Refletindo sobre a Parentalidade em Portugal
Parentalidade Privada/ efeitos públicos
Alexandra Soares
A vida não refletida, não merece ser vivida"
Sócrates
Crónica: A opinião desta mulher
Poucos são os casais que, em fase de namoro, falam entre si da forma de
educar os filhos que terão e quais as expectativas dos resultados alcançados
com o tipo de educação escolhida.
Educamos como? Educamos para quê? Que género de pessoa queremos formar?
São perguntas que a maior parte dos casais não se coloca.
A maior parte dos pais não tem a plena consciência que a educação é uma
forma de condicionamento. E que, com esse condicionamento, está a formar uma
pessoa, uma pessoa de um determinado “género”.
Que quero eu dizer com isto? Que os pais tem a capacidade de “forjar” as
1
bases da
personalidade do futuro adulto que o filho vai ser. Forma-se uma
pessoa competitiva ou dócil? Otimista ou pessimista? Curiosa ou plácida?
Pois, a educação tem um papel importante na formação da personalidade da
criança. Criança que se vai tornar adulto e por sua vez intervir na
sociedade e na educação de uma nova geração.
Cada pai tem em si as marcas da sua própria educação, cabe a cada um
determinar, de forma consciente, qual a parte do seu carácter que ficou
negativamente marcada por essa educação e superar essa questão, recorrendo a
ajuda de pessoal especializado em caso de maior necessidade. O texto que se
segue, tal como os anteriores é apenas fruto da
minha observação/reflexão,
que pode estar incorreta.
De que forma é que o exercício privado da Parentalidade de reflete na
sociedade? Esta é a questão maior1.
Que adultos produziu a parentalidade do pai chefe de família todo poderoso
cuja vontade era lei?
Em minha opinião, o pai autoritário não permite aos filhos o exercício da
argumentação.
A
personalidade
dos
filhos
não
se
desenvolve
de
forma
equilibrada sendo sempre subalternizada pela vontade do pai. A imagem do pai
condicionará a perceção de todas as formas de poder. Poder perante o qual o
filho, em adulto, poderá desenvolver duas atitudes radicalmente opostas:
1 Recordo para os que não se lembram que em sociologia que a mudança de geração faz-se a cada 25
anos. Óbvio que é uma convenção.
2
Tender à contestação sistemática ou à aceitação por determinismo. Não foi a
geração educada desta forma que permitiu, sem se rebelar, uma ditadura de 48
anos?
A década de setenta permitiu alterações de mentalidade, existindo um número
significativo de casais em que ambos os cônjuges começaram a partilhar a
educação dos filhos. De que forma o faziam? Que modelo seguiam? Que
alterações introduziram no modelo anterior? Penso que este foi um momento de
descoberta e de reinvenção de novas parentalidades.
Neste
período
surgem,
no
meu
ponto
de
vista,
três
tipos
base
de
parentalidade: O Pai Amigo, a parentalidade de “dou aos meus filhos o que
os meus pais não me deram” e a parentalidade das famílias mono-parentais.
Quais as diferenças entre elas? Que adultos produziu cada um deste géneros
de parentalidade?
O Pai Amigo é aquele pai que se recusa a impor limites ou disciplina, em que
o máximo que faz é “negociar” com a criança. Para mim, uma
uma reação ao
Pai Autoritário. A “reação” ao pai plenipotenciário foi para muitos a
escolha de um modelo de parentalidade que nega essa mesma parentalidade.
A parentalidade do “dou aos meus filhos o que os meus pais não me deram ”
em que o primado assentava a melhoria da situação económica era também ela
uma parentalidade de reação, mas mais centrada nos aspetos económicos que
nos aspetos emocionais ou mentais, até pelos condicionalismos educacionais
do estrato sócio-económico em que se produziu.
A parentalidade das famílias mono-parentais, que na sua maioria será uma
parentalidade feminina em exclusivo, muitas das vezes sem modelo masculino,
3
porque o pai se demitira da sua função. Esta é uma parentalidade de
circunstância e não de reação como as duas anteriores.
Que adultos formou cada uma destes tipos de parentalidade?
No que se refere à parentalidade feminina das famílias mono-parentais
afigura-se-me que existiu uma grande diferença educacional entre uma filha e
um filho criados sozinhos por uma mãe. A mentalidade que permite e incentiva
uma maior liberdade ao filho do que a filha ainda se encontrava muito
presente. A verdadeira igualdade de género na educação terá, no máximo 10
anos e ainda não se encontra generalizada.
O modelo de parentalidade do pai presente e interventivo, aquela que não foi
bem aceite nem pelo universo feminino nem pelas instituições foi, como já
referi, maioritariamente, um produto da parentalidade feminina das famílias
mono-parentais. Designemos esta como Parentalidade Interventiva .
Que adultos produziram as duas parentalidades de reação? Sendo que uma tinha
por primado a negação da autoridade e outra a preocupação económica quase
exclusiva.
Para mim os resultados destes dois tipos de parentalidade produziram os
adultos que a partir da década de noventa assumem aquilo a que designo por a
Parentalidade do TER. São aqueles adultos centrados em si próprios mas de
uma forma negativa.
Muitos portugueses constatam que desde a década de noventa os valores
primordiais na sociedade portuguesa são o dinheiro e uma competição face ao
outro, em vez de face a si mesmo. Esses valores (ou ausência de valores,
4
como preferirem) prende-se com o tipo de parentalidade que produziu os
adultos desta década.
Por sua vez, que tipo de adultos vai produzir este tipo de parentalidade? Os
primeiro exemplos já são visíveis nas crianças designadas pelos próprios
psicólogos como O Pequeno ditador. Um facto é verificável. Os filhos da
Parentalidade do TER e os filhos da Parentalidade Interventiva vão ser muito
diferentes.
Talvez a Crise económica com todas as alterações que está a produzir na
sociedade portuguesa seja um fator positivo na limitação dos danos que a
Parentalidade do TER pode acarretar para a sociedade.
5
Download

Crónica: A opinião desta mulher Poucos são os casais que, em fase