2008), é esse processo que
permitiu a compreensão das inter-relações constituídas entre os eixos
principais da observação e do nosso trabalho.
Os nossos mapas se compuseram e foram surgindo a partir dos
conceitos e da metodologia que escolhemos – a cartografia –, com a imersão
nos objetos, com o flâneur e com o rizoma. Consideramos importante lembrar
que o rizoma se compõe de segmentaridades, diversidades, estratos,
imprevistos, de linhas de fuga, territorializações, desterritorializações, bem
como de trajetos em várias direções que podem se atravessar, se cruzar, se
interligar e se aglomerar (DELEUZE E GUATARRI, 2004). Assim, ponderamos
que o rizoma significou permitir múltiplas articulações, conexões que se
desenvolveram e foi possível dizer que a cartografia consistiu nesse rizoma.
O rizoma se compõe de linhas e de seus movimentos. Foram, nessa
via, elementos importantes na articulação dos nossos mapas, através da
cartografia e na captação da topografia dos territórios. Deleuze e Guattari
209
(2004) organizaram em quatro tipos: duros, abstratos, flexíveis e de fuga.
Rosário (2008) completa que se pode entendê-los, respectivamente, como: a)
os que funcionam por dualidades (duras), em movimentos horizontais e
verticais e que, portanto, reproduzem relações de hierarquia; b) os que são
mais abstratos, permitindo a interpenetração de fluxos e forças; c) os que
realizam pequenas transformações na sua movimentação (flexíveis); d) os que
têm conexões imprevisíveis (de fuga), operando sobre o desejo e a criação,
revelando sua importância para apoiarem as rupturas necessárias à nossa
trajetória. Encontramos linhas ao invés de pontos; atentamos para uma
dimensão móvel que caracteriza o modo que entendemos o objeto como
rizoma (como apresentamos nos nossos mapas/cartas). Assim, a circulação
das imagens fotográficas, observada sob a ótica do rizoma, fora percebida
como um objeto em movimento, que ganha aceleração na medida em que vive
as passagens operadas pelas atualizações das mídias assumidas por suas
aparições.
Nessa circulação, as novas tecnologias, como o digital e a Internet,
propiciam ao olho humano novas visibilidades tornando o olhar “menos
ingênuo”, com a produção de fotografias muitas vezes críticas das imagens
fotográficas vistas antes dos passeios ou visitações, e a visão em um processo
mais complexo e abstrato. Essas novas formas de apreensão do real, da
codificação e da decodificação da realidade influenciam a maneira como a
imagem fotográfica se apresenta como importante e como expressão subjetiva
do autor/produtor. A circulação se trata, então, de um processo em
desenvolvimento cujas consequências são ainda imprevisíveis.
Foi preciso pensar nas imagens fotográficas, nas mídias selecionadas,
para além dos seus
termos tradicionais,
pensar na pluralidade de
ordenamentos que seriam possíveis antes que determinado ordenamento
prevalecesse. Passamos a ver, a partir da imersão no fluxo dessas imagens
fotográficas, nas distintas mídias, que o suposto como exclusivo do turismo
estava em toda parte das imagens em contínua passagem. Isso, a partir de
várias incursões exploratórias ou pré-cartográficas ao empírico.
210
A circulação da imagem fotográfica nos fez refletir que existem mídias
que possuem essa proximidade, se utilizando de métodos de captação de
imagens e de paisagens bem próximos. Porém, uma ação de circulação
presente nessa cartografia que observamos é o da tentativa de venda de
pacotes (produtos vendidos pelas agências), onde poucas imagens de
paisagens circulam. Podemos salientar que, entre as três mídias, as imagens
do Delta e da praia “Pedra do Sal” surgem, pois são esses os passeios
vendidos pelas agências, são os circuitos turístico mais vendidos, ou os únicos
vendidos pelas agências. Essa ação de comunicação turística do folder pode
influenciar nas imagens fotográficas da Internet, pois são esses os locais que
os turistas irão visitar, fotografar e posteriormente postar, surgindo a circulação
nas redes sociais ou em seus blogs e flogs.
As imagens fotográficas do Delta do rio Parnaíba também estão
presentes no perfil do Facebook de Juscelino, assim como estão nos folders e
nos postais. Mais uma imagem que circula com certa frequência nas mídias,
uma paisagem que os turistas frequentam com certa regularidade e um passeio
produzido e vendido pelas agências em seu material gráfico na mídia folder e
uma imagem fotográfica da paisagem recorrente nos postais de Parnaíba,
simbolizando um dos atrativos principais do município.
Lembramos, nesse momento, o que De Botton (2005) e Gastal (2005)
(como citamos no primeiro capítulo) colocam da imagem e da fotografia como
fundamental ao marketing turístico (as empresas de turismo se utilizam desse
artifício para vender seus produtos). Os consumidores/turistas, ao realizar
aquele passeio adquirido junto à empresa turística, fotografam as paisagens
desse tal passeio e postam, posteriormente, na Internet, as imagens dos
passeios selecionados e divulgados nos folders dessas empresas. Muitas
dessas imagens estão em seus materiais de venda, como os folders/folhetos,
reafirmando o que colocamos no parágrafo anterior dessas ações de circulação
das imagens fotográficas (folder e Internet).
Observamos em nossos mapas/cartas produzidos a circulação de
certas imagens fotográficas na Internet, principalmente com relação ao
Facebook de Juscelino, que coincidem com as imagens desses folders
211
catalogados por nós que possuem as imagens fotográficas de Parnaíba
(apresentando os passeios/pacotes que essas empresas fazem e vendem),
como uma ação de um produto consolidado e de maior venda/produção, assim
com uma veiculação/comunicação maior. Acreditamos que isso possa provocar
certa circulação fechada, com um circuito consolidado e com uma ação de
circulação de compra e venda, em que constam essas imagens fotográficas
específicas, maior procura por parte dos turistas com maior veiculação
(postagens dessas fotografias na Internet) dessas imagens fotográficas dos
passeios por parte dos turistas, que foram para essas viagens/pacotes
específicos.
Ainda seguindo as palavras de Rosário (2008), os mapas podem
considerar tanto as transformações quanto o social, bem como as trocas
simbólicas que poderão compor uma multiplicidade de paisagens e de fluxos:
comunicacionais, midiáticas, audiovisuais, turísticos, da recepção, do consumo,
os quais envolvem uma diversidade de cenários, com diversas e diferentes
ações. Foi dessa forma como diagnosticamos, com os diferentes mapas/cartas
que criamos, baseados nas percepções e observações nas mídias e nas
circulações das imagens fotográficas.
Deste modo, as imagens estão espalhadas na cultura contemporânea.
Mesmo quando se reúnem em determinada área para fins particulares (como
no caso do turismo), os usos e assimilações que delas se fazem socialmente
sobejam as fronteiras do acostumado na área (Comunicação), permitindo a
conexão de indivíduos, tecnologias e distintas imagens. Com a propagação de
dispositivos para fazê-las, editá-las e compartilhá-las, e a variedade de
suportes em telas fixas e móveis, as imagens transpassam todas as extensões
da vida presente. De outro lado, a hegemonia do olhar que exacerbou durante
tanto tempo o valor de exposição das imagens dá lugar à multisensorialidade:
imagens que se estabelecem na interface com o usuário e seu tato, sua
respiração, seu corpo, seu clique. O valor de uso tensiona o valor de
exposição, colocando em circulação algumas das imagens fotográficas e
possivelmente criando um ambiente de “remixabilidade” cultural mediada por
interesses: mercadológicos (folders), pessoais (Internet), públicos (Internet e
cartões postais), entre outros.
212
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na observação da circulação, podemos encarar a comunicação como
um sistema orgânico e a sociedade-organismo coerente e integrada com
funções cada vez mais definidas com partes cada vez mais interdependentes.
Além
disso,
a
comunicação
como
gestão
das
relações
complexas
(comunicação turística, por exemplo) entre o centro dominante e a sua
periferia. Para serem comunicadas as atrações e as paisagens fotografadas de
Parnaíba, é preciso que elas estejam em circulação, em diferentes mídias e
com distintas imagens fotográficas em evidência.
Assim, esperamos que, com esse trabalho, novos mapas de
comunicação turística, de locais distintos, possam ser trabalhados, debatidos e
analisados em outros momentos, conferindo uma profunda evolução das
pesquisas ligando à Comunicação e ao Turismo, pois ressaltamos ao longo
desse trabalho o quanto é fundamental a comunicação para o turismo.
Ao longo do trabalho existiram as dificuldades de referencial
bibliográfico, como livros sobre os assuntos em foco, o que fez com que
buscássemos artigos científicos/acadêmicos com temas próximos, para que
pudéssemos tratar o que levantamos nessa tese com teor crítico e com
fundamentação nos princípios que acreditamos necessários para uma tese de
doutoramento.
Percebemos e analisamos que é através das fotografias que muitas
pessoas terão o primeiro contato com o local que pretendem conhecer. As
fotografias despertarão curiosidade nos turistas levando-os à busca do
conhecimento de determinado local ou não. Elas são vistas como componentes
no processo de comunicação e interpretação e sem percebermos, estão se
integrando nas diferentes áreas das atividades humanas, dentre elas o turismo,
tornando-as ferramentas intrínsecas para caracterizar uma localidade em sua
forma mais íntegra, por meio de patrimônios tangíveis e intangíveis.
Para tanto, os observáveis foram tratados de forma isenta e de acordo
com o que planejamos nos procedimentos metodológicos, para que
conseguíssemos produzir a carta/mapa para ilustrar e para termos um
“produto” que possamos apresentar como forma de demonstrar os alcances
213
dos objetivos traçados na introdução dessa tese. Além disso, analisamos cada
mídia individualmente, para que houvesse uma ampla visão das imagens
fotográficas veiculadas em cada uma dessas mídias, para que, posteriormente,
todo esse levantamento, essas observações se transformem em uma análise
geral, com a produção da cartografia dessas imagens.
Sobre a mídia no turismo, lembramos do poder da imagem que
encanta e proporciona o desenvolvimento dessa atividade através dos meios
de comunicação. Onde ocorre um processo de troca cultural e social entre as
pessoas que se deslocam e se relacionam temporariamente fora de seu
espaço em busca de novas experiências e conhecimentos. Com a finalidade de
transmitir, passar a mensagem de alguém ou algum lugar, a comunicação junto
à imagem reproduz as representações de ideias e impressões que cada
pessoa tem em relação a um objeto em uma percepção anteriormente
experimentada.
É necessário salientarmos, também, o quanto as mídias sofreram
grandes transformações com a globalização, através da Internet, o indivíduo
está sendo “bombardeado” por novas informações, novos conhecimentos e
comportamentos. A Internet permite que as pessoas em suas casas, quando
pensam em viajar, possam escolher o seu melhor destino turístico com maior
facilidade e praticidade, através das imagens contidas nessa mídia. Diante
disso, percebemos o quanto foi importante estudar essa circulação de imagens
passando pela Internet.
Com relação às nossas análises, observamos certa circulação da
imagem fotográfica, principalmente com relação a três atrativos turísticos: Delta
do Parnaíba, praia Pedra do Sal e o Porto das Barcas. Desse modo
investigamos quais as fotografias de paisagens turísticas se reforçaram,
através dessa observação das imagens veiculadas nos “roteiros turísticos do
receptivo”, vendidos, mais especificamente, nos folders. Isso colocado,
acreditamos que, indiretamente, este fato demonstra a importância desses
atrativos turísticos, que eles são os mais veiculados pelas empresas turísticas,
ou seja, mais vendidos. São importantes também para o município, pois na
214
propagação dessas imagens fotográficas, nas mídias estudadas, os produtores
dessas mídias as tornam potenciais atrativos de visitação.
A maneira como analisamos a circulação das fotografias tem relação
direta com as intenções de produção, os anseios, os afetos que podem ser
gerados, entre outros. Enquanto objetos, as fotos jamais poderiam circular
como fazem hoje “imaterialmente”. Tal nível de abstração, próprio das novas
mídias, incentiva outras práticas ou atos fotográficos, marcados pela
visibilidade que a imagem captada pode assumir, para além de dimensões
apenas privadas. Em rede, a fotografia, além de múltipla e heterogênea, tornase potencialmente onipresente, podendo ser consumida na medida das
conexões produzidas pelo “observador-operador”.
Além disso, ao pesquisar os sites na Internet, observamos certas
remediações das imagens fotográficas, referentes, principalmente, aos cartões
postais e à mídia digital (Internet). Assim, notamos a circulação das imagens
nas distintas mídias, porém com certa limitação de paisagens distintas. Uma
consideração que não podemos deixar de colocar é o fato de que percebemos
e observamos, na mídia folder/folheto, a falta de imagens fotográficas da região
do município de Parnaíba. De todo material coletado, poucos tinham essas
imagens, sejam elas de qualquer paisagem.
Diante das análises, ficou evidente a implicação das mídias e das
novas
tecnologias
sobre o
setor turístico.
Mais
especificamente, as
possibilidades advindas com o uso da Internet por este setor, que modificaram
as relações entre os consumidores e produtores do setor turístico. Com estas
novas tecnologias, o processo decisório de aquisição de produtos e pacotes
turísticos é mais rápido, fazendo com que o planejamento da viagem e a
decisão de onde viajar possam ser feitos através de suportes midiáticos. A
grande dificuldade que surge em tal meio é justamente a de “encontrar o que
se quer”, tanto pela falta de imagens fotográficas de alguns atrativos, quanto
pela grande quantidade de informações que circulam na Internet, das quais os
tradicionais “buscadores” nem sempre conseguem dar conta com precisão. Ou
mesmo pela dificuldade de se achar com precisão imagens fotográficas de
algumas localidades.
215
A Internet através dos aplicativos de compartilhamento (redes sociais,
blogs, flogs, etc) garante aos usuários a apropriação do site para diversos
usos: criação de álbuns pessoais direcionados a amigos e família, práticas
estetizantes as mais diversas através da fotografia como “hobby”, ou mesmo
com algum anseio artístico-profissional, usos profissionais tendo as redes
sociais como um portfólio imagético etc. As imagens, por sua vez, podem ser
identificadas, classificadas e circuladas de diferentes maneiras: inclusão de
títulos, descrições, tags para categorização, locais (que marcarão a foto em
mapas) e pessoas referenciadas, tudo para criar um contexto para cada
fotografia. Elas podem ainda ser comentadas, separadas como favoritas em
um perfil, relacionadas em uma exposição, sobrepostas em um grupo,
organizada em um álbum. Por fim, esta rede comunica-se com tantas outras,
sites como Facebook, Flickr, Twitter, blogs, sendo possível criar um módulo
com apresentação de slides em blogs e sites pessoais.
É importante notarmos como as noções de arquivo e visibilidade
complementam-se neste contexto e que por mais que existam tais ferramentas
para um direcionamento classificatório, o rizoma tem constantemente suas
conexões rompidas e outras reformuladas. Nada é fixo, o mapa está sempre
em constante transformação. Para analisar a fotografia em rede e, às vezes, as
subjetividades
manifestas
por
elas,
foi
necessário
fugir
de
noções
essencialistas da fotografia, de uma unidade do campo e da linguagem. Ao
contrário, a problematização desta produção do homem comum deve ser
estabelecida sempre em conexão com as demais linhas do dispositivo
fotográfico, em usos profissionais e institucionais, e da rede como um todo. A
visibilidade destes arquivos rizomáticos pode levantar questões sobre a atual
relação do homem com a fotografia, e mais ainda, com a imagem e o turismo.
Com relação ao que esperamos para futuros trabalhos e contribuições,
faz-se necessário a ampliação das discussões que envolvem a questão da
motivação das viagens. Na verdade, é difícil de avaliar a natureza do turismo
contemporâneo sem atentar para o fato de que tal atividade é construída,
reforçada e “bombardeada” em nossa imaginação pelas mídias e pelos meios
de comunicação. Sejam filmes, programas de televisão, cartões postais, redes
216
sociais, Internet ou mesmo comerciais, estas são algumas das inúmeras
possibilidades de se contemplar o mundo sem sair de casa que, no entanto,
apenas ampliam e avivam nossos desejos e devaneios. A “vantagem” de ter
todas essas informações ou mesmo o mundo dentro de casa, ao alcance de
um toque, simplesmente estimula a busca por novas experiências e
satisfações, ao contrário do que muitos podem pensar.
A concretização de uma viagem, a prática de viajar, deve ser
entendida, portanto, como a consolidação de uma percepção previamente
arquitetada, reforçada e eficientemente ampliada por toda uma estrutura
midiática (como estudamos e levantamos essa estrutura midiática ao longo da
tese, com a circulação e os mapas/cartas), destacando-se especialmente e
primordialmente a imagem fotográfica.
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André Riani Costa Perinotto