B2 Economia
%HermesFileInfo:B-2:20150710:
O ESTADO DE S. PAULO
SEXTA-FEIRA, 10 DE JULHO DE 2015
CELSO
MING
l
] [email protected]
Seis meses de Dilma 2
N
estes seisprimeirosmesesde
governo (segundo mandato
Dilma)odesempenhodaeconomia foi muito pior do que projetado por governo e mercado. E ainda
sãotímidosossinaisderecuperação.
Quando o ano começou, o mercado contava com um crescimento do
PIB de 0,5% para todo o ano de 2015,
como apontava a Pesquisa Focus,
do Banco Central. Hoje, ninguém
mais espera avanço. Ao contrário,
quem precisa dessa avaliação para
tomada de decisões trabalha com
queda de 1,5%. Alguns especialistas,
comoo economista-chefedoGrupo
Itaú, Ilan Goldfajn, já cravam 2,0%.
Da indústria não se espera mais do
que um tombo e tanto, de 4,7%.
Também ao final de 2014, o mercadoesperavaqueainflaçãofechariaesteanoàalturados6,56%.Masjáencer-
rou o semestre no limiar dos 9,0% em 12
meses, já embicando para acima dos
9,5%,a seratingido agoraem julho, mais
do que o dobro da meta (de 4,5%). E deve ficar por aí ao longo do segundo semestreantesdecomeçararecuar.OBoletim Focus aposta em que, ao final do
ano, ainda estará acima dos 9,0%.
O Banco Central começou janeiro
garantindo que a meta seria alcançada ao longo de 2016. Em abril, avisou
que esse objetivo não seria alcançado
antes de dezembro de 2016.
Anovaadministraçãoeconômica,sob
o comando do ministro Joaquim Levy,
anunciaraemdezembrometafiscalcorrespondente ao superávit primário de
1,1% do PIB para todo o ano 2015. Hoje,
ninguém acredita que será alcançada. A
derrubadadoPIBvaiencolhendoaarrecadaçãodo governo em 3% e, hoje,sabese lá se conseguirá entregar um supe-
PIB E INFLAÇÃO
●
Projeções do mercado para
2015 - pesquisa Focus
IPCA
10,00
9,04%
9,00
1,50
1,00
-1,50%
0,50
0
8,00
-0,50
7,00
6,00
-1,00
1/8
2014
3/7
2015
-1,50
1/8
2014
3/7
2015
FONTE: BANCO CENTRAL
rávit primário de 0,5% do PIB – o qual
será ainda mais magro do que parecia.
Não há números confiáveis sobre as
proporçõesdoinvestimentonestesprimeirosseismeses.Noprimeirotrimes-
Editorial econômico
CONFIRA
●
Safra de grãos no Brasil
PRODUÇÃO TOTAL
EM TONELADAS
ÁREA TOTAL
EM HECTARES
EM MILHÕES
206,3
230
205
180
155
130
105
57,5
80
55
30
1990/91
*Previsão
2014/15*
FONTE: CONAB
INFOGRÁFICO/ESTADÃO
Esta é a evolução da produção agrícola e da área utilizada desde 1990/91.
Atesta o aumento da produtividade.
l
China
O governo da China conseguiu ontem
conter o mergulho dos preços das
ações. Não ficou claro nem o nível de
intervenção nem o das operações policiais de repressão à especulação.
l
Desemprego
A Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad) confirma o avanço do
desemprego. Foi de 7,4% no trimestre
móvel dez-jan-fev e passou a 8,1% no
trimestre fev-mar-abr.
Opinião
Receita para agregar valor
Derrubada da poupança
desanima o mercado
Comossaquessuperando em muito os depósitos
desde janeiro, as
cadernetas de
poupança fecharamoprimeirosemestre com um
saldo negativo de
R$ 38,5 bilhões, o mais elevado da
sériehistórica. As previsões do mercado são de que as retiradas continuem aumentando e os depósitos,
minguando, enquanto persistir um
cenário de inflação elevada, juros
muito altos e desaquecimento da
economia, que reduzem o emprego
e pressionam os salários para baixo.
Para cobrir gastos mensais, muitos aplicadores têm recorrido ao dinheiro anteriormente poupado para emergências ou para necessidades futuras, utilizando-o para cobrir despesas crescentes decorrentes da alta nas contas de luz, gás,
telefone e água, bem como de alimentos e bens essenciais. A situação é agravada pelo desemprego
queatingequase todosos setoresde
atividades.
Em muitos casos, os resgates na
poupança também são feitos pelos
consumidores para quitar dívidas
contraídas com a compra de bens
de consumo duráveis, principalmente automóveis, de modo a evitar que fiquem com a ficha “suja”
nos bancos e financeiras. Constata-
PIB
tre,recuara1,3%sobreaposiçãodoúltimo trimestre do ano, que, por sua vez,
foramuitofraco.Nessecampo,asperspectivasnãosãoanimadoras:osprogramasdeavançodainfraestruturasãoruins; a Petrobrás, principal investidora
do País, está reduzindo seu plano de
negócioseogovernovemadiandoindefinidamente novos leilões do pré-sal.
O melhor resultado está localizado
na balança comercial, onde os prognósticos iniciais de saldo positivo de
US$5bilhõesvêmsendomantidos.Nos
primeirosseismesesdoano,jáapresentava superávit de US$ 2,9 bilhões. Mas
esse resultado vem sendo obtido mais
pela redução das importações (que, por
sua vez, reflete a queda do consumo interno pela recessão) do que melhora da
produtividade da economia.
Enfim, estes primeiros seis meses do
ano mostraram deterioração das condições.Nãodáparanegarquepartedoajusteestáemcursoeque,maiscedooumais
tarde, deve trazer frutos. Mas é difícil de
afastar a percepção de que está longe de
ser suficiente para garantir a virada.
Não é o ajuste que está prostrando a
economia. A prostração é consequência dos graves erros de política econômica que a presidente chega ao fim do
primeirosemestredosegundo mandato. Não é à toa que esse período à frente doPaís amarga mais umclima de fim
de governo do que de começo.
]
l
CARLO
LOVATELLI
se que, mesmo assim, os índices de
inadimplênciasemantêmelevados,
acarretando a retomada dos bens
pelos financiadores, o que tem contribuído para movimentar ainda
mais o mercado de carros usados,
hojevendidosaté em leilõesporempresas especializadas.
Como investimento, a poupança,
que rende 0,5% ao mês mais Taxa
Referencial(TR),deixoude seratrativa há meses. No semestre, o rendimento das cadernetas foi de 4,63%,
abaixoda inflaçãoacumulada noperíodo, medida pelo IPCA, que alcançou 6,17%. Além disso, o mercado
oferece opções bem mais rentáveis
de baixo risco, como investimentos
em fundos de renda fixa, CDB e Tesouro Direto. Em junho, por exemplo, enquanto a poupança rendeu
0,68%, um fundo de renda fixa, investimento bastante conservador,
teve alta de 0,85%.
O impacto dessa evolução sobre o
setorimobiliárioépreocupante.Como 65% dos recursos da poupança
devem ser utilizados pelos bancos
para financiamentos imobiliários, a
derrubada dos saldos mensais desanima construtoras e incorporadoras de fazerem novos lançamentos.
O problema, como diz um analista
financeiro, não é só de carência de
recursos, mas igualmente da falta
de segurança das pessoas em assumir compromissos mais pesados,
como a compra de um imóvel.
A
firmarqueoBrasilprecisaagregar valor às suas exportações
agrícolas, deixando de ser fornecedor de matéria-prima, é um axioma conhecido e uma realidade que
tem tardado a ser mudada, por falta de
políticaspúblicasassertivas.Outraverdade inquestionável é que a China intensificaaindustrializaçãodamatériaprimaadquiridanoBrasil,principalexportador de soja em grão para aquele
mercado. O que fazer para mudar esse
quadro antigo e preocupante? Como
alavancar a participação de produtos
com maior valor no fornecimento externo do complexo soja, que em 2014
respondeu por 14% das exportações
brasileiras (total de US$ 31,4 bilhões)?
Recentemente, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
(Abiove), cujas associadas exportam
grande parte dos produtos da cadeia
da soja, sejam eles na forma de grãos
ou com valor agregado, contribuiu
com sugestões para o Ministério da
Agricultura elaborar um novo Plano
de Trabalho do Agronegócio Brasileiro.Umdadoquecostumamosapresentaràsautoridadesdiztudosobrecomo
estamos perdendo tempo e divisas na
corrida mundial da competitividade:
um hectare plantado com soja e milho
safrinha em Mato Grosso proporcionouumareceita deexportação,naforma de grãos, de US$ 2.602, em 2014.
Esse valor poderia ser maximizado e
atingir US$ 7.877 e US$ 11.320, se os
mesmosgrãosfossem convertidosem
carne de frango e suína.
AChina,grandeconsumidoradasoja brasileira, tem sabido aproveitar as
oportunidades para agregar valor, ao
contrário do Brasil. Os chineses instituírammedidasparagarantiraparticipação do país no mercado de proteínas, entre elas: 1) investimento estatal
expressivo em industrialização, como
ocorre no Grupo Cofco, líder na área
de alimentação; 2) investimentos na
comercializaçãodematéria-prima,estratégia evidente na aquisição de tradingstradicionais(NideraeNoble)para alavancar a originação de soja.
A China inibe a presença de produtos brasileiros em seu mercado por
meio de barreira técnica ao óleo de soja, controle de licenças de importação
de farelo e escalada tarifária. Ante esse
quadro,avaliamosqueesteéomomento para o governo brasileiro negociar
contrapartidas com os chineses.
Por ser considerado um segmento
econômicocomasexportaçõesconsolidadas, a cadeia da soja tem recebido
pouca atenção nos planos e ações de
governo. Mas há políticas públicas de
apoio à agregação de valor que deveriam ser implementadas. Elenco algumas: 1) na área tributária, não cobrar a
Contribuição Social Rural (Funrural)
sobrea exportaçãodefareloeóleo,para que esta tenha isonomia em relação
àexportaçãodesojaemgrão,quenãoé
onerada; 2) em logística, investir em
hidrovias, pois a relação custo/benefí-
cioémuitoboa.ParaviabilizaraHidrovia do Tocantins o ano todo, realizar a
derrocagemdoPedraldoLourenço;3)
promover campanha de valorização
da imagem do agronegócio brasileiro,
que mostre os avanços em matéria de
sustentabilidadeeamelhoriadagovernança pública, aspectos pouco conhecidos dos consumidores estrangeiros.
Comafaltadeinformaçãoadequadalá
fora, o setor produtivo é frequentementepressionadoasesubmeteradispendiosas e complexas certificações
de sustentabilidade socioambiental,
cuja finalidade é atestar aquilo que as
nossasautoridadesjásabem;4)fortalecer mecanismos de apoio ao produtor
rural para melhorar a gestão ambiental, social e econômica da propriedade
rural, como vem fazendo o Programa
Soja Plus, criado pela Abiove.
OBrasilcarecedeacordosdecooperaçãonaáreaderegulamentaçãodeOrganismos Geneticamente Modificados (OGM). Com esses acordos, seria
possível realizar consultas bilaterais
sobre pedidos de aprovação de OGM
feitos por desenvolvedores. Precisamos,também,queasdecisõesecertificados de aprovação sejam publicados,
inclusivepelaBiosafety ClearingHouse (BCH) do Protocolo de Cartagena.
Para o Brasil ampliar a riqueza que
vem do campo e gera benefícios para a
população,éprecisoatacarcomurgência os gargalos que nos retiram a competitividade internacional.
]
É PRESIDENTE DA ABIOVE
Panorama Econômico
VLADIMIR PUTIN
DONALD TUSK
MICHEL SAPIN
PRESIDENTE DA RÚSSIA
PRESIDENTE DO CONSELHO EUROPEU
MINISTRO DE FINANÇAS DA FRANÇA
“Estamos preocupados com os mercados (...) e o
acúmulo de dívida soberana por diversos países.”
“A proposta realista da Grécia terá de ser combinada
a uma proposta igualmente realista dos credores.”
“A Europa precisa de estratégias de orçamentos
equilibrados e de incentivos aos investimentos.”
INFLAÇÃO
MÉXICO
IGP-M sobe 0,65%
na 1ª prévia de julho
Pemex não entrará em
leilão após novas regras
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) registrou alta de
0,65% na primeira prévia de
julho, após subir 0,47% no mesmo período do mês anterior,
influenciado principalmente
pelo avanço de preços no atacado e no custo da construção. O
IGP-M é usado como referência para a correção de valores
de contratos, como os de energia e aluguel de imóveis.
A estatal mexicana Pemex decidiu não participar do primeiro
leilão de blocos de petróleo
após a nova legislação de energia do país. As novas regras permitem que empresas privadas
e estrangeiras participem de
leilões do setor após 80 anos
de monopólio estatal. A Pemex
está lidando com cortes orçamentários ligados aos preços
do petróleo mais baixos.
TRABALHO GLOBAL
“Neste momento de crise
mundial, devemos reforçar,
cada vez mais, o papel do
Brics, tão importante para
o desenvolvimento global.
No Brasil, estamos
fortalecendo nossas
políticas macro e
microeconômicas para
retomar, o mais breve
possível, o crescimento
sustentável da economia.”
Dilma Rousseff
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
l
Emprego não avança
o necessário, diz OCDE
A economia global ainda não
está crescendo rápido o suficiente para substituir rapidamente os postos de emprego
perdidos na esteira da crise financeira de 2008, afirma relatório da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
alerta ainda que milhões de
pessoas estão em risco de vida
por causa de trabalhos insegu-
Agronegócios
Expectativa para a safra brasileira é de produção de 205,8 milhões de toneladas neste ano
ros e de baixa remuneração.
No seu relatório anual, a instituição, com sede em Paris, disse que, em maio de 2015, cerca
de 42 milhões de pessoas estavam sem trabalho, 10 milhões
mais do que antes da crise.
6,7%
mais em relação à
produção de 2014, segundo
o Levantamento
Sistemático da Produção
Agrícola de junho, divulgado
pelo IBGE
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