Biogeoquímica do Si Vanessa Hatje Oceanografia Química II UFBA – 2008.1 1 Química Básica • Si é o segundo elemento mais abundante na crosta da terra: 28 % da crosta terrestre • Isótopos: – – – – 28Si: estável 92.21 átomos % (14 p + 14 n) 29Si: estável 4.70 átomos (14 p + 15 n) 30Si: estável 3.09 átomos (14 p + 16 n) 32Si: 134 anos (meia vida) 2 Reservatórios nos oceanos • Si: silicato (SiO4) • Sílica dissolvida: 95% ácido silícico Si(OH)4 5% ânion dissociado SiO(OH)3- • Sílica particulada (sílica): – Retida em filtro de 0.2-1 m – Inclui sílica biogênica e litogênica • Sílica biogênica ou opala: – Sílica amorfa SiO2·nH2O 3 Utilização da Si: plantas superiores Componente estrutural de plantas superiores: – Madeiras duras vs. madeiras macias – Si em árvores e gramíneas: • concentrações similares as de N e K (1%) 4 Utilização de Si: oceanos Muitos organismos utilizam o ácido silícico • Radiolários: protozoa com esqueletos – 2 maior produção de sílica biogênica – Conchas robustas e bem preservadas nos sedimentos • Silicoflagelados (plancton) e esponjas – contribuição na biogeoquímica da Si??????? 5 Utilização de Si: oceanos • Diatomáceas: – principal produtor da Si biogênica (opala) – Ppt opala de águas extremamente sub-saturada • Mais de 10.000 espécies – Extremamente importante para a PP (30 - 50% do total) – Extremamente importante para exportação de MO 6 Comportamento da opala nos oceanos • Muitas analogias ao ciclo da MO e outros nutrientes – Estequiometria na proporção dos elementos nas diatomáceas – Si:N 1:1 (Brzezinki, 1985) • Várias diferenças...... 7 Comportamento da opala nos oceanos • Ácido silícico vs nitrato e fosfato – Ácido silícico usado “exclusivamente” por diatomáceas • Material silicatado quase não é passado na cadeia trófica • Regeneração da opala para ácido silícico: dissolução • Si ocorre na água do mar: forma inorgânica – N e P: inorgânicas e orgânicas 8 O que ocorre de especial nesta região? Será que isso refleteDistribuição a razão de Si:NSuperficial da água que chega na região? Será que as diatomáceas ou outros fitos são diferentes nesta região? Ácido silícico ( mol/kg) 40-60° Nitrato ( mol/kg) 40-60° 9 Sarmiento & Grubber, 2006 Distribuição Vertical Ácido silícico Nitrato Quais são os processos responsáveis pela elevada concentração de ácido silícico na água de fundo e impedem que estas elevadas concentrações cheguem a termoclina?10 Sarmiento & Grubber, 2006 Distribuição de opala nos sedimentos 11 Sarmiento & Grubber, 2006 TOC CaCO3 Porque o padrão de distribuição de opala é tão diferente das outras espécies? Opala 12 Si(OH)4 na água intersticial Valores < conc. de saturação (1000 mmol/m3) para 5000m – O que isso significa? Concentrações maiores que na coluna d’água: fluxo – O sistema está em estado estacionário? Opala presente nos sedimentos: equilíbrio? – O que seria preciso para isso? 13 O sucesso das diatomáceas Frústulas: • Proteção contra predação • Resistência a quebra • Menos energia gasta para construir a parede celular de Si • Si aumenta a habilidade de retirar CO2 da água • Opala é um tampão efetivo que pode aumentar as taxas catalíticas da anidrase carbônica • Controle de fluxo do MP e quebra de colóides • Controle de afundamento (vacúolos) • Rápido crescimento: baixa luz, retirada e estocagem de nutrientes 14 Retirada de ácido silícico por diatomáceas • Proteínas: variação entre diatomáceas ou fases de vida • Fe e Zn: catalizam o uptake • [Ac silícico interna] > [água do mar] em até 3 ordens de magnitude (19.000-340.000 mmol/m3) • Formação da opala ocorre apenas antes da divisão celular e é independente dos mecanismos de C e N • Stress (limitação por Fe, N,...) Si:N> 1 15 Formação e exportação de opala Ragueneau et al., 2000 Diatomáceas: dominam em condições ótimas (i.e. DSi available) – Blooms de primavera – Zonas de resurgencia – Plumas fluviais – Blooms associados a degelo 16 Formação e exportação de opala • Zona fótica (100m) em 100 dias: reduz 2-90 mmol/m3 ac silícico • Exaurir o ác. silício da superfície se não houvesse reposição • Produção global de opala: 200-280 Tmol Si/ano. Qual é o destino opala??? 17 Destino da opala na zona fótica • [Ac. Silício ] < < < < [Saturação opala] • Dissolução na escala de 23 dias – Opala se dissolvendo durante o período de bloom, especialmente em águas quentes – Dissolução/retirada 70% não bloom – Dissolução/retirada 20% bloom* * Opala é revestida de MO 18 Exportação de opala na zona eufótica 84% 50% da produção é exportada: 100-140Tmol/ano 11% Oceano Austral Pacífico At. Norte 19 Tregger et al., 1995 Diatomáceas e exportação de MO Assume-se: • Limite superior: – Exportação de Si:N (diatomácea saudável) 1:1 – MO Corg:N 117:16 – 11PgC/ano • Limite inferior: – Exportação de Si:N 4:1(diatomáceas Oc. Austral) – 3PgC/ano Visto a produção (53 PgC/ano) e exportação (12 PgC/ano) de MO, as diatomáceas representam entre 20-90% exportação MO, média 55% 20 Peta (P) = 1015 Tapetes de algas • Floculação em massa – Deposição diferencial – Camadas de muco e “espinhos” agregam-se • 2 episódios sazonais de exportação: – Bloom de primavera – Bloom de outono/ “diatomácias de sombra” • • • • Adaptadas a baixa condição de luz Migração vertical: acesso a nutrientes Organismos simbiontes (fixadores de N2) Outono/inverno: sedimentação em massa 21 MO vs Opala na zona eufótica • Produção/exportação MO = 0,23 • Produção/exportação Opala = 0,50 • A MO tem uma ciclagem mais eficiente (77%), enquanto a dissolução da opala é de apenas (50%)...... • Isso ocorre na zona fótica, assim como, em maiores profundidades 22 O que ocorre com a opala na zona fótica? • 11% opala que sai da superfície chega no sedimento; 100m/d (5000m de prof.); constante dissolução k = 1/23d Chuva opala chegando no fundo/exportação da sup 100% 100% 20% 23 MO vs Opala • Mineralização MO: kremin = 1/10d – 1/50d – termoclina Muito próximo • Dissolução opala: kdis = 1/23d – surface • Dissolução < eficiente < Mineralização: – Dissolução opala com a profundidade: • Si:C 1000m 2.6 x > Si:C 100m • Si:C 5000m 5 x > Si:C 100m 24 Ácido silícico Solução para a camada de fundo: h + L = (f + T)(Cd – Ch) (1) Razão da exportação opala/nitrogênio orgânico (h + L) Si(OH)4 = ([Si(OH)4]d - ([Si(OH)4]h) (h + L) NO3([NO3-]d - ([NO3-]h) = mmol/m3 84-20 = 5.1 29.7 – 17.1 mmol/m3 Oceano Austral d = prof > 100m (média) h = prof < 100m (40S) Ch h f (2) CL Cd L fundo 25 • Nos podemos usar esta razão (2) para estimar o fluxo de opala da superfície do oceano baseado na exportação de C em 3,2 Pg/ano (estimada no modelo de duas caixas) opal = 3,2 x 1015gC . 1 mol C . 16 mol N* . 5.1 mol Si ano gC 117 mol C mol N = 186 x 1012 mol Si/ano = 186 Tmol/ano 26 •Razão estequiométrica p/ converter exportação de C N (117/16) Se substituirmos o valor de exportação de C: opal = 3,2 x 1015gC . 1 mol C . 16 mol N . 5.1 mol Si ano gC 117 mol C mol N = 186 Tmol/ano 12Pg C/ano (mais real).... opal = 710 Tmol/ano!!!! Valor real é bem menor: ~130 Tmol/ano Porque a modelagem está nos fornecendo valores tão diferentes das observações reais ???? 27 1) Fracionamento vertical ácido silícico/nitrato: – Errado assumir uma concentração média de ác. silícico para a água de fundo sem discriminar em alta e baixa latitude, para nitrato é OK. 28 Média (fundo) 84 mmol/m3 termoclina 10 mmol/m3 Média (fundo) 30 mmol/m3 ~ termoclina 29 1) Fracionamento vertical ácido silícico/nitrato: – Dissolução da opala ocorre em maiores profundidades que a mineralização – Opala não tem uma reciclagem tão eficiente quanto os nutrientes Bomba de sílica 30 2) Ausência de ácido silícico na termoclina 31 2) Ausência de ácido silícico na termoclina • 40-60 °S: – Única grande região com baixo teores de ácido silícico e alto teor de nitrato • Termoclina com baixos teores de ácido silícico e alto teor de nitrato – São formadas entre 40-60 °S 32 Divergência Antártica 70°S Água Antártica Intermediária Água SubAntártica Modal termoclina OCEANO AUSTRAL Água Circumpolar Profunda Si(OH)4 NO3 Si* CDW: água de fundo circumpolar; AAW: Água Antartica Intermediária; SAMW: água sub-Antartica; SAF: frente sub-antartica 33 Si* = Si(OH)4 – NO3Si* + ác. silícico > demanda de diatomáceas Si:N (1:1) Si* ác. silícico < demanda de diatomáceas (Frente Sub-Antártica) 34 Si* = 26,8 25 0 -5 -5 Profundidade = 26,8 -15 600 500 400 700 200 35 NPIW – Água Intermediária do Pacífico Norte Porque o Ácido silícico não é retirado da água superficial onde a NPIW (Água Intermediária do Pacífico Norte) é formada? 1. Aporte de Fe 2. Baixo tempo de residência dos nutrientes Importância da NPIW: - PP diatomáceas no Pacífico Norte e Equatorial (70% aporte de ácido silícico; 50% nitrato) 36 Água Sub-Antártica com Si* negativos: termoclina 40 0 5 90 100 37 O que ocorre nos sedimentos??? Opala: • 75% dissolve na água • 25% chega aos sedimentos – Enterrado ou dissolve 38 Idéias fundamentais: • Dissolução da opala é eficiente: 80% da chuva • Controle termodinâmico: – Limite superior para perda de ácido silícico dos sedimentos • Chuva > Limite: enterramento de opala • Chuva < Limite: difícil preservação nos sedimentos • Aluminosilicatos autigênicos • Preservação abaixo da descontinuidade: – Dissolução muito lenta 39 Dissolução e enterramento da opala Estimativa da dissolução – Fluxo ácido silícico Si(OH)4z=o = - s . {( . [Si(OH)4]/zz=0 – Câmeras bentônicas (benthic chambers) 40 Dissolução/chuva (%) Média 96% Oc. Austral Pacífico At. Norte41 Alta eficiência de dissolução – Dissolução opala + fluxo do sedimento Padrão de chuva de opala Exportação da opala Produção e a chuva chegando no sedimento determina a distribuição em grande escala do enterramento de opala? 42 Grande variação na eficiência de enterramento: Proxy: paleoprodutividade Eficiência de enterramento 5% Eficiência de enterramento 30% 43 • Separação na eficiência de enterramento: – regulado pelo limite superior do fluxo de ácido silícico do sedimento EO = CHO – FAS – (EAS + COAS) Pequena contribuição EO = Enterramento de opala; CHO = chuva opala; FAC = fluxo ác. silícico do sedimento; EAS = enterramento ác. silícico; COAS = conversão de opala em aluminosilicatos autigênicos) 44 Química da Opala • Ácido silícico na água intersticial é subsaturado em relação a opala no sedimento – Mecanismos de equilíbrio – Mecanismo cinético 45 Solubilidade da Si • Temperatura, pH, pressão, área superficial da Si, inclusão de contaminantes na matriz cristalina, presença ou formação de sílica autigênica no sedimento. Ac. silícico na água intersticial Detrito não-biogênico aumenta 46 E o Al(III) na água intersticial..... • Al(III) aumenta com a qde de detritos – Incorporação Al na opala (Al/S 7) – Experimentos de laboratórios 47 48 40% enterramento 49 60% enterramento (40% Oc. Austral) Referências • ******Sarmiento & Gruber (2006) Ocean Biogeochemistry Dinamics. • S. Libes (1992) An Introduction to Marine Biogeochemistry. Wiley, UK, 752p. • R. Chester (2000) Marine Geochemistry. 2nd Edition. Blackwell Science, UK, 506p. • F. Millero (1996) Chemical Oceanography. 2nd Edition. CRC Press, USA, 469p. • W. Schesinger (2004) Biogeochemistry (Treatise on Geochemistry V. 8).Elsevier, UK, 702p. 50