UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE OVOS COMERCIAIS: AVALIAÇÃO E MANUTENÇÃO DA QUALIDADE Juliana Bonifácio de Alcântara Orientador: Prof. Dr. Marcos Barcellos Café GOIÂNIA 2012 ii JULIANA BONIFÁCIO DE ALCÂNTARA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE OVOS COMERCIAIS: AVALIAÇÃO E MANUTENÇÃO DA QUALIDADE Seminário apresentado ao Curso de Doutorado em Ciência Animal, Higiene e Tecnologia de Alimentos da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás Área de Concentração: Sanidade Animal Higiene e Tecnologia de Alimentos Linha de Pesquisa: Epidemiologia e controle das doenças animais Orientador (a): Prof. Dr. Marcos Barcellos Café - UFG Comitê de Orientação: Profª. Drª. Maria Auxiliadora Andrade – UFG Prof. Dr. Nadja Susana Mogyca Leandro – UFG GOIÂNIA 2012 iii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................1 2. REVISÃO DA LITERATURA............................................................................3 2.1 Estrutura e composição do ovo................................................................3 2.2 O ovo na alimentação humana.................................................................5 2.2.1 Valores de referência dos nutrientes do ovo....................................8 2.3 Qualidade físico-química........................................................................10 2.4 Avaliação da qualidade físico-química...................................................13 2.4.1 Ovos inteiros..................................................................................13 2.4.2 Ovos abertos..................................................................................14 2.5 Manutenção da qualidade do ovo .........................................................16 2.5.1 Fatores relacionados a poedeira e a nutrição................................16 2.5.2 Lavagem dos ovos.........................................................................18 2.5.3 Tempo e temperatura de armazenamento.....................................19 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................23 REFERÊNCIAS.................................................................................................24 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1 Estrutura do ovo................................................................................... 5 Figura 2 Unidade Haugh para ovos de qualidade AA, A e B.............................15 Figura 3 Armazenamento de ovos em supermercado.............................. ........21 v LISTA DE QUADROS Quadro 1 Nutrientes constituintes de um ovo grande, fresco e cru.....................4 Quadro 2 Características da qualidade do ovo..................................................11 1 1- INTRODUÇÃO O ovo é um dos alimentos mais completos da dieta humana, apresenta uma composição rica em vitaminas, minerais, ácidos graxos e proteínas de excelente valor biológico (RÊGO et al., 2012). O ovo inteiro ou a clara e gema representam um ingrediente essencial em muitos produtos alimentares ao combinar propriedades nutricionais e funcionais. Além disso, contém substâncias promotoras de saúde e preventiva de doença. No Brasil, apesar de ainda consumir pouco ovo, abaixo da média consumida nos Estados Unidos, México e Colômbia, ele esta presente na dieta alimentar dos brasileiros, pois apresenta preços acessíveis e já faz parte do hábito alimentar. Segundo a União Brasileira de Avicultores (UBA) o ovo está presente na dieta alimentar de 99% das famílias brasileiras (UBA, 2012). A maior parte dos ovos comercializados no Brasil é produzida com alta tecnologia por galinhas poedeiras comerciais, híbridas, de alto potencial genético criadas em gaiolas, com elevada eficiência de produção de ovos. Sendo que, as maiores empresas de produção de ovos no mundo estão nos Estados Unidos da América com 102 milhões de poedeiras alojadas e, México com mais de 41 milhões, seguido pela Ucrânia com 22 milhões de aves alojadas e, em seguida Brasil com 18 milhões (WORLD POULTRY, 2012). No ano de 2011, a produção de ovos no Brasil foi aproximadamente 2,6 bilhões de dúzias representando um aumento de 4,3% sobre o ano de 2010 (2,4 bilhões de dúzias). O Estado de Goiás, em 2010 representou 4,5% da produção brasileira ocupando o oitavo lugar com produção de 176,4 milhões de dúzias ano, sendo que o Estado de São Paulo o maior produtor com 35,5% da produção brasileira seguido do Estado de Minas Gerais com participação em 11,4% (UBA, 2012). Os principais municípios do Estado de Goiás produtores de ovos, em 2010 foram Inhumas, com produção de 32,4 milhões de dúzia/ano, ocupando o primeiro lugar e, em segundo lugar Leopoldo de Bulhões com 30,8 milhões de dúzias/ano e Bela Vista de Goiás com produção de 27,2 milhões de dúzias/ano (SEGPLAN, 2011). Atualmente 99,1% da produção brasileira de ovos são destinados ao mercado interno e, apenas 0,89% são exportados. Os principais importadores 2 de ovos do Brasil são África e Oriente Médio. O consumo brasileiro per capita por habitante ano, em 2011 foi de 163 ovos, um salto de 21% em relação ao ano anterior que foi de 148,8 ovos per capita (UBA, 2012). O consumo de ovos e a utilização de suas vantagens nutricionais pela população estão associados à qualidade do produto oferecido ao consumidor, que é determinada por um conjunto de características que podem influênciar na aceitabilidade do produto no mercado. A qualidade do ovo é uma medida das características desejadas e valorizadas pelos consumidores, sendo percebida pelos atributos sensoriais, nutricionais, tecnológicos, sanitária, ausência de resíduos químicos, étnicos e de preservação ambiental. Essas variáveis a serem consideradas devem atender a necessidade dos produtores, consumidores e processadores, porque há diferentes considerações entre eles. Para os produtores a qualidade do ovo está relacionada com o peso e aparência da casca, tais como sujeira, defeito, trincas e manchas de sangue, para os consumidores prazo de validade e características sensoriais, como por exemplo, a cor da gema e casca. Já para os processadores, qualidade significa facilidade de remoção da casca, cor da gema e propriedades funcionais (ALLEONI & ANTUNES, 2001). O tempo de estocagem, temperatura dos ovos, linhagem e idade da poedeira como o manejo nutricional e estado sanitário são fatores que exercem influência na qualidade de albúmen e gema (ALLEONI & ANTUNES 2001; BERARDINELLI et al., 2003). Quando a qualidade dos ovos é insatisfatória pode acarretar prejuízos econômicos às indústrias e á saúde do consumidor. Diante do exposto, esse trabalho objetivou descrever as propriedades nutricionais e a qualidade físico-química de ovos de galinha e, relatar alguns métodos de avaliação e manutenção da qualidade. 3 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Estrutura e composição do ovo O ovo, assim denominado entende-se por ovo de galinha em casca e os demais seguidos da espécie (BRASIL, 1997). O ovo é constituído por quatro partes principais: (Figura 1) casca, membrana da casca, gema e clara ou albúmen. Alem disso, possui outras partes em menor proporção; o disco germinativo, a calaza, a câmara de ar, a cutícula e as membranas da casca. A casca é considerada embalagem natural do ovo, constituída por uma armação de substâncias orgânicas e minerais e, representa de 8 a 11 % dos constituintes do ovo, possui 94% de carbonato de Cálcio (CaCO3), 1,4% de carbonato de Magnésio (MgCO3), 3% de glicoproteínas, mucoproteínas, colágeno e mucopolissacarídeos. A parte mineral é composta por 98,2% de carbonato de cálcio; 0,9% de carbonato de magnésio; e 0,9% de fosfato de cálcio (ORNELLAS, 2001). Na casca encontram-se pequenos poros que possibilita as trocas gasosas entre o meio interno e externo do ovo: entrada de oxigênio e saída de gás carbônico. Estes poros são cobertos por uma cutícula composta de cera que protege o ovo da perda de água e impede a penetração de microrganismos (BENITES et al.,2005). A membrana da casca é formada por duas camadas: uma externa mais espessa denominada de “esponjosa”, próxima à casca; e outra interna mais fina conhecida como “mamilária”. Ambas são formadas por fibras protéicas intercruzadas. Esta estrutura confere resistência à casca e impermeabiliza o conteúdo dos ovos de microrganismos (RAMOS, 2008). Na extremidade, de maior diâmetro do ovo encontra-se a câmara de ar que é um espaço formado entre a membrana interna e externa da casca. A câmara de ar é formada no momento da postura, quando ocorre o resfriamento do ovo ao passar da temperatura corporal da ave de aproximadamente 39 oC a temperatura ambiente inferior e, devido a isso, ocorre contração da membrana interna e o vácuo resultante favorece a entrada de ar na câmara (BENITES et al., 2005). A clara do ovo é constituída de 88,5% de água e 13,5% de proteínas, vitaminas do complexo B (Riboflavina – B2) e traços de gorduras (FAO, 2010) 4 (Tabela 1). Além disso, a clara possui também pequenas quantidades de glicoproteínas, glicose e sais minerais. As principais proteínas presente na clara são: ovalbumina, conalbumina, ovomucóide, ovomucina e lisozima. Dentre estas proteínas a ovalbumina e a conalbumina representam 70% do total de proteínas presente na clara e são responsáveis pela gelatinização do albúmen (RAMOS, 2008). A clara é organizada em três frações, que se diferenciam quanto à viscosidade: possui uma fração externa, fluida e fina que corresponde a 23% da clara, uma intermediária, espessa e densa que corresponde a 57% e, uma interna fluida e fina que representa 20%. Junto à clara também encontra as calazas (SEIBEL, 2005). A calaza apresenta-se aderida a membrana vitelina da gema, e se expande para as extremidades, de um lado até a câmara de ar e, do outro até ponta mais fina do ovo, que se entrelaçam por meio de fibras opacas na clara. Esta estrutura tem como função manter a gema centralizada no interior do ovo impedindo o deslocamento (BENITES et al., 2005). A gema é uma emulsão de gordura em água (52%) composta por um terço de proteínas (16%), dois terços de lipídios (34%), vitaminas solúveis em lipídios A, D, E e K, glicose, lecitina e sais minerais, envolta pela membrana vitelina. A porção lipídica é constituída por 66% de triacilgliceróis, 28% de fosfolipídios e 5% de colesterol. Entre os ácidos graxos que compõe a porção lipídica 64% são insaturados com predominância de ácido oléico e linoléico (CLOSA, 1999). As proteínas da gema do ovo geralmente são ligadas aos lipídios e são denominadas de lipoproteínas. Quando estas lipoproteínas são fracionadas, por centrifugação resultam em um sedimento denominado de grânulos (lipoproteína de alta densidade - HDL) representado pela α (alfa) e ß (beta) - lipovitelina e fosvitina. Já a fração sobrenadante denominada plasma (lipoproteína de baixa densidade - LDL) é constituída pela lipovitelinina, livetinas e proteína de ligação da Riboflavina (Flavina ou Vitamina B2). Além dessas proteínas encontra-se a ɤ(gama)-livetina também denominada de imunoglobulina Y(KOVACS-NOLAN, 2005; RAMOS, 2008). A gema é rica em pigmentos, sendo que os carotenóides e a riboflavina constituem 0,02% do peso seco do ovo. Os componentes da gema 5 são dispostos em anéis concêntricos que variam de cor conforme o regime alimentar das poedeiras, ou seja, dos pigmentos presente no milho ou sintéticos adicionados à ração. A coloração amarelada da gema é devida principalmente à presença de riboflavina, xantofilas e ß-caróteno. Os carotenóides são fonte biodisponível de luteína e zeaxantina (RAMOS, 2008). Em 100g de gema cozido contém em média 353 µg de zeaxantina e luteína (USDA, 2012). Albúmen Líquido externo Denso Liquído interno Calazas Gema Disco germinativo Latebra Gema clara Gema escura Membrana vitelina Casca Cutícula Poros Câmara de ar Membrana externa da casca Membrana interna da casca FIGURA 1 – Estrutura do ovo FONTE: Adaptado USDA (2000) 2.2 O ovo na alimentação humana O ovo fornece a dieta humana uma porção elevada de nutrientes para todas as faixas etárias, particularmente durante o crescimento, e pode contribuir significativamente para as necessidades diárias individuais em nutrientes essenciais, enquanto fornece uma baixa proporção de calorias (Quadro 1). O complexo de proteínas do ovo serve como fonte significativa de 18 aminoácidos, o que lhe confere um alto valor biológico, se combinada a uma alimentação variada e saudável (BENITES et al., 2005; USDA, 2012). A proteína do ovo pode ser considerada padrão quando se compara às outras fontes protéicas com 93,7% em valor biológico, a mais alta entre as fontes de proteína disponíveis na natureza, sendo que em 100g de ovo cozido encontra-se em média 13g de proteína. Essas proteínas são completas, porque contêm os oito aminoácidos essenciais da dieta humana: lisina, metionina, 6 triptofano, valina, histidina, fenilalanina, leucina, isoleucina e treonina. Esses aminoácidos estão distribuídos em todos os componentes do ovo, sendo a maioria, encontrados na clara e em menor proporção na gema (KOVACSNOLAN, 2005; USDA, 2012). Algumas proteínas do ovo possuem propriedades antinutricionais, enquanto não desnaturada, devido a isso, não se deve consumir ovo cru em quantidades elevadas. Entre as propriedades antinutricionais incluem os inibidores de enzimas digestivas ovomucóide e ovoinibidor, a ovotransferrina é um quelante de ferro e avidina um complexante de biotina. No entanto, com o tratamento térmico, essas proteínas se desnaturam e perdem suas propriedades antinutricionais (SEIBEL, 2005). A gema é rica em lipídios e são encontrados principalmente sob a forma de lipoproteínas, com alta digestibilidade para humanos (94 a 96%) devido a sua forma em emulsão (RAMOS, 2008). Um ovo grande cozido (acima de 66g) contém 10,6 gramas (g) de gordura total e, destas 3,2g são de gorduras saturadas e 373 mg (0,373g) de colesterol (Tabela 1). No entanto, os ácidos graxos insaturados (mono e poliinsaturados) compõe a maioria da gordura total do ovo, ressaltando que a gema do ovo é uma das principais fonte destes lípidios (USDA, 2012). A gema do ovo tem sido relacionada com aumento dos nívies de colesterol no plasma sanguíneo e a alta incidência de doenças cardiovasculares em adultos. No entanto, a obesidade, sedentarismo, tabajismo e genética também são fatores predisponentes que estão associados no desenvolvimento destas patologias (GOODROW et al., 2006). O colesterol também tem alguns benefícios ao organismo, ele faz parte dos componentes das membranas celulares animal e, é precursor da vitamina D, dos ácidos biliares e hormônios. Devido a isso também é um nutriente necessário para o desenvolvimento das crianças e manutenção da homeostase do organismo animal (KOVACS-NOLAN, 2005). O Guia Dietético dos Estados Unidos da América (Dietary Guidelines for Americans – USDA) recomendam a ingestão diária de 350 mg/dia, para os homens, e de 240 mg/dia para as mulheres, não excedendo o nível recomendado de 300 mg/dia. Uma vez que, a ingestão de colesterol nos níveis 7 recomendados podem ajudar na manutenção dos níveis normais de colesterol no plasma sanguíneo (USDA, 2010). GOODROW et al. (2006) investigaram o efeito do consumo de um ovo dia nas concetrações de lipídios e colesterol do soro sanguíneo de indivíduos acima 60 anos de idade durante cinco semanas e observaram que as concentrações de colesterol total, LDL, HDL e triglicéridios não se elevaram e, concluiram que o consumo de um ovo dia não influência nas concentrações de lipídios e colesterol do plasma sanguíneo. O ovo também é uma excelente fonte natural de vitaminas A, D, E, K B2 (riboflavina) e B12. As vitaminas lipossolúveis A, D, E e K são encontradas na gema. Já as vitaminas hidrossolúveis do complexo B são encontradas tanto no albúmen quanto na gema, com notória ausência da vitamina C (USDA, 2012). Ressalta-se que a cocção do ovo quando feita por mais de cinco minutos, pode causar a perda de vitamina A em até 30% e vitamina B1 em 50% (SEIBEL, 2005). A vitamina A ou retinol derivada dos carotenóides oxigenados biodisponível (zeaxantina e luteína) é importante na alimentação humana com funções importante no processo visual e na manutenção da pele e das mucosas. A Luteína e zeaxantina são potentes oxidantes que se acumulam na macula da retina e atua na prevenção da degeneração macular em indíviduos com mais de 60 anos de idade (KRINSKY et al., 2003). Segundo o mesmo autor, esses pigmentos realizam a filtragem da luz solar prejudicial às células fotoreceptoras da retina e, ao consumir alimentos que contêm Luteína e zeaxantina auxília na prevenção da degeneração macular. Em estudo realizado por GOODROW et al. (2006) utilizando ovos como fonte de zeaxantina e luteína em indivíduos com idade acima de 60 anos, após quatro semanas de consumo diário de um ovo, verificaram aumento nas concentrações de luteína de 26% e zeaxantina de 38% no plasma sanguíneo. A vitamina D3 ou colecalciferol é uma vitamina lipossolúvel encontrada em alguns alimentos, sendo a gema do ovo um dos principais alimentos que contem essa vitamina. O colicalciferol ajuda a manter o metabolismo mineral normal, principalmente a homeostase do cálcio e fósforo 8 atuando no intestino delgado, ossos e rins (DUTRA DE OLIVEIRA & MARCHINI, 2008). O ovo também é fonte de minerais disponíveis, sendo que na gema contem maior quantidade de fósforo, cálcio e ferro e, na clara encontra-se em maior proporção sódio e potássio (USDA, 2012). O cálcio e fósforo são os minerais mais abundantes do organismo associados aos ossos, dentes e líquidos corpóreos. Esses minerais são absorvidos sob a regulação da vitamina colecalciferol (D3), que também é encontrada no ovo (DUTRA DE OLIVEIRA &MARCHINI, 2008). Já o ferro presente no ovo é altamente biodisponível e pode ser uma fonte importante para indivíduos carentes em ferro, especialmente as crianças (RAMOS, 2008). 2.2.1 Valores de referência dos nutrientes do ovo Os componentes do ovo nas tabelas de referência do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2012) têm variado ao longo dos anos. Os nutrientes do ovo grande, fresco e cru publicados em 2010 tiveram os valores alterados na ultima publicação (Quadro 1). A maioria dos nutrientes do ovo teve seus valores elevados, tais como, proteína de 6,3g para 12,5g, carboidratos de 0,4g para 0,72 e gordura total de 4,8 g para 9,5g. O aumento da gordura total foi bastante significativo, com destaque para colesterol que passou de 186mg para 372mg e, ácidos graxos monoinsaturados que se elevaram de 1,8g para 3,6g. Os valores de vitaminas e minerais também se elevou em quantidade na última publicação. Observa-se no Quadro 1, que as vitaminas D, A e complexo B tiveram aumento significativo. Os minerais também se elevaram com destaque para o ferro e cálcio, importante na alimentação humana, que se elevou em 85mg e 28mg respectivamente (USDA, 2012). Na Tabela 1, observam-se três diferentes tabelas, a tabela brasileira de composição de alimentos (NEPA, 2011), a tabela de análise de nutriente de ovos do departamento de saúde do Reino Unido (ROE et al., 2012) e a tabela de referência de nutrientes dos alimentos, dos Estados Unidos (USDA, 2012). Ao analisar essas tabelas pode-se verificar que a tabela brasileira tem valores semelhantes aos observados na tabela da USDA, devido a isso, pode se inferir 9 que a nutrição e o sistema de produção das poedeiras dos Estados Unidos se assemelham aos brasileiros e, que os testes de análise estão equivalentes. QUADRO 1 – Nutrientes constituintes de um ovo grande fresco e cru. Nutrientes Energia Proteina Carboidrato Gordura total monoinssaturada polinssaturada Gordura saturada Gordura trans Colesterol Colina Riboflavina (B2) Cianocobalina(B12) Ácido fólico (B5) Vit. D Vit. A Pirodoxina (B6) Tiamina (B1) Vit. E Selenium Fósforo Ferro Zinco Cálcio Sódio Potássio Kcal g g g g g g g mg mg mg µg µg IU IU mg mg mg µg mg mg mg mg mg mg 2010 72 6,3 0,4 4,8 1,8 1 1,6 0 186 126 0,2 0,5 24 41 270 0,1 0 0,5 15,4 99 0,9 0,7 28 71 69 2012 143 12,56 0,72 9,51 3,6 1,9 3,1 0 372 293 0,45 0,89 0 82 540 0,17 0,04 1,05 30,7 198 1.75 1,29 56 142 138 Magnésio mg 6 12 Legenda: Kcal=quilocaloria; g=grama; mg=miligrama; UI=unidade internacional. Fonte: Adaptado USDA (2010; 2012) Verificam-se na Tabela 1, as variações de alguns nutrientes do ovo cru, cozido e frito, em diferentes tabelas de referência nutricional. Como pode ser observado nas diferentes tabelas de composição de alimentos, o ovo quando frito se eleva o valor calórico e seus principais nutrientes ao agregar o óleo de fritura. Já o ovo cozido, teve seus valores próximos ao ovo cru em todas as tabelas de referência (NEPA, 2011; ROE, 2012; USDA, 2012). 10 TABELA 1- Composição de ovos, cru, cozido e frito por 100 gramas de parte comestível em três tabelas de referência Inteiro cru Inteiro, cozido Inteiro frito Umidade % 75,6 75,8 63,5 (NEPA) 2011 Energia Proteína Kcal g 143 13 146 13,3 240 15,6 Lipídeos g 8,9 9,5 18,6 Colesterol mg 356 397 576 Carboidratos g 1,6 0,6 1,2 Inteiro cru Inteiro, cozido Inteiro frito Umidade g 87,3 85,8 68,0 ROE et al.(2012) Energia Proteína Lipídeos Kcal g g 43 10,8 0,5 52 13 NA 200 14,7 15,7 Colesterol mg NA 371 Carboidratos g NA NA Ovo USDA (2012) Umidade Energia Proteína Lipídeos Colesterol Carboidratos g Kcal g g mg g Inteiro cru 76,15 143 12,56 951 372 0,72 Inteiro, cozido 74,62 155 12,58 10,61 373 1,12 Inteiro frito 69,47 196 13,61 14,84 401 0,4 Legenda: Kcal=quilocaloria; g=grama; mg=miligrama; NA=não encontrado; - =não análise Fonte: Adaptado NEPA (2011) ROE et al. (2012) USDA (2012) 2.3 Qualidade físico-química A qualidade dos ovos de consumo inclui um conjunto de características que motivam o grau de aceitabilidade do produto pelos consumidores, sendo determinada por diversos aspectos externos e internos. Os aspectos externos referentes à qualidade do ovo estão relacionados à qualidade da casca, ao considerar sua estrutura e higiene. Os aspectos internos consideram características relativas ao albúmen, gema, câmara de ar, cor, odor, sabor e manchas de sangue (MENDES, 2010). No Brasil, os ovos destinados ao comércio interno ou internacional são classificados em grupos, classes e tipos, segundo a coloração da casca, qualidade e peso. Sendo que, na prática, somente o peso e as características da casca têm sido considerados (XAVIER et al., 2008). A coloração da casca do ovo é determinada pela herança genética da poedeira que é controlada por vários genes que regulam a deposição de pigmentos denominados porfirina na casca, por meio das glândulas calcíferas presente no útero da ave. As poedeiras brancas produzem quantidades 11 normais de porfirina e as depositam em pouca quantidade na parte interna da casca. Já as poedeiras de ovo vermelho ou marrom depositam maior quantidade desses pigmentos na região externa da casca. Porém, ressalta-se que a cor da casca não tem influência no valor nutritivo do ovo, mas os ovos de casca vermelha são mais resistentes à quebra do que os ovos brancos (BENITES et al., 2005). SCOTT & SILVERSIDES (2000) observaram que poedeiras de linhagem de ovos marrom apresentaram maior média (p≤0,05) de peso da casca (6,1g) e maior percentual de albúmen (65,3%) do que ovos de casca branca com peso de (5,7g) e percentual de albúmen (63,9%). De acordo com a legislação brasileira a coloração da casca dos ovos é classificada em dois grupos: no grupo um, encontram-se ovos de coloração branca ou esbranquiçada e no grupo dois têm-se ovos que apresentam casca avermelhada. As características de qualidade dos ovos são agrupadas em três classes A, B, C (Quadro 2), sujo, trincado e partido (BRASIL, 1997). . QUADRO 2 – Características da qualidade do ovo Componentes Casca Classes A B Limpa, íntegra e sem Limpa, íntegra, ligeira deformação deformação e manchas discretas Câmera de ar Fixa e máximo de 4 mm de altura Fixa e máximo de 6 mm de altura Albúmen Límpida, transparente, consistente e calazas intactas Gema Translúcida, consistente, centralizada e sem desenvolvimento de microrganismo. Límpida, transparente, relativamente consistente e as calazas intactas Consistente, pouco descentralizada e deformada, contorno bem definido e sem desenvolvimento de microrganismo. C Limpa, íntegra, admite-se defeitos de textura, contorno e manchada Solta e com o máximo de 10 mm de altura Ligeira turvação, relativamente consistente e com as calazas intactas Descentralizada e deformada, contorno definido e sem desenvolvimento de microrganismo. Fonte: Adaptado BRASIL (1997) As características dos ovos sujos, trincados e partidos são verificadas somente por meio da qualidade da casca. Para classificação de ovos sujos a casca deve-se apresentar integra com sujeira ou material externo 12 aderente. Para ovos trincados: a casca apresenta-se quebrada ou com fendas, com membranas da casca intactas e sem extravase de conteúdo. Para ovos partidos: a casca apresenta-se quebrada com rompimento das membranas da casca com ou sem extravase de conteúdo (BRASIL, 1997) Quanto ao peso, o ovo é classificado em seis tipos: jumbo com peso mínimo de 66g/unidade, extra com 60 a 65g/unidade, grande de 55 a 59g/unidade, médio com 50 a 54g/unidade, pequeno de 45 a 49g/unidade e, industrial com menos de 45g, que são destinados à industrialização ou quebra (BRASIL, 2003). O albúmen deve apresentar-se límpido, transparente, homogêneo e viscoso, em forma de gel, com uma porção fluida que circunda a gema e a clara espessa. A gema com coloração amarelada que se alternam em camadas de cor amarelo claro e amarelo escuro e, uma pequena gema branca que circula o embrião em ovo fértil ou em forma de ponto em ovos não fertilizados. A gema deve apresentar contorno visível e movimentos lentos no centro do ovo (BENITES et al., 2005). A cor da gema é a característica interna mais observada pelo consumidor, apesar de ser uma medida subjetiva, que varia do amarelo claro ao laranja avermelhado. A exigência para cor da gema está entre o número 9 a 10 do Leque Colorimétrico Roche (RCF) para ovos comuns. Já no comércio de ovos particulares ou marca de grandes redes de supermercados, do número 11 a 12 do RCF e, número maior do que 12 do RCF para ovos de qualidade superior (MENDES, 2010). O pH normal da clara do ovo e da gema é próximo a 7,9 e 6,2 respectivamente. No entanto, esses valores podem se elevar devido ao período longo de armazenamento em condições inadequadas de temperatura e umidade (SEIBEL, 2005). ALLEONI & ANTUNES (2001) relataram que o pH do albúmen de ovos recém posto varia entre 7,6 e 7,9 , mas, após uma semana de armazenamento em temperatura ambiente (25 oC) e refrigeração (8 oC) o albúmen elevou o pH a 9,34. A quantidade de sólidos totais também é importante na qualidade dos ovos, uma vez que, essa variável determina o rendimento de ovos processados e desidratados, sendo que os sólidos totais do albúmen são em média de 12% e gema 50% (FIQUEIREDO et al., 2011). De acordo com 13 mesmo autor, o valor de sólidos totais do albúmen diminui com a idade da poedeira e com o período de armazenamento em temperatura ambiente. No entanto, os sólidos totais da gema não alteram com a idade da ave. Já o período de armazenamento em temperatura ambiente reduz os sólidos totais da gema. 2.4 Avaliação da qualidade físico-química A qualidade do ovo fresco pode ser avaliada por meio do cálculo da unidade Haugh que é realizado através da altura do albume denso corrigido para peso do ovo (ALLEONI & ANTUNES, 2001). A perda de peso do ovo durante o armazenamento e alteração do pH do albúmen são outros métodos analíticos que são utilizados para avaliar a qualidade (FURTADO et al., 2001). Entretanto, SOLOMON (1991) considera que somente esses parâmetros para a avaliação da qualidade do ovo são insuficientes e propõe métodos analíticos capazes de avaliar a qualidade de ovos e derivados de forma mais objetiva, como ultrasonografia e ressonância nuclear magnética, pois são medidas mais sensíveis da qualidade dos ovos. 2.4.1 Ovos inteiros a) Ovoscopia: a ovoscopia é realizada por meio de um foco de luz incidente sobre os ovos em movimento de rotação em local escuro para visualização das condições da casca do ovo e os aspectos internos. Ovo fresco deve ter a gema como uma tênue sombra, a clara consistente e transparente, viscosidade de tal forma que a gema não pode mover-se com liberdade em seu interior (BRASIL, 1997; BRASIL, 1990). A mensuração da altura da câmara de ar também pode ser verificada por meio da ovoscopia individual com demarcação da câmara e medida em escala milimétrica (mm) (POMBO, 2003). b) Gravidade específica: é considerado um teste indireto para mensurar a espessura da casca do ovo (BAIÃO, 1997). Esse teste avalia a resistência da casca, sendo que, quanto maior o valor do resultado do teste, maior a espessura da casca. Para isso, pode se utilizar o método da flutuação salina e o método de Arquimedes. A flutuação salina é um teste realizado por imersão dos ovos em recipientes com soluções salinas com densidades de 1.050 a 1.100, com intervalos mínimos de 0.005. Os ovos, ao flutuarem, são 14 classificados conforme sua gravidade específica. Ressalta-se que quanto maior o valor da gravidade específica maior é a espessura da casca (HAMILTOM, 1982). Já o método de Arquimedes baseia-se na pesagem do ovo no ar e na água, relacionam esses pesos multiplicando pelo fator de correção da temperatura da água de pesagem (FREITAS et al., 2004). 2.4.2 Ovos abertos a) Percentagem e espessura da casca: ambos são considerados métodos diretos de verificação da espessura da casca. A percentagem da casca é obtida após a quebra do ovo, lavagem e secagem da casca em estufa à 65 °C por 24h ou ao ambiente por um período de 48 horas. Após isso, a casca é pesada em balança eletrônica com precisão de 0,01g. Este parâmetro é obtido ao dividir o peso da casca seca pelo peso do ovo inteiro e multiplicado por 100 (SILVERSIDES et al. 1993; LIN et al., 2004). A espessura da casca é verificada após secagem por 24 horas em temperatura ambiente e em estufa a 60 oC por 72 horas, a espessura da casca e medida em dois pontos distintos na área centro-transversal por meio de micrômetro com divisões de 0,01 mm (LIN et al., 2004). c) Índice de albúmen e gema: é um método utilizado para avaliar a qualidade do mesmo, sendo equivalente à altura do albúmen espesso dividido pelo diâmetro do albúmen (CARBÓ, 1987). A altura do albúmen, o índice da área do albume e a porcentagem de clara espessa e fina também podem ser usados para determinar a qualidade do ovo (ALLEONI & ANTUNES, 2001). A consistência da gema é outro critério de qualidade do ovo. Para se obter uma estimativa desse valor utiliza-se o índice da gema. Valores médios para este índice em ovos recém-postos estão entre 0,40 e 0,42. Na proporção em que a gema perde altura ao longo do período de armazenamento, o índice de gema diminui e, pode chegar a 0,25 (AUSTIC & NESHEIM, 1990). d) Unidade Haugh (UH): este método é um dos mais utilizados para verificar a qualidade interna dos ovos e, tem sido utilizado pela indústria desde sua introdução. A UH foi proposta em 1937 por RAYMOND HAUGH e tem sido usado nos Estados Unidos como método de referência. Esse método é uma expressão matemática que correlaciona a altura do albúmen espesso, através de micrômetro tripé, corrigida para o peso do ovo. Sendo que, quanto maior o 15 valor da UH melhor a qualidade do ovo (ALLEONI & ANTUNES, 2001). Esse método é de fácil aplicação e possui alta correlação com a aparência interna do ovo ao ser quebrado (XAVIER, 2008), e sua análise dá uma indicação da duração e das condições de armazenamento dos ovos (FIQUEIREDO et al., 2011). Os ovos são considerados de qualidade excelente (AA) devem apresentar valores de UH superiores a 72; ovos de qualidade alta (A), entre 60 e 72 UH e ovos de qualidade inferior (B), com valores de UH inferiores a 60 são considerados de qualidade ruim (USDA, 2000). AA A B FIGURA 2 Unidade Haugh para ovos de qualidade AA, A e B. Fonte: Adaptado USDA (2000) No entanto, essa medida tem recebido críticas na sua utilização devido à correção do peso do ovo, pois ao comparar ovos frescos por diferentes idades, linhagens de poedeiras e a medida de albúmen de ovos armazenados em diferentes períodos, esse método se torna inadequado. Devido a isso, alguns autores sugerem a utilização da UH somente em ovos frescos de poedeiras de mesma linhagem e idade (SILVERSIDES et al. 1993; ALLEONI & ANTUNES, 2001). 16 e) Pigmentação da gema: é um fator importante na valorização dos ovos no mercado, é facilmente mensurada pelo leque colorimétrico, onde a gema é disposta em um fundo preto ou branco, e comparada com diferentes matizes de cores que vão do amarelo claro ao vermelho alaranjado, expressa em uma escala graduada de um a 15 (LLOBET et al., 1989). Esse método de avaliação da cor da gema é subjetivo, mas, é de baixo custo, rápido, simples e proporciona dados confiáveis. No entanto, métodos colorimétricos também podem ser utilizados na determinação da pigmentação da gema, apesar de ser mais precisos, requerem aparelhos específicos e são de alto custo (CARBÓ, 1987). f) pH do albúmen e gema: o pH e verificado por meio de pHmetro após a separação do albúmen e gema com imersão direta do eletrodo no conteúdo. De acordo com SEIBEL (2005) o pH normal da clara do ovo e da gema é próximo a 7,9 e 6,2 respectivamente. 2.5 Manutenção da qualidade O ovo por ser rico em nutrientes e de alta digestibilidade, exige alguns cuidados para não se transformar em meio para crescimento de microrganismos e chegar deteriorado ao consumidor (RÊGO et al., 2012). O ovo começa a perder qualidade interna momento após a postura, caso não sejam tomadas medidas adequadas para sua conservação. A perda de qualidade ocorre de forma contínua ao longo do tempo e pode ser agravado por diversos fatores (BARBOSA et al., 2008). 2.5.1 Fatores relacionados à poedeira e a nutrição As diferenças entre raças, linhagens, famílias e indivíduos determinam diferenças na cor, no tamanho, na forma, na textura da casca do ovo e na qualidade do albúmen e gema (CARVALHO et al., 2007). Ao avançar a idade da poedeira, o peso do ovo e a porcentagem da gema aumentam enquanto que as porcentagens de casca e albúmen diminuem. Dessa forma, os ovos produzidos por aves mais velhas podem apresentar qualidade de casca inferior, de forma a interferirem negativamente na qualidade interna dos mesmos (GARCIA et al., 2010). 17 CARVALHO et al. (2007) avaliaram a influência da idade de poedeiras comerciais com 29 e 60 semanas, sobre a qualidade do ovo fresco e, concluíram que poedeiras jovens põe ovos menores e, que os ovos aumentam o tamanho e piora a qualidade interna com o avançar da idade. A dieta das poedeiras interfere na quantidade e qualidade dos nutrientes do ovo, devido a isso, algumas estratégias nutricionais são exploradas na formulação da ração das poedeiras, ao modificar a composição de lipídeos, aumentarem a quantidade de vitaminas e minerais e, com isso elevar o valor nutritivo do ovo, enriquecendo-o com nutrientes específicos. Entre essas estratégias, a de reduzir colesterol da gema tem sido realizada através da inclusão de ácidos graxos poliinsaturados na dieta das poedeiras. Devido a isso, os produtores de ovos já disponibilizam no mercado diferentes tipos de ovos, tais como, ovos light, enriquecidos com ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs), com baixo teor de gordura e colesterol e outras nomenclaturas que nem sempre apresentam comprovação científica (DONATO et al., 2009). SANTOS et al. (2009a) ao avaliarem a influência da adição de diferentes óleos vegetais (2% e 4% de óleo de soja, linhaça e algodão) em rações para poedeiras comerciais sobre o teor de colesterol dos ovos verificaram que a adição de óleo vegetal não alterou o teor de colesterol nos ovos, em relação à dieta sem óleo. Em estudo realizado por CEDRO et al. (2010) ao compararem os teores de ácidos graxos da gema de ovos convencionais, poedeiras alimentadas com ração á base de milho e farelo de soja, com ovos modificados com ômega-3, de poedeiras alimentadas com ração contendo 1,5% de substratos de algas marinhas e 1, 8% de óleo de peixe observaram que ovos enriquecidos apresentaram níveis superiores de ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados da série ômega-3 e, maior quantidade de ácidos graxos saturados e poliinsaturados da série ômega-6 nos ovos convencionais. SANTOS et al. (2009) avaliaram a influência da adição de diferentes óleos vegetais a 2 e 4% de óleo de soja, linhaça e algodão na dieta de poedeiras comerciais sobre a qualidade interna e externa do ovo. Esses autores observaram que adição de óleo vegetal não alterou a qualidade dos 18 ovos. Já adição de 4% de óleo vegetal melhorou a coloração da gema, mas, a linhaça ocasionou redução da percentagem da gema. No entanto, OLIVEIRA, (2010) observaram que o peso do ovo de poedeiras novas aumenta com a utilização de óleos vegetais na ração. 2.5.2 Lavagem dos ovos A lavagem dos ovos de consumo tem gerado discussões sobre esse efeito e dos desinfetantes sobre a casca do ovo, que se torna mais frágil e susceptível à recontaminação após esta etapa. Alguns agentes químicos utilizados na água de lavagem dos ovos podem causar danos físicos ao produto facilitando a entrada de bactérias patogênicas através dos poros da casca, pois a cutícula protetora é removida (STRINGHINI et al., 2009). No entanto, ARAGON-ALEGRO et al., (2005) relataram que ovos submetidos ao processo de lavagem da casca reduzem os riscos decorrentes da contaminação por microrganismos patogênicos e ou deteriorantes. A Portaria N° 01 de 21 de fevereiro de 1990 do Mini stério da Agricultura Pecuária e Desenvolvimento (MAPA) recomendam a lavagem dos ovos, após a ovoscopia, previamente à quebra dos ovos e, adverte que a lavagem e secagem devem ser por meios mecânicos com procedimentos que impeçam a penetração microbiana no interior do ovo. A operação de lavagem deve ser contínua e concluída o mais rápido possível, não se permitindo equipamentos de lavagem de ovos do tipo imersão (BRASIL, 1990). A água de lavagem dos ovos deve ser mantida em temperatura de 35 a 45 ºC e recomenda-se que a temperatura da água deve ser no mínimo 10 ºC superior a temperatura dos ovos a serem lavados. Também é permitida a utilização de sanitizante na água de lavagem dos ovos, exceto compostos de cloro em níveis superiores a 50 ppm e substâncias à base de iodo (BRASIL, 1990). Os entrepostos que possuem a etapa de lavagem fazem passar por esse procedimento os ovos comercializados em natureza e não somente em ovos que serão industrializados (BRASIL, 1990). ARAGON-ALEGRO et al. (2005) concluíram em seus trabalhos que a etapa de lavagem antes da quebra do ovo não tem influência na qualidade microbiológica do produto final, desde que a matéria-prima apresente boa qualidade. 19 STRINGHINI et al. (2009) ao avaliarem a qualidade bacteriológica de ovos lavados e não lavados de quatro granjas de postura comercial da região metropolitana de Goiânia observaram que ovos lavados apresentaram melhor qualidade bacteriológica de casca. No entanto, MENDES et al. (2010) ao verificarem a qualidade bacteriológica de ovos lavados e não lavados contaminados experimentalmente na casca com Pseudomonas aeruginosa obtiveram maior contagem bacteriana tanto na casca quanto no conteúdo dos ovos lavados. PINTO & SILVA (2009) ao estudarem a penetração de Salmonella Enteritidis em ovos de galinha que foram submetidos ou não à lavagem industrial verificaram que não houve diferença significativa (P<0,05) para lavagem. Esses autores ressaltaram que a lavagem industrial de ovos é prática aceitável, sob ponto de vista higiênico-sanitário, desde que atendidos os requisitos de temperatura e qualidade da água e, ser acompanhada de cuidados para evitar a recontaminação do produto. 2.5.3 Tempo e temperatura de armazenamento O tempo de armazenamento tem um papel fundamental na conservação dos ovos, pois, à medida que se prolonga esse período, ocorre reação física e química e, consequentemente multiplicação microbiana. O tempo e a temperatura também devem estar associados a outros fatores para garantir a preservação das propriedades do ovo. Para isso, o emprego de tecnologia adequada logo após a postura é necessário para prolongar a vida útil do ovo e de seus produtos derivados (SEIBEL, 2005). O tempo de validade de ovos de consumo também tem sido motivo de discussões, mas, de acordo com LOPES et al. (2012) a refrigeração prolonga o tempo de validade dos ovos em até 25 dias após a postura, com a qualidade interna apropriada para o consumo. No entanto, segundo PASCOAL et al. (2008) 92% dos ovos comercializados “in natura” no mercado interno é desprovido de refrigeração e, devido a isso deteriora-se no máximo em 15 dias após a postura. De acordo com LEANDRO et al. (2005) os efeitos do clima tropical, temperatura e umidade relativa do ar são fatores importantes que interferem na 20 qualidade dos ovos durante a estocagem, sendo que em locais onde a temperatura ambiente é alta e os ovos não são refrigerados, eles devem ser consumidos em até uma semana após a postura. Durante o armazenamento, segundo ALLEONI & ANTUNES, (2001) pode ocorrer alterações nas características físicas, químicas e funcionais das proteínas do ovo, mas essas alterações dependem de alguns fatores como o tempo de armazenamento, a temperatura e a umidade relativa do ar. A qualidade interna dos ovos é influenciada pela temperatura e o período de armazenamento, pois, de acordo com vários autores ALLEONI & ANTUNES et al. (2001), BARBOSA et al. (2008), XAVIER et al. (2008), GARCIA et al. (2010), FIGUEIREDO et al. (2011) FREITAS et al. (2011) QUADROS et al. (2011), LOPES et al. (2012) a refrigeração mantém a qualidade interna dos ovos e prolonga o tempo de validade e, todos corroboram que o aumento do período de estocagem reduz a qualidade interna dos ovos. LEANDRO et al. (2005) ao analisarem a qualidade interna e externa de ovos caipiras, ovos especiais (PUFAs) e ovos brancos em diferentes estabelecimentos comerciais, da região de Goiânia observaram que os ovos PUFAs foram os de pior qualidade interna. Esses autores justificaram que, por ser um produto diferenciado possui valor elevado e, que são poucos os consumidores que pagam a mais por ele, devido a isso, aumenta-se o tempo de prateleira e consequentemente piora a qualidade. Outra desvantagem dos ovos enriquecidos com ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) é a ocorrência de oxidação lipídica durante o armazenamento, pois de acordo com CHERIAN et al. (2007) ao avaliarem ovos enriquecidos com ácidos graxos, armazenados por 60 dias em temperatura a 4 o C observaram aumento da oxidação lipídica. A refrigeração é importante na preservação da qualidade interna dos ovos, sendo aconselhável que os ovos saíssem da sala de processamento da granja refrigerado em temperatura média de 0 ºC a 4 ºC, garantindo assim, ao consumidor um produto saudável, nutritivo, saboroso e com segurança (CARVALHO et al., 2003). A não refrigeração do ovo no comércio ocorre porque gera altos custos e não é assegurada por lei. No entanto, alguns supermercados armazenam ovos em expositores próximos as verduras e 21 freezer (Figura 2), com objetivo de minimizar a temperatura deixando-a pouco abaixo da temperatura ambiente (FREITAS, 2011) A refrigeração doméstica do ovo também é importante na preservação da qualidade do produto até o consumo, em estudos realizados por GIAMPIETRO-GANECO et al. (2012) ao compararem as características de qualidade de ovos de consumo armazenados nos compartimentos da porta e nas prateleiras internas de refrigeradores de uso doméstico a 10 °C, durante 8 semanas, observaram que a qualidade interna dos ovos armazenados na prateleira interna foram superiores aos da porta e, além disso, ressaltaram a eficácia em manter os ovos armazenados nos compartimentos internos dos refrigeradores. FIGURA 3 Exposição de ovos em supermercado Fonte: arquivo pessoal (2012) ALLEONI & ANTUNES (2001) avaliaram a qualidade de ovos de consumo armazenados sob refrigeração e temperatura ambiente e obtiveram valores da unidade “Haugh” e altura da clara espessa inferiores com o armazenamento à temperatura ambiente. Já os ovos armazenados no ambiente refrigerado não obtiveram diferença significativa na unidade “Haugh”, mas, os valores foram menores do que obtidos para ovos frescos. De acordo com SANTOS (2009b) a perda de peso dos ovos ocorre devido à redução de água do albúmen, pois a proporção do mesmo diminui linearmente com o tempo de armazenamento ocorrendo um aumento linear na percentagem da gema. No entanto, LOPES et al. (2012) não encontraram 22 diferença no peso de ovos armazenados em temperatura ambiente e refrigerados por 35 dias. Já GARCIA et al. (2010) verificaram que o percentual de sólidos totais da gema e albúmen de ovos armazenados à temperatura ambiente e de refrigeração diminuiu com tempo de estocagem independente do ambiente de conservação. 23 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os ovos produzidos no Brasil podem ser considerados de boa qualidade, pois se emprega alta tecnologia com elevada eficiência de produção. No entanto, observou-se que os consumidores ainda desconhecem o real valor das propriedades nutritivas e funcional do ovo e, o considera maléfico a saúde ao associá-lo às doenças cardiovasculares e a presença de substâncias nocivas e patógenos, tais como antibióticos, hormônios e Salmonella ssp. No momento da compra de ovos, o consumidor pode observar somente os aspectos externos e a data de validade. Já o conteúdo dos ovos deve ser garantido pelo produtor. Para que seja assegurada a qualidade interna dos ovos aos consumidores, deve-se regulamentar a avaliação microbiológica, físico-química e a refrigeração dos ovos, desde o processamento até a aquisição do produto. Nesta revisão, constatou-se a necessidade de desenvolver um padrão de qualidade interna do ovo mais adequado e de fácil aplicação com a utilização de métodos analíticos objetivos na avaliação da qualidade. Verificouse também que o período de validade dos ovos deve ser associado às condições de armazenamento. 24 REFERÊNCIAS 1. ALLEONI, A. C. C., ANTUNES, A. J. Unidade Haugh como medida da qualidade de ovos de galinha armazenados sob refrigeração. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 58, n. 4, p. 681 – 685, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sa/v58n4/6283.pdf. Acesso em: 29 set. 2012. 2. ANDRADE, M. A.; CAFÉ, M.B; JAYME. S. V; ROCHA, P. T; LEANDRO, N. S. M; STRINGHINI, J. H. Avaliação da qualidade bacteriológica de ovos de galinha comercializados em Goiânia, Goiás, Brasil. Ciência Animal Brasileira. v. 5, n. 4, p. 221-228. 2004. 3. ARAGON-ALEGRO, L. C; SOUZA, K. L. O; SOBRINHO, P. S. C; LANDGRAF, M; DESTRO, M. T. Avaliação da qualidade microbiológica de ovo integral pasteurizado produzido com e sem a etapa de lavagem no processamento. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 25, n.3, p. 618-622, 2005. 4. ARAGON-ALEGRO, L. C; SOUZA, K. L. O; SOBRINHO, P. S. C; LANDGRAF, M; DESTRO, M. 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