A PATERNIDADE E PARENTALIDADE SOB A PERSPECTIVA DOS FILHOS: O que vive e diz o jovem universitário sobre seu pai? Vinícius Balaminut Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP. e-mail: [email protected] Maria Ivone Marchi-Costa Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP. e-mail: [email protected] Comunicação Oral Pesquisa Concluída RESUMO EXPANDIDO Diante das mudanças sociais ocorridas a partir do século XIX e que ainda vem ocorrendo no âmbito da família devido à influência de vários fatores e dentre eles a entrada da mulher no mercado de trabalho e a busca por igualdade, a família em seu espaço privado precisou reorganizar-se em muitos aspectos e dentre eles estão às atividades domésticas e o cuidado com os filhos. O pai ocupava o espaço público e no privado lhe cabia ser o mantenedor e autoridade moral, à esposa cabia à responsabilidade pelo espaço doméstico e cuidado com os filhos, representando fonte de segurança, afeto e proximidade emocional. Entretanto, a família hoje convida o homem e pai a também se reorganizar no espaço privado e rever sua forma de exercer a paternidade e a parentalidade. Nesse sentido Amaral (2014) contribui com a caracterização dos pais tradicionais ou “pais velhos”, como responsáveis por muitas de nossas representações sociais sobre a figura masculina e por um conjunto infinito de práticas mantenedoras dessas crenças culturais, a cultura do patriarcado. Essa cultura tem como valores máximos a competitividade, o belicismo, as 1 hierarquias, a autoridade, o poder, o crescimento patrimonial e a procriação (MATURANA 1993). Entretanto, atualmente tem emergido os ditos “pais novos” ou pós-modernos que já não se satisfazem com a “velha” forma de exercer a parentalidade (AMARAl, 2014). Esses pais querem ser mais próximos emocionalmente e acompanhar de perto o desenvolvimento dos filhos. Assim, os homens estão em um momento de transição no que tange a reconstrução identitária, especialmente quanto à paternidade. A paternidade é um processo iniciado pelo homem desde o momento em que descobre que se transformará em pai, até a consolidação dessa nova identidade em suas narrativas sobre si mesmo. Esse processo implica alterações no comportamento, nos hábitos cotidianos, nos pensamentos e sentimentos sobre o futuro, sobre a vida e sobre a noção de transcendência. Porém, como os homens ainda são frutos arquetípicos da cultura patriarcal, começam a construir sua identidade paterna a partir de questionamentos sobre provisão financeira, projetos de carreira e tempo para a vida conjugal e sexual, em detrimento do exercício da nova identidade parental (AMARAL 2014). Para o mesmo autor, a parentalidade, é um fenômeno evolutivo que desencadeia processos de mudança, carregados de incertezas, tensões e redefinições da própria vida, com o propósito de atender de forma eficaz, às novas funções que o cuidado dos filhos exige. Diante dos poucos estudos voltados para a paternidade e parentalidade masculina, esse estudo objetivou conhecer como o filho (a) significa a vivência junto ao seu pai no que se refere à identidade paterna e exercício da parentalidade, o que poderá nos conduzir a objetivos mais específicos como avaliar se as significações do (a) filho (a) sobre a identidade paterna e exercício da parentalidade se diferem ao considerar as diferenças de gênero feminino e masculino, distinguir se as significações quanto às vivências do (a) filho (a) sobre a identidade paterna e exercício da parentalidade se inserem nas perspectivas de pais “novos” ou “velhos” ou tradicionais e ponderar como a identidade paterna e a forma de exercício da parentalidade repercutiram no desenvolvimento psicológico e projeto de vida do (a) filho (a). Essa pesquisa de base qualitativa, cujo método é o fenomenológico, teve como participantes 05 (cinco) jovens universitários do gênero masculino e 05 (cinco) do gênero feminino e que pertencem à diferentes cursos. Estes foram selecionados mediante a técnica de “bola de neve” (snowball sample), na qual o pesquisador 2 solicita ao participante indicações de outras pessoas que possam ser entrevistadas e assim sucessivamente, caracterizando indicação por cadeia (PATTON, 2002). Como instrumento utilizou-se a entrevista dialógica, antecedida por uma prévia inserção sobre o assunto e em seguida foi feita uma pergunta estimuladora: Você, na posição de filho (a), poderia me contar o que viveu e como percebeu como seu pai lidou com a paternidade e sua forma de exercê-la (parentalidade)? A entrevista dialógica foi mediada por perguntas reflexivas com o intuito de ampliar as narrativas para favorecer a melhor compreensão do pesquisador e pesquisado (a). Os dados foram compilados em categorias de significados como: 1) Identidade paterna, 2) Identidade paterna e transformações, 3) exercício da parentalidade, 4) Como a forma que o pai exerceu a parentalidade repercutiu na vida e projetos do participante. Ao se analisar os dados, pode-se constatar que a maioria dos filhos avaliou a identidade paterna como algo desejado, sonhado e que representa orgulho, realização e constituição de família. Foi considerado que paternidade representou mudanças em termos de responsabilidade, abnegação, compromissos, comportamento e relações familiares, sendo que somente uma participante revelou que o pai não conseguiu se adequar a nova realidade. Para Amaral (2014) a paternidade é um processo iniciado pelo homem desde o momento em que descobre que se transformará em pai, até a consolidação dessa nova identidade em suas narrativas sobre si mesmo. Já, para o mesmo autor, a parentalidade é um fenômeno evolutivo que desencadeia processos de mudança, carregados de incertezas, tensões e redefinições da própria vida, com o propósito de atender de forma eficaz, às novas funções que o cuidado dos filhos exige. Assim, no que se refere à parentalidade a maioria dos entrevistados significou de forma positiva no sentido de que o pai esteve sempre junto, apoiando e ajudando nos projetos dos filhos, embora ausentes fisicamente por conta do trabalho o que favoreceu a delegação de cuidados e decisões cotidianos à mãe. Apenas uma participante significou o exercício da parentalidade de forma negativa devido à priorização do trabalho e do financeiro. A maioria constata mudanças positivas em termos da forma do uso da autoridade e busca de proximidade afetiva depois que os filhos cresceram. Em relação aos gêneros as significações não revelaram diferenças significativas o que denota que as expectativas em relação ao pai não diferem 3 quando comparadas aos gêneros feminino e masculino. Consta-se que a forma com que os pais exerceram a parentalidade em sua maioria, está em consonância com o modelo nomeado pela literatura como pais “velhos” ou “tradicionais” pela forma com que exerceram a autoridade, demonstração de afeto e emoção, envolvimento e realização com as responsabilidades domésticas, sendo que duas participantes relatam separação dos pais pelo fato da mãe trabalhar fora e voltar a estudar. Embora presente emocionalmente e representando fonte de apoio e abnegação para a realização dos projetos dos filhos, fica implícito que a maioria, com exceção de dois participantes, em decorrência da ausência por conta do trabalho se coloca como mantenedor delegando à mãe os cuidados e decisões cotidianos. Os pais “velhos” ou tradicionais são os mantenedores da cultura patriarcal, cujos valores máximos são a competitividade, o belicismo, as hierarquias, a autoridade, o poder, o crescimento patrimonial e a procriação (MATURANA, VERDEN-ZÖLLER, 1993). Observa-se uma tentativa dos pais em se aproximarem do modelo de “pais novos” quando os filhos cresceram, ou seja, querem responder pela segurança emocional, participarem das decisões escolares, querem ser referência de cuidado, serem procurados pelos filhos no momento de aflição (AMARAL, 2014). Em relação à forma com que o exercício da parentalidade repercutiu no desenvolvimento psicológico e projetos de vida, com exceção de uma entrevistada, a maioria avaliou que o pai significa modelo, herói, bom pai, apoio, incentivo, autoridade e repercutiu em ser responsável, cumprir a palavra, lutar com honestidade pelos projetos de vida. Como considerações finais, este estudo possibilitou constatar a ratificação de que estamos num período de transição em relação à forma como o gênero masculino tem exercido a parentalidade, sendo que os homens que exerceram a parentalidade nos moldes dos pais tradicionais estão revendo a sua forma de exercer a parentalidade mesmo com os filhos já crescidos, o que parece estar em consonância com uma paternidade que quer deixar marcas e ser memória afetiva, ser abraço, sem deixar de ser lei, ser presença e não se conformar com a ausência referendada por um mundo que pede o excesso de trabalho. PALAVRAS-CHAVE: gênero; filhos; parentalidade; paternidade; universitários. 4 REFERÊNCIAS AMARAL, A. C. Paternidade sólida. In GUIMARÃES, N. V. (ORG). Autoridade e autonomia em tempos líquidos: a teoria sistêmica na contemporaneidade. Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 2014. MATURANA, H; VERDEN-ZÖLLER, G. Amor y juego: fundamentos olvidados de ló humano- desde El patriarcado a La democracia. Santiago do Chile: Noroeste, 1993. PATTON, MQ. Qualitative Evaluation and Research Methods. 3rd ed. London: Sage Publications; 2002. 5