Eduardo Aratangy “É tão importante conhecer a pessoa que tem a doença, como conhecer a doença que a pessoa tem” Sir William Osler (1849 -1919) A relação com os pacientes engloba os costumeiros dilemas das relações com os clientes, acrescida dos fatores inerentes à prática da medicina. Maslow estabeleceu os tipos de necessidades humanas e previu que o não atendimento dessas necessidades traria frustração, declínio da saúde mental e o adoecimento. Na base desta pirâmide temos as necessidades fsiológicas (sobrevivência), seguida das de segurança (ambiente não ameaçador, sensação de estabilidade), sociais (aceitação, utilidade), de estima (afetividade, auto-imagem) e de auto-realização (desenvolvimento das potencialidades,”felicidade”), conforme também mencionado e analisado no artigo Fundamentos do Marketing (1), mas aqui analisado sob a ótica de um médico. É evidente que um paciente buscando auxílio tem uma ou mais destas necessidades não atendidas. Uma atitude comum é o atendimento do paciente como patologia isolada, esquivandose o médico da complexa interação bio-psico-social decorrente de qualquer condição humana, e em especial da doença. O resultado geral de tal conduta puramente técnica não é sempre lesivo, já que em patologias simples, agudas (não crônica) ou tratáveis o resultado pode ser o reestabelecimento da saúde e a satisfação do “cliente”. O que deriva disso é o procedimento padrão, standard, sem agregação de valor. Nos casos mais complexos, entretanto, o resultado pode ser o de inefcácia ou de baixa aderência ao tratamento e iatrogenia. Não podemos utilizar simplesmente os algoritmos de atendimento a clientes quando tratamos pacientes. Tais técnicas serão discutidas em artigo posterior, mas não substituem o interesse legítimo no bem estar do paciente. A complexidade desta relação é que atribui à medicina o status de arte. A prática da medicina é a negação do “instinto de afastamento dos doentes”, com a atitude consciente e voluntária de expor-se à dor e ao sofrimento alheios de forma a ajudar outro ser humano. O grau de entrega do médico neste processo é um dos determinantes capitais da relação com o paciente. Quanto mais as carências ascendem na pirâmide de necessidades de Maslow, menos técnico e mais subjetivo deverá se tornar o atendimento. Ao mesmo tempo, mais angustiante e inseguro torna-se o terreno para o médico. Neste ponto valorizam-se a empatia, a capacidade de compreensão e de acolhimento do médico. É evidente que o envolvimento do médico nos âmbitos mais íntimos do paciente pode também ser “prejudicial” ou “desnecessário”, mas a disposição em tal sentido e a dosagem correta desta atitude são sempre benéfcos. Mesmo nas especialidades mais técnicas, a atitude integradora das necessidades gera a fortifcação do vínculo terapêutico, facilitando o tratamento e fdelizando o cliente. Para qualquer médico serve a antiga receita propedêutica de ESCUTAR, OLHAR, TOCAR e CONFORTAR Em pesquisa realizada por J.C. Ismael detectou-se que essas quatro atitudes são as mais importantes, seguidas por títulos de especialidade e tempo de formado na avaliação das qualidades dos médicos. Ao mesmo tempo, o atendimento impessoal e apressado foram as principais críticas. ESCUTAR com atenção e interesse OLHAR, buscando a compreensão da vivência do paciente e sua interação com a doença TOCAR, reiterando a existência e o apoio, demonstrados do aperto de mãos ao exame físico CONFORTAR, dando o amparo necessário para que o paciente se sinta acolhido e compreendido em sua angústia. Neste momento forma-se o vínculo, que poderá ser mantido, rompido ou multiplicado. Estes são os valores permanentes da medicina. A técnica é transitória e substitutiva. Toda a equipe de saúde deve estar familiarizada com este ideal, pois a integração e harmonia do “grupo tratador” multiplica o potencial terapêutico dos atos em saúde. É este grupo tratador que transmitirá ao cliente-paciente o conceito de valor. Isso vale para um pequeno consultório e nas maiores clínicas ou hospitais, tanto privadas, como públicas. FONTES E SUGESTÕES DE LEITURA: Ismael, J.C. – O Médico e o Paciente – Breve História de uma Relação Delicada, T.A. Queiroz, Editor Porto, Celmo Celeno - Semiologia Médica – Guanabara Koogan Scarpi, Marinho Jorge (organizador) – Gestão de Clínicas Médicas – Editora Futura