«Para restituir a dignidade indispensável a todos é urgente reequilibrar o espaço português, promovendo o desenvolvimento regional como pressuposto e condição que é do próprio desenvolvimento nacional.» Francisco Sá Carneiro TERRITÓRIOS DE BAIXA DENSIDADE, TERRITÓRIOS DE ELEVADO POTENCIAL RELATÓRIO FINAL / SETEMBRO 2014 TERRITÓRIOS DE BAIXA DENSIDADE, TERRITÓRIOS DE ELEVADO POTENCIAL Acelerar o crescimento duradouro e a criação de emprego qualificado ÍNDICE I. FAZER DE PORTUGAL UM PAÍS MAIS COESO E COMPETITIVO 7 II. O PAÍS INTERIOR E O CÍRCULO VICIOSO DAS BAIXAS DENSIDADES 11 III. PORQUE FALHARAM AS POLÍTICAS DE COESÃO TERRITORIAL? 16 IV. REPENSAR AS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL 19 V. UMA AGENDA PARA OS TERRITÓRIOS DE BAIXA DENSIDADE 22 VI. A PORTA DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL ABRE POR DENTRO 37 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial I. FAZER DE PORTUGAL UM PAÍS MAIS COESO E COMPETITIVO As dinâmicas demográficas registadas nas últimas décadas em Portugal revelam que dois terços do território nacional, correspondendo, grosso modo, aos municípios do Interior do País e também designados como Territórios de Baixa Densidade, estão ameaçados de despovoamento e dos seus inevitáveis corolários: a desertificação física provocada pelo abandono de terras e das atividades produtivas conexas; o declínio das atividades económicas e a perda de massa crítica - demográfica, social, económica e até institucional - necessária para viabilizar projetos e investimentos geradores do dinamismo necessário para manter níveis mínimos de ocupação do território; o acréscimo significativo dos custos de provimento de infraestruturas e equipamentos de uso coletivo; a rarefação de serviços públicos fundamentais e a correspondente degradação da igualdade de oportunidades e de condições de vida. Num País como Portugal, onde o território constitui uma das marcas que melhor define a unidade e a identidade nacional, o cenário do abandono de uma parcela significativa da sua geografia e a desvalorização de um valioso capital material e simbólico não podem deixar de suscitar inquietação e sobressalto. Inquietação porque o agravamento das tendências regressivas e das assimetrias socioeconómicas, intensificadas pela conjuntura atual mas de natureza estrutural, revela o nó górdio do problema de desenvolvimento destes territórios: a dificuldade de criar e reter valor e emprego e, consequentemente, de fixar população. Sobressalto porque a perda da coesão territorial constitui uma ameaça à própria coesão nacional, o que reclama não só um despertar das consciências para o problema mas também um esforço coletivo para fazer de Portugal um País mais Coeso, Solidário e Competitivo. A temática da coesão territorial tem vindo a ganhar, ao longo dos últimos anos, um crescente e renovado interesse e a constituir-se como um importante foco do debate político em Portugal. Reflexo, naturalmente, das medidas de ajustamento e das reformas estruturais determinadas pela situação de emergência financeira e económica que o país vive desde 2011 mas também, e sobretudo, do fracasso das políticas e das estratégias de desenvolvimento territorial implementadas nas duas últimas décadas. O PSD inscreveu, desde a primeira hora, esta temática na sua agenda política. As primeiras Jornadas Parlamentares da XII Legislatura, realizadas no Fundão a 12 e 13 de Setembro de 2011, versaram sobre a problemática da interioridade e do despovoamento. Uma semana depois, foi apresentado na Assembleia da República um projeto de resolução (PJR 75/XII) no qual os Deputados do PSD recomendaram ao Governo que «elabore e implemente um Programa Nacional para a Coesão Territorial (PNCT).» Um Programa que, especificando metas, ações, entidades responsáveis e calendário de execução, promova o reforço da coesão territorial através de uma nova estratégia de desenvolvimento que gere riqueza e emprego no interior do País, 7 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial potenciando, gerando e fixando o valor económico dos recursos endógenos (naturais, humanos, económicos, sociais e culturais,…) de cada espaço do território nacional. O Projeto de Resolução 75/XII recomenda ainda ao Governo um conjunto de iniciativas e medidas substantivas, nomeadamente: a monitorização e avaliação periódica da coesão territorial do País e do impacto na mesma das políticas, programas e grandes projetos públicos, designadamente através da elaboração de indicadores das assimetrias regionais e de um Relatório do Estado da Coesão Territorial, a ser apresentado e discutido, bianualmente, na Assembleia da República; a integração do princípio da coesão territorial na conceção e execução das políticas públicas - em particular naquelas que mais eficazmente podem combater as assimetrias regionais e a desertificação e valorizar o território, como sejam as políticas de ambiente, agricultura, turismo, florestas, emprego, empreendedorismo, educação, cultura, investigação científica e inovação, saúde, desenvolvimento regional, obras públicas e de ordenamento do território - e na programação e execução dos fundos estruturais; a adoção da coesão territorial como princípio e objetivo essencial da reorganização administrativa iniciada pelo XIX Governo, em particular no âmbito da reforma do Poder Local e da Administração desconcentrada do Estado; a coordenação interministerial na promoção da coesão territorial, contribuindo para uma atuação concertada, dinâmica e eficaz do Governo e Administração nos diferentes territórios. A coesão territorial voltou a ocupar o centro das atenções e do debate político no XXXV Congresso Nacional do PSD, realizado em Lisboa, entre 21 e 23 de Fevereiro. Das 25 Moções Temáticas apresentadas, 11 abordaram as problemáticas da coesão territorial, do desenvolvimento regional e, de um modo mais específico, da Interioridade e dos territórios de baixa densidade, relembrando a relevância e a atualidade política destes temas: O Interior é uma Paisagem, cujo primeiro subscritor é Júlio Sarmento, Presidente da CPD da Guarda; Coesão Territorial - Valorizar o Território-Defender as Pessoas, Mário Magalhães, Deputado eleito pelo Círculo Eleitoral do Porto; O Alentejo é Futuro, António Costa e Silva, Presidente da CPD de Évora; Uma Agenda para o Território, Álvaro Santos; Um Portugal mais Competitivo e Solidário, Domingos Dias, Presidente da CPD de Vila Real; O Alto Alentejo faz Falta a Portugal, Cristóvão Crespo, Deputado e Presidente da CPD de Portalegre; Confiança no Poder Local + Portugal, Álvaro Amaro, Presidente da Câmara Municipal da Guarda e dos ASD; Pela Criação do Estatuto de Territórios de Muita Baixa Densidade, António Carvalho, Presidente da CPD de Castelo Branco; Alentejo, Desenvolvimento, Economia e Participação Política, Mário Simões, Deputado e Presidente da CPD de Beja; A Desertificação do Interior. Que futuro para os territórios de baixa densidade, Vasco Estrela, Presidente da Câmara Municipal de Mação; O Desenvolvimento regional como dinamizador da recuperação económica, Miguel Seabra, Presidente da CPS do Porto. Os subscritores destas moções traçam diagnósticos sombrios e muitas vezes alarmantes sobre as dinâmicas recentes e o estado atual das assimetrias territoriais e manifestam uma grande preocupação com o futuro dos territórios do Interior do País. 8 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial Mas, ao mesmo tempo, reafirmam a convicção profunda de que estes territórios têm recursos e potencialidades que, se forem eficaz e inteligentemente rentabilizados, podem gerar e fixar a riqueza e o emprego indispensáveis para inverter as tendências demográficas e económicas regressivas que os condenam ao subdesenvolvimento e os ameaçam de declínio e extinção. Todos, sem exceção, defendem que estes territórios não são nem querem ser um fardo para o Estado e para as finanças públicas e que Portugal não pode prescindir ou subvalorizar o seu contributo na construção de uma economia mais competitiva, de uma sociedade mais solidária e de um território mais equilibrado. Defendem, por isso, a par de uma igualdade efetiva de oportunidades para todos os cidadãos, onde quer que eles residam, no acesso a bens e serviços públicos fundamentais, uma nova política e uma nova estratégia de desenvolvimento, assente num conjunto diversificado de medidas e propostas setoriais, que permita devolver a esperança às populações que resistem tenazmente nestes territórios. O Governo tem procurado responder a estas preocupações e aos desafios que elas encerram com os instrumentos e os meios disponíveis, fortemente condicionados pelas exigências políticas e as restrições financeiras que marcaram os tempos de emergência e exceção que vivemos desde 2011. Num primeiro momento com medidas mais pontuais e específicas mas, à medida que o Programa de Assistência Económico e Financeiro se ia aproximando da sua conclusão, foi alargando e intensificando as intervenções no sentido de promover a coesão e o desenvolvimento territorial. Concretizou a reforma da reorganização administrativa territorial autárquica; Criou a Equipa dos Assuntos do Território e o Conselho de Concertação Territorial, estruturas que visam garantir uma maior articulação e coordenação dos diferentes agentes na implementação das políticas públicas territoriais; implementou o VALORIZAR, um programa de valorização económica de territórios, concebidos como ativos de desenvolvimento e geração de riqueza e emprego; concebeu e desenvolveu os programas DESCENTRALIZAR e APROXIMAR, que visam a descentralização de competências e a reorganização da rede de serviços públicos; desenvolveu o programa Portugal Porta-a-Porta que visa alargar o transporte público a todos os portugueses que residem nos territórios de baixa densidade, através de uma oferta de serviços complementares de transporte público flexível e a “pedido”; fixou, através do Código Fiscal ao Investimento, o aumento das majorações para investimentos nas regiões desfavorecidas; lançou o programa + Superior, um sistema de bolsas para atrair alunos para as instituições de ensino superior do Interior; e construiu o Compromisso para o Crescimento Verde, que contribuirá para a valorização dos recursos naturais, da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas dos territórios de baixa densidade. O reforço da coesão territorial é um objetivo nacional e europeu. Quatro décadas depois do 25 de Abril, Portugal tem de prosseguir e acelerar o combate por um desenvolvimento mais equilibrado do seu território e por uma efetiva igualdade de oportunidades a todos os seus cidadãos. Um combate que permita conter e minimizar a regressão demográfica, social e económica de uma parte significativa do seu 9 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial território e que afaste do horizonte o cenário inaceitável de um País territorialmente fraturado entre um Interior abandonado e um Litoral congestionado. Mas não nos equivoquemos nem no diagnóstico, nem nas prescrições. Estas tendências regressivas são ditadas por um conjunto amplo e complexo de fatores, e muito em particular a erosão, desde meados dos anos oitenta do século passado, da base produtiva e económica e, posteriormente, a alteração radical dos perfis demográficos. Não podem ser, pois, associadas, de modo direto, à escassez de infraestruturas, equipamentos ou serviços públicos, cuja redução é antes uma consequência e não uma causa do esvaziamento populacional. E não é expectável, pelo menos a médio-prazo, a reversão das perdas demográficas e de despovoamento rural; apenas será possível abrandar os ritmos e mitigar os seus efeitos. Desde que consigamos promover um modelo de desenvolvimento que valorize economicamente os recursos e o capital, material e simbólico, dos Territórios de Baixa Densidade, criando e fixando valor e emprego. A mobilização e o contributo de todo o PSD, dos seus militantes, dos seus dirigentes, dos seus autarcas, dos seus deputados, dos seus governantes, é fundamental neste combate por um Portugal mais coeso, mais solidário e mais competitivo porque esses valores estão inscritos no seu código genético e na sua matriz ideológica. Um combate que não pode ser dissociado de um outro, o da natalidade, e que o PSD lançou recentemente, para atacar um dos problemas estruturais com os quais a sociedade portuguesa se vai confrontar nas próximas décadas: o declínio demográfico. Ambos os combates têm de ser suportados por uma ação política e governativa persistente e determinada mas, ao mesmo tempo, pragmática e consequente, que permita promover um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável do país. E não se esgotam nos territórios de baixa densidade do continente mas abrangem também as regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Certo, estas regiões dispõem já de um estatuto especial no quadro da UE, o de regiões ultraperiféricas, e confrontam-se com problemas diversos e específicos da insularidade; por outro lado, beneficiam de uma autonomia política e administrativa que permite aos seus governos implementar políticas autónomas de desenvolvimento territorial. Mas a ambição, o da coesão territorial e nacional, é a mesma e o combate é, por isso mesmo, comum. Em ambos os casos, as populações do Interior ou das Ilhas não se querem transformar num fardo para o País, nem depender cronicamente do "assistencialismo" público e estatal. Querem contribuir diretamente para a promoção do crescimento e do emprego e participar ativamente no processo de desenvolvimento e modernização social, económica que o País reclama. É esse o principal objetivo desta agenda para os Territórios de Baixa Densidade: acelerar o crescimento duradouro e a criação de emprego qualificado, devolvendo às suas populações a esperança no futuro. Luís Leite Ramos Deputado e Voga da CPN 10 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial II. O PAÍS INTERIOR E O CÍRCULO VICIOSO DAS BAIXAS DENSIDADES As condições e a qualidade de vida dos portugueses melhoraram muito nas últimas décadas. O Interior do País acompanhou de perto esta tendência. O Estado central e as autarquias locais construíram infraestruturas e equipamentos públicos e alargaram e reforçaram as redes de serviços coletivos. A energia elétrica e a água canalizada chegaram a praticamente todas as localidades, mesmo se os níveis de ligação à rede são por vezes baixos. As redes de saneamento básico cobrem hoje a totalidade das vilas e cidades do país e uma parte considerável dos aglomerados rurais. Os níveis de acessibilidade foram melhorados com a construção de vias modernas e rápidas que encurtaram distâncias e tempos no acesso aos principais centros urbanos, ao Litoral e até á Europa. Construíram-se centros de saúde e hospitais, escolas e creches, centros de dia e lares, bibliotecas e museus, teatros e auditórios, piscinas e pavilhões gimnodesportivos, etc. Alargaram-se e reforçaram-se os cuidados de saúde primários ou especializados, as ofertas educativas no ensino básico e secundário ou as redes de serviços de apoio à infância, à deficiência ou aos idosos. O acesso a bens e serviços culturais e de lazer progrediram e as práticas desportivas generalizaram-se. Mas, paradoxalmente, estas mudanças parecem não ter tido um reflexo direto nos níveis de desenvolvimento social e económico dos Territórios de Baixa Densidade. Quase todos os indicadores revelam que estes territórios continuam a debater-se com um conjunto de problemas estruturais que condicionam fortemente o seu processo de desenvolvimento: um rápido esvaziamento e envelhecimento demográfico; um acentuado despovoamento rural; uma crescente dificuldade da manutenção dos níveis de acessibilidade territorial às redes de infraestruturas básicas, de equipamentos coletivos e de serviços públicos locais; a prevalência de uma lógica económica extrativa nos setores e atividades dominantes, a par de uma lógica assistencialista e de redistribuição social; a manutenção de uma economia dependente de atividades tradicionais, pouco organizadas e sem dimensão crítica, bacias de emprego de reduzida dimensão e mão-de-obra pouco qualificada; uma insuficiente capacidade de iniciativa, empreendimento, organização e articulação institucional. Todos estes aspetos são reveladores da problemática de baixa densidade (de população, de atores, de centros urbanos, de relações, etc.) com que se confronta todo o Interior do país e são causa e consequência de um círculo vicioso que compromete o seu desenvolvimento (Ver Fig. 1). O progressivo esvaziamento e envelhecimento populacionais, conjugados com um povoamento disperso ou disseminado por pequenos aglomerados, fragilizam as dinâmicas económicas locais e comprometem a manutenção das infraestruturas e serviços coletivos. A regressão demográfica, agravada pela perda dos ativos mais jovens e empreendedores, determina ainda a contração dos mercados locais de emprego e de consumo e a 11 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial Lógica extrativa da Economia Reduzidos níveis de empreendedoris mo e de investimento privado Reduzida massa crítica empresarial e institucional Declínio das atividades produtivas tradicionais Poucos consumidores e pulverização dos mercados locais Mercado de emprego escasso e pouco qualificado Reduzida criação e fixação de valor acrescentado Rarefação das funções e serviços comerciais Abandono de espaços agroflorestais e desertificação física Envelhecimento populacional Perda de capital humano Perda de população mais jovem e mais qualificada Despovoamento e dispersão territorial Redução da oferta de equipamentos e serviços públicos Níveis críticos de infraestruturas públicas Fig.1. O(s) círculo(s) vicioso(s) da baixa densidade territorial Fonte: ®Luís Leite Ramos 12 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial redução da massa crítica regional em termos humanos, sociais, empresariais ou institucionais. As dinâmicas económicas, a par da segmentação das cadeias de valor e da lógica extrativa dominante, não potenciam a criação e fixação das mais-valias e em particular nas fileiras produtivas tradicionais mas também nos setores emergentes. E a reduzida capacidade de iniciativa não favorece o investimento em atividades de base inovadora que explorem os recursos locais ou o aproveitamento eficaz de complementaridades com as atividades dominantes. A escassez de oportunidades de emprego, adequadas às expectativas de uma população cada vez mais instruída e qualificada, acelera a emigração e o êxodo rural e, consequentemente, as dinâmicas de despovoamento que vão alastrando, num crescendo, pelo território. Uma das principais manifestações desse círculo vicioso é a regressão demográfica. Os municípios do Interior têm vindo a sofrer uma quebra acentuada de população desde meados do século XX. Segundo os Censos de 2011, na década precedente 199 dos 308 municípios portugueses perderam população, tendo uma parte significativa destes perdido mais de 10% dos seus habitantes. E nas últimas três décadas, entre 1981 e 2011, como se pode verificar no cartograma da figura 2, apenas alguns municípios da estreita faixa litoral, a par de algumas capitais de distrito, registaram um aumento Fig.2 - Variação Populacional 1981-2011 Fig. 3. Peso dos Idosos (2011) populacional. Todos os outros perderam residentes a um ritmo constante, tendo-se verificado na grande maioria dos casos reduções superiores a 1/3. Uma perda que 13 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial resulta da persistência dos fluxos emigratórios mas também, em grande parte, da queda abrupta das taxas de natalidade e de fecundidade. Não nascem crianças em grande parte destes territórios porque não há jovens e, menos ainda, casais jovens. O envelhecimento é, assim, uma consequência óbvia desta queda da natalidade a uma das tendências que mais se tem acentuado nas últimas décadas, fruto da redução significativa dos saldos naturais e do aumento progressivo da esperança de vida. A segunda manifestação é a o despovoamento acelerado de parcelas cada vez mais significativas do território, como é possível constatar no cartograma da figura 4, o qual é acompanhado não só do abandono crescente de terras agrícolas e florestais mas também da expansão das áreas vulneráveis ao risco de desertificação física. Em 2011, 37 municípios já tinham menos de 5000 habitantes. A perda da população tem tido, como seria expectável, um grande impacto no modelo de povoamento, atingindo mais duramente os espaços mais isolados e periféricos. O êxodo rural tem sido acompanhado por uma lenta e persistente concentração da população nos aglomerados urbanos, em particular nas cidades e vilas sedes de concelho. Esta dinâmica de concentração populacional tem uma expressão territorial desigual, progredindo mais rapidamente nos concelhos de maior dimensão, com melhores Fig. 4 - Densidade Populacional (2011) Fig. 5 - Percentagem da População urbana (2011) acessibilidades e níveis de serviços públicos ou privados mais elevados ou ainda com uma base socioeconómica mais dinâmica. E tem induzido um processo de crescimento urbano peculiar, um misto de «rurbanização» e «periurbanização», que se traduz pela 14 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial extensão das dinâmicas de urbanização de muitas sedes de concelho e das freguesias envolventes. O Interior do País está assim a transformar-se numa espécie de «território arquipélago», pontuado por um conjunto numeroso e esparso de aglomerados urbanos mas ao qual falta a massa crítica necessária para compensar as fragilidades e insuficiências da baixa densidade territorial. Finalmente, uma terceira manifestação é a incapacidade de criar e fixar valor acrescentado e emprego qualificado, em grande parte reflexo da lógica económica extrativa que prevalece nas atividades produtivas, muito dependentes dos setores tradicionais. Mas também do baixo nível de investimento privado, das baixas produtividades da mão-de-obra e do fator trabalho em geral ou ainda da atomização e da reduzida especialização do tecido empresarial. O Produto Interno Bruto per capita é muito baixo e substancialmente inferior à média nacional e a riqueza gerada, traduzida em termos de Valor Acrescentado Bruto (VAB), é também muito diminuta. As fragilidades da estrutura produtiva refletem-se nos níveis de atividade e de emprego ou na qualificação e remuneração da mão-de-obra. Em geral, os níveis de escolaridade da população ativa são ainda, apesar da relativa e contínua melhoria nas últimas Fig. 6 – Sales Index (2012) Fig. 7 – Ganho médio mensal (2009) décadas, insatisfatórios. Os níveis de bem-estar das populações, medidos através do Índice do Poder de Compra Concelhio, progrediram significativamente ao longo das duas últimas décadas mas permanecem entre os mais baixos do País. Os baixos níveis 15 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial de poder de compra e de rendimento das famílias têm sido minimizados pelas transferências financeiras dos emigrantes e do Estado social, a par dos investimentos públicos, acentuado o caráter "dependente" e "assistido" destes territórios. Globalmente, os diferentes indicadores revelam uma tendência de crescimento das economias locais e, nalguns domínios até, uma certa convergência com as trajetórias regionais e nacionais. O que permitiu reduzir assimetrias e recuperar “atrasos”. Mesmo assim, os níveis de produção, de criação e fixação de valor, de rendimento ou poder de compra são claramente inferiores aos da média nacional e ainda mais das zonas do Litoral. As economias destes territórios continuam a sofrer de males antigos: baixas produtividades, fraca diversificação produtiva, forte dependência externa. As fragilidades dos tecidos económicos mantêm-se: dimensão reduzida das unidades produtivas em termos de volume de negócios e de emprego; forte concentração em atividades e setores de baixa produtividade; baixa qualificação da mão-de-obra e remuneração do trabalho; peso relativo elevado dos serviços e do emprego público; baixos rendimentos e fortemente dependentes das transferências financeiras externas, em particular as poupanças dos emigrantes e as prestações sociais públicas. E, sobretudo, mantem-se a dificuldade de contrariar a lógica extrativa que prevalece nas atividades produtivas e que não permite gerar e fixar as mais-valias necessárias a um processo de desenvolvimento económico abrangente e duradouro. III. PORQUE FALHARAM AS POLÍTICAS DE COESÃO TERRITORIAL? A perda de coesão territorial constitui uma tendência estrutural, inquietante e indesejável para Portugal. É, por isso, uma tendência que urge travar e inverter. Mas não seria exatamente justo dizer que o País não tem tentado. A correção das assimetrias territoriais é uma preocupação com várias décadas. Desde o início dos anos oitenta do século passado têm sido implementados vários programas e estratégias de desenvolvimento territorial com essa finalidade. Quase tantos quanto a criatividade nacional e os fundos europeus permitiram: melhoria das acessibilidades; construção de infraestruturas e equipamentos; oferta de solo industrial a preços simbólicos; (re)localização de empresas; redução de impostos e de taxas municipais; criação de sociedades de desenvolvimento regional ou de capital de risco; majoração dos incentivos à criação de empresas e de emprego; subsídios de natalidade, etc. Os impactos destes programas foram, indiscutivelmente, positivos, gerando ou induzindo transformações nas condições e na qualidade de vida das populações ou nas estruturas e dinâmicas produtivas das regiões. Mas falharam na concretização da sua principal ambição: estancar a hemorragia demográfica, o despovoamento das áreas rurais, a dinamização económica que assegurasse a criação de riqueza e emprego. 16 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial Várias “teses” têm sido enunciadas na tentativa de explicitar as razões deste fracasso e, de um modo geral, o baixo nível de desenvolvimento socioeconómico do Interior do País. O “abandono político” a que têm sido votados estes territórios durante décadas é uma tese recorrente e invoca a insuficiência dos meios mobilizados pelo Estado para resolver os históricos problemas infraestruturais com que estes se debatem, nomeadamente o encravamento e o isolamento geográfico ou a falta de infraestruturas e equipamentos públicos. A tese da “lógica extrativa” que prevalece nas principais atividades produtivas é muitas vezes utilizada como justificação para os problemas do Interior e o insucesso das intervenções, remetendo para a incapacidade dos diferentes espaços territoriais e dos seus agentes económicos em reter uma parte significativa do valor acrescentado potencial dos seus recursos e produtos. A tese da insuficiente “massa crítica” (demográfica, empresarial, urbana, etc.) remete não só para a diminuta capacidade de iniciativa e de empreendimento dos agentes privados mas também para a segmentação e atomização institucional e a reduzida capacidade de articulação dos múltiplos interesses locais e regionais. Finalmente, a tese do “centralismo endémico” que marca a ação do Estado e da administração pública é outra das teses mais repetidas, no Interior e em quase todo o país, e remete para o carácter paternalista, setorial e fragmentado das políticas públicas e para as abordagens tecnocráticas e normativas que predominam na conceção e implementação dos programas e das estratégias de desenvolvimento territorial. Todas estas teses têm, seguramente, um fundo de verdade e ajudam a explicar dinâmicas e processos que são por natureza complexos e multiformes. Evocam, por um lado, os principais estrangulamentos ao processo de desenvolvimento socioeconómico no Interior do País e denunciam, por outro lado, as ambiguidades e as contradições em que estão mergulhadas as políticas territoriais em Portugal. Os investimentos e os apoios públicos, reclamados durante séculos, foram amiúde considerados insuficientes para suprir as carências infraestruturais e dinamizar as atividades económicas, muito embora as verbas canalizadas para estes territórios nas últimas três décadas tenham sido substanciais e até, comparativamente em termos per capita, mais elevados do que noutras zonas do país. As principais atividades produtivas mobilizam abundantemente os recursos territoriais mas mantêm com o território “relações de compromisso" frágeis e assimétricas e criam e fixam localmente pouco valor e emprego. As estruturas e as dinâmicas empresariais e institucionais são dispersas e incipientes, o que compromete não só os níveis de eficiência coletiva mas também de competitividade territorial. E, finalmente, a eficácia das políticas e dos instrumentos de desenvolvimento territorial implementados no Interior parece ter sido comprometida pelos défices de integração e coordenação e, sobretudo, pela natureza e âmbito das abordagens e das estratégias adotadas. Com efeito, ao longo dos últimos anos têm-se procurado combater o problema do declínio populacional com uma abordagem que, por economia de meios, se pode 17 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial classificar de infraestrutural, corretiva e "assistencialista". Ainda que muitas vezes de forma implícita, esta estratégia assentou durante muito tempo no pressuposto de que a melhoria das acessibilidades e das condições de vida das populações contribuiriam decisivamente para travar o êxodo demográfico e relançar o desenvolvimento económico. Mas, como parece ser cada vez mais evidente, não basta construir estradas, redes de saneamento básico, parques industriais, escolas, piscinas, etc., para suster ou até inverter as dinâmicas demográficas. Os investimentos infraestruturais, embora necessários, não só não melhoram direta e mecanicamente a competitividade territorial, como não conseguem só por si criar as condições indispensáveis à promoção de um qualquer processo de desenvolvimento. O nó górdio é o mesmo de sempre: a falta de dinamismo económico que gere riqueza e emprego que assegure a vida satisfatória a que todos aspiram e à procura da qual muitos decidem abandonar as suas terras em busca de oportunidades no litoral urbano ou no estrangeiro. Nas últimas décadas, as oportunidades de emprego, escassas mas mesmo assim determinantes, foram geradas pela administração pública e pelas atividades do setor terciário, da economia social ou ainda a construção civil. Na grande maioria dos municípios os poucos empregos qualificados existentes dependem, quase exclusivamente, da câmara e serviços municipais, das escolas, dos hospitais e centros de saúde, dos tribunais e conservatórias, das repartições de finanças ou das delegações dos serviços da administração periférica do Estado. Mas, visivelmente, o setor público não só não vai gerar mais emprego no curto e médio-prazo como tenderá a reduzir a oferta atual, fruto da racionalização do papel e das funções estatais ou ainda da redução significa ou da dispersão da procura em domínios como a educação e a saúde. Do mesmo modo, e pelo menos no curto-prazo, a queda do consumo provocará a diminuição do volume de emprego no comércio e serviços e, pelas mesmas razões, no setor da construção civil e obras públicas, induzindo um aumento generalizado das taxas de desemprego e dos fluxos emigratórios. Por tudo isto, a criação de emprego só poderá ocorrer nos setores produtivos e nas atividades económicas ligadas à valorização de recursos locais ou ao relançamento de iniciativas nas áreas tradicionais, como as indústrias extrativas, a agricultura, a vitivinicultura, a produção florestal, a indústria agroalimentar, ou em setores emergentes como o turismo (rural, patrimonial, termalismo, etc.), a economia social ou os serviços da base tecnológica de apoio às atividades produtivas e económicas. A fixação de população só será possível se os Territórios de Baixa Densidade forem capazes de gerar oportunidades de emprego economicamente produtivas e socialmente reconhecidas. Mas não tenhamos ilusões. Não é previsível, pelo menos a curto-prazo, uma inversão generalizada das dinâmicas regressivas, nomeadamente o declínio demográfico e o despovoamento das zonas rurais. Estes territórios continuarão a perder população e a despovoar-se nas próximas décadas. Mas é possível minimizar alguns dos impactos mais negativos das dinâmicas atuais, desde 18 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial que seja assegurada uma renovação parcial e geracional das estruturas demográficas e que sejam mantidos níveis mínimos de ocupação humana nos espaços rurais. O que pressupõe políticas e programas de desenvolvimento territorial persistentes, complexos e integradas e a redefinição das prioridades de intervenção, concentrando os esforços nos investimentos produtivos que valorizem os recursos locais, criando e fixando o valor e o emprego indispensáveis à coesão social e territorial. IV. REPENSAR AS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL Portugal necessita de um novo paradigma do desenvolvimento e de coesão territorial. Um paradigma que conceba as políticas necessárias à reversão do círculo vicioso das baixas densidades, através da geração de riqueza e de emprego baseados no aproveitamento, criação e fixação de valor a partir dos recursos endógenos, das competências e das capacidades territoriais. Um paradigma que não encare os Territórios de Baixa Densidade como um encargo para o País mas antes como uma oportunidade para o seu desenvolvimento. Estes territórios têm recursos próprios que são necessários e relevantes para o todo nacional e que podem e devem ser mais valorizados e capitalizados em favor de um processo de desenvolvimento sustentável: água, produtos minerais, paisagem, biodiversidade, energia, agricultura, floresta, recursos humanos, instituições de ensino superior, centros de investigação, capacidades empresariais, saberes e competências específicas etc. A valorização económica destes recursos reclama uma estratégia de desenvolvimento que estimule uma maior interação da economia com o território, o reforço da atratividade e da competitividade territorial e urbana, a promoção da capacidade de iniciativa e de empreendimento, o incentivo à criatividade e à inovação (social, tecnológica ou organizacional), a garantia de limiares mínimos de equidade e coesão social e territorial e a melhoria dos níveis de eficiência coletiva, através da densificação das redes de cooperação institucional, empresarial, social ou cultural e da qualificação dos dispositivos e do reforço da governança territorial. Uma nova visão da coesão territorial que privilegie a redução das assimetrias pela via da criação de riqueza e valor em cada território, em detrimento da função eminentemente corretora e redistribuidora do Estado, pressupõe uma nova estratégia de desenvolvimento dos Territórios de Baixa Densidade. O que está em causa é a integração destes territórios nas dinâmicas e nos processos de desenvolvimento económico nacional, garantindo a sua mobilização para um crescimento mais verde, mais inteligente, mais sustentável e mais inclusivo que o PSD e o Governo querem para o País. O que pressupõe, em primeiro lugar, uma alteração profunda do quadro político-institucional em que as políticas de coesão territorial são concebidas e implementadas, promovendo uma nova geração de programas, ações e medidas, territorialmente mais integradas e menos dependentes das lógicas setoriais, centradas 19 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial nos impactos e nos resultados socioeconómicos em detrimento dos meros formalismos administrativos e moduláveis segundo as exigências e as especificidades dos diferentes territórios e dos respetivos sistemas produtivos e económicos. Uma estratégia de desenvolvimento consequente deve estimular, em segundo lugar, um maior compromisso da economia com o território. Isto significa aumentar o peso das empresas e atividades locais na formação do valor final do produto regional. Os agentes e as empresas têm de conquistar espaço nas fileiras produtivas, transformando recursos e oportunidades em negócios, valorizando os conhecimentos e os saber-fazer tradicionais e desenvolvendo novas competências e atividades. E explorando as sinergias e complementaridades dos setores tradicionais com outras atividades, ou valorizando comercialmente os recursos e as “amenidades” territoriais e explorando eficazmente as vantagens competitivas e as dinâmicas de mercado. O compromisso da economia com o território não se pode traduzir em qualquer forma de autarcia ou isolamento. Ao contrário, as empresas e os agentes económicos devem reforçar a sua inserção nas dinâmicas competitivas globais. O que está em causa é colocar saberes e experiências acumuladas ao serviço da competitividade territorial, combinando as competências locais com a capacidade empresarial de organizar os meios de produção para valorizar recursos endógenos e conquistar novos mercados. O desenvolvimento económico terá de se apoiar nos mercados externos, o que implica uma capacidade redobrada para produzir e, sobretudo, vender produtos e serviços “transacionáveis” e “exportáveis” de maior valor acrescentado. A estratégia de desenvolvimento territorial deve visar, em terceiro lugar, o reforço da dimensão e da competitividade urbana. As cidades e as vilas são um dos motores do desenvolvimento. Por múltiplas razões: acolhem novas funções ou novos residentes; estimulam a inovação económica e social; facilitam o surgimento de novas iniciativas empresariais; asseguram equipamentos e serviços; sustentam atividades lúdicas e culturais; facilitam o intercâmbio de informação; garantem economias de aglomeração e dimensão crítica. Por todas estas razões, o futuro dos territórios de baixa densidade joga-se nas suas cidades e vilas. O estancar da hemorragia demográfica depende, em grande medida, da capacidade dos seus centros urbanos para potenciar recursos e oportunidades, gerar iniciativas e atividades, atrair e fixar população. A aposta nas vilas e cidades do Interior deve privilegiar não só a melhoria, necessária mas insuficiente, do quadro residencial mas também o reforço dos fatores de competitividade urbana. Para isso torna-se necessário fomentar a massa crítica das sedes de concelho, fortalecendo o seu papel na organização do território e alargando as suas áreas de influência, consolidando vocações e especializações, criando polos de atração e de irradiação diferenciados, concentrando e requalificando funções urbanas, pondo serviços sobre as infraestruturas e os equipamentos. Mas o reforço da competitividade passa ainda pela criação e dinamização de redes coerentes de centros 20 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial urbanos, explorando complementaridades, especializações e sinergias que permitam viabilizar e tornar sustentáveis serviços, funções, iniciativas e investimentos. Em quarto lugar, as estratégias de desenvolvimento devem contribuir para transformar os Territórios de Baixa Densidade em espaços mais empreendedores, criativos e inovadores, garantindo uma especialização inteligente dos seus sistemas produtivos e das suas economias. A promoção do espírito empresarial e o apoio ao lançamento de novos projetos são fundamentais para valorizar recursos e transformar oportunidades em negócios rentáveis. Os desafios são inúmeros e exigem intervenções consequentes na intensificação das relações dos jovens com as empresas, estimulando a apetência pelo trabalho independente e a obtenção de qualificações específicas, no acesso à informação sobre oportunidades e mercados, na formação profissional, dando capacidades e saber-fazer para a criação de novos negócios, no suporte a projetos de risco mais elevado ou ainda na instalação de centros de racionalidade para a promoção de novas iniciativas, empresas e negócios. A inovação e a criatividade são também indispensáveis ao desenvolvimento do Interior. O crescimento económico não pode continuar a depender indefinidamente da reprodução de modelos alheios, da imitação de processos rotineiros ou de impulsos empresariais exógenos. Estes territórios têm que criar e inovar nos produtos, nos processos, nos fluxos, na comunicação, na gestão, no marketing e na comercialização. Para isso é necessário fomentar e aprofundar a cooperação das instituições de ensino superior com o tecido empresarial e os agentes socioeconómicos. Criando redes de captação e de difusão de informação, desenvolvendo projetos específicos de inovação produtiva, instalando centros tecnológicos e de transferência de tecnologia, etc. Alguns passos importantes já estão a ser dados nesse sentido. Mas é preciso ir mais longe. E é preciso garantir, sobretudo, que o processo de reordenamento da rede do ensino superior não só consolida a presença das universidades e dos institutos politécnicos nos territórios do Interior como também mantém e reforça a sua capacidade de participar e favorecer o desenvolvimento territorial. Em quinto lugar, as estratégias de desenvolvimento devem promover a igualdade de oportunidades no acesso a bens, funções e serviços coletivos, assegurando a indispensável equidade social e territorial. Os sucessivos programas de reforma do Estado têm ditado a reorganização das redes de equipamentos e de serviços e o encerramento e/ou a agregação de muitas unidades de serviço público na região: escolas primárias, urgências médicas e maternidades, tribunais, delegações e serviços periféricos da administração central, etc. A melhoria das acessibilidades e da mobilidade e a difusão das tecnologias de informação e comunicação servem de pretexto para justificar, a par da regressão demográfica, a racionalidade da concentração de equipamentos e serviços nos principais centros urbanos. Mas a ausência de uma rede eficiente de transportes públicos, os elevados níveis de iliteracia digital, próprios de uma população envelhecida e pouco instruída, e a perda de 21 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial emprego público qualificado não só comprometem a eficácia e a equidade destas medidas como aceleram o despovoamento e até o declínio social e económico de algumas sedes de concelho, em particular as mais periféricas A manutenção de níveis mínimos de ocupação dos territórios rurais é crucial e depende, para além do dinamismo económico e do mercado de trabalho, da garantia de dotação e provisão de equipamentos e serviços básicos e de proximidade. O maior desafio é, pois, o de continuar a garantir às populações rurais serviços públicos e privados, desde a creche e o apoio domiciliário a idosos até aos correios e à mercearia e ao café. O que pressupõe alterações profundas nos modelos de programação e gestão ou ainda a incorporação de soluções inovadoras e criativas mais eficazes e eficientes: unidades e serviços móveis, centros multisserviços, redes telemáticas, equipamentos plurifuncionais, etc. O sucesso do combate ao esvaziamento demográfico e ao despovoamento rural está diretamente associado à capacidade que o Estado central e os municípios demonstrem na conceção e implementação destes novos modelos e soluções e que são essenciais para que o Interior possa vir a ser um território mais equitativo, sustentável e competitivo. Em Portugal a prestação de serviços públicos tende a ser muito centralizada, constatando-se que o Estado tem exercido em muitos casos as competências a uma distância excessiva dos cidadãos, com impacto particularmente evidente nos territórios de baixa densidade. Ao invés do que tem acontecido na Europa, na última década regista-se uma reduzida transferência de competências para a administração local, com a agravante de não terem sido totalmente concretizados. Esta realidade traduz-se numa ineficiência dos serviços prestados aos utentes, atendendo à complexidade das estruturas da administração central existentes, à degradação e perda de informação ao longo da cadeia de gestão dos serviços. Em consequência, os processos de decisão tornam-se morosos, dispendiosos e inviabilizando decisões expeditas e otimizações ao nível local face à especificidades dos territórios. Finalmente, um dos maiores desafios que os Territórios de Baixa Densidade têm pela frente é o de combater o minifúndio e a fragmentação institucional. O que significa, noutros termos, reconstruir as redes de cooperação e a governança territorial. O desenvolvimento de um território depende, mais do que nunca, da densidade das relações e da qualidade das redes de atores, dos quadros coletivos de ação, da robustez dos projetos e da capacidade de antecipação do futuro. Ou seja, o sucesso de um território apoia-se no trinómio "competências, projetos, redes", quer dizer na mobilização dos atores qualificados, na construção de uma visão estratégica partilhada e na criação e dinamização de redes de empresas, de informação, de competências, de instituições. A capacidade de organização e o conhecimento, bem como a qualidade das instituições, são hoje tão importantes para o crescimento económico quanto a dotação de infraestruturas e equipamentos, os recursos físicos disponíveis ou até a localização geográfica. Mais do que os custos da distância ou o acréscimo das 22 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial externalidades positivas, o fator decisivo no desenvolvimento de um território é a densificação das relações institucionais, económicas, sociais e culturais. O que pressupõe, para os Territórios de Baixas Densidades, um esforço acrescido de organização, articulação e coordenação das instituições e dos atores em torno dos projetos coerentes e consequentes de desenvolvimento territorial. V. UMA AGENDA PARA OS TERRITÓRIOS DE BAIXA DENSIDADE Uma nova visão e um novo paradigma da coesão territorial reclamam, como condição prévia e indispensável, a elaboração de uma agenda (nacional) para os Territórios de Baixa Densidade. Uma agenda capaz de corporizar uma nova estratégia de desenvolvimento e de a traduzir em programas, medidas e ações concretas. Em termos operacionais, as propostas e recomendações deverão ser agrupadas em torno de sete pilares fundamentais: um novo quadro político-institucional para a coordenação e a governança territorial; uma nova geração de políticas públicas territoriais; um maior compromisso da economia com o território; o reforço da competitividade e da atratividade territorial; a construção de um novo paradigma para a valorização do capital humano; reforço de um novo paradigma de intervenção em matéria de segurança e proteção social; a criação de condições que assegurem a igualdade de oportunidades no acesso a bens e serviços públicos fundamentais. A. A implementação de uma estratégia coerente e consequente de desenvolvimento territorial pressupõe uma alteração substantiva do quadro político-institucional para a concertação e governança territorial, garantindo e promovendo a articulação e a integração, territorial e setorial, dos vários instrumentos de política e assegurando uma maior coordenação dos atores e das suas intervenções. Esta alteração deve favorecer uma abordagem territorial multinível, com susbidiariedade e coerência territorial, desenhada em torno de país, regiões (NUTS II), subregiões (NUTS III), concelhos e freguesias. E garantir, tanto quanto possível, a adoção de um único mapa multiescala para todas as políticas públicas, garantindo uma territorialização coerente e funcional das políticas e das redes de serviços públicos. Neste domínio o Governo concebeu e implementou já um conjunto de reformas ou medidas que merecem um destaque especial, nomeadamente: 1. A reorganização administrativa territorial autárquica que teve como principais objetivos: a promoção da coesão territorial e do desenvolvimento local; o alargamento das atribuições e competências das freguesias e dos correspondentes recursos; o aprofundamento da capacidade de intervenção da junta de freguesia; 23 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial a melhoria e desenvolvimento dos serviços públicos de proximidade prestados pelas freguesias às populações; a promoção de ganhos de escala, de eficiência e da massa crítica nas autarquias locais; a reestruturação, por agregação, de um número significativo de freguesias em todo o território nacional; 2. A criação da Equipa para os Assuntos do Território (EAT), através da Resolução de Conselho de Ministros nº 38/2012, de 27 de Março, com a missão de elaborar, com base numa visão global e integrada das redes públicas, uma proposta de grelha de distribuição espacial articulada que favoreça a racionalização administrativa e os princípios de valorização e coesão do território, e potencie uma melhor e mais racional oferta de serviços públicos, analisando e identificando igualmente competências eventualmente sobrepostas e passíveis de descentralização do Estado Central para a Administração Local; 3. A criação do Conselho de Concertação Territorial, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 16/2014, de 5 de Março, um órgão político de promoção da consulta e de concertação entre o Governo e as diferentes entidades políticas infraestaduais, no plano regional e local, e que visa promover uma melhor articulação das políticas públicas e um aprofundamento da coesão territorial. Neste Conselho estão representados, para além dos membros do Governo, os representantes dos governos regionais dos Açores e da Madeira, da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE), os presidentes das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e dois presidentes das comunidades intermunicipais; Para além desta medidas, e tendo em vista a construção de um novo quadro institucional que favoreça a coordenação e a governança territorial, propõe-se: 4. Criação do Estatuto dos Territórios de Baixa Densidade, que traduza as suas especificidades estruturais e assim as qualifique e priorize no âmbito da definição das políticas públicas com incidência territorial, através, nomeadamente, da fixação de tipologias específicas de apoios e incentivos, e na conceção dos instrumentos e das estratégias de desenvolvimento territorial. A delimitação dos espaços territoriais a incluir nesta categoria deve ser feita com base em critérios quantificáveis e que traduzam a sua complexidade e as suas múltiplas dimensões: territoriais, demográficas, sociais e económicas. O Governo e o PSD, através, nomeadamente, dos seus eurodeputados, devem sensibilizar a União Europeia para que o conceito e o estatuto de território de baixa densidade sejam introduzidos nas suas políticas de desenvolvimento e coesão territorial. 5. Adotar um modelo de organização que garanta uma maior coordenação das funções e da ação governativa em matéria de Coesão Territorial, através, nomeadamente, de um órgão interministerial a quem caberá a definição das 24 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial estratégias de promoção de coesão territorial e a coordenação política e estratégica das políticas públicas com incidência territorial, combatendo a setorização das políticas e contribuindo para reforçar o caráter das ações, numa ótica de integração territorial das medidas setoriais. Este órgão deverá articular-se com Comissão Nacional do Território, uma estrutura a criar por iniciativa do MAOTE, a quem caberá a coordenação da política nacional de ordenamento do território, garantindo a definição e execução de opções públicas, promotoras da competitividade e impulsionadoras do bem-estar económico, social e ambiental, assumidas pelos serviços e organismos da Administração Pública. 6. Elaboração e implementação do Programa Nacional para a Coesão Territorial (PNCT), conforme a Resolução da Assembleia da Republica 129/2011, subscrita pelos Deputados do PSD, bem como a elaboração de relatórios de monotorização e avaliação periódica da coesão territorial do País. Tendo em vista o âmbito e os objetivos deste programa, a sua elaboração deverá incorporar as estratégias de especialização inteligente nacional e regionais definidas no quadro do Portugal 2020 e as suas opções estratégicas deverão ser vertidas no programa de ação do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), atualmente em revisão. Do mesmo modo, a avaliação da coesão territorial poderá ser assegurada no quadro da avaliação do PNPOT; 7. Implementação do Programa de Desconcentração Administrativa, tendo em vista o reforço das atribuições e competências das estruturas periféricas e setoriais da administração pública central, e em particular da sua capacidade de articulação e coordenação das políticas públicas territoriais. Esta transferência deverá privilegiar preferencialmente as estruturas com intervenção territorial ao nível das NUT II e contribuir para uma melhoria significativa da eficácia e eficiência da administração pública. Ainda neste domínio, propõe-se a criação de uma experiência piloto na região do Algarve e que permita testar não só a eficácia das reformas e medidas de desconcentração administrativa mas também a monitorização dos impactos sociais e económicos e dos custos financeiros. 8. Aposta na consolidação do associativismo municipal e nas Comunidades Intermunicipais (CIM), contribuindo para o reforço das suas atribuições e competências, criando condições para a sua capacitação e dos seus recursos humanos, de modo a que possam receber novas competências oriundas do Estado Central e dos Municípios, promovendo a eficiência da gestão pública com o intuito de melhorar a qualidade dos serviços e de gerar economias de escala no seu funcionamento, potenciando, assim, a reforma do atual governo e que conduziu a uma nova matriz da divisão territorial (NUT III) mais coerente e funcional; 9. Alargar e aprofundar o programa de Descentralização administrativa de competências do Estado Central para a Administração Local. Portugal contínua a ser um país onde o funcionamento da administração pública e a prestação de 25 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial serviços públicos é das mais centralizadas da Europa, quer quanto à distribuição de competências, quer quanto à repartição de recursos. A descentralização aproxima as decisões dos problemas, permitindo muitas vezes melhor eficiência e qualidade na gestão pública. O centralismo faz perder e degradar a informação ao longo da cadeia de gestão e inviabiliza a otimização quando as preferências locais são muito diversas. O Governo deve aprofundar significativamente a transferência de competências para os Municípios e Entidades Intermunicipais, seja por via legal ou contratual, em alguns casos através de projetos piloto. A descentralização deve ser concretizada em vários sectores com potenciais ganhos na qualidade ou na eficiência do serviço prestado, designadamente: i) na Educação ao nível da gestão curricular, pedagógica, dos recursos humanos, financeiros e de equipamentos e infraestruturas no ensino básico e secundário; ii) na Saúde nos cuidados de saúde primários e prevenção; iii) na Segurança Social ao nível dos cuidados continuados e integrados e proteção social de crianças e jovens, bem como na tarefa de identificação e acompanhamento em ação social; iv) no âmbito dos Transportes Públicos, na regulação quer dos sistemas metropolitanos, quer dos sistemas vocacionadas para os territórios de baixa densidade como o transporte a pedido; v) na Segurança Rodoviária, melhorando a repartição de competência na manutenção de infraestruturas; vi) no Ambiente na gestão da orla costeira e na manutenção e reabilitação da rede hidrográfica dentro de perímetros urbanos; vii) na Cultura no âmbito da atribuição de apoios a atividades culturais e na gestão de equipamentos culturais de caráter local; viii) na Proteção Civil no âmbito da construção, manutenção e gestão de instalações. Cada processo de descentralização deve ser acompanhado do respetivo “envelope financeiro”, transferindo-se para o município ou entidade intermunicipal os recursos necessários e suficientes à execução das competências, num quadro de identificação detalhada e transparente das atividades e responsabilidades descentralizadas e com um efetivo acompanhamento de proximidade da respetiva execução. Os processos de descentralização devem igualmente possibilitar que quando sejam obtidas poupanças associadas ao cumprimento dos objetivos estabelecidos, estas possam ser partilhadas através da atribuição de prémios de eficiência com a entidade responsável pelo exercício da competência para que esta possa investir ma melhoria da qualidade do serviço prestado. A descentralização contribuirá para aumentar a responsabilização política, aproximando a decisão dos cidadãos, melhorando a qualidade dos serviços prestados às populações e racionalizando os recursos disponíveis. B. Uma nova visão da coesão territorial pressupõe também uma nova geração de políticas públicas territoriais, capazes de incorporar uma estratégia de desenvolvimento consequente, que gere e fixe bem-estar, riqueza e emprego no 26 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial Interior do País, e de traduzir as ações e medidas necessárias à concretização desse objetivo. Sendo a generalidade destas políticas desenhadas no âmbito da estratégia Portugal 2020, e dos respetivos programas regionais e temáticos, o Governo aprovou já um modelo de governação coerente e equilibrado, sendo necessário garantir, relativamente à sua aplicação, os seguintes aspetos: 10. Conceber um modelo de governação do Portugal 2020 que garanta o reforço significativo da descentralização e desconcentração na gestão dos instrumentos de política, incluindo os sistemas de incentivos regionais, uma articulação multinível e uma concertação interinstitucional, uma participação efetiva dos atores territoriais públicos e associativos pertinentes (CIM, organismos da administração central, associações empresariais, instituições de ensino superior, centros tecnológicos e de I&D, terceiro setor) nas unidades de gestão dos Programas Operacionais Regionais e Temáticos; O caso particular do Algarve, por se tratar de uma NUT II e NUT III coincidentes, deve merecer um modelo de gestão diferenciador, que envolva as autarquias locais, a Universidade, as Associações Empresariais e os principais serviços desconcentrados do Estado 11. Garantir uma repartição transparente e justa das verbas disponíveis à luz dos objetivos de convergência que regem a atribuição dos fundos estruturais e de coesão, não só no âmbito dos programas regionais, através duma alocação equilibrada aos diferentes subprogramas e subespaços territoriais, garantindo condições de acesso relativamente equitativas para os diferentes municípios, seja qual for a sua dimensão territorial, demográfica ou económica, mas também no âmbito dos programas temáticos, promovendo as sinergias e as complementaridades entre setores e regiões mas evitando equívocos ou conflitos em temas como os “spillover” ou os projetos (pretensamente) multi-regionais; 12. Definir um modelo de intervenção que privilegie os processos de contratualização de programas de ação de desenvolvimento territorial suportados em parcerias institucionais alargadas, envolvendo a participação, simultânea, do poder local, do sistema científico e tecnológico e do setor empresarial, evitando a proliferação de instrumentos, a dispersão temática e a sobreposição potencial de diversos enquadramentos em matéria de elegibilidade de ações e projetos ou ainda de fontes de financiamento; 13. Agilizar procedimentos e desburocratizar o acesso aos apoios nacionais e comunitários, centrando a avaliação das candidaturas no mérito dos projetos e valorizando os resultados alcançados em detrimento do cumprimento dos formalismos burocráticos e introduzindo práticas de verificação e controle de requisitos e procedimentos durante e após a execução dos respetivos projetos. 27 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial C. Os Territórios de Baixa Densidade têm de privilegiar estratégias de desenvolvimento regional que estimulem um maior compromisso da economia com o território. Um compromisso que visa a criação e fixação de riqueza e emprego e que reclama apostas firmes no reforço da atratividade e competitividade territorial rural e urbana, na valorização económica dos recursos endógenos, incluindo a geração e manutenção de bem-estar, na promoção da capacidade de iniciativa e de empreendimento e no incentivo à criatividade e à inovação. O que pressupõe que estes territórios não podem ficar arredados das estratégias nacionais de fomento industrial para o crescimento e o emprego e a qual visa a revitalização do tecido empresarial, a qualificação dos recursos humanos, a promoção do investimento, a internacionalização, a inovação, o empreendedorismo e o I&D. Ou ainda da estratégia para o crescimento verde, de desenvolvimento rural ou do turismo. A criação e fixação de valor nos Territórios de Baixa Densidade passam também por uma transformação e modernização profunda das atividades transformadoras, em particular nos domínios da indústria extrativa, agroalimentar e agroflorestal. Neste domínio o Governo desenvolveu e, nalguns casos, começou já a implementar um conjunto alargado de programas e medidas, nomeadamente: 14. O Programa VALORIZAR - Criar Valor com o Território, um programa de valorização económica de territórios, centrado na geração de riqueza e emprego e tendo por objetivo potenciar as oportunidades de inovação proporcionadas pelos recursos culturais, patrimoniais, simbólicos, turísticos, rurais, agroalimentares e ambientais dos territórios, promover o empreendedorismo, industrialização, negócio ou autoemprego numa lógica de crescimento, sustentabilidade e coesão. Contempla, entre outros, o apoio a microempresas de base local, a criação de redes territoriais de parcerias de desenvolvimento económico ou a definição de Estratégias territoriais para o ciclo de financiamento comunitário 2014-2020. 15. O Relançamento do PRODER (programa desenvolvimento rural 2007-2013) e do PRRN (Programa da Rede Rural Nacional), ambos em fase de conclusão, que incentivaram o investimento na área da agricultura e do desenvolvimento rural, promovendo a sustentabilidade dos espaços rurais e dos recursos naturais, através de fundos comunitários e nacionais. Estes programas têm objetivos transversais como o reforço da coesão territorial e social ou da eficácia da intervenção dos agentes públicos, privados e associativos na gestão sectorial e territorial. 16. Consolidação e aprofundamento do PROVERE – Estratégias de Eficiência Coletiva no sentido de fomentar, de modo sustentável, a competitividade dos territórios de baixa densidade, através da dinamização de atividades económicas (produtoras de bens e serviços transacionáveis) inovadoras e alicerçadas na valorização de recursos endógenos, tendencialmente inimitáveis do território, como sejam 28 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial recursos naturais, património histórico, saberes tradicionais ou outros. Este programa apoia a construção de parcerias de natureza institucional que envolvem, obrigatoriamente, empresas, mas também organismos da Administração Pública, como as Câmaras Municipais, associações empresariais e de desenvolvimento local e regional, instituições de investigação e de transferência de tecnologia, entre outros, e baseiam-se no pressuposto de que a fragilidade institucional dos territórios de baixa densidade pode ser ultrapassada por uma lógica de rede devidamente organizada e estruturada; 17. Criação da marca Natural.PT que visa a valorização das Áreas Protegidas e Classificadas e impulsionar a sua economia. A marca Natural.PT é uma marca nacional que pretende promover a valorização sustentada dos recursos, produtos e serviços locais e a afirmação destes territórios como destinos de excelência aliada aos princípios de conservação da natureza e está associada a diversos serviços e produtos – agroalimentares, artesanato, alojamento turístico, gastronomia, animação, etc. - que a corporizam e a tornam comercializável; 18. O Compromisso para o Crescimento Verde, que visa contribuir para o desenvolvimento sustentável numa lógica de criação de valor assente no binómio economia-ambiente, valorizando, entre outros, os recursos naturais, a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas dos territórios de baixa densidade. Dos 10 pilares considerados, quatro têm uma correlação direta com as condições e os recursos destes territórios: agricultura e florestas; biodiversidade e serviços de ecossistemas; cidades e território; e turismo. O enquadramento na estratégia de crescimento verde é, pois, uma prioridade para estes territórios que vêm, assim, reconhecida a importância estratégica dos seus recursos e a valia económica dos serviços ambientais e ecológicos que prestam ao País. Para além desta medidas, e com o objetivo de assegurar uma maior interação das economias locais com os territórios e os seus recursos, propõe-se: 19. Garantir que o Programa de Desenvolvimento Rural 2020 contribui eficazmente para a geração e fixação de valor-acrescentado nas principais fileiras produtivas territoriais (agroalimentares e agroflorestais), através da integração e progressão dos agentes e das empresas locais nas cadeias de valor e do reforço do peso das atividades produtivas na formação do valor final do produto regional. Esta integração deverá assentar nos eixos da inovação e conhecimento e da competitividade e organização da produção O PDR 2020 deve promover, entre outros: o ganho de escala e de dimensão crítica através da promoção e concentração das produções, da cooperação e partilha de espaços pós produção, com recurso aos apoios comunitários e locais (municipais e intermunicipais); a redução dos custos de produção de produção e a manutenção dos padrões de 29 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial qualidade, através da revisão das normas e dos procedimentos ao nível da certificação de empresas e modos de produção; a regulação do mercado no sentido de assegurar maior equilíbrio negocial entre produtores e distribuidores; a criação de mecanismos nacionais que assegurem a longevidade dos investimentos comunitários ao nível do desenvolvimento rural; 20. Promover um maior desenvolvimento ao nível da exploração e valorização das indústrias extrativas e transformadoras, transformando recursos e oportunidades em negócios, valorizando os conhecimentos e os saber-fazer tradicionais e desenvolvendo novas competências e atividades. Nesse sentido importa enquadrar e integrar as atividades produtivas destes territórios na Estratégia de Fomento Industrial para o crescimento e o emprego 2014-2020, que visa um crescimento sustentável da economia assente no aumento das exportações, na captação de investimento, na estabilização do consumo privado e na qualificação do capital humano. Esta estratégia não tem, até agora, medidas específicas para os Territórios de Baixa Densidade, mesmo se considera como estratégicos clusters como a Indústria de Base Florestal ou a Extração Geológica e Mineira, que exploram recursos naturais destes territórios; 21. Reorientar os modelos de concessão da exploração dos recursos energéticos e minerais no sentido de garantir um retorno justo e equilibrado das mais-valias geradas em favor dos territórios que os geram e os providenciam ao país. Esta reorientação está já contemplada, pelo menos em parte, no compromisso para o crescimento verde e pressupõe uma alteração substancial do regime fiscal aplicável, nomeadamente em termos de derrama ou ainda das contrapartidas efetivas para o desenvolvimento dos territórios onde são explorados os recursos em questão. O problema é particularmente candente no caso das barragens e dos centros de produção hidroelétricos cujas empresas têm a sede fiscal fora da região e não estão abrangidas por qualquer tipo de compromisso com o desenvolvimento regional. Mas colocar-se-á seguramente, se nada for feito entretanto, com as novas unidades geológicas e mineiras; 22. Desenvolver e aprofundar uma estratégia de especialização inteligente para os Territórios de Baixa Densidade que tenha em conta os recursos e as competências destes territórios. Estas estratégias deverão contribuir para o reforço do papel das instituições de ensino superior do Interior e aprofundar a sua ligação ao tecido empresarial local. Através da promoção da investigação de qualidade e socialmente útil, da inovação e do empreendedorismo que permita a valorização (produtiva, industrial e comercial) dos recursos tecnológicos já existentes e das “amenidades” territoriais, através, nomeadamente, da celebração de contratos-programa específicos de desenvolvimento regional que levem em conta o imperativo da “Stairway to Excellence” da Estratégia 2020, valorizando os ativos territoriais e dinamizando o investimento e o emprego. 30 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial 23. Conceber e implementar uma estratégia de desenvolvimento turístico para os Territórios de Baixa Densidade articulada com outras estratégias já desenvolvidas, designadamente a marca Natural.PT e assente nos produtos turismo de natureza, circuitos culturais e gastronomia e vinhos, que potencia os recursos e os valores destes territórios numa estratégia de abertura e internacionalização crescente. A articulação da oferta e da atratividade turística com as atividades produtivas locais é uma condição fundamental para o seu impacto social e económico e a sua própria sustentabilidade a médio e longo prazo. Esta estratégia deve ainda ser articulada com as políticas ativas que o governo do PSD desenvolveu para o setor do turismo, e cujos resultados são indiscutivelmente positivos, potenciando complementaridades e sinergias com os produtos mais tradicionais como o turismo “sol e praia” ou com os produtos emergentes como o turismo de “saúde” ou o turismo “patrimonial e cultural”; 24. Conceber e desenvolver uma estratégia de desenvolvimento da economia da cultura dos Territórios de Baixa Densidade que crie e fixe valor e emprego nas economias locais, a partir da valorização do património - construído, móvel, imaterial e paisagístico-, assim como da produção cultural local (artística e artesanal) ou ainda das redes, físicas e virtuais. Esta estratégia deve contribuir para potenciar a cultura como fator gerador de identidade, de diferenciação e inovação territorial e de atração de um capital humano qualificado e cosmopolita. 25. Aprovar e implementar o novo modelo de cadastro para o país, bem como a criação de um Número Único de Identificação do Prédio (NIP), permitindo a articulação entre o registo predial, a matriz predial e a georreferenciação. Estas medidas contribuirão para resolver um velho problema e colmatar uma enorme lacuna, uma vez que apenas existe cadastro predial de cerca de 50% da área total do território nacional e de 17% dos prédios rústicos nacionais. O conhecimento rigoroso da estrutura fundiária é uma condição indispensável para uma gestão eficaz das áreas rurais, nomeadamente dos territórios de baixa densidade. D. O reforço da atratividade e da competitividade destes territórios, indispensável a um processo de desenvolvimento consistente e duradouro, pressupõe a minimização dos custos de contexto e das externalidades negativas com que os mesmos se confrontam em matéria de acessibilidade, transportes, infraestruturas, serviços, mercados, etc. No sentido de assegurar níveis adequados de equidade territorial, o Governo tem concebido e implementado diversas medidas e ações, nomeadamente: 26. Em matéria de infraestruturas de transportes importa sublinhar a aposta na capilaridade dos investimentos e dos serviços ferroviários, optando-se pela modernização das linhas ferroviárias existentes, propiciando um investimento em corredores transversais que atravessam o pais, ao invés de investir em linhas de 31 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial alta-velocidade que atravessariam o pais, ligando o litoral a Espanha, sem qualquer impacto positivo para o interior. Assim, o Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas PETI3+ e o Relatório do GT para as Infraestruturas de Elevado Valor Acrescentado concretizam a aposta na ferrovia, valorizando o transporte de passageiros e mercadorias, e na modernização da rede do interior do país. Em particular estão previstos investimentos na linha do Douro até ao Pocinho ou na conclusão, finalmente, da linha da Beira-Baixa, ligando Castelo Branco à Guarda, para alem da modernização da linha da Beira Alta, que visa aumentar a capacidade da linha para o transporte de mercadorias e consequentemente a competitividade dos nossos exportadores; 27. No âmbito da mobilidade e dos transportes terrestres, o governo procedeu a uma alteração profunda da arquitetura institucional dos transportes públicos, que permitirá transferir as competências na definição das obrigações de serviço público de transporte de passageiros para os municípios e, destes, querendo, para as Comunidades Intermunicipais, conseguindo-se assim obter ganhos de escala e capacidade negocial junto dos operadores e, ao mesmo tempo, garantir uma estabilidade contratual que favorecerá e viabilizará o investimento na qualidade do serviço prestado às populações; 28. Desenvolvimento de um serviço de transporte aéreo de passageiros nas regiões do Interior, com a entrada em funcionamento prevista para os primeiros meses de 2015, de uma ligação aérea que servirá as regiões de Bragança, Vila Real, Viseu, Lisboa e Algarve, contribuindo, assim, para aproximar ainda mais os portugueses em todo o seu território e criar condições para uma melhoria efetiva da atratividade e da competitividade destes territórios; 29. O Programa Portugal Porta-a-Porta alargará o transporte público a todos os portugueses, através de uma oferta de serviços complementares de transporte público flexível e a “pedido”, para o qual contribuirão, em rede, para além dos operadores de transportes privados, os táxis, os bombeiros e as instituições sociais, garantindo a utilização eficiente dos meios disponíveis no território; 30. No setor da Comunicações, procedeu-se ao reforço da regulação e a redefinição do serviço universal telefónico e do serviço universal postal, estabelecendo objetivos claros sobre obrigações de cobertura e de serviço às populações, em qualquer parte do país. A proteção da rede de atendimento e dos serviços postais é garantida pelo regulador, não podendo os CTT, empresa privada, fazer qualquer tipo de alteração ou reorganização de a correspondente autorização, 31. Aprovação do Código Fiscal do Investimento que reforça os diversos regimes de benefícios fiscais ao investimento, em particular no que se refere a investimentos que proporcionem a criação ou manutenção de postos de trabalho e se localizem em regiões menos favorecidas, discriminando-se positivamente os territórios de 32 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial baixa densidade. Este Código contempla ainda a subida do limite máximo do crédito de imposto em sede de IRC, sendo aumentadas as majorações previstas para investimentos realizados em regiões com um poder de compra per capita significativamente inferior à média nacional, que proporcionem a criação ou a manutenção de postos de trabalho ou que contribuam para a inovação tecnológica ou para a proteção do ambiente. 32. Integrada num contexto mais vasto do Crescimento Verde, a Reforma para a Fiscalidade Verde, atualmente em fase de análise e decisão pelo Governo, inclui como objetivos de princípio, proporcionar incentivos à eficiência na utilização dos recursos, contribuir para a rentabilização e preservação do capital natural, e promover uma utilização justa e sustentável do solo, do território e do espaço urbano, num contexto de neutralidade fiscal, de competitividade económica e de geração de emprego, com impacto positivo para territórios de baixa densidade; 33. O Programa +Superior, um sistema de bolsas para apoiar os estudantes originários do litoral e que estudam em instituições sediadas em regiões do Interior. Visa promover a coesão territorial pela atração de população jovem para regiões em perda demográfica; reforçar a contribuição de todas as universidades e institutos politécnicos para o desenvolvimento regional; incentivar a fixação de futuros diplomados nas regiões mais desfavorecidas do país; Para além desta medidas, e tendo em vista o reforço da atratividade e da competitividade territorial, propõe-se ainda: 34. Garantir que, no âmbito do processo de reordenamento da rede de ensino superior público, a sustentabilidade das instituições e a adequação da oferta educativa e da cobertura territorial às suas funções enquanto polos de desenvolvimento e fatores de competitividade territorial; 35. Assegurar a conservação e a modernização das redes nacionais e regionais de infraestruturas de transporte, ferroviárias e rodoviárias, através, nomeadamente do Plano de Proximidade das Estradas de Portugal, bem como o direito à mobilidade das populações dos Territórios de Baixa Densidade, através do financiamento da exploração das redes de transportes públicos, em particular nos centros urbanos de maior dimensão; 36. Implementar medidas de diferenciação fiscal positiva para os Territórios de Baixa Densidade orientadas para o apoio e o incentivo das atividades e das empresas que promovam a valorização produtiva e comercial dos recursos locais, reforçando a sua importância ao nível da criação de emprego e da fixação da população; 37. Conceber e implementar, no âmbito da AICEP, um programa específico de atração de investimentos e de projetos empresariais, incluindo a criação de um VISA 33 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial GOLD para investimentos produtivos no Interior, orientados para a exploração e a transformação de recursos, produtos e bens transacionáveis de elevado potencial, e promover o Estatuto de residente não habitual como forma de atrair novos residentes para estes territórios; 38. Conceber e implementar medidas de minimização das assimetrias territoriais na cobertura de infraestruturas e redes de serviços públicos em domínios como o gás natural, as comunicações móveis, a banda larga, a TDT, etc.. Garantir a solidariedade nacional na provisão de bens públicos fundamentais e uma equidade efetiva em matéria de preços e tarifas em bens e serviços públicos essenciais e em particular da água. E – A construção de um novo paradigma para a valorização do capital humano dos Territórios de Baixa Densidade, apostando não só na formação dos recursos humanos e na sua qualificação profissional mas atuando, também, ao nível do mercado de trabalho, promovendo a criação de oportunidades de emprego em atividades relacionadas com os setores tradicionais ou emergentes. Para desenvolver este pilar de intervenção propõe-se um conjunto de iniciativas, nomeadamente: 39. Criação de um mecanismo de apoio ao emprego para atividades de elevada sazonalidade, através do lançamento de um programa de ocupação de empregados em formação para os setores de elevada sazonalidade como a agricultura e o turismo. Um programa que fosse utilizado pelas empresas para que os seus trabalhadores frequentassem a formação em períodos de baixa atividade e regressassem ao seu posto de trabalho nos momentos de maior atividade. Nos casos da mão-de-obra de baixa qualificação, os mesmos trabalhadores, poderiam alternar entre as empresas dos dois setores pois a sazonalidade complementa-se. 40. Criação de estruturas de apoio ao microempreendedorismo (inspiradas nas “Coeveuses” francesas, criadas em 1995), as quais poderiam permitir que um empreendedor possa testar uma atividade em contexto real, sem ter de constituir formalmente uma empresa. Estas estruturas podem ser enquadradas em associações de interesse público com vários parceiros, entre eles, os municípios, as associações empresariais locais e outros “stakeholders”, que se constituiriam no sentido de apoiar o início e a atividade da empresa durante um período inferior a 24 meses. Durante esse período o empreendedor só se preocupava com o “core” do negócio, sendo todos os ouros assuntos geridos pela “Couveuse”, nomeadamente, a articulação com a administração fiscal e com a segurança social que teriam regimes específicos para estas entidades. Desta forma os primeiros passos das novas empresas teriam uma proteção contra alguns percalços que muitas vezes condenam bons negócios. 34 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial 41. Lançamento de um programa de microcrédito e microfisco para projetos em territórios de baixa densidade populacional. Apoio, através do microcrédito, a projetos nos setores produtivos e de suporte, como o comércio e os serviços, com um regime fiscal diferenciado pela interioridade seria um duplo mecanismo de criar oportunidades de emprego e de atração de pessoas para esses territórios. 42. Lançamento de um Programa de Formação Profissional nos setores predominantes nos territórios de baixa densidade, suportado em estruturas de formação profissional, permanentes ou temporárias, e apostando em áreas e domínios estratégicos, nomeadamente na transformação agroindustrial ou na valorização comercial de produtos e bens transacionáveis. F – O reforço de um novo paradigma de intervenção em matéria de segurança e proteção social nos Territórios de Baixa Densidade, minimizando as situações de risco e de exclusão social provocadas pelo forte envelhecimento da população que marca estes territórios. Este novo paradigma reclama a passagem de um Estado tutelar para um Estado mais parceiro, devendo ser sustentado, também nesta área, com uma relação descentralizadora e desburocratizada de competências para os agentes locais que, com maior eficácia e eficiência, podem responder às necessidades sociais emergentes. A importância da economia social, ou do terceiro sector como também é denominado, como motriz de criação de emprego e de riqueza, deve ser entendimento, de igual forma, como um fator de desenvolvimento, privilegiando o empreendedorismo e a inovação social na criação de novos agentes e de novas respostas sociais. Assim o Estado deve promover: 43. Uma reorganização administrativa nas áreas da Segurança Social e do Emprego, adequando a sua intervenção às novas realidades administrativas; 44. Efetivar a concretização da RLIS – Rede Local de Intervenção Social, prevista nas Grandes Opções do Plano, como um instrumento privilegiado de descentralização de competências, por parte da Administração Central, observando o consensual princípio da subsidiariedade, envolvendo nesse processo, quer as autarquias locais, quer as instituições do setor social e solidário; 45. Um novo modelo de intervenção no apoio social à população mais idosa, que valorize as respostas preventivas e reforce os mecanismos de desinstitucionalização, contribuindo assim para um apoio humanizado e de proximidade e mais adequado e ajustado às necessidades das pessoas. 46. O apoio e o estímulo ao empreendedorismo e inovação social, através dos instrumentos financeiros disponíveis no “Portugal 2020” e potenciando as dinâmicas das organizações da economia social e dos cidadãos, incentivando a formação de novos agentes sociais (ex: cooperativismo, mutualidades, empresas sociais, etc.). Assim será possível a criação de emprego e de riqueza, 35 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial reconhecendo as especificidades territoriais como janelas de oportunidades de combate ao despovoamento e à exclusão social. G. Para assegurar uma igualdade efetiva de oportunidades dos cidadãos no acesso a bens e serviços públicos fundamentais e garantir, simultaneamente, as possibilidades de desenvolvimento a todos os territórios, uma reorganização consequente das estruturas e dos serviços públicos, deverá respeitar, nos territórios de baixas densidades, os princípios da equidade e sustentabilidade. 47. A Estratégia de Reorganização dos Serviços de Atendimento da Administração Pública, aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 55-A/2014, de 15 de Setembro, que centra a sua atenção na melhoria das condições de acesso e na qualidade do serviço prestado, em detrimento duma lógica de pura racionalidade e eficiência económica ou da manutenção do serviço público em quaisquer condições de procura efetiva ou a qualquer custo. 48. A Criação da Plataforma Colaborativa de Estruturas, Equipamentos e Serviços de Utilização Coletiva GeoEquip, permitindo a gestão descentralizada de informação e georreferenciação dos serviços da Administração Pública, de molde a dotar o cidadão (público em geral), de informação pública relativa os equipamentos coletivos de utilidade pública e dotando a Administração Pública de uma ferramenta que possibilita o planeamento e a gestão dos seus equipamentos, em particular a sua adequada racionalização baseada em critérios quantitativos, como o tempo de acesso e/ou a população servida pelos mesmos. 49. A concretização da Estratégia de Reorganização dos Serviços de Atendimento da Administração Pública prevista no Programa Aproximar prosseguirá em 2015, através da criação de “Lojas do Cidadão” ou “Condomínios de Serviços” em todos os municípios do país. Além destas lojas, está prevista a continuação da instalação da “rede alargada” de Espaços do Cidadão em todo o território, nos quais os cidadãos podem utilizar, com apoio, os portais ‘online’ das várias entidades públicas. Ou ainda a operacionalização das “Unidade Móvel do Cidadão”, equipadas para prestar um conjunto de serviços públicos de várias entidades e que se deslocarão periodicamente a zonas de baixa densidade, complementada com a coordenação com o Programa Portugal Porta-a-Porta numa lógica de integração de rede física e rede de acessibilidades aos cidadãos. 50. Lançamento do Programa de Capacitação para formar decisores e executores de políticas públicas locais e o relançamento de uma nova edição dos Programas de Estágios Profissionais na Administração Pública Local (PEPAL), permitindo a jovens qualificados à procura do primeiro emprego e iniciar a sua experiência profissional na administração local, nomeadamente em municípios do Interior, nas áreas do desenvolvimento económico e da inclusão social. 36 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial Para além desta medidas, e tendo em vista a criação de uma efetiva igualdade de oportunidades no acesso a bens e serviços públicos, propõe-se ainda: 51. Definir claramente o nível de serviço universal comum que assegure a manutenção e uma cobertura adequada das principais funções sociais e de soberania do Estado em todo o território nacional à escala municipal; 52. Estabelecer limiares mínimos de acessibilidade para cada setor e nível de serviço, ancorados em critérios e indicadores quantificáveis e verificáveis, e adequar os modelos de organização às especificidades territoriais, garantindo que as decisões de encerramento de serviços são sempre avaliadas à luz das do princípio da equidade social e territorial; 53. Repensar os modelos de organização dos serviços desconcentrados da administração central e promover a redistribuição de funções e de competências (back-office) pelas estruturas periféricas, garantindo maior racionalidade na alocação de recursos e um maior equilíbrio territorial; 54. Promover soluções inovadoras, alternativas à oferta tradicional de serviços públicos, ao melhor custo, no quadro da solidariedade nacional (unidades e serviços móveis, centros multisserviços, redes telemáticas, equipamentos plurifuncionais, etc.), e que garantam a eficiência e a qualidade dos serviços e melhorem também a acessibilidade dos cidadãos. VI. A PORTA DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL ABRE POR DENTRO O Interior do País está confrontado com um conjunto de problemas que conformam o denominado círculo vicioso das baixas densidades territoriais. Se este círculo vicioso não for quebrado, esta parcela importante do território nacional corre o risco de vir a perder a massa crítica e a energia mínima que são necessárias a qualquer estratégia de desenvolvimento que vise mais largo do que uma qualquer forma de assistencialismo estatal. Para contrariar as dinâmicas regressivas e afastar do horizonte os cenários mais pessimistas, os Territórios de Baixa Densidade têm de enfrentar e vencer um desafio crucial: suster o declínio populacional. O que está em causa não é a reversão das perdas demográficas mas apenas o abrandamento dos seus ritmos de progressão e a minimização dos seus impactos territoriais, sociais e económicos. Nas próximas décadas, o Interior vai continuar a registar saldos naturais e, provavelmente, migratórios negativos, a deterioração dos índices de envelhecimento e de dependência jovem ou o ininterrupto despovoamento dos espaços rurais periféricos. Mas o País e estes territórios não podem deixar de centrar os seus esforços na tentativa de reter uma parte do seu potencial demográfico e, complementarmente, 37 Territórios de Baixa Densidade, Territórios d e de Elevado Potencial atrair e fixar população, sobretudo mais jovem e instruída. O que pressupõe alterações substantivas na estratégia de desenvolvimento, abandonando o primado dos investimentos infraestruturais e do emprego público em favor dos investimentos reprodutivos que dinamizem atividades produtoras de bens e serviços transacionáveis, criando e fixando mais-valias, empresas e empregos qualificados. Os Territórios de Baixa Densidade têm, pois, de privilegiar uma estratégia de desenvolvimento territorial que estimule a valorização económica dos recursos endógenos (capacidades empresariais, mão de obra qualificada, recursos financeiros, saberes e competências específicas) e uma maior interação da economia com o território. Esta estratégia reclama apostas firmes no reforço da atratividade territorial e da competitividade urbana, na promoção da capacidade de iniciativa e de empreendimento, no incentivo à criatividade e à inovação (social, tecnológica ou organizacional) e na garantia de limiares mínimos de equidade e coesão social e territorial. Ou ainda na melhoria dos níveis de eficiência coletiva, através da densificação das redes de cooperação institucional e empresarial e da qualificação dos dispositivos e das práticas de governança territorial. Estes territórios precisam de um esforço acrescido de organização, articulação e coordenação dos atores territoriais que potencie sinergias e agregue vontades em torno de um projeto de território consistente e coerente. Um projeto que não pode ser ditado nem pelo voluntarismo solitário de um Estado paternalista, nem pelas dinâmicas produtivas setoriais ou pelas lógicas económicas e financeiras externas. Pela simples razão de que, contrariamente a muitas crenças e práticas em voga, a porta do desenvolvimento abre, no Interior ou noutro qualquer território, por dentro, ainda que com a ajuda insubstituível e inestimável dos poderes públicos. Abrir a porta do desenvolvimento nos Territórios de Baixa Densidade é, pois, um dos grandes desafios que Portugal tem pela frente e que reclama o contributo e o envolvimento de todos os agentes sociais, económicos e políticos, públicos ou privados, na construção de um caminho que devolva às populações que aí continuam a viver e a trabalhar a esperança no futuro. Saibamos estar à altura das nossas responsabilidades e não defraudemos as suas expectativas. 38 Territórios de Baixa Densidade, Territórios de Elevado Potencial 39