A estética da recepção surgiu na Alemanha, mais precisamente na segunda metade dos
anos 60, e teve, como seu fundador, Hans Robert Jauss. Iniciou-se no dia 13 de abril em 1967, na
Universidade de Constança, quando Hans Robert Jauss abriu o ano acadêmico com uma conferência que teve por título original “O que é e com que fim se estuda história da literatura”. Posteriormente a conferência passou a ser chamada de “A História da Literatura como Provocação à Ciência
Literária”.
Essa conferência é conhecida como “Provocação”, por começar pela recusa vigorosa dos
métodos de ensino da história da literatura, que eram considerados tradicionais e desinteressantes.
Além disso, Jauss denunciou, nessa conferência, “a fossilização” da história da literatura, cuja
metodologia está presa a padrões herdados do idealismo ou do positivismo do século XIX. Jauss
propõe uma inversão metodológica na abordagem dos fatos artísticos. Para esse autor, o foco deve
recair sobre o leitor ou a recepção, e não exclusivamente sobre o autor e a produção.
Dessa forma, essa teoria passa a privilegiar a relação autor-obra-leitor, o que vem superar
a relação autor-texto, antes bastante valorizada pelas outras teorias. Jauss (1979), ao examinar as
abordagens dadas à obra literária nas teorias formalista e marxista, pôde mostrar que elas:
Restringem a obra a uma estética da produção e da representação, privando-a da dimensão
da recepção e dos efeitos que ocasiona. O método formalista considera a obra literária tão autônoma que se esquece da História; o marxista não percebe a obra como um processo independente,
mas dentro da noção limitante de mimese.
Jauss não acredita na autonomia absoluta do texto, pois, para ele, o sentido de um texto não
advém somente de sua organização interna, mas da participação ativa do leitor no ato da leitura.
Segundo ZILBERMAN (1989, p.10), “a estética da recepção apresenta-se como uma teoria
em que a investigação muda de foco: do texto enquanto estrutura imutável, ele passa para o leitor
(...)”.
Jauss encontra em Gadamer, seu ex-professor na Universidade de Heidelberg,
um dos seus principais modelos. Como Gadamer, Jauss recupera a história como base
do conhecimento do texto e, assim, procura trazer de volta o leitor. É através da atividade deste que a obra, segundo os dizeres de CAMPOS (1999, p.133):
(...) incorpora ao horizonte variável de experiências de uma continuidade, constituindo uma força
histórica e criadora. A história é condicionada pela relação dialógica entre literatura e leitor, podendo ser enfocada como uma relação entre informação e recepção, estímulo e resposta, problema e
solução.
É ZILBERMAN (1989, p. 33), quem reforça que o pressuposto da estética da recepção é o
de que: “a vida histórica da obra literária não pode ser concebida sem a participação ativa do seu
destinatário”.
A obra literária apresenta-se com inúmeros pontos de indeterminações, vazios, lacunas. É
Roman Ingarden, citado por BATISTA & GALVÃO (1999, p.83-84), quem diz que esses pontos de
indeterminações, vazios e lacunas são considerados a porta de entrada no texto, utilizada pelo leitor. E ao preencher essas indeterminações, vazios e lacunas, o leitor leva para dentro do texto seus
próprios códigos que são seus conhecimentos adquiridos culturalmente.
Dessa forma, a historicidade da literatura é recuperada. Historicidade coincide com atualização, e essa aponta para o indivíduo capaz de efetivá-la: o leitor.
No momento da leitura, a própria obra orienta a recepção. Através de suas pistas vai ofer-
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