O Engenheiro Químico no Século XXI
Reflexões sobre o futuro da carreira de Engenheiro Químico
António Gonçalves da Silva
Comunicação proferida nas I Jornadas Tecnológicas,
Química 2000
ISEL - Lisboa, Maio de 2000
Resumo:
A evolução recente no sentido da interligação cada vez mais profunda das
economias nacionais e regionais - a chamada globalização da economia conduziu as empresas a uma situação de competição acrescida pela sobrevivência
nos mercados. Tal conjuntura requer das empresas que respondam com
excelência na gestão e na operação, inovação nos produtos e focalização nas
linhas de negócio mais competitivas.
O engenheiro químico com formação de base em Física, Química, Matemática e
Tecnologia, tem condições ideais para participar em projectos de optimização de
processos ou de inovação de produtos, vitais para a sobrevivência da empresa. A
formação do engenheiro químico permite-lhe dominar uma banda bastante larga
de problemas empresariais e logo aspirar a uma carreira que inclua a liderança
de projectos de desenvolvimento transfuncionais de grande calibre na empresa.
Dois exemplos paradigmáticos são a Gestão da Qualidade Total e a Reengenharia da Organização.
1. “Fiat Homo” - O Engenheiro Químico
Não há muito tempo, durante uma sessão de navegação na Internet para encontrar
materiais para a minha cadeira de Projecto Químico, dei com uma interessante e bem
humorada página incluida no site do Departamento de Engenharia Química e Ciência
dos Materiais da Universidade de Minnesota, que tem como título : “Que é um
Engenheiro Químico?” A página dá três hipóteses de resposta :
• Um engenheiro que produz produtos químicos,
• Um químico que trabalha numa fábrica,
• Um canalisador glorificado.
Embora se apresse a dizer-nos que a resposta correcta não é nenhuma das anteriores, o
autor sempre nos lembra que muitos estudantes de engenharia química, enfadados até
ao limite do suportável na aula em que se estuda o movimento de um fluído numa
tubagem, já certamente se viram a si próprios como super-canalisadores.
Mas afinal o que é realmente um engenheiro químico?
É, em primeiro lugar, um engenheiro, e um engenheiro é essencialmente um técnico
com conhecimentos de base na área científica da física, que domina a ferramenta
matemática e que utiliza eficientemente a arte da tecnologia para resolver de forma
económica e segura problemas que correspondem a necessidades da sociedade. Um
engenheiro vai buscar os resultados da ciência Física e converte-os em produtos úteis
que são postos à disposição de todos. É uma espécie de Prometeu da sociedade
moderna, que traz ao homem os produtos que constituem o fogo do progresso…
Um engenheiro não se move no campo da ciência, onde impera a dúvida. Mas
entende os cientistas e é das suas descobertas que retira os novos conceitos e doutrinas
que constituem a essência fundamental do seu próprio conhecimento. O engenheiro
move-se no campo da tecnologia, território da certeza e da realização, onde os
conhecimentos científicos já comprovados são combinados com a criatividade que irá
assegurar à maximização da eficiência. É esta a arte da engenharia.
E o que distingue o Engenheiro Químico dos outros engenheiros?
O engenheiro químico, para além da formação científica em física, caracteriza-se por
ter recebido também formação na área científica da química. A química é um
poderoso e vasto território do conhecimento, que utiliza muitos resultados e modelos
da física para estudar uma grande variedade de novos problemas, e desenvolver
doutrina científica e conceitos originais que se traduzem com grande frequência em
novos materiais. A área científica da química caracteriza-se por uma grande
diversidade que lhe permite estabelecer fecundas ligações com muitas outras áreas
científicas, como a física, a biologia, a geologia, a astronomia, a arqueologia, etc... A
química caracteriza-se ainda por uma enorme produtividade e rapidez no avanço
científico.
Ora os laços entre a química e a engenharia química são muito fortes, talvez mais
fortes do que os que são comuns nas outras áreas de engenharia. Este facto constitui
uma enorme vantagem para os profissionais de ambos os lados: os químicos dispõem
de uma linha avançada para a aplicação dos seus resultados científicos; os
engenheiros químicos têm ao seu dispor um grande manancial científico sobre o qual
desenvolvem muitas e inovadoras tecnologias e materiais.
Exemplos? O American Institute of Chemical Engineers listou os “10 maiores feitos
da Engenharia Química” que incluem:
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A fissão nuclear e o isolamento de isótopos
Os plásticos
Aplicações na química da vida humana
Tecnologias da industria farmacêutica
As fibras sintéticas
Os gases liquefeitos
As tecnologias para a protecção do ambiente
Produtos para a agricultura, como os adubos químicos
A petroquímica
As borrachas (elastómeros) sintéticas
Mas há uma infinidade de pequenos exemplos tão perto de nós todos e do nosso diaa-dia, que se tornam até difíceis de notar. Coisas que hoje são comezinhas, mas que
não existiam há poucos anos: o “carro de plástico” de onde desapareceram muitas
peças metálicas (parachoques, manípulos das portas, suportes de espelhos, tablier,
assentos, etc…), o Post-it, a plasticina aderente e as fitas de adesão anisotrópica, a
cerveja sem álcool, os grãos de café sem cafeína, as lentes orgânicas, e talvez o mais
espectacular de todos a miniaturização crescente da electrónica, só possível pelo
enorme avanço nas tecnologias de purificação e de dopagem dos semicondutores,
onde a engenharia química está há muito presente, e joga um importante papel.
Não tenhamos dúvidas: o poderoso binómio química - engenharia química tem um
papel estratégico no desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade.
Trabalhamos realmente os materiais de que são feitos os sonhos, e estamos
provàvelmente presentes em todos eles, como se demonstra pela diversidade dos
campos de sucesso da engenharia química. Por isso houve já quem chamasse ao
Engenheiro Químico o “Engenheiro Universal” dada a grande amplitude da sua
capacidade de intervenção. Exagero? Talvez… e no entanto, quem duvida de que a
nave espacial Enterprise do “Caminho das Estrelas” não poderia realmente sobreviver
sem um engenheiro químico a bordo?
A versatilidade que decorre da banda larga de conhecimentos dos Engenheiros
Químicos tem-nos levado a atingir posições de liderança em muitas das maiores
corporações mundiais mesmo fora do âmbito estrito da Industria Química como a
General Electric, e houve mesmo um director da CIA (John M. Deutch) que era
Engenheiro Químico de formação. Em Portugal também temos exemplos da
versatilidade dos Engenheiros Químicos, em áreas diversas: Maria de Lurdes
Pintasilgo, João de Deus Pinheiro, Belmiro de Azevedo …
2. “Fiat Orbis Terrarum” - A Arena Empresarial Hoje
No passado o homem ocidental, cristão, punha toda a sua fé no céu, e no grande
mistério essencial de Deus: a Santíssima Trindade. Hoje alguns continuam a ter fé,
enquanto outros deixaram de acreditar na Trindade Divina. Mas uns e outros confiam
numa trindade terrena tão boas são as provas que tem dado: é a trindade das –ias:
Democracia, Economia, Tecnologia.
Como na Trindade Divina são três entidades distintas mas uma só realidade: a
sociedade ocidental moderna. Quer isto dizer que não podemos falar do porvir
científico e tecnológico sem o integrarmos com a evolução socio-política e
económica.
O principal problema das sociedades modernas é o desenvolvimento, e neste
coexistem necessariamente as três –ias.
Um dos principais chavões que os “media” repetem cada vez mais é o da
Globalização da Economia. Ampliámos os espaços político-económicos criando a
União Europeia, a Nafta, o Mercosul… ligámos as economias nacionais entre si e
assim contribuimos para a paz política, substituindo guerras pelo intercâmbio de
pessoas e mercadorias…o preço que estamos a pagar é o de uma pressão competitiva
extraordinariamente acrescida. As empresas deixaram de concorrer nos seus mercados
locais, para passarem a concorrer em mercados de dimensão continental ou mesmo
global. O que ontem era suficientemente bom para subsistir num pequeno mercado
protegido por fronteiras económicas, hoje nem chega muitas vezes a ser sofrível para
enfrentar a concorrência global. Os menos competitivos desaparecem ou são
“engolidos” pelos mais capazes…
Os níveis de produtividade e de criatividade exigidos para assegurar a
competitividade são cada vez mais elevados, as organizações requerem processos e
sistemas cada vez mais sofisticados, e produtos cada vez mais inovadores e
avançados…
Não há muitos anos havia ainda grandes zonas de procura insatisfeita… Por isso
muitos mercados cresciam tanto quanto fossemos capazes de fazer crescer a produção.
A regra era produzir, produzir muito, mas bàsicamente o que era preciso era produzir
“mais do mesmo”.
Hoje não é assim: Para produtos correntes, a procura é em geral largamente coberta
pela capacidade instalada. Crescimentos potenciais significativos existem, mas em
mercados onde a falta de capacidade económica ainda impede infelizmente as
populações de satisfazerem as suas necessidades de consumo. Falo essencialmente da
grande maioria de África, e de zonas da Ásia e da América Latina.
O grande volume de negócios continua pois a fazer-se nos mercados desenvolvidos
(Europa Ocidental, América do Norte, Austrália, Japão). Mas aqui o consumo está
frequentemente saturado, e a competicão é feroz. As tecnologias estão disponíveis,
possibilitando a entrada de novos competidores com ideias inovadoras e competitivas,
sendo o melhor exemplo recente o do comércio electrónico.
A conquista de quotas de mercado faz-se essencialmente com base em três tipos de
vantagens competitivas:
• Excelência da gestão e da operação: optimizar tudo o que se faz, por
forma a fazer-se melhor e mais barato do que a concorrência.
• Inovação: deixou de ser possível fazer apenas “mais do mesmo”. É
preciso introduzir novos produtos que surpreendam e deliciem o mercado
antes que a concorrência o faça.
• Focalização: Concentrar a actividade naquilo em que se é excelente e
inovador.
Trata-se da sobrevivência. Os mercados financeiros globalizaram-se, e há grandes
investidores a analisarem continuamente e ao detalhe a performance das corporações.
Na moderna economia global a sobrevivência é condicionada pela aplicação de
conceitos chave, como:
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A Melhoria Contínua de todos os processos
A Criatividade como base para o indispensável lançamento de
revolucionários e mais avançados produtos
O enfoque permanente na Satisfação do Consumidor
•
A Flexibilidade que garanta versatilidade e rapidez na produção e a
antecipação face à concorrência
E é ver as empresas a instalarem sistemas informáticos integrados de gestão para
aumentar a eficiência de operação, como é por exemplo o caso do SAP, a
relocalizarem os seus centros de produção para optimizarem capacidades e custos de
operação, a redesenharem os seus centros de distribuição e a sua logística, a fazerem
acordos estratégicos de partenariado a montante e a juzante na sua cadeia de valor, a
adquirirem empresas de elevado know how… realmente há uma enorme actividade, e
por uma única razão: garantir vantagens competitivas que assegurem a sobrevivência.
3. “Fiat Lux” - O papel do Engenheiro Químico
E qual é o papel do engenheiro químico, neste cadinho fervente? Desde logo um
engenheiro tem duas grandes vantagens a seu favor:
• Para além de conseguir compreender os novos conceitos que estão por
detrás dos projectos de mudança, seja na área da optimização seja no
campo da inovação, é ele que sabe resolver os problemas tecnológicos a
ultrapassar para que a mudança realmente aconteça. Por exemplo quando
se inova através do lançamento de um novo produto, é ao Engenherio que
cabe concretizar o produto sonhado, e trazê-lo real e físicamente para o
portfolio da empresa: é de novo o papel de Prometeu do Engenheiro.
• O engenheiro tem formação matemática, e em consequência tem hábitos
mentais de rigor e de quantificação. Isto leva-o a ser capaz de
compreender, de participar e mesmo de liderar projectos ou áreas
diversificadas na empresa. Ora este aspecto é de primordial importância na
empresa moderna.
Que importância tem a mentalidade quantitativa e rigorosa na empresa moderna?
Tomemos dois exemplos conhecidos e paradigmáticos: A Gestão da Qualidade Total
e a Re-engenharia da Organização
3.1. Papel do Engenheiro Químico na Gestão da Qualidade Total
Hoje reconhece-se que o milagre da recuperação económica do Japão do post-guerra
fica em boa medida a dever-se à absorção de certos conceitos e modelos de operação
e de gestão, curiosamente de origem americana, mas aos quais a indústria americana
não deu talvez a devida e generalizada aplicação na altura certa. Falo das doutrinas da
Gestão da Qualidade Total desenvolvidas por investigadores como W. Edwards
Deming, Crosby e Juran, e que derivam de trabalhos pioneiros como os de Walter
Shewhart que desenvolveu, por volta de 1930, conceitos como o da variabilidade
estatística, o do controle estatístico de processos e as cartas de controle.
Deming, por exemplo, começou a ir ao Japão a convite do Gen. McArthur como
consultor estatístico para o censo da população Japonesa. Aí conheceu membros da
Associação de Cientistas e Engenheiros Japoneses, formada em 1946 por Kenichi
Koyanagi, com a missão de ajudar à reconstrução da industria Japonesa, destruída
pela guerra. Quer através de visitas de técnicos americanos ao Japão (por exemplo da
Bell Telephone Laboratories), quer através de conferências (por exemplo de Charles
Protzman e Homer Sarasohn em 1948/49) os japoneses tomaram conhecimento destas
novas ideias sobre controle estatístico de qualidade. Dado o grande envolvimento de
Deming no desenvolvimento e divulgação do controle estatístico de qualidade,
Kenichi Koyanagi convidou-o a voltar ao Japão para fazer conferências. Deming
voltou em 1950. Começou por dirigir-se a assembleias de técnicos, mas rapidamente
se apercebeu de que teria de ir mais acima para fazer vingar as suas ideias. Ichiro
Ishikawa, que era presidente da Associação de Cientistas e Engenheiros Japoneses,
conseguiu que Deming falasse aos membros da Kei-dan-ren, a associação dos
dirigentes industriais japoneses de topo. Aqui Deming falou de conceitos que estavam
bem para além do controle estatístico da qualidade, a dirigentes de companhias
japonesas de topo, num total de cerca de 100 pessoas. Deming voltou ao Japão no ano
de 1951, onde falou para 400 gestores de topo japoneses.
Deming já não falava simplesmente de controle estatístico. Falava da qualidade
estendida a toda a companhia, a que Deming chamava “Gestão para a qualidade” e a
que hoje chamamos “Gestão da Qualidade Total”. A importância dada pelos
nipónicos a estas ideias pode ser avaliada pelo facto de a Associação de Cientistas e
Engenheiros Japoneses ter criado formalmente em Dezembro de 1950 o Prémio
Deming.
Na essência desta doutrina estão conceitos e práticas como:
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A qualidade como actividade estratégica da gestão, abrangendo todos os
processos, todos os departamentos da empresa, e todos os colaboradores da
empresa;
O enfoque de todos os processos na plena satisfação dos clientes, internos ou
externos;
Os clientes são a fonte privilegiada para a definição dos objectivos de qualidade
para cada processo, os quais traduzem rigorosamente os requisitos para a plena
satisfação das necessidades e expectativas dos clientes internos e externos – a
chamada “Voz do Cliente”
A medida sistemática de Indicadores de Qualidade (KPIs: Key performance
Indicators) para todos os processos da empresa, definidos com base nos objectivos
de qualidade que são estabelecidos pela “Voz do Cliente”
A melhoria contínua de todos processos com base nas diferenças observadas entre
a medida sistemática dos respectivos Indicadores de Qualidade – a chamada “Voz
do Processo” – e os objectivos definidos pela “Voz do Cliente”.
Se há um grupo profissional na empresa a quem este tipo de abordagem serve como
uma luva é aos engenheiros, dada a sua mentalidade rigorosa e quantitativa, ou se
quiserem dado o processador numérico que muitos dizem que os engenheiros têm
“implantado” por formação.
Quer dizer então que na condução da Melhoria Contínua na empresa, associada com
vimos ao enfoque nos clientes internos e externos, o papel dos engenheiros é de
grande importância. E não falo apenas das áreas directamente relacionadas com a
tecnologia de produção. A Qualidade Total estende-se a todas as áreas da empresa, e
as qualidades do engenheiro podem ser úteis em qualquer área. É que de facto um dos
problemas mais frequentes que se encontra na mudança cultural para a melhoria
contínua é quando algumas pessoas dizem que dadas as características da sua área não
é possível medir seja o que fôr…
3.2. Papel do Engenheiro Químico na Re-Engenharia da Organização
O segundo exemplo paradigmático da intervenção do engenheiro na corporação
moderna tem que ver com as alterações organizacionais que as empresas têm que
implementar para assegurar as condições de máxima flexibilidade e de óptimo
serviço aos clientes.
Em 1993, Michael Hammer e James Champy publicam um livro denominado
“Reengenharia da Corporação : Um manifesto para a revolução nos negócios”, em
que descrevem a mutação organizacional a que as empresas se verão obrigadas para
assegurarem a sua competitividade.
Dois aspectos a salientar:
•
•
Em primeiro lugar o facto de Hammer e Champy terem escolhido um nome para a
sua teoria onde a palavra “engenharia” aparece em grande destaque associada a
modificações globais da corporação.
Em segundo lugar , no primeiro capítulo do seu livro, entitulado “A crise que não
se irá embora “, Hammer e Champy consideram que as corporações modernas
estão sujeitas a três forças que as estão a conduzir a cenários que os seus gestores
não conhecem bem. Estas forças são os clientes, os concorrentes e a mudança. De
facto como alguém dizia: “a única coisa permanente é a mudança”, e clientes e
concorrentes evoluem em função dela: novos mercados, novos produtos, novas
tecnologias, novas organizações.
No centro da Reengenharia está a necessidade real de alterar a organização tradicional
da empresa, onde silos funcionais verticais criam efectivamente barreiras aos fluxos
dos principais processos os quais têm características transfuncionais. Assim, haverá
que reorganizar a estrutura, implementando “pipelines horizontais” alinhados com os
processos fundamentais da empresa. Por exemplo o processo de desenvolvimento de
novos produtos precisa de especialistas em funcões como estudos de mercado,
marketing de produto , planeamento, logística, tecnologia de produção, contabilidade
analítica, análise de rentabilidade, e vendas, que deverão funcionar em estreita
colaboração e perfeito alinhamento e não com barreiras interdepartamentais a travar a
fluidez da cooperação.
Ora as equipas transfuncionais que laboram nestes pipelines de processo constituem
uma excelente oportunidade de aprendizagem transfuncional para um engenheiro,
cuja formação de base lhe proporciona condições para compreender e abarcar
pràticamente todo o processo. Assim, os engenheiros têm condições para aspirar a
posições de liderança, mesmo em processos transfuncionais.
Voltamos ao Engenheiro “Universal”, e compreende-se melhor que estejam abertas a
muitos engenheiros carreiras de grande sucesso em áreas não exclusivamente
tecnológicas.
4. “Fiat Voluntas Tua“ - Oportunidades e Exigências
colocadas ao Engenheiro Químico
Sumarizando: a tecnologia, como parte integrante no tecido económico participa nas
grandes transformações que as sociedades estão a viver. Estas transformações são no
sentido de uma evolução cada vez mais rápida e exigente quer no que respeita à
produtividade das organizações, quer no que respeita à oferta de novos produtos. Os
engenheiros em geral, e os engenheiros químicos em particular têm condições de
formação excelentes para aspirarem a carreiras como gestores de recursos não só em
áreas estritamente tecnológicas, mas também em áreas mais amplas e transfuncionais.
O porvir, seja ele o que fôr, certamente terá para os engenheiros químicos muitos e
amplos desafios.
Embora muito importante, a boa semente da formação em Engenharia Química não
basta. É necessário, como diz a Bíblia, que caia em boa terra arável para que
frutifique, e permita que se realizem plenamente as potencialidades de carreira que
apontámos. Há aqui dois intervenientes principais:
• em primeiro lugar, e acima de tudo, o próprio indivíduo, o qual terá que ter a
curiosidade intelectual bastante para se sentir motivado a ampliar a sua cultura
geral não a confinando estritamente às áreas da especialidade profissional;
• em segundo lugar a escola, a qual deverá contribuir para esta ampliação de
horizontes dos seus estudantes proporcionando estímulos extra curriculares, quer
no sentido do alargamento e aprofundamento da cultura científica e técnica, quer
promovendo oportunidades para analisar os problemas e principais desafios da
nossa sociedade actual (económicos, sociais, culturais, políticos, etc…), bem
como as relações que os ligam às matérias leccionadas.
Um outro ponto fundamental tem que ver com as expectativas crescentes que as
corporações têm quanto à atitude profissional ou à relação que os seus quadros
mantêm com a empresa e o negócio. Em mercados fortemente competitivos e em
evolução cada vez mais rápida como acontece hoje, já não é suficiente ter
funcionários, por mais diligentes, motivados e envolvidos nos problemas da empresa
que possam ser. Hoje exige-se mais: é preciso ter verdadeiros líderes, isto é
colaboradores que assumam responsabilidade pessoal pela condução da empresa a
todos os níveis por forma a atingir objectivos e resultados de negócio cada vez mais
ambiciosos. Ora tal só se torna possível com quadros que assumam, perante os
objectivos, os projectos, e os problemas da corporação uma atitude de verdadeira
pertença, fazendo-os os seus próprios objectivos, projectos e problemas. Numa
palavra: Na empresa do século XXI já não é aceitável estar-se simplesmente
envolvido… é preciso estar-se profunda e pessoalmente comprometido.
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