1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Júnior Leandro Gonçalves Avaliação da Aprendizagem: concepções de professores e alunos da educação básica de uma escola de São Paulo São Paulo 2010 2 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Júnior Leandro Gonçalves Avaliação da Aprendizagem: concepções de professores e alunos da educação básica de uma escola de São Paulo Prof.ª. Orientadora: Rosana dos Santos Jordão Trabalho de Conclusão de curso apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do diploma de Licenciado em Ciências Biológicas São Paulo 2010 3 Dedico este trabalho, de maneira especial, a dois mestres sem igual, meus pais Jair e Maria. Foram eles que me ensinaram que o respeito ao próximo e a simplicidade são dignos de um homem de caráter. Muito obrigado por me educarem de maneira justa e correta. 4 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus, a quem confiei todas as minhas ambições, desejos, angústias e sonhos. Por estar sempre ao meu lado, me apoiando nessa longa e árdua jornada. Agradeço a Universidade Presbiteriana Mackenzie, na qual encontrei apoio e soube me direcionar nos momentos em que precisei, contribuindo com profissionais especializados e capacitados e uma ampla rede de conhecimentos advindos dos materiais que subsidiaram minha pesquisa. Nesta oportunidade apresento à Universidade protestos de elevada estima e distinta consideração. Não podia esquecer, é claro, daquela que me auxiliou durante todo esse processo, que soube me orientar com dignidade e sabedoria desde o início até a conclusão deste trabalho, que soube atender com dedicação todos os meus anseios. Obrigado à minha orientadora Rosana dos Santos Jordão. Aos professores Adriano Monteiro e Magda Pechliye pelo empenho que tiveram em me auxiliar durante o curso de Licenciatura, me orientando nos momentos em que precisei, com seus valiosos conhecimentos e sábias experiências. Muito obrigado. Agradeço ainda a todos que colaboraram com este trabalho, fornecendo valiosas contribuições: aos professores e alunos que aceitaram participar das pesquisas, contribuindo com a triagem dos dados. De maneira particular, gostaria de agradecer a duas pessoas que me auxiliaram e me apoiaram nos tempos difíceis, mas antes de tudo, que souberam confiar em mim. O meu agradecimento à minha namorada Priscila e ao meu irmão Éverton. Agradeço aos meus irmãos Ronaldo, Ângelo, Ismael e Anailton, que não souberam medir esforços em ouvir todas as minhas angústias e a todos os familiares e amigos que me ajudaram, com dignidade, a superar as dificuldades que encontrei para conseguir realizar esse trabalho. 5 Em especial gostaria de reservar um espaço para um agradecimento: à família Biomack 308, formado por homens e mulheres de determinação e infindável companheirismo. Obrigado pela compreensão e ajuda que recebi de cada um de vocês. Mais um agradecimento: a todos aqueles que fizeram parte da minha educação, meus professores, sem os quais não conseguiria construir o conhecimento que hoje possuo. 6 “Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar, um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente como ele é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver. Um dia, um dia é preciso parar de sonhar e de algum modo partir.” Amyr Klink, Mar Sem Fim 7 RESUMO Diante das dificuldades que são impostas atualmente em relação à melhoria da qualidade da educação, são vários os fatores que influenciam nessa qualidade, mas a avaliação ganhou espaço, destacando-se como um conjunto de conhecimentos indispensáveis ao cotidiano dos envolvidos, na medida em que se constitui como prática reflexiva do processo de ensino-aprendizagem. Mas a avaliação da aprendizagem atualmente é apresentada como uma simples verificação quantitativa acerca dos conteúdos aprendidos pelos alunos, avaliando-se somente o resultado final obtido e não todo o processo, através de instrumentos pontuais, vagos e pouco precisos. Por isso, o objetivo deste presente estudo foi investigar as concepções de professores e alunos da escola básica sobre avaliação da aprendizagem. Para alcançar esse objetivo, cuja pesquisa teve caráter qualitativo, utilizou-se um questionário composto de três questões abertas aos alunos do último ano do ensino médio, além de duas entrevistas de natureza semi-estruturada com dois professores, que tinham diferentes tempos de profissão. Um deles estava em início de carreira e outro tinha vários anos de atuação na educação. As entrevistas foram gravadas e transcritas a fim de se obter dados mais precisos. Os dados coletados do questionário foram reunidos em tabelas e agrupados em categorias referentes a cada pergunta. A análise dos dados nos leva a concluir que, embora alguns sujeitos tenham concebido a avaliação como um processo, as práticas avaliativas ainda estão voltadas para uma avaliação pontual, classificatória, seletiva e excludente, evidenciada nas concepções de alunos, mas preferencialmente nas dos professores. Portanto, acreditamos que, para que haja uma mudança nas concepções acerca da avaliação da aprendizagem e, consequentemente, nas ações pedagógicas, necessita-se de uma formação continuada dos professores e do uso da avaliação diagnóstica como alternativa eficaz no processo de construção do conhecimento. Palavras-chave: Avaliação da Aprendizagem, Avaliação Processual, Avaliação Diagnóstica, Práticas Avaliativas, Instrumentos de Avaliação, Concepção de Avaliação. 8 ABSTRACT Given the difficulties that are currently imposed in relation to improving the quality of education, there are several factors that influence this quality, but evaluation gained ground, especially as a body of knowledge essential to daily life of those involved to the extent that is as reflective practice of teaching and learning process. But the evaluation of learning is now presented as a simple quantitative check on the content learned by students and to evaluate only the final result and not the entire process, through specific instruments, vague and imprecise. Therefore, the aim of this study was to investigate the conceptions of teachers and basic school students on evaluation of learning. To achieve this goal, whose research was qualitative, we used a questionnaire composed of 3 (three) questions open to students from high school last year and held two interviews with semi structured nature of two teachers with different periods of occupation, being an early in their career and another with several years’ experience in education. The interviews were recorded in order to obtain more accurate data. The data collected from the questionnaire were gathered on tables and grouped into categories for each question. Data analysis was that the evaluation procedure and principle skewed by a theoretical framework, we conclude that although some elements show a change in evaluation, assessment practices are still geared to a timely evaluation, classification, selective and exclusionary evident in students' conceptions, but rather on the teachers. Therefore, we believe, that there is a change in the conceptions of the Learning Evaluation and hence the pedagogical actions, it requires a continuous training of teachers and use the diagnostic evaluation as an effective alternative in the process of knowledge construction. Keywords: Evaluation of Learning, Procedure Evaluation, Diagnostic Evaluation, assessment practices, assessment tools, evaluation conceptions 9 SUMÁRIO 1–INTRODUÇÃO 10 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 12 2.1– A qualidade de ensino: desafiando obstáculos 13 2.2–A avaliação no contexto histórico 15 2.3 – A Avaliação no contexto atual: o que se pratica 18 2.4 – Funções da avaliação escolar 22 2.5 – Avaliação: prática reflexiva do processo de ensino aprendizagem 24 3–METODOLOGIA 26 3.1 – Realizações das entrevistas 28 3.2 – Aplicações dos questionários 29 3.3 – Criações de categorias 30 4 – RESULTADOS 33 5 – ANÁLISE E DISCUSSÕES 46 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 67 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69 8 – ANEXOS 72 10 1 – INTRODUÇÃO A educação tem papel importante para a formação pessoal de cada indivíduo e é um dos fatores transformadores da sociedade. Muitas vezes, e isso de fato está cristalizado e socialmente enraizado, a educação é considerada um "problema" da escola e de seus agentes, mas sabemos que ela ultrapassa o âmbito escolar, abrangendo outros grupos sociais como família, igreja, ambiente de trabalho, roda de amigos, dentre outros. Além disso, há grande preocupação quanto ao rumo da educação brasileira, já que vivemos num país cujas diferenças sociais, culturais, raciais, entre outras que permeiam a vida dos alunos, interferem concretamente na eficácia educativa. Mas, o que está sendo mostrado constantemente, por meio de pesquisas realizadas na área de educação, é que o ensino está cada vez pior, os índices de reprovação e evasão escolar ainda são altos e isso acaba refletindo em sua qualidade. Segundo o IBGE, a Pesquisa Nacional por amostra de domicílio de 2007 informa que, da população entre 7 e 14 anos que frequenta a escola, 2,1 milhões (8,4%) continuam analfabetos, sendo que no Nordeste essa porcentagem é quase o dobro da média nacional (15,3%) e no Norte, é 12,1%. A mesma pesquisa apresenta dados sobre a qualidade da educação no ensino fundamental, resultantes de avaliações feitas pelo Ministério da Educação e mostra que menos de um terço dos alunos da quarta série sabem os conteúdos da língua portuguesa e pouco mais de 20% os de matemática. Mas ao se firmar como uma instituição social, a escola deve, além de educar e ensinar, oferecer aos alunos a oportunidade de aprenderem a construir conhecimentos essenciais durante a vida escolar. E, o que de fato acaba incomodando a muitos educadores, é a forma como a construção do conhecimento é avaliada pelos professores: provas, testes, trabalhos e outros, que são realizados pontualmente e no fim tem-se a média que os alunos obtiveram. Atribuem-se notas de acordo com o aluno e não de acordo com sua aprendizagem ou o que ele aprendeu, ou seja, atribui-se valor numérico à pessoa. Partindo desse pressuposto, a maioria das escolas adota mecanismos avaliativos, aplicados aos alunos em determinados ciclos ou etapas de estudo, a fim de fornecer aos órgãos competentes dados de como está o ensino nas escolas. 11 Sendo assim, avaliar tornou-se uma rotina que culminou numa estrutura hierárquica, na manutenção de um sistema classificatório que mostra, na realidade, apenas dados quantitativos do ensino, principalmente quando se trata da educação pública. E essa classificação pode gerar mais problemas, pois se revelando como classificatória, ela tornou-se o principal mecanismo de sustentação da lógica de organização do trabalho escolar e, consequentemente, constitui-se num legitimador do fracasso ou um recurso único de promover os alunos a outras séries. Para alguns, o problema não está exatamente em fornecer dados sobre a situação das escolas, mas em utilizar esses dados para melhorar o ensino. Além disso, muitos resultados podem não condizer com a realidade de muitas escolas, porque elas acabam optando por um método avaliativo que acaba classificando os alunos em bons e ruins. No entanto, a avaliação da aprendizagem pode auxiliar na tomada de decisão e na melhoria da qualidade de ensino, informando as ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações constantes feitas tanto pelos professores quanto pela escola na qual o aluno está inserido. E mais, a prática avaliativa deve levar em consideração a realidade dos alunos, além de possuir princípios e valores agregados à melhoria e transformação social, já que fornece informações necessárias sobre o processo de ensino-aprendizagem, para que os agentes escolares decidam quais as intervenções devem ser feitas frente ao projeto educativo, visando transformações e mudanças. Por isso, uma reflexão sobre as práticas avaliativas realizadas pelos professores bem como o seu uso, é importante já que fornece elementos para o desenvolvimento de medidas que melhor se adéquem a cada escola e para a elaboração de um currículo que possa satisfazer as necessidades dos alunos. Nessa perspectiva, esse trabalho tem como objetivo central investigar as concepções de professores e alunos de uma escola básica sobre a avaliação da aprendizagem fazendo comparações entre elas. 12 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Diante das dificuldades que são impostas atualmente em relação à melhoria da qualidade da educação, são vários os fatores que influenciam nessa qualidade, mas a avaliação ganhou espaço, destacando-se como um conjunto de conhecimentos indispensáveis ao cotidiano dos envolvidos, na medida em que se constitui como prática reflexiva do processo de ensino aprendizagem. Sendo assim, segundo o inciso V do artigo 24 da LDB (Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996), considera-se como avaliação escolar: A verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanços nos cursos e nas séries, mediante a verificação do aprendizado. (…) (BRASIL, 1996) O artigo da LDB acima deixa claro que a avaliação deve ser um processo contínuo e não um momento isolado nem ter um fim em si mesmo. E por ser um processo, a avaliação exige uma gama de instrumentos que possam auxiliar professores e alunos, fornecendo elementos essenciais para verificar quais objetivos estão sendo alcançados (RAMAL, 1998). Além disso, a avaliação pode favorecer mudanças nas práticas avaliativas, influenciando o professor no momento em que ele atribui notas, já que oferece elementos para sua reflexão, interferindo na maneira como ele classifica, julga e compara a aprendizagem de alunos, tendo como base um aluno referência, aquele que apresenta um desempenho médio, enquanto há aqueles que superam esse aluno, mas a maioria não consegue se “igualar” a tal aluno. Para entender como a avaliação escolar se concretizou em nossas escolas, sua influência na vida escolar dos alunos, bem como a concepção que professores tem a seu respeito, apresentamos o texto a seguir. 13 2.1 – A qualidade de ensino: desafiando obstáculos Antes de especificarmos o processo de avaliação escolar, é bom ressaltarmos a importância da qualidade de ensino e o que se entende por qualidade, uma vez que este critério é importante quando se leva em conta o aprendizado dos alunos. Como sugere Hoffmann (2006), uma melhoria da qualidade de ensino deve atender não somente à demanda dos alunos nas escolas, como também considerar a individualidade deles, a ponto de auxiliá-los a usufruir o direito à educação, no sentido que compreendam que são indivíduos que compõem a sociedade e, por isso, têm direito de nela intervir. Sendo assim, não basta aumentar o número de escolas, turmas ou professores, mas sim manter na escola os alunos que ingressam, uma vez que trazem consigo culturas e valores diferentes, advindos de realidades diversas. Além disso, sabemos que, em nossa sociedade predominou-se um sistema que privilegia uma pequena parcela da população, deixando a maioria fora do contexto educacional, há muito tempo que se estabeleceu um ensino público de qualidade direcionada à elite. Como afirma Hoffmann (2006): (...) qualquer referência saudosista a um ensino de qualidade, significa, automaticamente, a manutenção de uma concepção elitista do aluno ingressante a qualquer escola. Ou seja, significa negar a pluralidade do jeito de viver dos nossos alunos e limitar nossa ação pedagógica no sentido de compreensão dessas realidades. É preciso atentar para o fato de que uma escola de qualidade é a que dá conta, de fato, de todas as crianças brasileiras, concebidas em sua realidade concreta. (HOFFMANN, 2006 p. 16). Nessa mesma perspectiva de ensino de qualidade, podemos ainda trazer as contribuições de Coll e Solé (1999), advindas de seus estudos em uma escola que oferece um ensino construtivista. Nessa realidade, a qualidade está na capacidade que a escola possui de oferecer a cada aluno oportunidades e instrumentos para seu progresso, atendendo não somente as questões relacionadas ao aluno, mas sim a tudo que diz respeito ao ensino, envolvendo aspectos mais gerais como projetos curriculares, organização escolar. Tudo isso visando à diversidade existente, em que os valores culturais, sociais e econômicos influenciam no modo pela qual a escola atende a esses 14 critérios. Perrenoud (2007) conclui que a regra para um ensino de qualidade é a diversidade, pois para ele, considerar a diversidade como parte da didática escolar é considerar a possibilidade de resolver um mesmo problema de maneiras diferentes, cujas habilidades e capacidades desempenhadas pelos alunos têm como motor as diferenças culturais e individuais. Ainda tratando da qualidade de ensino, sabe-se da importância de políticas públicas voltadas para a melhoria da educação. Mas nem sempre uma política educacional é contemplada em seu âmbito, pois muitos são os fatores que interferem na sua realização, bem como a falta de interesse por parte de agentes que tendem a torná-la real e não apenas superficial. Mas ressalta-se a importância dos fatores culturais como essenciais para o sucesso de uma política educacional, pois estes valores culturais vão sendo construídos historicamente e refletem na elaboração de uma política educacional, que dê relevância à participação efetiva dos envolvidos, cujas ações estejam voltadas para a eficácia dos processos de aprendizagem, de gestão escolar e outros (HOFLING, 2001). Enquanto não se amplificar efetivamente a participação de todos os envolvidos nas esferas de decisão, de planejamento e execução da política educacional, estaremos alcançando índices positivos quanto à avaliação dos resultados de programas da política educacional, mas não quanto à avaliação política da avaliação. (HOFLING, 2001 p. 39) O mesmo é sugerido por Machado (2004), mas ele sugere a adesão de um ingrediente importante também para que as ações educacionais visem um ensino de qualidade. Trata-se de projetos, uma vez que estes estão estritamente relacionados com os valores. O autor ainda ressalta que se os projetos não tiverem como base ou suporte um determinado valor, a capacidade de projetar pode tomar rumos inesperados e, muitas vezes, constrangedores. Mas por que falar de ensino de qualidade, políticas educacionais, projetos e valores se o foco deste trabalho é a avaliação no contexto escolar? Ora, se queremos questionar o quanto a avaliação influencia no processo de ensino aprendizagem, temos que ressaltar quais os fatores influi na visão atual de avaliação. 15 2.2 - A avaliação no contexto histórico Segundo Freitas (2003): “...A escola é uma construção histórica […] A lógica da avaliação não é independente da lógica da escola...” ( FREITAS, 2003 p. 13 e 45) O autor afirma que a escola se firma como uma instituição social estabelecendo uma lógica que obedece às finalidades sociais dentro de um processo histórico, organizando-se de acordo com a estrutura da sociedade vigente. Isso implica que, se há uma organização fundamentada por um sistema socioeconômico, em um determinado momento histórico, as práticas avaliativas também são influenciadas por esse sistema, como esclarece o autor na passagem que se segue. para aprendermos o papel que a avaliação passou a ter na escola, é fundamental entendermos o processo histórico de distanciamento da escola em relação à vida, em relação à prática social. Esse afastamento foi ditado por uma necessidade ligada à formação social capitalista, a qual, para apoiar o desenvolvimento das forças produtivas, necessitou de uma escola que preparasse rapidamente, e em série, recursos humanos para alimentar a produção de forma hierarquizada e fragmentada. (FREITAS, 2003 p. 14 e 15) Sabe-se que a avaliação, como descreve Freitas (2003), para ser concebida de tal forma atualmente, modificou-se para atender determinado grupo da sociedade. Segundo Chueiri (2008), as práticas avaliativas já eram utilizadas na China, há pelo menos três mil anos antes de Cristo, quando se escolhiam os homens mais preparados para atuarem no exército, por meio de seleções. A mesma autora ainda afirma que no Brasil, práticas seletivas datam da época em que os padres jesuítas passaram a avaliar, através de provas e exames, alunos de colégios católicos e da Ordem Jesuítica. Tais práticas estão associadas à Pedagogia Tradicional e tem como base uma avaliação seletiva. Mas o auge de utilização de exames se deu quando a burguesia, insatisfeita com suas condições sociais devido às hierarquias já predominantes na sociedade, buscou meios de dinamizar as diferenças existentes: 16 a prática dos exames atinge seu apogeu com a ascensão e consolidação da burguesia, uma vez que desprovida dos privilégios garantidos por nascimento e da fortuna da aristocracia recorre ao trabalho e aos estudos como forma de ascensão social. (CHUEIRI, 2008 p. 54) Segundo Franco (2000), todo o processo no qual se firmou a história da avaliação educacional brasileira, possui uma matriz epistemológica inspirada ou fundamentada em modelos, geralmente dos Estados Unidos ou da Europa. Esses modelos sofreram mudanças ao serem aplicados em nosso país, uma vez que tiveram que se adequar à realidade das escolas, embora as características básicas de ambos os modelos, como a avaliação seletiva, por meio de dados pontuais, por exemplo, fossem as mesmas. Quanto aos modelos, Sousa (2000) destaca o utilizado nos Estados Unidos por Tyler e Smith, na década de 30, que teve grande relevância na área educacional, conhecido como “Estudo dos oito anos”. Este modelo tinha como ideal a mensuração por meio de testes padronizados, incluindo a introdução de vários instrumentos e procedimentos de avaliação, como caderno de registro de comportamentos, questionários, escalas e outros. Depresbiteris (2000) menciona a importância dos estudos de Bloom que, segundo a autora, defendia a ideia de que o domínio da aprendizagem na teoria é disponível para todos, desde que haja meios que possibilitem ajudar os alunos em suas peculiaridades, criando assim uma aprendizagem para o domínio. Nesta, percebia-se que os mesmos conteúdos dominados por melhores alunos de um ano, podiam ser atingidos pelos alunos dos anos posteriores, prevalecendo o auxílio do professor. A autora enfatiza o trabalho de Bloom ao afirmar: Ele era contra o uso de notas em testes realizados durante o processo de ensino-aprendizagem, pois a finalidade desses instrumentos deveria ser determinar o domínio ou a falta de habilidades, oferecendo tanto ao aluno quanto ao professor informações para a melhoria dos desempenhos não-dominados ou incentivo no caso dos objetivos já alcançados. (DEPRESBITERIS, 2000, p. 53) Além disso, tem destaque a influência da Psicologia quanto aos aspectos da avaliação. Hoffmann (2006) salienta que há muito se utiliza nas salas de aula um 17 processo avaliativo cujo enfoque é o comportamento dos alunos, ou seja, este processo tem o intuito de verificar e estimular quais as mudanças ocorridas nos comportamentos, sendo considerada a Psicologia Comportamental. Este é um dos princípios do modelo de Tyler, criticado pela autora, pois aos inseri-lo no cotidiano, as ações avaliativas se reduzem simplesmente a correção de tarefas diárias dos alunos e registro dos resultados. Mas com crescente estudo sobre a avaliação em seus contextos, a forma de avaliação que mais se destacou foi o exame. Chueiri (2008) afirma, assim como Freitas (2003), que sempre houve influência do modelo capitalista na forma como se avalia nas escolas. Pratica-se nas escolas exames em vez de avaliar a aprendizagem dos alunos. Para Chueiri (2008) as concepções de avaliação são caracterizadas por um pensamento liberal, que impõe necessariamente uma avaliação classificatória, para atender às demandas sociais. Este fato nos remete ao duplo sentido atual que a avaliação assume em nossas escolas. O primeiro que ganhou força nos últimos anos, é a avaliação para prosseguir nos estudos, ou seja, avaliação que serve como passaporte para o ensino superior, e o segundo é a certificação, que qualifica o aluno para mercado de trabalho. Perrenoud (2007) salienta cuidadosamente: Uma certificação fornece poucos detalhes dos saberes e das competências adquiridas e do nível de domínio precisamente atingido em cada campo abrangido. Ela garante sobretudo que um aluno sabe globalmente 'o que é necessário saber' para passar para a série seguinte no curso, ser admitido em uma habilitação ou começar uma profissão […] A vantagem de uma certificação instituída é justamente a de não precisar ser controlada ponto a ponto, de servir de passaporte para o emprego ou para uma formação posterior. (PERRENOUD, 2007 p. 13) Diante do exposto acima, podemos então entender como e porque a avaliação praticada atualmente vem sendo um dos principais alvos de críticas quando o assunto é educação. A avaliação que se pratica atualmente consolidou-se durante um longo processo histórico. A seguir, apresentaremos as múltiplas facetas que envolvem essa avaliação. 18 2.3 - A avaliação no contexto atual: o que se pratica A avaliação tem sido utilizada muitas vezes de forma errônea, reducionista, como se pudesse limitar-se a um instrumento de coleta de informações. É comum ouvir-se vou fazer uma avaliação, quando se vai aplicar uma prova ou teste. (ANDRIGHETTO e RICHTER, 2009, p. 6) Não é estranho que a situação descrita no trecho acima aconteça normalmente e quase sempre em nossas escolas. Isso porque a escola estabelece critérios e padrões para avaliar os alunos, o que acaba gerando controvérsias entre os educadores, principalmente aquelas relacionadas ao tipo de avaliação que se faz e o próprio significado da avaliação para cada um. Sendo assim, a avaliação é componente essencial para comprovar o rendimento dos alunos, cabendo ao professor avaliar os resultados, embora se saiba que entre os alunos há diferenças no aprender, sendo alguns mais eficientes enquanto outros aprendem de maneira mais lenta (HAYDT, 2002). Cabe ainda ao professor reconhecer essas diferenças para poder ajudar os alunos, orientando-os a superar as dificuldades e avançar no processo de aprendizagem. Embora se saiba que, infelizmente, somente o aluno é avaliado e essa avaliação concretiza-se exclusivamente pelo julgamento que o professor faz do aluno, sendo que o papel ativo do aluno nesse processo é inexistente, complementa Sousa (2000). Em outro plano, os resultados obtidos pelos processos que os alunos tiveram refletem diretamente na eficácia e qualidade de ensino, sendo o aluno uma espécie de espelho do trabalho que foi desenvolvido em sala de aula (HAYDT, 2002). E, desta forma, estabelece-se práticas de avaliação nas escolas que não condizem com o significado que a avaliação deveria ter. Assim, mesmo que as práticas metodológicas mudem se ainda mantivermos os velhos conceitos de avaliação, ela continuará sendo o principal mecanismo de sustentação da lógica de organização do trabalho escolar durante muito tempo e, consequentemente, continuando se constituindo num legitimador do fracasso ou um recurso único de promoção dos alunos a outras séries (SOUSA, 2000). Em outras palavras, para Perrenoud (2007) a avaliação comporta-se tradicionalmente como uma ferramenta geradora de hierarquias, em que os alunos são comparados e posteriormente classificados em duas categorias: aqueles que aprenderam ou os 19 bons alunos (de acordo com a nota obtida) e aqueles que são fracassados ou não conseguiram alcançar as metas exigidas pelo currículo escolar. A avaliação da aprendizagem atualmente é apresentada como uma simples verificação quantitativa acerca dos conteúdos aprendidos pelos alunos, avaliando somente o resultado final obtido e não todo o processo (NETO e AQUINO, 2009). Esse tipo de mensuração acaba, consequentemente, levando à desvalorização e à redução dos conceitos de avaliar, pois por sua natureza classificatória, exclui ou encobre as dificuldades apresentadas pelos alunos, tornando difícil a prática reflexiva. Sabe-se ainda que, no ensino tradicional exercido pela maioria dos docentes, as práticas avaliativas são consideradas mecanismos eficazes do controle do professor sobre os alunos (HOFFMANN, 2006). Neste caso é importante destacar que os professores em geral, atribuem notas aos alunos de acordo com aspectos atitudinais, como comportamento, participação e até mesmo interesse (HOFFMANN, 2008). Além disso, muitos professores chegam a definir parâmetros ou critérios para distribuição da nota em forma de pontos aos seus alunos, como se o conhecimento pudesse ser medido, quantificado, sendo uma ação errônea, mas comumente aplicada. Hoffmann (2008) deixa claro que: O que percebo é que a compreensão de muitos professores é de que tudo pode ser medido, sem que se deem conta de que muitas notas são atribuídas arbitrariamente, ou seja, por critérios individuais, vagos e confusos, ou precisos demais para determinadas situações. (HOFFMANN, 2008 p. 41) O que se vê é, portanto, que dar notas ou conceitos aos alunos é uma medida considerada adequada por muitos. Além disso, as notas e as provas realizadas pelos professores tornaram-se redes de proteção quando se trata de manter seus alunos sob controle, (HOFFMANN, 2006). Sem contar que a mera atribuição de notas gera um sistema classificatório vago, no que se refere a apontar as falhas no processo de aprendizagem, em diagnosticar as reais dificuldades enfrentadas pelos alunos e pelo corpo docente e não sugere encaminhamento, uma vez que antes de tudo, as notas servem para discriminar e selecionar melhores e piores, colocando-os em patamares distintos (HOFFMANN, 2006). 20 Para Depresbiteris (2000), o que há é um erro no que diz respeito ao uso da nota. É preciso rever quais as suas finalidades para a formação do aluno e o que ela representa: um símbolo que signifique reprovação ou aprovação ou uma informação que deve ser usada qualitativamente – e não apenas quantitativamente como se tem observado na educação – para buscar melhorias de ensino, melhorias que não signifiquem exatamente aumentar ou diminuir pontos na nota dos alunos através de análises do professor sobre a participação, atitudes e relacionamentos existentes entre eles. Portanto são improfícuas as discussões sobre se a nota deveria ser expressa em números, em letras ou palavras. A análise deveria ser mais profunda e verificar como essa nota está sendo fundamentada, através de que objetivos, critérios e maneiras de ensinar. (DEPRESBITERIS, 2000 p. 72) Consoante às ideias de Hoffmann (2006) e Depresbiteris (2000), Sousa (2000) deixa claro que, ao atribuir notas aos seus alunos, o professor controla-os para que realizem as tarefas por ele propostas e assim, mantém a disciplina em sala de aula. A autora deixa explícito que a nota possui um poder em si mesmo, mas não resolve o problema da indisciplina e ressalta, assim como Depresbiteris (2000), que as notas atribuídas refletem além do desempenho em relação ao conteúdo desenvolvido, como os alunos se comportam diante desses conteúdos: se cumprem as tarefas aplicadas e apresentam interesse em apredner, mas o que de fato influenciará é o modo como o professor mensura, uma vez que cada um possui fundamentos próprios para aplicar determinada nota. E muitos alunos acabam se preocupando com a nota final e para isso memorizam, decoram conceitos e depois reproduzem automaticamente nas provas aquilo que memorizaram, pois as notas finais é que são importantes, são elas que darão condições de aprovação ou reprovação ou definirão a possibilidade do fluxo escolar, na progressão de séries, mas o pior neste caso é que o processo de aprendizagem fica comprometido, visto que os alunos se preocuparão em apenas tirar notas boas em provas (SOUSA, 2000). De modo geral, os conceitos atribuídos aos alunos refletem também, além de seu desempenho em relação ao conteúdo desenvolvido, seu comportamento em sala de aula cumprimento de tarefa e esforço, aspectos que são considerados com diferentes pesos pelos professores. (SOUSA, 2000 p.86) 21 Sousa (2000) ainda explicita que as notas tornaram-se agentes causadores de hipertrofias na educação, por serem consideradas o principal aspecto de promoção dos alunos. Os alunos são avaliados de acordo com o sistema da escola, que não considera o seu processo, visando apenas à busca de produtos e resultados que serão critérios novamente utilizados para aprovação ou reprovação. Acrescenta-se ainda uma arbitrariedade quanto à utilização da nota. Ao atribuí-la como método comparativo, os professores acabam nomeando, por conceitos próprios, seus alunos, sendo o aluno com nota 10 o aluno ideal e servindo de referência para classificar os demais em piores ou melhores, critica Hoffmann (2008). Essa atitude, ingênua ou arbitrária, de dar notas, deve ser questionada quanto ao seu uso, pois quantificar é útil a partir do momento que não se torne o único modo de avaliar, comparar ou classificar, e sim um dos mecanismos que possam auxiliar a apontar erros e dificuldades direcionando a melhoria, confirma Hoffmann (2008). Ao apresentar as concepções que envolvem a avaliação tradicional, os autores também oferecem alternativas contrárias aos modelos avaliativos classificatórios, pois não basta apenas apontar os fracassos, erros e impasses dessa avaliação. Assim como Perrenoud (2007), Haydt (2002) diz que a avaliação não deve ter caráter seletivo, servindo como uma forma de classificação e promoção ou detectar o sucesso ou fracasso dos alunos, mas diagnosticar as dificuldades apresentadas por eles e buscar medidas que possam tornar o processo de aprendizagem eficaz. Além disso, a avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações constantes feitas tanto pelos professores quanto pela escola na qual o aluno está inserido. Ela deve ser um processo em que se prioriza o diálogo e a cooperação, em que se deem oportunidades tanto aos educadores, quanto aos educandos, de discorrerem sobre as atividades efetuadas, verificando-se as mudanças ocorridas e prevendo-se possíveis alterações nos rumos do trabalho de acordo com os objetivos previamente estabelecidos (HOFFMANN, 2008). A avaliação como processo é defendida também por Haydt (2002) ao afirmar que a mesma é contínua e sistemática, podendo ser esporádica ou pontual, devendo ser constantemente planejada e aplicada. 22 Essa autora complementa um ponto importante da avaliação, quando lhe dá o atributo de fornecer um feedback dos resultados, pois permite que haja recuperação imediata, quando houver necessidade, uma vez que se trata de um processo e não de algo medido ou censurado e prontamente estabelecido, de caráter classificatório. Nessa perspectiva, a avaliação se configura como um mecanismo que permite ao professor detectar e identificar deficiências na forma de ensinar, possibilitando reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoá-lo. Como já abordamos anteriormente, a avaliação classificatória e de julgamento dos alunos necessita de uma redefinição (SOUSA, 2000). Redefinição esta em que a prática avaliativa leve em consideração a realidade dos alunos, que possua princípios e valores agregados à melhoria e à transformação social, dando enfoque na finalidade de fornecer sobre o processo de ensino-aprendizagem informações necessárias para que os agentes escolares decidam quais as intervenções fazer frente ao projeto educativo, visando transformações e não mensurações e medições. Avaliar, testar, medir, atribuir valores simbólicos, notas ou conceitos estão diretamente relacionados às funções que a avaliação desempenha dentro do processo de aprendizagem. Negar tais procedimentos é impossível, mas a partir do que já foi discutido fica claro a importância de descrever um pouco sobre essas funções desempenhadas. 2.4 - Funções da avaliação escolar Como já descrito, a avaliação é um processo que descreve quais os objetivos já atingidos num determinado ponto de percurso e que dificuldades relevantes existem. Esta informação é necessária ao professor para que este procure estratégias que possam ajudar os alunos a resolverem essas dificuldades e que os próprios alunos possam percebê-las e ultrapassá-las, seja com a mediação do professor, seja pelo próprio esforço. É nesse sentido que se dá a avaliação formativa. Segundo Hadji (2001), a avaliação formativa faz levantamentos e coleta informações indispensável ao processo de ensino-aprendizagem, que contribuem para uma melhor regulação do ensino, mas não é o suficiente. Para o autor: “... sua principal função (avaliação formativa) é a de contribuir para uma boa regulação da 23 atividade do ensino (…) uma avaliação não precisa conformar-se a nenhum padrão metodológico para ser formativa...” (HADJI, 2001 p. 19). É necessário que haja uma avaliação prognóstica que conduza a um reajuste do processo de aprendizagem ou uma remodelagem dos conteúdos com uma pedagogia diferenciada. Além disso, a avaliação formativa é informativa na medida em que fornece dados dos principais envolvidos nesse processo, que são alunos e professores em que suas ações podem ser observadas durante o percurso conduzindo e otimizando a aprendizagem (PERRENOUD, 2007). É importante destacar que, para muitos autores, esse tipo de avaliação tem como função principal a correção. Correção porque, de acordo com Hadji (2001), tanto o professor quanto aluno poderá corrigir erros ou melhorar ações com o objetivo de ajustá-las de modo que a aprendizagem não fique defasada. Mas o autor alerta, Registraremos aqui o fato de que hoje se sabe que a avaliação não é uma medida pelo simples fato de que o avaliador não é um instrumento, e porque o que é avaliado não é um objeto no sentido imediato do termo. Todos os professores-avaliadores deveriam, portanto, ter compreendido definitivamente que a 'nota verdadeira' quase não tem sentido. (HADJI, 2001 p. 34) Para Depresbiteris (2000), a avaliação formativa tem função primordial de orientação durante todo o processo e deve ser contínua, uma vez que fornece dados obtidos que subsidiarão um melhor planejamento das atividades propostas pelo professor e permite estudar os “erros” dos alunos e procurar meios de corrigi-los. Nesta mesma direção segue Haydt (2002), ao propor uma avaliação ao longo de uma etapa ou durante o processo que se dá a aprendizagem, avaliação esta que forneça dados que possam aperfeiçoar este processo, bem como constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados. Mas é de se convir que outras modalidades de avaliação são encontradas em muitas salas de aula e uma delas é a somativa. Merece destaque essa avaliação pelo fato do universo que ela abrange que é o de classificar os alunos de acordo com os níveis de aproveitamento, podendo ser usada para a aprovação ou reprovação, pois é aplicada geralmente ao final do ano letivo ou no final de uma unidade de ensino (HAYDT, 2002; SOUSA, 2000). Para Depresbiteris (2000) se a 24 avaliação tem função classificatória, ela não constitui um meio de identificar as causas dos fracassos e sucessos do processo de aprendizagem, e sim um instrumento essencialmente classificatório servindo para julgar os alunos, o que impossibilita a transformação e aprimoramento do ensino. Concordando com esse pensamento, Luckesi (1998) deixa claro que a avaliação somativa não oferece um momento para reflexão sobre a prática, nem auxilia em o avanço e o crescimento dos envolvidos. Porém, a avaliação deveria permitir esse crescimento dos alunos no processo de aprendizagem, além de fornecer informações esclarecedoras sobre esse processo. Alguns apostam na avaliação diagnóstica, pois ela permite o crescimento em autonomia e competência (LUCKESI, 1998). Mas atrelada à avaliação diagnóstica está a avaliação formativa, uma vez que a primeira é comumente usada para mostrar que os alunos merecem tratamento e o professor deve ser mediador, enquanto que a segunda tem função de identificar os objetivos que foram atingidos e os que deixaram de ser alcançados (DEPRESBITERIS, 2000). Estas duas podem servir juntas para apontar as dificuldades dos alunos e ajudá-los a encontrar mecanismos que permitem o avanço no processo de aprendizagem. Isso porque a avaliação diagnóstica possibilita verificar se os alunos possuem ou não pré-requisitos (conhecimento prévios e habilidades) para novas aprendizagens, além de detectar dificuldades específicas tentando identificar suas causas, uma vez que é realizada no início de um período de ensino, afirma Haydt (2002). 2.5– Avaliação: prática reflexiva do processo de ensino-aprendizagem Até agora foram colocados pontos cruciais da avaliação da aprendizagem, tendo em vista que está diretamente relacionada com o modo como muitos professores a efetuam. Sendo assim, no ensino tradicional, ao se falar em avaliação, muitos (por ingenuidade ou ignorância) utilizam-na como um instrumento único, pontual e não como processo, pois ela permite introduzir um sistema autoritário em sala de aula, o que possibilita a uns o acesso ao saber e a outros a estagnação e a evasão do saber, reproduzindo a distribuição social nas salas de aula (LUCKESI, 1998). Por meio do abuso de poder, através da avaliação, o professor mantém um 25 papel disciplinador, enfatiza Luckesi (1998), ao querer atribuir ou retirar notas de determinados alunos, quando não “simpatiza” com eles. A avaliação como um processo, que não possui uma finalidade em si, que adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com o projeto de ensino, visando construir um resultado previamente estabelecido (LUCKESI, 1998) permite relacionar com o processo de ensino-aprendizagem, em que há um ponto de partida e um ponto de chegada e que é necessário verificar se tal trajeto atingiu as metas ou se houve desvio ou se muitos pararam por não saber direito o caminho a seguir (MACHADO, 2004). Coloca-se esse dado, pois assim acontece com a avaliação. A forma como se avalia é crucial para a concretização de um projeto educacional (LUCKESI, 1998) em que haja participação de todos os envolvidos no processo educativo (COLL e SOLÉ, 1999). Para Neto e Aquino (2009), pensar em avaliação requer pensar em tomada de decisões dirigidas a melhorar o ensino. É pensar no que se pratica nas escolas, uma vez que as dificuldades apresentadas pelos alunos não são diagnosticadas, mas sim substanciadas por uma classificação, culminando na reprovação ou aprovação. Os autores concretizam: Podemos afirmar que o processo avaliativo tem relação direta com a significação que o professor construiu sobre avaliação da aprendizagem e que, em ocorrência disso, a formação de uma concepção de avaliação como instrumento de comunicação que facilita a construção do conhecimento, depende de uma coerente formação inicial e continuada dos mediadores do processo educativo. (NETO e AQUINO, 2009, p. 3) Assim sendo, a avaliação é uma ferramenta extremamente importante no processo de ensino-aprendizagem, na medida em que avaliar é mediar esse processo, é auxiliar o aluno em seu desenvolvimento social e responder à sociedade por um ensino de qualidade (LUCKESI, 1998). Deve ser um mecanismo de incentivo para o aluno aprender, ou um meio de corrigir seus erros e para os professores um meio de aperfeiçoar procedimentos (HAYDT, 2002). Por seu caráter complexo, a avaliação não é um processo meramente técnico; inclui princípios e valores, mas sua prática está enraizada em ideologias mistificadas ao longo da história e deve ser superada (SOUSA, 2000), pois é um processo de investigação que visa mudanças. 26 Se as metas são mudanças, necessariamente precisamos ter uma compreensão diferenciada do verdadeiro significado de avaliação (HOFFMANN, 2006 e 2008), como uma forma de dinamizar as oportunidades de reflexão e de conhecimento. Requer, ainda, desenvolver uma avaliação em benefício do educando. Mudar a nossa concepção se faz urgente e necessário. Primeiramente deve-se romper com padrões estabelecidos pela própria história de uma sociedade elitista e desigual. Para Chueiri (2008), é necessário repensar o paradigma epistemológico que substancia o processo avaliativo, para que possamos reformular não uma metodologia, mas que implantemos práticas pedagógicas com novos significados, que ultrapassem a concepção de medida, classificação que a avaliação tanto apregoa em nossas escolas. Neste sentido, Hoffmann (2008) afirma que mudar a avaliação significa provavelmente mudar a escola. Automaticamente, mudar a prática da avaliação nos leva a alterar práticas habituais, criando inseguranças e angústias e este é um obstáculo que não pode ser negado, pois envolve toda a comunidade escolar. Se as nossas metas são educação e transformação, não nos resta alternativa senão juntos pensarmos uma nova forma de avaliação. Romper paradigmas, mudar nossa concepção, mudar a prática, é construir uma nova escola. 3 – METODOLOGIA O presente trabalho é resultado de uma pesquisa com características qualitativas. Escolhemos essa abordagem de pesquisa, pois consideramos que abordagens qualitativas permitem descrever complexidades dos problemas apresentados, viabilizando uma análise detalhada das interações entre as possíveis variáveis existentes. Além disso, possibilita compreender e classificar determinados fenômenos e hipóteses a partir dos dados coletados. Pode ainda, oferecer contribuições aos processos que visam mudanças, à criação ou à formação de opiniões dos sujeitos envolvidos na pesquisa, bem como visa à interpretação das particularidades dos comportamentos e atitudes dos indivíduos (OLIVEIRA, 2008). 27 Retomando o objetivo geral proposto neste estudo, que era investigar as concepções de professores e alunos de uma escola básica sobre avaliação da aprendizagem, a pesquisa foi realizada com docentes e alunos do ensino médio, de uma escola pública da cidade de São Paulo. A escolha da referida escola se deu em função do vínculo já existente entre o pesquisador e a instituição, estabelecido para a realização dos estágios obrigatórios do curso de Licenciatura. O primeiro passo para a realização do trabalho foi apresentar uma carta de consentimento à instituição (anexo 1). Após a autorização para a coleta de dados, apresentamos aos os sujeitos envolvidos na pesquisa uma carta de consentimento (anexo 2) para a realização da entrevista. O pesquisador marcou um horário com os participantes, respeitando o tempo e espaço deles, a fim de se evitar problemas e transtornos. Em relação à escolha dos alunos, optamos por aqueles que cursavam o 3º ano do ensino médio, uma vez que já passaram por um período considerável nas escolas e, portanto, por inúmeras situações de avaliação. Já a escolha dos professores como sujeitos da pesquisa teve como foco o tempo de atuação na profissão, sendo um deles (sujeito 1) no início da carreira pedagógica, com aproximadamente um ano e o outro (sujeito 2) com uma longa carreira pedagógica, com mais de vinte anos, o que esperamos que enriqueça a discussão. Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: questionários (anexo 3) e entrevistas (anexo 4). Optou-se pelo uso de ambos, uma vez que são técnicas comumente utilizadas em pesquisas que envolvem pessoas como fontes de dados (MARANGONI, 2009). O primeiro instrumento, o questionário, foi desenvolvido a fim de se obter dados qualitativos sobre a concepção de alunos acerca da avaliação da aprendizagem, o que condiz com um dos objetivos dessa pesquisa. Foram abordados três aspectos importantes: concepção de avaliação da aprendizagem, instrumentos de avaliação, ponto de vista de como deveria ser realizada a avaliação. Os principais passos para a elaboração do questionário estão descritos a seguir, pautados nas contribuições de Marangoni (2009). Uma vez estabelecidos os objetivos, foi realizado um prévio conhecimento das pessoas envolvidas, isto é, dos alunos e professores que forneceriam dados. Em seguida, houve a elaboração de uma lista de perguntas sob a forma de questões abertas, levando-se em conta a 28 lógica e ordem das questões bem como a adequação dos espaços reservados às respostas. As questões de natureza aberta possibilitaram aos envolvidos exporem suas ideias e opiniões, sem induzi-los a uma resposta esperada. Já o segundo instrumento, a entrevista aplicada aos professores, era de natureza semi-estruturada. Por seu caráter interativo, a entrevista permite tratar de temas abrangentes ou complexos, extraindo informações valiosas e explorando com detalhes as opiniões dos participantes. Além disso, numa entrevista semiestruturada há possibilidades de mudanças, uma vez que o entrevistador tendo um roteiro pré-estabelecido para ser seguido, pode modificá-lo de acordo com as respostas do entrevistado, a fim de atingir os objetivos propostos (NETO e AQUINO, 2009). Para a elaboração do roteiro de entrevista, assim como para a elaboração das perguntas do questionário, alguns passos foram importantes, dentre eles: o estabelecimento claro dos objetivos e da forma de abordagem e linguagem utilizadas, tendo em vista que foi realizado um estudo prévio sobre o assunto abordado, facilitando a escolha de perguntas coerentes e que satisfizessem os objetivos estabelecidos. A escolha da entrevista para os professores e dos questionários para os alunos, feita em função da quantidade de participantes em cada uma das situações de coleta de dados. A entrevista, embora possibilite uma coleta de dados mais abrangente e rica de informações, demanda mais tempo para sua realização e, principalmente, transcrição. Por isso, foi realizada apenas com dois professores. Para os alunos, num total de trinta, o questionário foi mais adequado e o tempo que tiveram para respondê-lo foi de aproximadamente quinze minutos. 3.1 – Realização das entrevistas Ao entregar a carta de consentimento livre e esclarecido à instituição, informamos ao diretor e ao coordenador sobre os critérios para a participação dos professores e dos alunos. Como já explicitamos, um professor deveria estar no início da carreira e o outro deveria ter uma experiência mais consolidada. Após sermos apresentado aos participantes, explicamos os objetivos da pesquisa e os convidamos a participar da entrevista gravada. Ambos aceitaram e não se 29 opuseram à gravação. Foi marcado um horário para realização da entrevista na própria escola, de acordo com a disponibilidade dos envolvidos. As entrevistas foram realizadas com os dois professores separadamente, após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido e de terem sido orientados novamente em relação à entrevista. A primeira entrevista foi realizada com o professor em início de carreira (com um ano, aproximadamente) e a duração foi de aproximadamente 18 minutos. Não foi necessário fazer adaptações ao roteiro inicial. Quanto ao segundo professor, que já atuava como professor há mais de vinte anos, a entrevista durou 21 minutos. Foi necessário fazer uma adaptação no roteiro, uma vez que o entrevistado respondeu de acordo com o esperado a segunda pergunta: Então, como você avalia a aprendizagem dos seus alunos? Não havendo necessidade de fazer a pergunta seguinte que era: E quais instrumentos de avaliação você utiliza? 3.2 – Realização dos questionários Após o consentimento da instituição para a coleta de dados, o coordenador encaminhou o pesquisador até os alunos do 3° ano do ensino médio, abordando-os na sala de aula. Em seguida, com a permissão prévia do professor, os alunos foram orientados a respeito da coleta de dados. Como os alunos estudavam na atual Educação de Jovens e Adultos (EJA), todos eram maiores de idade, não havendo a necessidade de se pedir autorização de responsáveis, para que pudessem participar da coleta de dados. Em seguida, as instruções foram dadas, deixando-se claro que os alunos não eram obrigados a participar da pesquisa e que podiam deixá-la a qualquer momento que desejassem, sem prejuízo algum. Após o consentimento do professor e a aprovação dos alunos foi entregue para cada um deles uma folha contendo no cabeçalho todas as instruções necessárias para preencher o questionário. O questionário continha três questões abertas e, ao decorrer o tempo suficiente para todos responderem as perguntas (aproximadamente 15 minutos) os questionários foram recolhidos. 30 3.3 – Criações de categorias Após a coleta dos dados, estes foram analisados buscando compreender os tipos de concepções sobre avaliação do grupo estudado. Para isso, foram criadas categorias agrupando-se as concepções semelhantes possibilitando comparações. As categorias criadas estão descritas a seguir de acordo com o questionário aplicado aos alunos e foram montadas tabelas referentes a cada pergunta para facilitar as comparações. Ao criar as categorias, procuramos preservar a opinião do sujeito em sua íntegra. Tentamos criar categorias que fossem mutuamente excludentes, de modo que cada resposta se encaixasse em apenas uma delas. Mas como obtivemos respostas que não se relacionavam a apenas uma categoria, colocamos as categorias observáveis possíveis para evitar exclusão ou valorização de umas sobre as outras. 1 – Em relação à: A) primeira pergunta: O que você entende por avaliação da aprendizagem? Foram criadas oito categorias: a.1 – Verificação pontual da aprendizagem: engloba as respostas em que o sujeito considera que avaliar é verificar a aprendizagem do aluno em determinado momento, seja com aplicações de provas, trabalhos, realização de pesquisas, caderno e notas. a.2 – Testar o conhecimento: engloba as respostas em que o sujeito considera que avaliar é colocar o conhecimento do aluno à prova; testar o conhecimento. a.3 – Diagnosticar dificuldades: engloba respostas em que o sujeito considera que avaliar é detectar não só o que o aluno aprendeu, mas também as suas dificuldades, com o intuito de poder ajudá-lo. a.4 - Avaliar o sujeito: engloba respostas em que o sujeito considera o objeto da avaliação é o comportamento, a frequência, a participação e as atitudes dos alunos. Avalia-se o aluno e não a aprendizagem. 31 a.5 – Processual: engloba respostas em que o sujeito considera que Avaliação é um processo. Avaliar é verificar a aprendizagem do aluno durante todo o percurso e não em momentos pontuais. a.6 – Classificar: engloba respostas em que o sujeito considera que avaliar é classificar a aprendizagem, os alunos ou o ensino. a.7 – Verificar correspondência entre a aprendizagem e objetivo do professor: engloba respostas em que o sujeito considera que Avaliação deve fornecer dados que possam dizer se as práticas e objetivos dos professores refletem na aprendizagem dos alunos, se o que os alunos aprendem corresponde aos conteúdos explicados pelo professor. a.8 - Promover a aprendizagem e aquisição do conhecimento: engloba respostas em que o sujeito considera que o professor deve auxiliar seus alunos na aprendizagem e que tenham conhecimento, seja por transmissão, aquisição, memorização. B) segunda pergunta: Como é feita a avaliação da aprendizagem nessa escola? Foram criadas quatro categorias: b.1 – Avaliação restrita: engloba respostas em que o sujeito considera que a avaliação ocorre pela aplicação pontual de provas, trabalhos, atividades ou exercícios em sala de aula, por pesquisas e caderno, e por atribuição de notas, ou seja, em momentos estanques. b.2 – Avaliação do sujeito: engloba respostas em que o sujeito considera que a avaliação ocorre quando os alunos são avaliados pela participação, frequência, comportamento e atitudes, avaliando, assim, o sujeito aluno. b.3 – Avaliação depende do professor considerado: engloba respostas em que o sujeito considera que a avaliação depende da metodologia e ações do professor, bem como do interesse deles em ensinar, e da relação existente entre professor e aluno. b.4 – Avaliação Externa: engloba respostas em que o sujeito considera que a Avaliação é realizada pela coordenação da escola ou fora das salas de aula. 32 C) terceira pergunta: Se você fosse professor, o que faria para avaliar a aprendizagem de seus alunos? Para essa pergunta foram criadas três categorias: c.1 – Comum: engloba respostas em que o sujeito afirma que aplicaria provas, trabalhos, pesquisas ou notas, ou que avaliaria seus alunos por participação, comportamento, atitudes e frequência. Essa categoria se assemelha à avaliação realiza no ensino tradicional. c.2 – Comum + modificada: engloba respostas em que o sujeito afirma que, além das habituais provas, trabalhos, pesquisas e notas por comportamento, presença, frequência ou atitudes, utilizaria outros instrumentos (discussões, seminários, elaboração de jornais, panfletos e teatros, entre outros) para avaliar. c.3 – Modificada: engloba respostas em que o sujeito afirma que avaliaria seus alunos de forma inusitada, diferentemente das outras duas categorias, ou que mais se aproximam de uma avaliação diagnostica, processual. Quanto às entrevistas realizadas com os dois professores (vide anexo 4), foram criadas tabelas, uma para cada pergunta, anotando os pontos em comuns e as divergências evidentes. Esses passos foram essenciais para comparar e analisar os dados provenientes das entrevistas. Em seguida foi feita a comparação dos dados obtidos dos professores e dos alunos, buscando relacioná-los com ideias apresentadas no referencial teórico, pautado em vários autores que estudam a avaliação no contexto escolar. A análise foi minuciosa, levantando pontos relevantes, discorrendo sobre o processo de avaliação da aprendizagem a fim de contemplar os objetivos inicialmente definidos. 33 4 - RESULTADOS Para facilitar a análise dos dados, os resultados descritos a seguir foram separados em tabelas, iniciando-se pelo questionário aplicado aos alunos e, em seguida, da entrevista realizada com os professores. Tabela 1: Referente à primeira pergunta: “O que você entende por Avaliação da Aprendizagem?”. Mostra-se a relação entre as respostas dos sujeitos e as categorias de acordo com a explicitação dos significados. Sujeito Pergunta 1: “O que você entende Explicitação dos significados Categoria (aluno) por avaliação da aprendizagem?” 1 “Uma forma dos professores O sujeito considera que a avaliação Verificação pontual saberem como vai o aprendizado de é uma forma do professor saber da aprendizagem seus alunos.” como está o aprendizado 2 “É ver se o aluno está O sujeito considera que a avaliar é Verificação da correspondendo com o que ele está verificar se há correspondência correspondência ensinando.” entre a aprendizagem e o que o entre a professor está ensinando aprendizagem e objetivo do professor 3 “Para mim é uma forma dos O sujeito considera que a avaliar é Diagnosticar educadores saberem das detectar não só o que o aluno dificuldades e aprendizagens dos aprendeu, mas também as suas alunos e poder ajudá-los.” dificuldades, com o intuito de poder ajudá-lo. 4 “Para avaliar os alunos e ver como O sujeito considera que avaliar é Avaliação do sujeito os alunos estão indo.” verificar como está a aprendizagem num determinado momento. 5 “Avaliação é colocado para avaliar o O sujeito considera que avaliar é Classificar nível de entendimento sobre o tema verificar o nível de aprendizagem de proposto pelo professor.” determinado conteúdo. 6 “É testar o conhecimento do O sujeito considera que avaliar é Testar indivíduo.” colocar o conhecimento do indivíduo à prova. 7 “É dizer se o aprendizado é bom, O sujeito considera que avaliar é Classificar ruim ou regular.” classificar a aprendizagem em hierarquias de aprendizado. 8 “Avaliação é a forma que é usada O sujeito considera que avaliar é Verificação da para saber se o aluno está ou não uma forma de saber sobre o correspondência aprendendo, o que está sendo aprendizado dos alunos e quais entre a passado na sala de aula.” conteúdos são propostos pelo aprendizagem e professor. objetivo do professor 9 “Bom, eu entendo que qualquer tipo O sujeito considera que avaliar é Verificação pontual de avaliação é poder avaliar o que a utilizar instrumentos pontuais para da aprendizagem pessoa fez, como trabalho e prova, verificar todas as ações dos alunos participação e etc. Avaliar tudo que a em relação à aprendizagem. pessoa fez de deveres.” 10 Não respondeu X X 11 Não respondeu X X 34 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 “Avaliação é um modo de entender O sujeito considera que avaliar é Verificação da se o seu trabalho como professor fornecer resultados das práticas correspondência está dando certo. Avaliar docentes e utilizar alguns entre a comportamento, escrita, leitura e o instrumentos que possibilitam saber aprendizagem e quanto o aluno pode estar hoje, se o o quanto o aluno progrediu em objetivo do professor, aluno se desenvolveu em todas as determinada matéria. Avaliação do sujeito matérias ou não.” “Uma forma de avaliar o que os O sujeito considera que avaliar é Testar alunos estão absorvendo das aulas.” um meio que o professor tem de verificar se os alunos dominaram conteúdos conceituais. “Avaliar o que o aluno aprendeu O sujeito considera que avaliar é Processual durante o curso.” verificar o processo de aprendizagem do aluno durante o curso. “Avaliar o aluno sobre a matéria, O sujeito considera que avaliar é Verificação pontual disciplina, trabalho, frequência na verificar a aprendizagem dos alunos da aprendizagem e sala de aula.” utilizando instrumentos pontuais de Avaliação do sujeito avaliação. “Que o professor avalia o aluno na O sujeito considera que avaliar é Avaliação do sujeito sala de aula se ele está prestando verificar as ações dos alunos atenção na aula e participando da durante a aula, ou seja, avalia-se o aula.” sujeito “São processos que o aluno tem que O sujeito considera que avaliação é Avaliação do sujeito fazer suas tarefas em dia, para ser um processo que culmina com uma um aluno avaliado nas suas boa avaliação do sujeito e não da avaliações e saber se comportar.” aprendizagem “Que o aluno tem que ser presente O sujeito considera que avaliar é Avaliação do sujeito em todas as matérias e ser um aluno verificar se o aluno é comprometido prestativo em tudo.” e que saiba se comportar. “É avaliar se o aluno está O sujeito considera que avaliar é Verificação pontual entendendo a matéria e também seu verificar a aprendizagem do aluno e da aprendizagem e comportamento.” seu comportamento. Avaliação do sujeito “Entendo que para sermos bem O sujeito considera que avaliar é Avaliação do sujeito avaliados temos que ser participar das atividades, resultando participativos em qualquer matéria.” na avaliação do sujeito e não da aprendizagem. “Avalia o que o aluno aprendeu sobre O sujeito considera que avaliar é Verificação da o assunto que o professor explicou.” verificar a aprendizagem do aluno correspondência de acordo com os conteúdos entre a explicados pelo professor. aprendizagem e objetivo do professor “Tentar com que as pessoas O sujeito considera que avaliar é Promover a aprendam e tenham conhecimento.” auxiliar os alunos na aprendizagem aprendizagem e para adquirir conhecimento. aquisição do conhecimento “Eu entendo como forma de testar o O sujeito considera que avaliar é Testar conhecimento de cada aluno.” colocar o conhecimento do indivíduo à prova. Não respondeu X X “Avaliação é quando o professor O sujeito considera que avaliar é Avaliação do sujeito avalia o esforço dos alunos e verificar o empenho dos alunos participação.” diante das atividades propostas. “Eu entendo que é uma coisa muito O sujeito considera que avaliar é Verificação pontual séria. Avaliar se o aluno entendeu o verificar a aprendizagem do aluno da aprendizagem e 35 27 28 29 30 assunto que foi dado. Avaliar o sobre determinado conteúdo, é comportamento do aluno na escola, avaliar o sujeito. as atitudes.” “Eu entendo que seja uma etapa O sujeito considera que avaliar é preparatória para verificar se preparar e verificar se os alunos realmente o aluno (a) está preparado estão aptos a aprender os e pronto para aprender sobre tudo conteúdos propostos pelos aquilo que lhe for ensinado.” professores. “É como saber se o aluno conseguiu O sujeito considera que avaliar é aprender o que lhe foi ensinado.” verificar a aprendizagem do aluno de acordo com os conteúdos explicados pelo professor. Avaliação do sujeito Verificação pontual da aprendizagem Verificação da correspondência entre a aprendizagem e objetivo do professor Processual “É como saber se o aluno está O sujeito considera que avaliar é conseguindo acompanhar e aprender verificar o processo de o que lhe foi ensinado.” aprendizagem do aluno. “Avaliação seria por no papel tudo O sujeito considera que avaliar é Verificação pontual aquilo que aprendemos e também verificar pontualmente o que o aluno da aprendizagem e temos uma avaliação do profissional aprendeu através do olhar do Avaliação do sujeito (professor) que seria avaliar em professor. todos os sentidos, desde comportamento dos alunos, até corrigir uma prova ou trabalho.” 36 Tabela 2: Referente à segunda pergunta: “Como é feita a avaliação nesta escola?” Mostra-se a relação entre as respostas dos sujeitos e as categorias de acordo com a explicitação dos significados. Sujeito (aluno) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Pergunta 2: “Como é feita a Explicitação dos significados Categorias avaliação da aprendizagem nesta escola?” “Com provas e trabalhos baseados na O sujeito considera que a avaliação Avaliação restrita matéria.” é feita aplicando provas e trabalhos de acordo com os conteúdos das matérias “A avaliação é feita pelas notas, a O sujeito considera que a avaliação Avaliação restrita presença e participação.” é feita atribuindo notas de acordo com presença e participação dos alunos “Geralmente através de trabalhos, O sujeito considera que a avaliação Avaliação restrita diálogos ou debates.” é feita aplicando trabalhos e promovendo debates e discussões “Os professores passam alguns O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita trabalhos para os alunos e algumas feita aplicando trabalhos e provas avaliações.” aos alunos “Ela é feita por trabalhos individuais e O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita em grupos, por participação na sala de realizada através de trabalhos, aula e avaliação do caderno.” participação e caderno “Por atividade em grupo na escola e O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita trabalho individual.” feita através da aplicação de atividades em grupos e realização de trabalhos individuais “É dividido, há alguns professores que O sujeito considera que a avaliação Avaliação depende agem corretamente, dando trabalhos e depende do professor: pode ser pela do professor provas, mas outros a avaliação, e por aplicação de trabalhos, provas e considerado presença e carimbo no caderno. Então, carimbo no caderno. resumindo, varia do professor.” “A avaliação é feita através de provas, O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita trabalhos e pesquisa em casa pela feita com aplicação de provas e internet.” trabalhos, e realização de pesquisas em internet. “Bom, eu acho que nessa escola a O sujeito considera que a avaliação Avaliação restrita e avaliação não é tão correta como não é aplicada corretamente e que, Avaliação do sujeito deveria ser, como avaliar pela segundo seu julgamento, deveria presença, participação, conteúdo do ser: através de presença, trabalho, dinâmica em alguns participação, conteúdos de trabalhos professores, não é feita dessa propostos e dinâmica dos maneira.” professores. “Depende de cada professor.” O sujeito considera que avaliação Avaliação depende depende do professor considerado do professor considerado Não respondeu X X “Os professores avaliam por presença O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e nas aulas, por participação e também feita de acordo com a presença nas Avaliação do sujeito por leitura e por todos os outros aulas, por participação e leitura. requisitos, etc.” “Através de atividades em sala de aula O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e provas individuais.” realizada aplicando-se atividades em sala de aula e através de provas “Avalia-se pela frequência, participação O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e 37 e aprendizagem.” 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 realizada pela frequência, Avaliação do sujeito participação e a aprendizagem dos alunos. “Avalia-se pela participação e O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e frequência.” feita através de participação e Avaliação do sujeito frequência dos alunos “É feita pelos professores com O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e trabalhos e pesquisas e participação realizada através de trabalhos e Avaliação do sujeito na sala de aula.” pesquisas e por participação nas aulas “Através das atividades, trabalhos e O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e avaliação e comportamento, realizada através da aplicação de Avaliação do sujeito participação.” atividades, trabalhos e provas e por comportamento e participação “É feita com a eficiência de cada O sujeito considera que avaliação Avaliação do sujeito aluno.” está de acordo com o rendimento de cada aluno “É feita através do comportamento, das O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e atividades feitas pelos alunos.” realizada pelas atividades Avaliação do sujeito desenvolvidas pelos alunos e pelos seus comportamentos “Pelos números de faltas que o aluno O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita tem.” realizada através da verificação do quanto o aluno faltou “Através de provas e trabalhos.” O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita aplicar provas e trabalhos aos alunos “Com provas e trabalhos.” O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita realizada através de provas e trabalhos “É feita na forma de entrega de O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita trabalhos e provas.” realizada através de provas e entregas de trabalhos “Pra mim é boa. Os professores são O sujeito considera que avaliação Avaliação depende muitos bons, são maravilhosos pra depende do relacionamento alunodo professor mim e muito importante.” professor e acredita que sua considerado aplicação é adequada “Eu acho que tem alguns professores O sujeito considera que avaliação Avaliação depende que não tem muita paciência para depende do professor, se ele do professor explicar aos alunos e ter uma boa demonstra interesse em explicar os considerado avaliação.” conteúdos e se apresentam uma boa metodologia de avaliação. “É feita através das provas, dos O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita trabalhos e da presença dos alunos.” realizada através de provas e trabalhos e pela presença nas aulas “Eu acredito que esta avaliação seja O sujeito considera que avaliação Avaliação externa feita por uma forma de reunião ocorre através de medidas tomadas (conselho) e assim eles avaliam e por um determinado grupo em tomam decisão cabível referente a relação ao alunado que a escola cada aluno a ser avaliado.” possui, através de uma reunião, estabelecendo critérios de avaliação diferentemente para cada aluno. “A avaliação é feita através das provas O sujeito considera que avaliação é Avaliação restrita e e trabalhos, e da participação dos realizada com aplicações de provas Avaliação do sujeito alunos na sala de aula.” e trabalhos e verificação da participação dos alunos nas 38 29 “Através das provas, trabalhos, atividades em sala e participação dos alunos.” 30 “Nesta escola a aprendizagem é feita através de trabalhos individuais ou em grupo, provas com consulta, participação em sala de aula, e nas matérias que exigem maior aprendizado como inglês, é avaliado apenas pelo caderno.” atividades desenvolvidas nas salas de aula O sujeito considera que avaliação é feita através de provas, trabalhos e desenvolvimento de atividades em sala de aula, bem como verificação da participação dos alunos nessas atividades. O sujeito considera que a avaliação é realizada através de trabalhos individuais ou em grupos, provas com consulta e participação nas atividades desenvolvidas em sala de aula. Há ainda uma avaliação do caderno quando determinada matéria exige mais atenção Avaliação restrita e Avaliação do sujeito Avaliação restrita e Avaliação do sujeito 39 Tabela 3: Referente à terceira pergunta: “Se você fosse professor, o que faria para avaliar a aprendizagem de seus alunos?”. Mostra-se a relação entre as respostas dos sujeitos e as categorias de acordo com a explicitação dos significados. Sujeito Pergunta 3: “Se você fosse Explicitação dos significados Categorias (aluno) professor, o que faria para avaliar a aprendizagem de seus alunos?” 1 “Com certeza eu daria uma boa prova O sujeito afirma que avaliaria Comum sobre o conteúdo da matéria.” seus alunos aplicando uma prova que julga de boa qualidade sobre determinado conteúdo. 2 “Eu avaliaria os alunos não só pelas O sujeito afirma que avaliaria Comum notas, mas também por participação, seus alunos baseando-se nas por presença, por comportamento e notas, mas também utilizaria pelos trabalhos que fizerem.” outros recursos como participação, presença e comportamento dos alunos e realização de trabalhos. 3 “Ao invés de 'tocar' prova neles, O sujeito afirma que avaliaria Modificada avaliaria através de debates ou seus alunos sem uso de provas, diálogos, enfim oralmente.” mas por intermédio de debates e diálogos, que determina ser uma avaliação oral. 4 “Eu ensinaria diferente, passaria O sujeito afirma que avaliaria Comum menos lição e explicaria mais para o diferentemente da avaliação aluno entender melhor.” realizada em sua escola, aplicando menos exercícios e explicaria mais para que o aluno pudesse aprender mais. 5 “Prova sem consulta é o método mais O sujeito afirma que avaliaria Comum seguro para saber o nível de seus alunos utilizando provas, aprendizagem do aluno.” pois considera este instrumento como o mais seguro em fornecer o quanto seus alunos aprenderam. 6 “Eu iria passar sempre atividade em O sujeito afirma que ao final de Comum grupo e individual, depois de cada cada conteúdo explicado, ele matéria.” aplicaria atividades em grupo e individualmente. 7 “Daria trabalhos que os alunos teriam O sujeito afirma que avaliaria Comum + modificada quer responder com suas próprias seus alunos através de trabalhos palavras e não pesquisar na internet, em que eles deveriam colocar e daria provas sem consultas.” opiniões próprias em vez de utilizar fontes como internet, além disso, aplicaria provas sem consultas. 8 “Eu usaria um pouco mais de contato O sujeito afirma que avaliaria Comum + modificada direto com os alunos. Porque muitas seus alunos principalmente vezes o aluno não entende a matéria, através de diálogo, enfatizando a ficam com dúvida e não perguntam necessidade de aproximação para o professor.” entre professor e aluno, para facilitar a compreensão da matéria explicada. 9 “Bom, eu com certeza avaliaria a O sujeito afirma que avaliaria Comum participação na sala, nos trabalhos, seus alunos dando ênfase na 40 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 para estar sempre avaliando os meus participação em sala de aula e alunos para não saírem tão mal nas nos trabalhos e de modo provas. Daria trabalho em sala, contínuo para que possam também para ver a participação em realizar uma boa prova. Além grupo, olharia o caderno, afinal pra vê disso, avaliaria o trabalho em para que vem pra escola. Bom tudo grupo e pela frequência do aluno. isso aqui não acontece!” “Se eu fosse professor eu iria avaliar O sujeito afirma que avaliaria a a aprendizagem dos meus alunos aprendizagem de seus alunos com provas e trabalhos relacionados aplicando provas e trabalhos de à matéria.” acordo com os conteúdos estudados “Com perguntas, trabalhos sem O sujeito afirma que avaliaria a pesquisa e trabalho em classe.” aprendizagem de seus alunos utilizado perguntas e realizando trabalhos que não exigissem pesquisas e aplicando trabalhos durante as aulas “Neste momento não posso O sujeito afirma que não pode responder esta questão.” responder a pergunta “Daria atividades para nota em sala O sujeito afirma que avaliaria a de aula, individual ou em grupos e aprendizagem de seus alunos alguns trabalhos.” aplicando notas de acordo com a realização de trabalhos individuais ou em grupos “Avaliaria pela participação e força de O sujeito afirma que avaliaria a vontade do aluno em querer saber aprendizagem de seus alunos de mais.” acordo com a participação nas atividades e o empenho e esforço do aluno na aquisição do conhecimento “Avalia-se o aluno pela participação e O sujeito afirma que avaliaria a frequência do aluno.” aprendizagem dos seus alunos de acordo com a participação e frequência dos alunos nas aulas “Avaliaria meus alunos pela sua O sujeito afirma que avaliaria a participação na sala, seu aprendizagem de seus alunos de comportamento e se ele faz todas as acordo com a participação e lições.” comportamento durante as aulas, além disso, avaliaria a realização de exercícios aplicados. “Através do seu comportamento, O sujeito afirma que avaliaria a faltas, entregar as atividades em dia, aprendizagem de seus alunos etc.” através do comportamento, pela frequência nas aulas e pelo compromisso, como na entrega de atividades nos tempos determinados. “O comportamento, os interesses O sujeito afirma que avaliaria a sobre os estudos, se ele é um aluno aprendizagem de seus alunos de que tem esforço para aprender, etc.” acordo com as ações deles (comportamento, interesse e esforço) que visem a aprendizagem “Avaliaria através de atividades, se O sujeito afirma que avaliaria a Comum Comum X Comum Comum Comum Comum Comum Comum Comum 41 estão prestando atenção nas aulas.” 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 aprendizagem de seus alunos através de atividades e atenção nas aulas “Avaliaria pela sua participação, O sujeito afirma que avaliaria a Comum números de faltas e pelo interesse do aprendizagem de seus alunos de aluno pela escola.” acordo com a participação, a frequência nas aulas e pelo interesse que o aluno demonstra pela escola Não respondeu X X “Com avaliações para adquirir O sujeito afirma que avaliaria a Comum conhecimento.” aprendizagem dos seus alunos aplicando provas para que pudessem adquirir conhecimento “Faria com que eles fizessem O sujeito afirma que avaliaria a Comum + modificada trabalhos individuais, com temas aprendizagem dos seus alunos escolhidos por eles próprios.” aplicando trabalhos individuais e que os próprios alunos deveriam escolher temas que lhe agradem “Eu aplicaria mais rigidez, os alunos O sujeito afirma que avaliaria a Comum faltam muito, vir à escola pra mim é aprendizagem dos alunos muito importante.” aplicando mais rigidez de acordo com a frequência, ressaltando a importância de ir à escola. “Eu avaliaria através de livros, O sujeito afirma que avaliaria a Comum + Modificada discursos, opinião dos alunos e aprendizagem dos seus alunos através de internet.” utilizando livros, promovendo discursos para que os alunos exponham suas opiniões e possibilitaria o uso de tecnologia (internet) “Eu avaliaria pelo comportamento, O sujeito afirma que avaliaria a Comum pela presença do aluno nas aulas, aprendizagem dos seus alunos pelos trabalhos que o professor passa de acordo com o comportamento, para o aluno.” frequência e realização de trabalhos. “Eu passaria alguns exercícios O sujeito afirma que avaliaria a Comum preparatórios para expandir o aprendizagem de seus alunos em conhecimento de cada aluno e por fim dois momentos: primeiramente daria uma avaliação, ou seja, uma aplicaria alguns exercícios para prova para avaliar seus que os alunos possam expandir conhecimentos.” os conhecimentos adquiridos e em outro momento aplicaria uma prova para verificar se houve essa aquisição de conhecimento “Eu avaliaria pelo esforço do aluno e O sujeito afirma que avaliaria a Comum na aplicação de seus aprendizagem dos seus alunos conhecimentos.” de acordo com o esforço de cada um e, provavelmente, utilizaria algum instrumento para verificar se o aluno é capaz de aplicar os conhecimentos aprendidos. “Avaliaria pelo seu esforço, O sujeito afirma que avaliaria a Comum desempenho em conhecimentos e aprendizagem de seus alunos de principalmente pela sua presença acordo com o esforço, 42 frequente.” 30 desempenho dos conhecimentos, enfatizando a importância de avaliar a frequência. “Se fosse professora, eu faria mais O sujeito afirma que avaliaria a trabalhos e procuraria depois discutir aprendizagem de seus alunos sobre eles, conversaria, ou melhor, aplicando trabalhos com posterior procuraria ter mais diálogo e discussão, ressaltando o uso do comunicação com meus alunos e diálogo e comunicação na procuraria também entender o motivo relação professor-aluno. das faltas dos meus alunos, e tentaria Procuraria soluções para auxiliáfazer algo para que o aluno se los, evitando reprovações. recuperasse, e sei que seria muito extrovertida e comunicativa.” Modificada Tabelas referentes às entrevistas realizadas com os professores. Tabela 4: Referente à pergunta: “De acordo com suas experiências e com base em seus conhecimentos, o que você entende por avaliação da aprendizagem?” Mostram-se as respostas dos sujeitos e as semelhanças e diferenças entre as opiniões. Pontos em comum Professor 1 (pouco experiente) • instrumento que mede a aprendizagem; • quanto de conhecimento adquirido; • saber se os objetivos foram alcançados; Professor 2 (muito experiente) • medir quanto os alunos sabem; • quanto de conhecimento adquirido ao longo do ano; • mostrar se os objetivos iniciais foram alcançados; • • Diferenças de opiniões • • indica pontos a retomar; identificar problemas, dificuldades; • • • complexo; ter resultados ao longo de um processo, satisfatórios ou não; avaliar de acordo com o lado pessoal; avaliar não é sinônimo de prova; cometemos equívocos; 43 Tabela 5: Referente às perguntas: “Então, como você avalia a aprendizagem dos seus alunos?” e “E quais instrumentos de avaliação você utiliza?” Mostram-se as respostas dos sujeitos e as semelhanças e diferenças entre as opiniões. Pontos em comum Professor 1 (pouco experiente) • utilizar diversos recursos que possam verificar o quanto os alunos aprenderam; • há desinteresse dos alunos; • não deve usar apenas provas; • aplicar atividades em sala de aula; • aplicar exercícios teóricos sobre o conteúdo; • acaba optando pelas provas; • trabalhos orientados para os alunos pesquisarem; • dar notas por comportamento e participação, ajuda manter o controle; • acompanhar o processo dos alunos dando com sinal de '+' nas atividades realizadas; • • • • • • • • • Diferenças de opiniões • • • falta de tempo para realizar determinada atividade; utiliza recursos práticos; provas nem sempre mostram as reais dificuldades; • • • Professor 2 (muito experiente) instrumentos qualitativos para que os alunos possam utilizar conceitos aprendidos; usar provas no final de um período; aplicar questões que possam mostrar o nível de conhecimento adquirido; trabalhos orientados para os alunos pesquisarem; aplicação de notas por carimbos no caderno como forma de verificar se os alunos prestam atenção; as notas possibilitam identificar os interesses dos alunos (se vão à escola por garantir diploma e aprovação); dar notas por compromisso, participação e esforço; é justo aplicar nota por comportamento, assim os alunos se interessam mais; dar notas por participação em discussões de leituras de textos em sala de aula; provas mostram o quanto os alunos sabem e compreendem o que foi explicado; saber interpretar e não apenas decorar; alguns alunos se destacam entre os demais; 44 Tabela 6: Referente à pergunta: “Por que você escolheu esses instrumentos?” Mostram-se as respostas dos sujeitos e as semelhanças e diferenças entre as opiniões. Sujeito 1 (pouco experiente) Pontos em comum • • • facilidade em mostrar resultados iniciais; resultados permitem melhorias; provas, trabalhos e notas servem como rede de proteção, oferece segurança; Sujeito 2 (muito experiente) • • • ajudam atingir objetivos; são fáceis de aplicar; as provas ajudam a manter controle na sala de aula; a nota é importante, pois submete os alunos a prestarem atenção; trabalhos ajudam a avaliar o desempenho e progresso dos alunos; • • Diferenças de opiniões • • • possibilita reconhecer erros; insegurança quanto ao uso dos instrumentos; possibilidade de mudanças e adaptações; • • há muitos desafios; é difícil pensar em diversificar os instrumentos, devido atuar em escola pública; há deficiências em utilizar trabalhos em grupos para avaliar dinâmica e posicionamento dentro dos grupos; • Tabela 7: Refere-se à pergunta: “Você poderia me contar como faz para analisar os dados provenientes desses instrumentos?” Mostram-se as respostas dos sujeitos e as semelhanças e diferenças de opiniões. Pontos em comum • • Diferenças de opiniões • • • • • Sujeito 1 (pouco experiente) após cada avaliação, há aplicação de uma nota de acordo com o que o aluno fez; avalia de acordo com o que o aluno soube responder; alguns alunos são melhores, tiram notas boas; se a nota for ruim, aplica trabalhos para ajudar os alunos a terem uma boa média; usar provas de alunos para comparar; comparação torna o trabalho mais justo; os alunos nem sempre agem como se espera; • • • • • Sujeito 2 (muito experiente) aplicação de notas em atividades avaliativas; notas refletem o quanto aluno aprendeu; notas são os melhores dados para indicar a progressão, mostrar impasses na transmissão do conhecimento; ajuda a melhorar ações dos envolvidos; notas apontam objetivos alcançados e quais não foram; 45 Tabela 8: Refere-se à pergunta: “Qual ou quais os problemas e dificuldades que você enfrentou e enfrenta quando avalia a aprendizagem de seus alunos?” Mostram-se as respostas dos sujeitos e as semelhanças e diferenças entre as opiniões. Sujeito 1 (pouco experiente) Pontos em comum Diferenças de opiniões Sujeito 2 (muito experiente) • • • • • falta materiais; desinteresse dos alunos; falta de experiência; insegurança; receio em ser injusto ao aplicar notas aos alunos; • • • • entregar as médias dos alunos exige muito; não há capacitação necessária para avaliar; depende da ação de outros professores também; • • • • • • • • • falta de experiência inicialmente; rebeldia dos alunos; receio de prejudicar a aprendizagem dos alunos; materiais disponíveis não são suficientes, são fracos didaticamente; dificuldades em avaliar participação, comportamento e atitudes dos alunos; desrespeito com o professor; castigo como maneira eficaz de educar; falta tempo para planejar atividades avaliativas; utiliza provas e trabalhos, pois são fáceis de aplicar; preparar para vestibular e concurso/ Tabela 9: Refere-se à pergunta: “Como você utiliza os resultados da avaliação de seus alunos?” Mostram-se as respostas dos sujeitos e as semelhanças e diferenças entre as opiniões. Pontos em comum Diferenças de opiniões Sujeito 1 (pouco experiente) resultados mostram a evolução, dificuldades e mudanças a serem tomadas quanto à aprendizagem; • utiliza notas como referência; • as notas refletem uma boa prova; • ajuda a verificar se o aluno compreendeu o conteúdo, se soube assimilar os conhecimentos • • as notas refletem o quanto o aluno absorveu o conhecimento; • • • • • • Sujeito 2 (muito experiente) avaliar qualitativamente; notas auxiliam e dão suporte ao professor; não adianta ter boa metodologia ou práticas pedagógicas eficientes, se não mostram o progressão dos envolvidos; notas ajudam a verificar se os alunos aprenderam ou não e o que entenderam; notas ajudam identificar as dificuldades dos alunos; utiliza dados quantitativos para avaliar qualitativamente o quanto o aluno aprendeu; 46 5 – ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO Os dados acima apresentados focam questões relacionadas à concepção de professores e alunos sobre a avaliação da aprendizagem. Apresentam semelhanças e diferenças notáveis que, por sua vez, servirão como subsídio para nossa análise. Para melhor compreensão da análise, os dados referentes aos alunos apresentados serão acompanhados abreviação S (de sujeito) e o número correspondente da resposta do sujeito. Utilizaremos, sempre que possível, alguns trechos das respostas dos professores e no final de cada trecho colocaremos uma sigla P1 ou P2, para identificar o sujeito, se professor 1 ou professor 2, como consta nas tabelas. Em relação à primeira pergunta: “O que você entende por avaliação da aprendizagem?” (Tabela 1), baseada na primeira categoria Avaliação pontual da aprendizagem, foram selecionadas algumas respostas: "Uma forma dos professores saberem como vai o aprendizado de seus alunos." (S1) "Bom, eu entendo que qualquer tipo de avaliação é poder avaliar o que a pessoa faz como trabalhos e prova, participação, etc. Avaliar tudo que a pessoa faz de deveres." (S9) “Eu entendo que seja uma etapa preparatória para verificar se realmente o aluno (a) está preparado e pronto para aprender sobre tudo aquilo que lhe for ensinado.” (S27) Percebe-se que os alunos possuem uma concepção de avaliação da aprendizagem semelhante e que, neste caso, é a verificação pontual da aprendizagem, mais evidente nas respostas de S9 e S27. Essa concepção se faz, pois está diretamente relacionada com a aplicação de instrumentos em momentos definidos que, por serem pontuais, nem sempre é possível identificar as dificuldades e problemas, embora saibamos que isso não impede de utilizar tais instrumentos, desde que permitem verificar os objetivos alcançados e identificar quais mudanças são necessárias, ou seja, a avaliação não perde sua função diagnóstica, deixando de ter a finalidade em si mesma, sendo uma verificação processual, desde que seja adequado o uso desses instrumentos relatados (HOFFMANN, 2008). Vejamos, então, as respostas apresentadas pelos professores sobre Avaliação da aprendizagem: “De acordo com suas experiências e com base em 47 seus conhecimentos, o que você entende por avaliação da aprendizagem?” (Tabela 4): “Ah, deveria ser um instrumento que mede a aprendizagem e que indique pontos a retomar. É saber o quanto de conhecimento que seu aluno conseguiu adquirir durante um bimestre, por exemplo...um modo de identificar problemas, dificuldades e saber se realmente nossos objetivos foram alcançados.” (P1) "Acredito que avaliação é ter resultados ao longo de um processo, satisfatórios ou não, sobre o nosso trabalho realizado. É medir o quanto meus alunos souberam ou quanto conhecimento eles adquiriram ao longo de um ano, por exemplo...Apesar de saber que avaliar não é sinônimo de prova, geralmente confundimos esses termos e muitas vezes cometemos equívocos e deixamos a verdadeira função da avaliação de lado que, ao meu ver, é mostrar se nossos objetivos iniciais foram alcançados.” (P2) Com base nas respostas apresentadas, fica evidente a concepção de avaliação da aprendizagem como mecanismo de medição, quantificação do conhecimento, comprovado nas respostas dos alunos. Para Hadji (2001), a ideia de que a avaliação é uma medida do conhecimento está fortemente enraizada na mente dos professores, pois eles acreditam que reduzir a avaliação à medida ou mais especificamente à prova, evidente na fala de P2, demonstra a confiabilidade da prova como instrumento de quantificação. Desse modo a avaliação é reduzida a números, separando o processo de ensino aprendizagem de seu resultado. Mas não podemos deixar de considerar que, embora as concepções estejam vinculadas com o ensino tradicional que os professores tiveram e que acabam interferindo em suas práticas, eles apontam uma das funções fundamentais da avaliação que é diagnosticar, como sugere Depresbiteris (2000). Ambos disseram que a avaliação permite identificar problemas e dificuldades, verificar se objetivos propostos foram alcançados. Isso nos permite identificar que, embora haja resistência, os professores apresentam pontos de ressignificação da função da avaliação que, como aponta Hoffmann (2006 e 2008), a avaliação significa também reflexão sobre a prática com o intuito de diagnosticar e identificar os avanços e as dificuldades, mas também utilizar os dados obtidos para planejar novas práticas e, portanto, fazer novas decisões. Em relação às respostas referentes à segunda e à terceira categoria, que são Testar e Classificar, respectivamente, os alunos afirmaram: 48 “Avaliação é colocado para avaliar o nível de entendimento sobre o tema proposto pelo professor.” (S5) "É testar o conhecimento do individuo." (S6) "É dizer se o aprendizado e bom, ruim ou regular." (S7) “Uma forma de avaliar o que os alunos estão absorvendo das aulas.” (S13) "Eu entendo como forma de testar o conhecimento de cada aluno." (S23) Mais uma vez percebemos que os alunos concebem a avaliação da aprendizagem de maneira errônea. Consideremos primeiramente as respostas de S6 e S23. Eles afirmam que se deve colocar o conhecimento do indivíduo à prova, como se fosse possível medir a quantidade de conhecimentos adquiridos pelos alunos, ao considerar o que foi ensinado pelo professor. Essa colocação nos faz entender que os professores geralmente confundem o que significam os acertos e erros, uma vez que estes podem ser medidos e quantificados, porém não o conhecimento em si. Em relação às respostas de S5 e S7, evidenciamos mais uma faceta da avaliação no contexto escolar: a de classificar. Para S5 a avaliação, ao ser aplicada, acaba classificando o conhecimento dos alunos de acordo com o nível de entendimento, enquanto que S7 afirma que a avaliação oferece dados que caracterizam o ensino, ou seja, classifica-o supostamente a partir de dados quantitativos. Não é estranho que os alunos pensem dessa maneira. O ato de classificar, seja os alunos, o ensino ou a aprendizagem, gera consequentemente uma seleção dos melhores, sendo estes incluídos e os demais excluídos do acesso ao saber (SOUSA, 2000). Cabe ainda ressaltar que a avaliação com função classificatória oculta importantes reflexões de todo o processo de ensino aprendizagem, sendo considerada uma avaliação somativa, com função de verificar ao final de uma unidade de ensino, se houve aquisição de conhecimento (LUCKESI, 1998; DEPRESBITERIS, 2000), explícito na resposta de S13.. Além disso, a classificação sugere, em seu termo amplo, o ato de aprovar ou reprovar os alunos de acordo com notas, símbolos ou conceitos previamente determinados pelo professor e, posteriormente, testando o quanto o aluno conseguiu reproduzir, principalmente utilizando instrumentos pontuais como provas, testes e exames. O pior aspecto desse processo é que os alunos são rotulados e o 49 desenvolvimento e construção de novos significados ficam comprometidos (NETO e AQUINO, 2009) Agora, analisemos as seguintes respostas, referentes à quarta categoria (Avaliar o sujeito): "Avaliar o aluno sobre a matéria, disciplina, trabalho, frequência na sala de aula.” (S15) "Que o professor avalia o aluno na sala de aula se ele esta prestando atenção na aula e participando da aula." (S16) "Que o aluno tem que ser presente em todas as matérias e ser um aluno prestativo em tudo." (S18) "Avaliação é quando o professor avalia o esforço dos alunos e participação." (S25) "Eu entendo que é uma coisa muito séria. Avaliar o comportamento do aluno na escola, as atitudes." (S26) Os dados apresentados nos remetem a função da avaliação comumente utilizada dentro das salas de aula: a atribuição de juízos de valor, caracterizando assim o aluno, como apontado por Freitas (2003), quando afirma: No plano da avaliação informal, estão os “juízos de valor”, invisíveis e que acabam por influenciar os resultados das avaliações finais, tendo sido construídos pelos professores e alunos nas interações diárias. Tais interações criam, permanentemente, representações de uns sobre os outros. (FREITAS, 2003. p. 43 e 44) Esse tipo de prática avaliativa é um dos principais mecanismos que sustentam a lógica da avaliação escolar, que é julgar os alunos em bons e ruins, burros e inteligentes, melhores e piores. Tal ação, ingênua ou não, pode definhar e delinear os rumos da aprendizagem de cada aluno que, consequentemente, resultarão em sucesso ou fracasso, retenção, reprovação ou aprovação, podendo, assim como sugere Franco (2000) e Haydt (2002), gerar um distanciamento do aprender e educar, pois avaliar se resume a algo discriminatório e superficial. Mas vai além. Ao avaliar os alunos e atribuir juízo de valor, mais especificamente de fundo moral, com relação a seus comportamentos, estabelecese dentro das salas de aula ações aversivas entre professores e alunos e entre os próprios alunos. Isso ocorre porque o aluno que é "taxado" como burro, por exemplo, se sente inferior e, portanto, excluído dos demais, mesmo estando incluído dentro de 50 um sistema educacional comum a todos: é a exclusão por inclusão (LEITE e KAGER, 2009). Outro ponto interessante, e presente em todas as respostas supracitadas envolvem a atribuição de valores com caráter pedagógico-comportamental, tais como participação, atenção e presença nas salas de aula, o compromisso com as atividades propostas. Como já dito, esse tipo de avaliação não permite aos docentes perceberem quais as possíveis medidas a tomar frente às dificuldades apresentadas pelos alunos, uma vez que o foco dessa avaliação acaba sendo o sujeito (aluno) e não a aprendizagem, o que é criticado por Sousa (2000), considerando que o aluno passa a ser um objeto alvo de uma avaliação esporádica e excludente. Outro aspecto considerável na análise refere-se à quinta categoria: Verificar a correspondência entre a aprendizagem e objetivo do professor, exemplificado pelas respostas abaixo: "É verificar se o aluno está correspondendo com o que ele está ensinando." (S2) "Avaliação é a forma que é usada para saber se o aluno está ou não aprendendo o que está sendo passado na sala de aula." (S8) "Avaliação é um modo de entender se o seu trabalho como professor está dando certo. Avaliar comportamento, escrita, leitura e o quanto o aluno pode estar hoje, se o aluno se desenvolveu em todas as matérias ou não.” (S12) Percebemos que alguns alunos reconhecem a existência de objetivos de ensino a serem atingidos. Destacamos que de acordo com essa concepção de avaliação, as ações dos professores são determinantes para a eficácia do ensino e da aprendizagem, pois possibilitam aos envolvidos coletar os dados acerca da realidade, favorecendo na tomada de decisões necessárias para a construção do conhecimento e para a superação de dificuldades (Perrenoud, 2007; Haydt, 2002; Luckesi, 1998). Esse tipo de avaliação permite ao professor fazer uma reflexão de suas práticas e procurar modificá-las, adequando-as para que a aprendizagem não se torne algo pontual. Em última instância, consideremos a resposta a seguir, referente à sexta categoria: Promover a aprendizagem e aquisição do conhecimento: "Tentar com que as pessoas aprendam e tenham conhecimento." (S22) 51 Embora possamos compreender que o aluno considera importante promover a aprendizagem para que se adquira conhecimento, não podemos esquecer, porém, de fazer algumas considerações. Primeiro, ao afirmar que as pessoas aprendem quando alguém se esforça para auxiliá-las, entendemos que a avaliação passa a ter sentido de diagnosticar, pois há possibilidade do professor utilizar recursos diversos para ensinar aos alunos e propor mudanças, caso os objetivos não sejam atingidos (DEPRESBITERIS, 2000). Em segundo lugar, as práticas exercidas refletem na aquisição do conhecimento. É aqui que verificamos um impasse. Como sabemos, não podemos negar o direito ao saber aos nossos alunos, mas também compreendemos que o professor, como mediador, tem função essencial na construção do conhecimento e não na aquisição deste conhecimento, uma vez que entendemos que não há transmissão nem aquisição, mas uma constante construção de significados, de saberes relacionado com a aprendizagem dos alunos, contrapondo a ideia de conceber a aprendizagem como a “absorção de conhecimentos”. Uma visão diferente, porém, pode ser observada quando analisamos as respostas referentes às duas últimas categorias (Diagnosticar e Processual): "Para mim é uma forma dos educadores saberem das dificuldades e aprendizagens dos alunos e poder ajudá-los." (S3) "Avaliar o que o aluno aprendeu durante o curso." (S14) “É como saber se o aluno está conseguindo acompanhar e aprender o que lhe foi ensinado.” (S29) Fica claro nas respostas acima, mais evidente na resposta de S3, que uma das funções da avaliação é diagnosticar o processo de aprendizagem dos alunos, se opondo às respostas anteriores. É um diagnóstico porque oferece tanto ao professor quanto aos alunos, a possibilidade de mudança, de construção, de aprender com os erros. Nesse sentido, a avaliação passa a ser formativa, na direção do aperfeiçoamento das ações, visando o aprimoramento, conclui Hadji (2001). A avaliação, assim compreendida, incumbe-se de fornecer ao professor dados essenciais sobre o processo de aprendizagem observado nas respostas de S14 e S29, que servirão como base para trabalhar novas práticas pedagógicas que auxiliarão na construção da autonomia e desenvolvimento de competências dos 52 alunos, sendo o professor mediador dessa construção processual que não é pautada em momentos estanques, muitas das vezes delimitados apenas pela aplicação de provas. Agora, passemos a analisar a segunda pergunta: “Como é feita a avaliação da aprendizagem nessa escola?” (Tabela 2), para a qual foram construídas quatro categorias. De acordo com a primeira categoria, que é Avaliação restrita, utilizaremos as seguintes respostas: "Com provas e trabalhos baseados na matéria." (S1) "A avaliação é feita pelas notas, presença e participação." (S2) "Por atividade em grupo na escola e trabalho individual." (S6) "Através de provas e trabalhos." (S21) "É feita na forma de entrega de trabalhos e provas." (S23) Verificamos, a partir dos dados apresentados que a avaliação se resume ao ato de aplicar provas e trabalhos e atribuir notas aos alunos e, infelizmente, as respostas apenas reforçam o que tradicionalmente ocorre nas salas de aula: a avaliação com um fim em si, geralmente pontual, que utiliza instrumentos vagos, que não apontam os problemas, nem as mudanças ocorridas durante o processo de aprendizagem. Não queremos aqui questionar se a utilização desses três instrumentos (provas, trabalhos e notas) é boa ou não. O problema não é o uso desses instrumentos, mas o que se faz com os dados que eles permitem coletar. Podem ser interessantes para fornecer informações sobre o modo como os alunos estão se apropriando dos conteúdos, como pensam, refletem ou até mesmo como escrevem a partir dos conteúdos aprendidos. Porém, o que se observa, é que não se faz uma análise efetiva dos dados que eles fornecem. Seu uso fica restrito à quantificação de acertos e erros cometidos pelos alunos. Acabam, portanto, apenas mensurando, quantificando, medindo e por fim, classificando alunos e seus saberes. Como afirma Luckesi (1998), as provas, por exemplo, tem como finalidade apenas verificar o nível de desempenho do educando em determinado conteúdo e classificá-lo em termos de aprovação ou reprovação, com atribuição de conceitos ou notas sendo, portanto, um instrumento restrito. Podemos dizer que é a prática seletiva da avaliação em ação. 53 Igualmente, podemos situar a utilização de notas que apenas indicam quais são os alunos que apresentam problemas na aprendizagem, mas limitadamente, pois considerando a avaliação como um processo, as notas não permitem identificar/diagnosticar as dificuldades, tornando-se pouco eficientes. Ainda sobre a forma como a avaliação era realizada na escola, comparamos as respostas apresentadas pelos alunos com as falas dos professores, em resposta à pergunta: "Então, como você avalia a aprendizagem dos seus alunos?" (Tabela 5), as respostas foram as seguintes: “Você deve saber que somos orientados a utilizar diversos recursos que possam nos indicar o quanto os alunos aprenderam, ou apontar quais as dificuldades que eles apresentam, mas na escola pública nem sempre é possível utilizar todos esses recursos disponíveis... mas sei que é importante diversificar, não reduzir a avaliação a apenas provas, por exemplo." (P1) "Normalmente com instrumentos qualitativos, como textos a interpretar em que possam utilizar conceitos aprendidos. Como deve ter percebido, sempre optei pelas provas. Sempre as usei ao final de um determinado período, justamente porque elas me mostram se meus alunos souberam mesmo a matéria, se compreenderam o que falei. Gosto de formular questões que os levem a pensar, para que não fiquem na decoreba, para saber se sabem interpretar, o nível de conhecimento adquirido. Uso também trabalhos que envolve pesquisas nos livros e na internet também, mas eu auxilio-os nessas pesquisas, pois você sabe muito bem que eles acabam copiando e aprender mesmo que é bom, nada. E dou notas pelos vistos no caderno, pois olho sempre que dou matéria ou passo uma atividade ou exercícios para resolverem e carimbo no caderno deles, o que acho um bom motivo para garantir que eles estão prestando atenção e que não vão para escola apenas para garantir um certificado no final do ano ou para não serem reprovados pelas faltas. Acho interessante também aplicar uns pontinhos pela participação, compromisso e esforço dos alunos. Você sabe, assim como eu, que alguns alunos se destacam entre os demais, se esforçam mais, enquanto outros apenas bagunçam e não fazem nada. Não acho justo deixar de avaliar pelo comportamento, pois assim eles ficam mais interessados em aprender, saber que terão notas pelo bom comportamento. Às vezes, dependendo do assunto, eu levo para eles textos para fazerem uma leitura em trabalhos de grupos e depois discutirem, eu dou nota pelo que falam, pelo andamento da discussão. Bem, são vários os instrumentos, mas estes que falei são os que mais uso.” (P2) O professor 1, ao ser entrevistado, não respondeu a pergunta como esperávamos, sendo necessário fazer a seguinte pergunta: "E quais instrumentos de avaliação você utiliza?" (Tabela 5). Resolvemos colocar a resposta para comparar com as anteriores. 54 “Como já disse, devemos utilizar diversos recursos, mas como ainda estou em início de carreira, estou começando a aplicar recursos que acho serem mais práticos, ou talvez, que me ajudam mais a obter bons resultados dos meus alunos. Eu geralmente dou atividades em salas de aulas sempre que acabo de explicar uma matéria. Essas semanas mesmo estão estudando Estruturas de relevo e resolvi dar alguns exercícios teóricos sobre os conteúdos e peço aos alunos para resolverem tudo e copiarem a matéria para depois eu dar um visto e colocar um '+' no meu caderno de registro dos alunos. É que assim eu tenho um controle de todo o processo. Mas a gente sempre acaba optando pelas provas. Não que elas não sejam bons recursos, mas nem sempre nos mostram as dificuldades dos alunos. É, além disso, dou alguns trabalhos para pesquisarem na internet, livros, pois não adianta apenas pedirem que façam pesquisas, devemos orientálos como fazer uma pesquisa, o corpo do trabalho... Eu me preocupo também em dar notas pela participação e comportamento (risos), afinal manter os alunos sobre controle é somente falando: “fulano, preste atenção, senão vou tirar ponto”. Você sabe que é difícil manter ordem nas salas, ainda mais para quem está começando.” (P1) Os dados apresentados reforçam a concepção de avaliação pontual, pois os instrumentos citados pelos professores são utilizados em momentos predefinidos, principalmente relacionados com provas. São pontuais porque, apesar de numerosos, não há relação entre eles. Os professores não explicitaram que os instrumentos coletam dados de natureza semelhante ao longo do tempo, de modo a permitir verificar avanços no processo. Assim, tais instrumentos têm função de verificar o nível de desempenho do educando em determinado conteúdo, num momento específico, com a finalidade de aprovar ou reprovar, o que acaba gerando um mecanismo de dominação, autoritário, uma vez que os professores disseram que aplicariam notas aos seus alunos, mantendo-os sobre controle. A nota neste caso, acaba se transformando em redes de proteção para os professores, garantindo-lhes a submissão dos alunos, deixando-os sobre controle (HOFFMANN, 2006). Além disso, como enfatiza P2, alguns alunos se destacam entre os demais e essa colocação gera certo desconforto, pois resulta num sistema classificatório, discriminando e selecionando os alunos em melhores e piores, deixando-os em patamares distintos. Esse mecanismo, portanto, condiciona os alunos, pois eles passam a ganhar pontos pelo comportamento, cumprimento de tarefas e o esforço, e o resultado é que os alunos passam a se preocupar mais com a nota do que com a aprendizagem em si (SOUSA, 2000). 55 Percebe-se que as respostas apresentadas pelos professores são compatíveis às respostas dos alunos a respeito dos instrumentos de avaliação. Este fato indica que as práticas pedagógicas estão voltadas somente para mensurar o resultado final obtido pelos alunos e não o processo, com finalidade classificatória (HAYDT, 2002), predominante tanto nas concepções dos professores como nas dos alunos. Depresbiteris (2000) afirma que, pensar avaliação como sinônimo de classificação impede que as causas de fracassos e sucessos do processo de aprendizagem sejam identificadas e, portanto, não haverá mudanças, pois não houve diagnóstico dos problemas e dificuldades apresentados pelos alunos. Podemos ainda ressaltar que, para P1, a falta de experiência é um dos motivos que a impedem de utilizar diversos instrumentos de avaliação e, por isso, acaba optando pelas provas e trabalhos. Essa posição nos mostra que ainda há resistência por parte dos educadores em mudar suas práticas, mesmo que eles acreditem que aplicar prova não seja suficiente para verificar a aprendizagem dos alunos: Mas a gente sempre acaba optando pelas provas. Não que elas não sejam bons recursos, mas nem sempre nos mostram as dificuldades dos alunos (grifo nosso). Tal posição, de acordo com Sordi e Ludke (2009), gera problemas diversos, não somente aos alunos como também a toda a comunidade escolar. Analisaremos agora as respostas referentes à segunda categoria: Avaliação do sujeito, destacando-se: "Avalia-se pela frequência, participação e aprendizagem." (S14) "Avalia-se pela participação e frequência." (S15) "Através das atividades, trabalho e avaliação, comportamento e participação." (S17) Os relatos nos mostram, novamente, como a avaliação da aprendizagem está fortemente agregada a valores atribuídos aos alunos que, como afirma Freitas (2003), o professor, assim como o aluno, constroem imagens uns dos outros o que interfere na hora de avaliar. Notamos também, como há ligação com as respostas relatadas anteriormente a respeito da primeira pergunta. Evidenciamos que a avaliação, enquanto se fundamenta como formadora de juízos de valor interfere na formação do aluno, no que diz respeito à aprendizagem, construção do conhecimento e formação pessoal. Ela legitima o status hierárquico escolar e o problema é que os próprios alunos se veem naturalmente nesse sistema, porque acreditam que esforço pessoal, 56 comportamento, participação nas salas de aula são instrumentos eficazes para solução de problemas da aprendizagem, presente em todos os exemplos acima (PERRENOUD, 2007). Fica evidente, portanto, que são valorizadas por meio de atribuição de nota as atitudes de obediência, esforço e atenção. É a avaliação autoritária usada para enquadrar comportamentos, submeter e punir. Além disso, as desigualdades no rendimento dos alunos passam a ser atribuídas apenas ao esforço e ao mérito de cada um, retirando do docente sua parcela de responsabilidade. Mas é de se convir que o papel do professor seja tão importante quanto os instrumentos que utiliza para avaliar os alunos. É o que veremos a seguir, com a análise da terceira categoria, que é: Avaliação depende do professor considerado, sendo representada pelas respostas dos sujeitos abaixo: “É dividido, há alguns professores que agem corretamente, dando trabalhos e provas, mas outros a avaliação, é por presença e carimbo no caderno. Então, resumindo, varia do professor.” (S7) "Depende de cada professor." (S10) “Pra mim é boa. Os professores são muitos bons, são maravilhosos pra mim e muito importante.” (S24) "Eu acho que tem alguns professores que não tem muita paciência para explicar aos alunos e ter uma boa avaliação.” (S25) Notamos a necessidade dos alunos em salientar que uma boa avaliação está diretamente relacionada com as práticas, as ações por parte dos docentes, principalmente nas afirmações de S10 e S25. Os resultados advindos de avaliações aplicadas aos alunos, muitas vezes, não são utilizados com o intuito de melhorar, redirecionar, mas apenas continuam sendo dados discretos, excludentes. Para tanto, faz-se necessário ressaltar a importância em discutir a avaliação com os professores, averiguar quais as concepções que possuem e que norteiam as suas práticas avaliativas, haja vista que suas atitudes estão fortemente ligadas com o ensino tradicional que tiveram, sendo reprodutores fiéis de tal ensino, o que reforça ainda mais a resistência em querer mudar. Para S24, a avaliação está intimamente ligada à relação que se estabelece entre professor e aluno. É comum para a maioria dos alunos que o professor, além de ser autoridade dentro da sala de aula, deve construir com eles uma relação harmônica, recíproca, ou seja, não basta ao professor dar aulas, é preciso que 57 esteja atento às relações existentes, pois elas fornecem informações imprescindíveis sobre o que seus alunos estão aprendendo, como ressaltam Hoffmann (2008) e Leite e Kager (2009). Para estes autores, nessas interações entre educador e educando, há troca de saberes, de dúvidas, abrindo-se espaço para a participação efetiva dos alunos, contribuindo assim, para a construção de conhecimento a partir de conteúdos aprendidos. Segundo Freitas (2003), a escola possui uma organização própria, com interesses próprios, porém, estabelecidos de acordo com as exigências da sociedade. É esta quem dita o que a escola deve fazer, interferindo assim, na avaliação que se finda dentro das salas de aula. É nesse sentido que analisaremos a seguinte resposta, de acordo com a categoria Avaliação externa. "Eu acredito que esta avaliação seja feita por uma forma de reunião (conselho) e assim eles avaliam e tomam uma decisão cabível referente a cada aluno a ser avaliado." (S27) De imediato, parece ser uma afirmação fora do contexto o qual defendemos até aqui, mas ela nos oferece dados interessantes. Sugere-nos que a avaliação não fica restrita a meros procedimentos e pautada a alguns recursos, como já apontado, aplicados em um determinado período, etapa ou no final de um ciclo, ocorrendo dentro das salas de aula, mas fica evidente que o aluno é o único, em toda a organização escolar, a ser avaliado, tornando-se o alvo de críticas, o espelho real da qualidade do ensino, conforme Haydt (2002). Se obtiver resultados positivos (nos referimos às notas, as médias ou conceitos) significa que os objetivos foram atingidos e que há um ensino de qualidade. Do contrário, se houver baixo rendimento, resultados negativos (notas baixas), a qualidade do ensino despenca. O aluno não soube adquirir conhecimento o suficiente para prosseguir na etapa seguinte, ocorre reprovação, fracasso escolar. É curioso considerar que as medidas tomadas estão voltadas ao aluno, ele é responsável pela má qualidade do ensino, e as decisões estabelecidas decidirão seu rumo que, provavelmente, caracterizar-se-á por ser punitiva, excludente e influenciará até mesmo na manutenção do aluno dentro das salas de aula, sem possibilidades de ajudá-lo na aprendizagem. A resposta que se segue, refere-se à Avaliação restrita e Avaliação do sujeito, a qual discutiremos separadamente. 58 “Bom, eu acho que nessa escola a avaliação não é tão correta como deveria ser como avaliar pela presença, participação, conteúdo do trabalho, dinâmica em alguns professores, não é feita dessa maneira.” (S9) Percebemos a insatisfação do aluno em relação à avaliação que é realizada em sua escola, mesmo apontando alguns recursos que, a seu ver, são fundamentais para avaliar a aprendizagem dos alunos, mas deixam de ser aplicados pelos professores. Embora não seja possível identificar na resposta apresentada, podemos apenas afirmar que há necessidade de mudanças para que a educação se direcione a novos caminhos. Apresentaremos a seguir a análise dos dados coletados referentes à última pergunta do questionário aplicado aos alunos, sendo ela: "Se você fosse professor, o que faria para avaliar a aprendizagem de seus alunos?" (Tabela 3). Começaremos pela categoria Avaliação comum, utilizando as respostas abaixo para exemplificar: "Com certeza daria uma boa prova sobre o conteúdo da matéria." (S1) "Prova sem consulta é o método mais seguro para saber o nível de aprendizagem do aluno." (S5) "Daria atividades para nota em sala de aula individuais ou em grupos e alguns trabalhos." (S13) "Avalia-se o aluno pela participação e frequência do aluno." (S15) "O comportamento, os interesses sobre os estudos, se ele é um aluno que tem esforço para aprender, etc." (S18) “Com avaliações para adquirir conhecimento.” (S21) “Eu aplicaria mais rigidez, os alunos faltam muito, vir à escola pra mim é muito importante.” (S24) "Eu passaria alguns exercícios preparatórios para expandir o conhecimento de cada aluno e por fim daria uma avaliação, ou seja, uma prova para avaliar seus conhecimentos.” (S27) Se compararmos as colocações acima citadas com algumas respostas anteriores, concluiremos que há uma linearidade entre elas. Não era de se esperar, portanto, que houvesse considerações muito diferentes do que se pratica no ensino tradicional, ou seja, a avaliação tradicional se torna o porto seguro para muitos como indicam as respostas de S5 e S27. Muitos sujeitos que representam essa categoria optaram pelo uso da prova (S1, S5 e S27), trabalhos (S13), participação (S15), comportamento (S18 e S24). Acreditamos que são influenciados pela vivência avaliativa a que estão acostumados 59 e, além disso, consideramos que tal influência ganha status quando não se discute com os alunos o quão importante é avaliar também os instrumentos que o professor utiliza para avaliá-los. Devemos destacar também que o sujeito S27 afirma que deve haver aquisição e expansão do conhecimento, superando a visão tradicional de aquisição de conhecimento por memorização, medição e quantificação. O que ocorre é que, assim como na escolha dos instrumentos de avaliação, muitos alunos não compreendem a grandeza do significado de construção do conhecimento, há deficiência nesse sentido, em entender que o conhecimento está em constante construção, reformulação e mudança. Em relação à segunda categoria, que é Avaliação comum + modificada, destacam-se as respostas: “Eu usaria um pouco mais de contato direto com os alunos. Porque muitas vezes o aluno não entende a matéria, ficam com dúvida e não perguntam para o professor.” (S8) “Faria com que eles fizessem trabalhos individuais, com temas escolhidos por eles próprios.” (S23) “Eu avaliaria através de livros, discursos, opinião dos alunos e através de internet.” (S25) Essa categoria nos mostra que, apesar da maioria dos alunos acreditarem que a avaliação pontual seja uma opção para avaliar a aprendizagem, há aqueles que buscariam diversificar os instrumentos na tentativa de coletar dados mais precisos, com características qualitativas predominando as quantitativas. Podemos ainda afirmar que as respostas, mais evidente em S25, mostram a preocupação em dar lugar para que os alunos participem, para que dialoguem, exponham suas ideias e opiniões. Além disso, o professor deve mostrar que se preocupa em ouvir os alunos (S8 e S23) para detectar suas dificuldades e seu interesse. Mais uma vez, os alunos demonstram em suas respostas a insatisfação com o ensino que possuem, o que já discutimos anteriormente, propondo estratégias que consideram fundamentais e que, provavelmente, serviriam como base para uma aprendizagem significativa e eficiente. Analisemos, portanto, a última categoria Avaliação modificada, em que é evidenciada nas respostas que se seguem: 60 "Ao invés de tocar provas neles, avaliaria através de diálogos e debates, enfim oralmente." (S3) “Se fosse professora, eu faria mais trabalhos e procuraria depois discutir sobre eles, conversaria, ou melhor, procuraria ter mais diálogo e comunicação com meus alunos e procuraria também entender o motivo das faltas dos meus alunos, e tentaria fazer algo para que o aluno se recuperasse, e sei que seria muito extrovertida e comunicativa.” (S30) No caso de S3, o próprio aluno ao considerar que utilizaria outro instrumento, que não fosse a prova, para avaliar seus alunos, destaca outro praticamente inexistente nas salas de aula: a avaliação oral, a partir de diálogos e debates. Já para S30, a preocupação está relacionada com as dificuldades que os alunos apresentam e a importância de estabelecer relações com eles, na finalidade de coletar dados que possam servir para diagnosticar a aprendizagem dos alunos. Como afirma Neto e Aquino (2009): Além de diagnosticar, a avaliação tem a função de propiciar a auto compreensão do nível e das condições em que se encontram tanto o educando quanto o educador. Esse reconhecimento do limite e da amplitude de onde se esta possibilita uma motivação e a consequente contribuição tanto para o auxilio quanto para o aprofundamento da aprendizagem. (NETO e AQUINO, 2009. p. 5) Ao considerar cada categoria apresentando algumas respostas que melhor expressassem a concepção dos alunos sobre avaliação da aprendizagem, podemos concluir que avaliar não se resume simplesmente em constatar, mas, sobretudo analisar, interpretar e tomar decisões e reorganizar o ensino. Podemos ainda enriquecer a discussão, analisando as respostas dos professores, referentes à pergunta: "Por que você escolheu esses instrumentos?" (Tabela 6). “Eu escolhi esses instrumentos, acho que pela facilidade que eles tem de mostrar, já de início, como eu estou trabalhando. Usando a prova como exemplo, se eu aplicar uma avaliação para os alunos e a maioria for mal, eu sei que o erro não é deles e sim meu. Aí, eu uso esses resultados para melhorar. Não sei te dizer bem, mas talvez pela segurança que as provas, trabalhos e participação dos alunos através de notas nos dão, sabe. No momento ainda estou aprendendo a utilizar esses instrumentos, mas pretendo melhorá-los, adaptá-los.” (P1) “Ah...porque eles me ajudam a atingir meus objetivos e são fáceis de aplicar. Não que não podemos utilizar outros, mas é difícil se pensar 61 em outros métodos de avaliação, pois estamos falando de escola pública, os desafios são muitos. As provas, por exemplo, me ajudam também a manter um certo controle, pois é só falar para os alunos que vou dar uma prova ou que uma determinada atividade valerá nota, ah... aí todos eles se interessam, ou mostram interesse, mas eu bem sei que eles só fazem por causa da nota e por isso, acho ela extremamente importante. Hum... os trabalhos também me ajudam a avaliar um pouco mais o desempenho dos alunos, pois acompanho o quanto eles progrediram, apesar de nem sempre poder aplicar trabalhos em grupos, para saber a dinâmica deles, como trabalham com os outros colegas.” (P2) É evidente como os professores deixam claro que aplicar provas e atribuir notas aos alunos seja a maneira mais eficaz de coletar dados que possam mostrar o quanto os alunos aprenderam, e mais ainda, eles afirmam que são instrumentos de fácil aplicação. Podemos dizer que as falas dos professores representam o que muitos fazem atualmente, que é usar o ensino tradicional como porto seguro de suas ações, que são pautadas pela facilidade que alguns recursos, em exclusividade as provas, tem de fornecer dados sobre os alunos. Novamente destacamos na fala de P1, que há interesse em mudanças, mesmo sabendo que não são fáceis e não ocorrem milagrosamente. O que enfatizamos aqui é que, como sugere Hoffmann (2008) e Sousa (2000), a avaliação inclui valores e princípios e sua prática está enraizada em ideologias que se firmaram ao longo dos anos e que precisa ser superada, ou no mínimo, modificada, uma vez que o ato de avaliar inclui investigação que visa mudanças. Essa perspectiva é evidente na fala de P1 (veja o destaque na transcrição acima), embora apresente um discurso avançado ele afirma que usa os resultados de uma avaliação insatisfatória para melhorar sua prática, mas não consegue dar um exemplo. Outro ponto interessante de ressaltar nessa questão é que P2 justifica que, uma das causas dos fracassos ou insucessos dos métodos avaliativos é o fato de atuar em escola pública. Vemos aqui que, tal pensamento nos leva a crer que a insatisfação está alicerçada com os projetos pedagógicos da escola, da realidade em que vivem dentro do sistema escolar, o que influencia diretamente em sua maneira de agir diante das dificuldades impostas, principalmente as relacionadas com práticas avaliativas, conforme destaca Hoffmann (2006). 62 Podemos ainda destacar na fala do P2, quando afirma que as provas e notas são mecanismos eficazes para manter o controle dos alunos. Esse pensamento nos leva a crer que se gera dentro das salas de aula um sistema de dominação, autoritário, uma vez, como afirma Hoffmann (2006), as notas e provas não servirão como instrumentos que possam fornecer como a aprendizagem do aluno melhorou, mas sim em mantê-lo sobre controle, tendo caráter de submissão e, portanto, constrangedora. Além disso, as práticas avaliativas, apresentadas no contexto que delimitamos até agora, são meios imprescindíveis para a aprendizagem e devem, além de diagnosticar na perspectiva positiva de investigação, que permita saber mais sobre o aluno e colher elementos para que a educação se aproxime da sua realidade, mas também servir como indicadores de intervenção da aprendizagem durante todo o processo de formação do aluno, destacando a importância do professor dentro desse contexto. É o que pretendemos fazer ao analisar os dados coletados das entrevistas com os dois professores, sobre as três últimas perguntas. Ao investigarmos a seguinte pergunta: "Você poderia me contar como faz para analisar os dados provenientes desses instrumentos?" (Tabela 7), destacamos os seguintes trechos: “Ah, depois que aplico determinado recurso, eu dou notas de acordo com o que o aluno fez. Eu analiso, principalmente, o que ele soube responder, por exemplo...Sempre há alguns alunos que saem melhor, tiram boas notas e, quando vou corrigir as provas dos outros alunos, eu gosto de usar as provas destes alunos que foram bem, para comparar, pois acho que torna o trabalho mais justo, os alunos nem sempre respondem com as mesmas palavras. Eu também dou trabalhos que ajudam a melhorar a nota quando faço a média deles." (P1) "E através das notas deles, que acredito que são os melhores dados para indicar o quanto progredimos, ou mostrar os impasses na transmissão do conhecimento, eu consigo apontar quais foram os objetivos que alcancei e quais não foram e assim melhorar tanto minhas ações quanto as dos meus alunos.” (P2) Mais uma vez evidenciamos a preocupação dos professores em utilizar dados quantitativos para avaliar seus alunos. Neste caso, ambos os professores afirmam que a nota é o ponto de referência para avaliar, até mesmo para comparar, como 63 sugere P1. Como aponta Perrenoud (2007), essa ação é uma ferramenta geradora de hierarquias dentro das salas de aula, quando utiliza as notas para avaliar, comparar e consequentemente classificarem os alunos em bons e ruins, melhores e piores, além disso, a comparação deve existir, mas sendo do próprio aluno: o que ele conseguiu aprender, quais foram os avanços, as dificuldades em relação às experiências anteriores, e não compará-lo a outros. Ainda na fala de P1 (veja o trecho destacado na fala deste professor), notamos que ele considera justo comparar as provas dos alunos, evitando a ocorrência de equívocos ou injustiças com os alunos. Hoffmann (2008) critica essa posição: ao comparar os alunos, ou acreditar que assim consigamos ser justos no momento de aplicar a nota, cometemos sérios erros, que muitas vezes, delimitam a aprendizagem dos alunos. Como apontamos anteriormente, e pautados nas contribuições de Hoffmann (2008), essa atitude, sendo ela arbitrária ou não, deve ser sistematicamente questionada, uma vez que sabemos que quantificar é útil na medida em que não se torne o único ou o melhor modo de avaliar, comparar e classificar os alunos, mas que seja um dos instrumentos essenciais para auxiliar na melhoria da aprendizagem, o que pode ser evidenciado na fala de P2, que diz utilizar as notas para modificar suas ações e de seus alunos. Nessa perspectiva, a avaliação se firma em uma de suas principais funções que é permitir ao professor detectar e identificar deficiências na forma de ensinar, pois possibilita reformular as práticas avaliativas, com a finalidade de aperfeiçoá-las (HAYDT, 2002). Em relação à pergunta: “Como você utiliza os resultados da avaliação de seus alunos?” (Tabela 8), utilizaremos as passagens seguintes para exemplificar: “Para mim, os resultados mostram o quanto caminhamos, quais as dificuldades que os alunos apresentam o que precisa ser mudado. Como utilizo as notas dos meus alunos como referência, talvez se aplicasse uma prova e as notas não foram boas, acho que os alunos não compreenderam a matéria, não conseguiram absorver o que expliquei e também pode ser que a prova não foi bem formulada, as perguntas ficaram confusas, tudo é possível." (P1) “Como procuro avaliar qualitativamente meus alunos, as notas apenas me auxiliam, me dão suporte para ajudá-los quando percebo que não está indo bem. Acho ainda que não basta apenas uma boa metodologia ou práticas pedagógicas eficientes, se elas não nos mostram o quanto progredimos...as notas me ajudam a identificar as dificuldades que apresentam." (P2) 64 Podemos concluir através das respostas acima que os professores, mesmo utilizando as notas como o principal instrumento, consideram que a avaliação deve mostrar as dificuldades que os alunos apresentam, ou o que precisa ser mudado em suas práticas pedagógicas. Mas se compararmos com as respostas anteriores e com o questionário aplicado aos alunos percebemos que há contradições entre as afirmações, pois o que mais se pratica atualmente é uma avaliação quantitativa, por provas, trabalhos e notas resultando num número simplesmente simbólico, mas que faz toda a diferença no momento de aprovar e reprovar os alunos. É fundamental entender que, através das palavras de P2, muitas vezes as metodologias utilizadas bem como os instrumentos de avaliação nem sempre auxiliam na construção do conhecimento, em identificar os reais problemas que atingem todo o contexto escola, uma vez que os resultados obtidos independentemente dos instrumentos influenciarão decisivamente na aprendizagem dos alunos, podendo ser tanto formativa, diagnóstica, como classificatória e excludente. Embora tenhamos percebido nas falas de P2, que ele contradiz o que disse anteriormente a respeito da utilização de provas e notas como instrumentos eficazes. Por fim, analisaremos a última pergunta: “Qual ou quais os problemas e dificuldades que você enfrentou e enfrenta quando avalia a aprendizagem de seus alunos?” (Tabela 9). De acordo com as passagens que se seguem: “Mas as dificuldades aparecem a toda hora, principalmente quando chego ao final do bimestre, eu tenho que somar as notas dos alunos e depois fazer a média deles para entregar a tempo na secretaria, fico louca, são muitos alunos. Tem ainda o fato de quê falta materiais para utilizarmos e que podem facilitar nosso trabalho, sem contar que muitos professores não fazem a parte deles, aí a gente fica perdido, entende. Mas o pior são os alunos que não prestam atenção, não fazem as atividades sempre, faltam muito, não copiam a matéria...Ah... acho que seja pela falta de experiência mesmo, me sinto insegura, às vezes, e fico com receio de ser injusta com alguns alunos, porque quando passamos as notas deles no fichário, alguns ficam pouco abaixo da média e aí você para e pensa: será que devo dar mais algum pontinho pra ajudá-lo?” (P1) “Sem dúvida, quando comecei a lecionar, as dificuldades eram maiores, pois eu não tinha experiência alguma, embora as exigências eram poucas, no que diz respeito à avaliação. Mas atualmente eu tenho dificuldades em avaliar a participação dos alunos, o comportamento e as atitudes, pois eles são mais rebeldes que antes, não respeitam mais o professor dentro da sala de aula. Assim fica difícil tomar decisões que não venham prejudicar a aprendizagem dos alunos, como o castigo, que acho ser uma 65 maneira eficaz de educar, pois os alunos passam a ter respeito somente se dissermos que iremos tirar nota ou ponto se não prestam atenção. Mas e mais difícil ainda ter que prepará-los para vestibulares, concursos, o que passa a ser uma exigência, pois se saem da escola sem saber nada a culpa e do professor. Além disso, acho que os materiais que temos disponíveis não são suficientes para nos ajudar a preparar as atividades avaliativas, são um tanto fracos didaticamente e como não tenho muito tempo para preparar ou planejar alguns outros métodos de avaliação, acabo utilizando apenas avaliações, provas né, hum... alguns trabalhos individuais ou em grupo, pois, como já disse, são mais fáceis para aplicar.” (P2) Notamos que as dificuldades apresentadas pelos professores é a falta de segurança que apresentam, ou por não possuírem experiência, e o fato dos alunos serem rebeldes como aponta P1. No caso de P2, evidenciamos que ele dá ênfase na aplicação do castigo como maneira de educar (veja o destaque na fala de P2), usando a prova como instrumento para tal condição. É uma situação delicada, uma vez que sabemos que educar não é usar mecanismos dominadores, de submissão para controlar os alunos como se fossem objetos. Necessitamos rever tal atitude e postura, pois sabemos que ocorrem em nossas escolas e não podemos ignorá-la. Em relação à insegurança, é comum que isso aconteça, uma vez que os professores não se sentem preparados o suficiente, principalmente quando é imposto a eles um sistema de avaliação determinado pela escola, ou ainda mesmo quando as práticas avaliativas são interferidas pelas demandas sociais, evidenciado na resposta de P2, ao afirmar que e difícil avaliar pensando em preparar os alunos para realização de exames. Essa afirmação, respaldada pelas contribuições de Perrenoud (2007), Chueiri (2008) e Freitas (2003), nos remete ao significado atual que a avaliação assume nas escolas que é o de certificação, que qualifica o aluno para o mercado de trabalho. Além disso, os professores destacam a precariedade de materiais para auxiliá-los e o desinteresse dos alunos em aprender, ou até mesmo a falta de interesse do coletivo, apontado por P1, ao afirmar a falta de compromisso dos colegas frente às práticas avaliativas e suas funções. Essas dificuldades resultam na escolha de instrumentos avaliativos pouco eficientes e que não diagnosticam as dificuldades apresentadas pelos alunos como também despertam a sensação de insegurança, de fragilidade ou falta de credibilidade do próprio trabalho. As consequências serão para todos os envolvidos, não apenas para docentes e discentes. 66 Se não houver uma ressignificação teórica da verdadeira função que deve ser desempenhada pela avaliação, os professores apresentarão sempre as dificuldades descritas por eles mesmos, e não conseguirão enfrentar os problemas que vão surgindo. Por isso, os processos de reflexão coletiva propiciados pela análise dos instrumentos de avaliação, bem como reconstruir as concepções sobre avaliação da aprendizagem, são fundamentais para a organização e planejamento de práticas avaliativas que possam realmente fazer diferença frente às demandas educativas que se fazem necessárias no cenário em que se encontra a atual avaliação da aprendizagem. Entendemos assim, como sugerem Sordi e Ludke (2009), que os professores passam a fugir dos espaços coletivos da escola ou não refletem sobre o próprio trabalho, devido aos problemas apresentados anteriormente. Para tanto, pensamos que antes de qualquer iniciativa é necessário refletir sobre o trabalho desempenhado pelos professores, ressaltando a importância de se investir em uma nova maneira de discutir o que é e como se ensina a avaliação, pois sabemos que ela ocupa um eixo central na realidade tanto escolar quanto social, evitando que os professores continuam a ser formados para que repitam práticas e atitudes que tem servido a fins de emancipação das desigualdades e mantenedora de hipertrofias dentro das escolas (SOUSA, 2000). 67 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao realizarmos o presente estudo, pudemos desenvolver um olhar diferenciado e investigativo em relação à Avaliação da Aprendizagem, permitindonos refletir sobre as práticas avaliativas desenvolvidas e suas influências no contexto educativo. Os dados que aqui discutimos, pautados pelos objetivos que delimitamos e com base nas opiniões de pesquisadores educativos, nos ajudaram a concluir que as práticas avaliativas continuam apresentando características classificatórias, pontuais e excludentes. Concordamos com a ideia de avaliação da aprendizagem, como um processo contínuo, como uma possível alternativa diante dessa situação. Através dessa função, a avaliação passa a ser uma prática reflexiva, diagnosticando as dificuldades dos alunos e, ao mesmo tempo, oferecendo possibilidades de superar essas dificuldades, pois permite ao professor rever e alterar suas ações, auxiliando no progresso, crescimento e construção do conhecimento pelo aluno. Além disso, a avaliação tem destaque como ação pedagógica mediadora do processo de ensino aprendizagem e, infelizmente, pouco evidenciada nas concepções apresentadas pelos participantes investigados, em especial os professores. Percebemos assim, o quanto é importante e fundamental a intervenção do professor neste processo. Ele deve buscar estimular e incentivar o aluno, procurar utilizar estratégias e recursos diversos, visando sempre o aprimoramento de construção do conhecimento. É essencial, ainda, que o professor dê espaço aos alunos para que eles participem ativamente, que dê oportunidades para se expressarem, enfim, que seja um mediador de todo o processo educacional. Mas não podemos esquecer que devemos rever essas funções desempenhadas pelos professores. Todavia compreendemos que as práticas tradicionais de avaliação estão diretamente ligadas com uma formação inicial defasada dos professores e são reflexos da história de vida embasados em experiências avaliativas que tiveram e sendo, assim, reprodutores desse sistema. Entendemos também que devemos questionar os atuais modelos de avaliação que medem, classificam e excluem boa parte dos alunos, uma vez que ele vem se intensificando e fortalecendo-se nas escolas. E para romper com esses 68 modelos, faz-se urgente entender qual sociedade queremos formar e que cidadãos queremos que faça parte dela. Necessitamos ainda criar sempre momentos para reflexões críticas sobre o nosso trabalho em relação à Avaliação. Não negamos que depende de uma coerente formação inicial e continuada dos mediadores do processo educativo, mas deve haver ação conjunta desses mediadores no sentido de reavaliar as próprias ações, pois elas determinarão e condicionarão o destino final dos alunos. Afinal, ouvimos muito a afirmação de quê o aluno que não conseguiu obter a média para prosseguir nos estudos é porque não soube participar das aulas, não fez as leituras necessárias, não copiou a matéria, não estudou, mas esquecemos que nós, professorres, somos também responsáveis pela construção do conhecimento dos alunos. Por isso, enfatizamos que a reflexão de práticas, hábitos e costumes acerca da avaliação devem ser constantes e processuais, assim como a própria Avaliação da Aprendizagem. Muito mais do que isso, necessitamos reorientar a pedagogia educacional, atualmente voltada para uma ideologia neoliberal, para que faça da avaliação educacional um instrumento a serviço da transformação social e não um mecanismo conservador de uma sociedade que exclui e mantém as desigualdades sociais. Portanto, concluímos que, ao fazermos essas reflexões, é impossível não nos sentirmos desconfortáveis diante dessa realidade. Fica evidente a necessidade de remodelar, ressignificar e adaptar as práticas avaliativas tradicionais predominantes em nossas escolas. É necessário que, como educadores e futuros educadores, tenhamos o compromisso de desenvolver, planejar alternativas avaliativas que sejam ao mesmo tempo integradoras e inclusivas e, alicerçadas a uma formação continuada de professores, permitam o desenvolvimento cognitivo, pessoal e coletivo de nossos alunos para que sejam capazes de interferir na sociedade, garantindo um processo de transformação social justo e igualitário. As conversas ainda devem continuar, pois ainda há muitas dúvidas, questionamentos e interrogações. Não basta apenas uma formação continuada se não houver momentos para refletir criticamente nossas práticas. Este trabalho apenas contribui para uma reflexão crítica sobre a avaliação da aprendizagem, uma vez que sabemos que as transformações são importantes e mudar nossa concepção sobre a avaliação da aprendizagem, talvez seja o primeiro passo, mas provavelmente o mais difícil deles. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIGHUETTO, M. J.; RICTHER, C. J. Avaliação escolar. Programa de PósGraduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT, Paraná, 2009. BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. CHUEIRI, M. S. F. Concepções sobre avaliação escolar. Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, p. 49 -64, 2008. COLL, C. e SOLÉ, I. Os professores e a concepção construtivista. In: Coll et al. O construtivismo em sala de aula. Editora Ática, p. 9-28, 1999. DEPRESBITERIS, L. Avaliação da aprendizagem: revendo conceitos e posições. In: SOUSA, C. P.; DEPRESBITERIS, L.; FRANCO, M. L. P. B.; SOUSA, S. Z. L. 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Campinas: editora Papirus, p. 143-150, 2000 72 8 – ANEXOS ANEXO I - CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO ANEXO II - CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA ANEXO III - ENTREVISTA MODELO SEMIESTRUTURADA QUE FOI REALIZADA COM PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO ANEXO IV - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO ANEXO V - ENTREVISTAS TRANSCRITAS 73 ANEXO I CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO Esta pesquisa tem como intuito investigar as concepções de professores e alunos da escola básica sobre a avaliação da aprendizagem. A coleta de dados será feita a partir de entrevistas, questionários e/ou observações. Para tal solicitamos a autorização desta instituição para a triagem de colaboradores, e para a aplicação de nossos instrumentos de coleta de dados; o material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos colaboradores e à instituição. As pessoas não serão obrigadas a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento. Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a identificação dos colaboradores e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores. Obrigado. ....................................................... Nome e assinatura do pesquisador ...................................................... Nome e assinatura do orientador Instituição: ________________ Telefone para contato: ______________ TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, representante da instituição, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo,....... de ..............................de.................. _________________________________________ Assinatura do representante da instituição 74 ANEXO II CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA O presente trabalho se propõe a investigar as concepções de professores e alunos da escola básica sobre a avaliação da aprendizagem. Os dados para o estudo serão coletados a partir da aplicação de questionários e/ou observações. Este material será posteriormente analisado, garantindo-se sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes, bem como a identificação do local da coleta de dados. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o direito de retirar-se do estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum. Os dados coletados serão utilizados no trabalho de conclusão de curso (TCC) da licenciatura do curso de Ciências Biológicas (CB) do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos colaboradores e à instituição. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores. ......................................................... .......................................................... Nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador Telefone para contato: __________________ TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) _______________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo,... de ..............................de.................. Assinatura do sujeito ou seu representante legal 75 ANEXO III Entrevista modelo semiestruturada que foi realizada com professores do ensino médio Assunto: Concepções sobre o Processo de Avaliação da Aprendizagem OBSERVAÇÃO: Por ser uma entrevista de caráter semiestruturado, e por sua natureza interativa, a entrevista permite tratar temas complexos que dificilmente poderiam ser trabalhados por meio de questionários, o que possibilita um aprofundamento mais detalhado sobre o assunto. Por isso, mesmo com perguntas pré-estabelecidas pelo entrevistador, há possibilidades de mudanças uma vez que o entrevistado pode responder com termos próprios, necessitando reformulação das perguntas. Depois de apresentar a carta de informação ao sujeito de pesquisa e obter o consentimento deste a partir do termo de consentimento livre e esclarecido, o entrevistador iniciará a entrevista perguntando sobre o tema geral abordado: Entrevistador: De acordo com suas experiências e com base em seus conhecimentos, o que você entende por avaliação da aprendizagem? Resposta do entrevistado: … Entrevistador: Então, como você avalia a aprendizagem dos seus alunos? Resposta do entrevistado: ... *caso a resposta não se aproxime de instrumentos de avaliação que ele utiliza, o entrevistador deve direcionar a pergunta. Entrevistador: E quais instrumentos de avaliação você utiliza? Resposta do entrevistado:... Entrevistador: Por que você escolheu esses instrumentos? Resposta do entrevistado:... Entrevistador: Você poderia me contar como faz para analisar os dados provenientes desses instrumentos? Resposta do entrevistado:... Entrevistador: Qual ou quais os problemas e dificuldades que você enfrentou e enfrenta quando avalia a aprendizagem de seus alunos? Resposta do entrevistado:... Entrevistador: Como você utiliza os resultados da avaliação de seus alunos? Resposta do entrevistado:... 76 ANEXO IV Questionário aplicado aos alunos do 3º ano do ensino médio Assunto: Concepções sobre o Processo de Avaliação da Aprendizagem Este questionário tem como objetivo coletar dados para uma pesquisa sobre a avaliação da aprendizagem que será apresentada como trabalho de conclusão de curso. É constituído de três (3) questões abertas, que deverão ser respondidas de acordo com suas opiniões pessoais. Não é obrigatório responder o questionário. Você pode ou não participar da pesquisa. Coloque apenas a série que está estudando. Não é necessário colocar seu nome, já que manteremos sigilo sobre a identificação dos participantes. Você tem aproximadamente 15 minutos para responder essas questões. Ao terminá-las, coloque-as sobre a mesa do professor. Seja sincero em suas respostas, para garantir uma análise fidedigna por parte do pesquisador. Questões: 1ª : O que você entende por avaliação da aprendizagem? Resposta: 2° : Como é feita a avaliação da aprendizagem nesta escola? Resposta: 3° : Se você fosse professor, o que faria para avaliar a aprendizagem de seus alunos? Resposta: 77 ANEXO V A seguir encontram-se as duas entrevistas transcritas na íntegra realizadas com os professores, sendo a primeira referente ao professor em início de carreira e a segunda refere-se ao professor com longa carreira pedagógica. As entrevistas foram gravadas e transcritas. Entrevista realizada com um professor em início de carreira. Entrevistador: Você poderia me dizer há quanto tempo exerce a profissão como professor? Resposta do entrevistado: “Iniciei no início deste ano, ou seja, faz alguns meses que trabalho como professora e, por enquanto, está caminhando...” Entrevistador: De acordo com suas experiências e com base em seus conhecimentos, o que você entende por avaliação da aprendizagem? Resposta do entrevistado: “Ah, deveria ser um instrumento que mede a aprendizagem e que indique pontos a retomar. É saber o quanto de conhecimento que seu aluno conseguiu adquiriu durante um bimestre, por exemplo. Talvez seja um modo de identificar problemas, dificuldades e saber se realmente nossos objetivos foram alcançados.” Entrevistador: Então, como você avalia a aprendizagem dos seus alunos? Resposta do entrevistado: “Você deve saber que somos orientados a utilizar diversos recursos que possam nos indicar o quanto os alunos aprenderam, ou apontar quais as dificuldades que eles apresentam, mas na escola pública nem sempre é possível utilizar todos esses recursos disponíveis. Primeiro, ah, porque não temos tempo suficiente para aplicar, por exemplo, uma atividade que demanda mais de uma aula. Além disso, há o lado dos nossos alunos, eles nem sempre estão interessados, mas sei que é importante diversificar, não reduzir a avaliação a apenas provas, por exemplo. Bom acho que é isso sim.” Entrevistador: E quais instrumentos de avaliação você utiliza? 78 Resposta do entrevistado: “Como já disse, devemos utilizar diversos recursos, mas como ainda estou em início de carreira, estou começando a aplicar recursos que acho serem mais práticos, ou talvez, que me ajudam mais a obter bons resultados dos meus alunos. Eu geralmente dou atividades em salas de aulas sempre que acabo de explicar uma matéria. Essas semanas mesmo estão estudando Estruturas de relevo e resolvi dar alguns exercícios teóricos sobre os conteúdos e peço aos alunos para resolverem tudo e copiarem a matéria para depois eu dar um visto e colocar um '+' no meu caderno de registro dos alunos. É que assim eu tenho um controle de todo o processo. Mas a gente sempre acaba optando pelas provas. Não que elas não sejam bons recursos, mas nem sempre nos mostram as dificuldades dos alunos. É, além disso, dou alguns trabalhos para pesquisarem na internet, livros, pois não adianta apenas pedirem que façam pesquisas, devemos orientá-los como fazer uma pesquisa, o corpo do trabalho... Eu me preocupo também em dar notas pela participação e comportamento (risos), afinal manter os alunos sobre controle é somente falando: “fulano, preste atenção, senão vou tirar ponto”. Você sabe que é difícil manter ordem nas salas, ainda mais para quem está começando.” Entrevistador: Por que você escolheu esses instrumentos? Resposta do entrevistado: “Eu escolhi esses instrumentos, acho que pela facilidade que eles tem de mostrar, já de início, como eu estou trabalhando. Usando a prova como exemplo, se eu aplicar uma avaliação para os alunos e a maioria for mal, eu sei que o erro não é deles e sim meu. Aí, eu uso esses resultados para melhorar. Não sei te dizer bem, mas talvez pela segurança que as provas, trabalhos e participação dos alunos através de notas nos dão, sabe. No momento ainda estou aprendendo a utilizar esses instrumentos, mas pretendo melhorá-los, adaptá-los.” Entrevistador: Você poderia me contar como faz para analisar os dados provenientes desses instrumentos? 79 Resposta do entrevistado: “Nossa, essa você me pegou (risos). Ah, depois que aplico determinado recurso, eu dou notas de acordo com o que o aluno fez. Eu analiso, principalmente, o que ele soube responder, por exemplo. Vou utilizar as provas novamente. Eh...Só um minutinho... Sempre há alguns alunos que saem melhor, tiram boas notas e, quando vou corrigir as provas dos outros alunos, eu gosto de usar as provas destes alunos que foram bem, para comparar, pois acho que torna o trabalho mais justo, os alunos nem sempre respondem com as mesmas palavras. Eu também dou trabalhos que ajudam a melhorar a nota quando faço a média deles, mas apesar de que eles sempre copiam da internet a maioria das pesquisas, ou não fazem como a gente pede, aí fica difícil de avaliar bem.” Entrevistador: Como você utiliza os resultados da avaliação de seus alunos? Resposta do entrevistado: “Para mim, os resultados mostram o quanto caminhamos, quais as dificuldades que os alunos apresentam o que precisa ser mudado. Como utilizo as notas dos meus alunos como referência, talvez se aplicasse uma prova e as notas não foram boas, acho que os alunos não compreenderam a matéria, não conseguiram absorver o que expliquei e também pode ser que a prova não foi bem formulada, as perguntas ficaram confusas, tudo é possível. No caso dos trabalhos, dependendo do assunto ou mesmo se são individuais ou em grupos, sempre podemos tirar algo que possa nos ajudar. Ah, eu não falei, mas gosto de fazer algumas dinâmicas nas aulas, para ver se os alunos conseguem compreender o conteúdo, como jogos e brincadeiras, para que tentem assimilar as coisas, fazer mais sentido para eles. E isso é importante de avaliar, como eles trabalham em equipe, se sabem ouvir o colega ou se ficam montados nas costas dos outros.” Entrevistador: Qual ou quais os problemas e dificuldades que você enfrentou e enfrenta quando avalia a aprendizagem de seus alunos? Resposta do entrevistado: “Acho que problemas não tenho muitos, ainda. Mas as dificuldades aparecem a toda hora, principalmente quando chega no final do bimestre, eu tenho que somar as notas dos alunos e depois fazer a média deles para entregar a tempo na secretaria, fico louca, são muitos alunos. Tem ainda o fato 80 de quê falta materiais para utilizarmos e que podem facilitar nosso trabalho, sem contar que muitos professores não fazem a parte deles, aí a gente fica perdido, entende... Mas o pior são os alunos que não prestam atenção, não fazem as atividades sempre, faltam muito, não copiam a matéria. Fica difícil avaliá-los, compreende? Então, fico no meio de um tiroteio, sem saber o que fazer. Ah... acho que seja pela falta de experiência mesmo, me sinto insegura, às vezes, e fico com receio de ser injusta com alguns alunos, porque quando passamos as notas deles no fichário, alguns ficam pouco abaixo da média e aí você para e pensa: será que devo dar mais algum pontinho pra ajudá-lo? (risos). Não sei bem te dizer se isso pode ajudar ou não o aluno.” Entrevista realizada com um professor com longa carreira pedagógica Entrevistador: Você poderia me dizer há quanto tempo exerce a profissão como professor? Resposta do entrevistado: “Faz mais de vinte anos que estou nesta batalha.” Entrevistador: De acordo com suas experiências e com base em seus conhecimentos, o que você entende por avaliação da aprendizagem? Resposta do entrevistado: “Bem, eu diria que é um termo um tanto complexo. É... vejamos. Acredito que avaliação é ter resultados ao longo de um processo, satisfatórios ou não, sobre o nosso trabalho realizado. É medir o quanto meus alunos souberam ou quanto conhecimento eles adquiriram ao longo de um ano, por exemplo. Se me permite, acho que não é fácil avaliar nossos alunos... o conhecimento deles... porque nem sempre conseguimos atingir nossos objetivos e, durante todo esse tempo que dou aulas, percebi que muitos colegas meus e até eu mesmo, acabo avaliando meus alunos de acordo com o lado pessoal, se me entende. Apesar de saber que avaliar não é sinônimo de prova, geralmente confundimos esses termos e muitas vezes cometemos equívocos e deixamos a verdadeira função da avaliação de lado que, ao meu ver, é mostrar se nossos objetivos iniciais foram alcançados.” 81 Entrevistador: Então, como você avalia a aprendizagem dos seus alunos? Resposta do entrevistado: “Normalmente com instrumentos qualitativos, como textos a interpretar em que possam utilizar conceitos aprendidos. Como deve ter percebido, sempre optei pelas provas. Sempre as usei ao final de um determinado período, justamente porque elas me mostram se meus alunos souberam mesmo a matéria, se compreenderam o que falei. Gosto de formular questões que os levem a pensar, para que não fiquem na decoreba, para saber se sabem interpretar, o nível de conhecimento adquirido. Uso também trabalhos que envolve pesquisas nos livros e na internet também, mas eu auxilio-os nessas pesquisas, pois você sabe muito bem que eles acabam copiando e aprender mesmo que é bom, nada. E dou notas pelos vistos no caderno, pois olho sempre que dou matéria ou passo uma atividade ou exercícios para resolverem e carimbo no caderno deles, o que acho um bom motivo para garantir que eles estão prestando atenção e que não vão para escola apenas para garantir um certificado no final do ano ou para não serem reprovados pelas faltas. Acho interessante também aplicar uns pontinhos pela participação, compromisso e esforço dos alunos. Você sabe, assim como eu, que alguns alunos se destacam entre os demais, se esforçam mais, enquanto outros apenas bagunçam e não fazem nada. Não acho justo deixar de avaliar pelo comportamento, pois assim eles ficam mais interessados em aprender, saber que terão notas pelo bom comportamento. Às vezes, dependendo do assunto, eu levo para eles textos para fazerem uma leitura em trabalhos de grupos e depois discutirem, eu dou nota pelo que falam, pelo andamento da discussão. Bem, são vários os instrumentos, mas estes que falei são os que mais uso.” Entrevistador: Por que você escolheu esses instrumentos? Resposta do entrevistado: “Ah...porque eles me ajudam a atingir meus objetivos e são fáceis de aplicar. Não que não podemos utilizar outros, mas é difícil se pensar em outros métodos de avaliação, pois estamos falando de escola pública, os desafios são muitos. As provas, por exemplo, me ajudam também a manter um certo controle, pois é só falar para os alunos que vou dar uma prova ou que uma determinada atividade valerá nota, ah... aí todos eles se interessam, ou mostram interesse, mas eu bem sei que eles só fazem por causa da nota e por isso, acho ela extremamente importante. Hum... os trabalhos também me ajudam a avaliar um 82 pouco mais o desempenho dos alunos, pois acompanho o quanto eles progrediram, apesar de nem sempre poder aplicar trabalhos em grupos, para saber a dinâmica deles, como trabalham com os outros colegas.” Entrevistador: Você poderia me contar como faz para analisar os dados provenientes desses instrumentos? Resposta do entrevistado: “Essa é difícil...ah, eu geralmente dou notas em todas as atividades avaliativas, pois não consigo ver razão em aplicar determinada atividade se não der uma notinha para saber o quanto meu aluno aprendeu. E através das notas deles, que acredito que são os melhores dados para indicar o quanto progredimos, ou mostrar os impasses na transmissão do conhecimento, eu consigo apontar quais foram os objetivos que alcancei e quais não foram e assim melhorar tanto minhas ações quanto as dos meus alunos.” Entrevistador: Como você utiliza os resultados da avaliação de seus alunos? Resposta do entrevistado: “Como procuro avaliar qualitativamente meus alunos, as notas apenas me auxiliam, me dão suporte para ajudá-los quando percebo que não está indo bem. Acho ainda que não basta apenas uma boa metodologia ou práticas pedagógicas eficientes, se elas não nos mostram o quanto progredimos e por isso, utilizo dados quantitativos, neste caso as notas, para avaliar qualitativamente o quanto os alunos aprenderam no final do bimestre, entende. Se as notas não são boas eu procuro saber o porquê que meus alunos não aprenderam, o que eles não entenderam, ou seja, as notas me ajudam a identificar as dificuldades que apresentam.” Entrevistador: Qual ou quais os problemas e dificuldades que você enfrentou e enfrenta quando avalia a aprendizagem de seus alunos? Resposta do entrevistado: “Sem dúvida, quando comecei a lecionar, as dificuldades eram maiores, pois eu não tinha experiência alguma, embora as exigências eram poucas, no que diz respeito à avaliação. Mas atualmente eu tenho dificuldades em avaliar a participação dos alunos, o comportamento e as atitudes, 83 pois eles são mais rebeldes que antes, não respeitam mais o professor dentro da sala de aula. Assim fica difícil tomar decisões que não venham prejudicar a aprendizagem dos alunos, como o castigo, que acho ser uma maneira eficaz de educar, pois os alunos passam a ter respeito somente se dissermos que iremos tirar nota ou ponto se não prestam atenção. Mas e mais difícil ainda ter que prepará-los para vestibulares, concursos, o que passa a ser uma exigência, pois se saem da escola sem saber nada a culpa e do professor. Além disso, acho que os materiais que temos disponíveis não são suficientes para nos ajudar a preparar as atividades avaliativas, são um tanto fracos didaticamente e como não tenho muito tempo para preparar ou planejar alguns outros métodos de avaliação, acabo utilizando apenas avaliações, provas né, hum... alguns trabalhos individuais ou em grupo, pois, como já disse, são mais fáceis para aplicar.”