CONSTRUÇÃO DA CONJUGALIDADE
Sandra Meneses
Dentre os dilemas da vida humana que estão presentes diariamente nos atendimentos em psicoterapia,
destacam-se os dilemas vividos nas relações de casal. Por um lado, podemos pensar na relação conjugal como
um laboratório natural de experiências intensas de desenvolvimento humano, no qual cada um dos envolvidos
se vê diante da tarefa de reconstruir significados e sentidos sobre si mesmo, enquanto constroem uma relação
conjugal. Por outro lado, vemos os casais buscarem na terapia soluções para os seus dilemas, paralisados
diante das exigências de diálogo e negociação inerentes à experiência de construção da conjugalidade. Os
casais quando buscam a terapia se apresentam enrijecidos em suas crenças e suas construções de sentido, com
possibilidades de diálogo restritas e narrativas saturadas sobre a relação conjugal e sobre si mesmos.
As abordagens narrativas e dialógicas do desenvolvimento humano, somadas às abordagens sistêmicas pósmodernas, possibilitam ao terapeuta uma maior compreensão dos processos de construção de significados e
do Self (o sentido de si mesmo), bem como da resolução de problemas e construção de mudanças. Essas
abordagens assumem a narrativa como veículo privilegiado de organização e estruturação de significados,
compreendendo que as mudanças de caráter psicológico ocorrem concomitantemente com as mudanças nas
narrativas de vida das pessoas. Ao fazer uso das narrativas para compreensão dos processos de mudança e
resolução de problemas de vida, as pessoas são percebidas como autores de sua própria historia, como agentes
de mudança com potencial para resolução de problemas.
As práticas terapêuticas voltadas para o atendimento de casal, baseadas nessa perspectiva, buscam
favorecer um espaço de diálogo que possibilite abertura e flexibilidade para a construção de mudanças da
realidade até então construída pelo casal. Essas práticas buscam favorecer a reconstrução de significados e
sentidos construídos por cada um dos parceiros ao longo das suas vidas e na relação conjugal, bem como a
construção de novas narrativas e alternativas para a conjugalidade. Assim, o terapeuta lida com processos de
reconstrução de realidades, com reconstrução de significados e sentidos próprios a cada pessoa. Promover
mudanças desta ordem envolve lidar com processos dialógicos e semióticos de construção de significados por
meio da ação e linguagem. Isso sugere um contexto mobilizador de processos criativos e reflexivos de abertura
para o novo.
Leituras indicadas para saber mais:
1. Colombo, S. F.(2006). Gritos e sussurros: trabalhando com casais. In: S. F. Colombo (org.). Gritos e sussurros:
Interseções e ressonâncias, São Paulo: Vetor, v.1
2. Grandesso, M.A. (2006). Diálogos contidos e Monólogos compartilhados: encontros e desencontros na
construção de sentido nas relações amorosas. In: S. F. Colombo (org.). Gritos e sussurros: Interseções e
ressonâncias, São Paulo: Vetor, v.2
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Construção da conjugalidade.