A SOBREVIVÊNCIA DOS NEGÓCIOS AGROPECUÁRIOS Odilio Sepulcri1 Curitiba, 06/08/2015 1. A ADOÇÃO DE TECNOLOGIA Segundo dados do Censo Agropecuário, 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 4,4 milhões de estabelecimentos agropecuários brasileiros, aproximadamente de 500 mil (11,4%) foram responsáveis por 86,6% do valor da produção. Nestes 500 mil, existem 27.306 estabelecimentos que geram 51,2% deste valor. Os demais 88,6% (3,9 milhões de estabelecimentos) geram apenas 13,4% do valor da produção. Nesse grupo 2,9 milhões de estabelecimentos (66,0% do total) contribuíram meramente com 3,3% do valor da produção em 2006. Estes dados indicam que vários estabelecimentos produziram inexpressivamente e que poucos produziram muito, concentrando-se em uma parcela pequena dos estabelecimentos, ou seja, em 11,4% dos 4,4 milhões (ALVES et al., 2013). No Paraná não é diferente. Os dados censitários revelam que 80% do valor bruto da produção (VBP) paranaense advém de 15% dos estabelecimentos rurais e que 54% deles alcançam renda inferior a 2 salários mínimos, sendo que 43% destes possuem menos de 10 hectares. Isto demonstra, tanto em nível de Brasil quanto de Paraná, que, além das questões estruturais, há um grande problema de adoção de tecnologia. São os excluídos do processo de modernização da agricultura. O processo de adoção de tecnologia é, antes de tudo, educacional e de aprendizagem, dependendo de alguns fatores como conhecer, saber e querer adotar. Também é favorecido pelo mercado e canais de comercialização facilitadores. Outro aspecto que influi é o entorno favorável aos estabelecimentos agrícolas, onde haja acesso aos serviços, insumos e fatores de produção, dentro 1 Engenheiro Agrônomo. M.Sc. Extensionista da EMATER. [email protected]; www.odiliosepulcri.com.br de um ambiente concorrencial com igualdade de oportunidades para todos. O entorno favorável define a lucratividade da tecnologia e sem lucratividade não há adoção (ALVES, 2014). Para Alves, as imperfeições de mercado limitaram o acesso da pequena produção à tecnologia e isto levou à marginalização tecnológica de milhões de agricultores. A Embrapa demonstra em estudo de Alves e Silva (2013) que a tecnologia explica a maior parte do crescimento da produção. O fator trabalho correspondeu a 22,3%, a tecnologia a 68,1% e a terra 9,6%. Este estudo foi realizado em uma série temporal no período de 1970 a 2012. Neste caso, o rendimento da tecnologia explicou a maior parte do crescimento da produção de grãos e a expansão da prática em que a área agricultada é apenas uma pequena parcela (SOUZA et al., 2013). Este resultado expressivo da aplicação da tecnologia nos leva a refletir sobre o seu papel. A tecnologia é produto da ciência que envolve um conjunto de conhecimentos, instrumentos, métodos e técnicas que visam a resolução de problemas, aumento de produtividade, renda, sustentabilidade e desenvolvimento rural. É uma aplicação prática do conhecimento científico na agropecuária a serviço da humanidade. No campo da competitividade, a adoção de tecnologia pode contribuir significativamente para a melhoria do desempenho das empresas e maior participação no mercado. 2. A PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES DE PRODUÇÃO Para se verificar se um empreendimento é viável, basta determinar a produtividade total dos fatores de produção (PTF), através de uma operação simples de ser calculada. A produtividade total dos fatores é igual à renda bruta total (RBT) dividida pelo custo total de produção (CT). Com esta medida pode-se estabelecer um limite inferior, que é 1 (um) PTF= (RBT/CT≥1). Neste caso, quando a produtividade total dos fatores é menor que 1, o estabelecimento não está remunerando todos os fatores de produção e caminha para a falência. Quando é igual ou superior a um, 2 o empreendimento está remunerando todos os fatores de produção, garantindo a sua sobrevivência. Para se determinar o custo total, calcula-se o custo de cada atividade da propriedade e, posteriormente, somam-se todos, tendo assim o custo total da Unidade Produtiva. Na seqüência, apresenta-se um exemplo de estimativa de custo de produção da cultura de milho, no sistema plantio direto elaborado pela Secretaria da Agricultura do Paraná. TABELA 1 – ESTIMATIVA DO CUSTO DE PRODUÇÃO DE MILHO PLANTIO DIRETO, MAIO /2015 3 Nesse exemplo da tabela 1, têm-se os custos variáveis (A), os custos fixos (B + C), os custos operacionais (A + B) e o custo total (A+ B + C). A renda bruta total do estabelecimento se consegue multiplicando a produção obtida pelo preço de venda de cada produto e somando-se os totais. Com a aplicação da equação PTF= (RBT/CT≥1) é possível verificar se o empreendimento está remunerando todos os fatores de produção ou está caminhando para a falência, como já se verificou. Nesse quadro de desigualdade que o Paraná apresenta, se por um lado existem problemas que necessitam de urgentes soluções, por outro surgem oportunidades para novos negócios. O que a Assistência Técnica e Extensão Rural deve fazer com os 54,7% dos estabelecimentos rurais do Paraná que possuem renda entre zero a 2 salários mínimos? Evidentemente que muitos destes empreendimentos deixarão de existir por problemas estruturais e outros. Os demais, com base no mercado do produto deve-se propor aos agricultores novos negócios, atividades que demandam pouca terra, tenham alta produtividade, alto rendimento em pequenas áreas, com o uso intenso de tecnologia. Nesse contexto estão as frutas, hortaliças, flores, plantas ornamentais, plantas medicinais, aves de corte e de postura, transformação da produção, entre outros. Aliado a isso, os agricultores devem ser incluídos nas Políticas Públicas e Programas de Governo, que favoreçam o aumento de renda e melhoria de qualidade de vida. REFERÊNCIAS ALVES, E. Reforma agrária e produtividade da terra? In : Revista de política agrícola. Jul./Ago./Set. 2014. Brasília, DF. p. 3-4. ALVES, E.; SOUZA, G. da S. e;. Desafios da agência de extensão rural. In : O mundo rural do Brasil no século 21 : a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília, DF. Embrapa, 2014. p.926-941. SEAB/DERAL. Custo de produção de milho, maio de 2015. THOMAS, J, C. Paraná. Visão de futuro – desafios e oportunidades (transparências). Emater. Curitiba, 2015. 4