18 Segunda-feira 30 de março de 2015 Política Entrevista Especial Entrevista Especial PMDB que tem que dizer Fernanda Nascimento Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está aumentando ainda mais os atritos entre o PMDB e o PT. A PEC em questão limita o número de ministérios a 20 e está causando asco no governo. O relatório da proposta, elaborado pelo deputado André Moura (PSC-SE), pede que o texto seja aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. A última tentativa de votar a proposta terminou com um pedido de vista dos deputados Alessandro Molon (PT-RJ), Betinho Gomes (PSDB-PE), Elmar Nascimento (DEM-BA), Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP). Antes disso, Molon e Teixeira pediram que a proposta fosse retirada de pauta, mas foram voto vencido. Intervenção no Executivo O medo do governo é que a proposta tenha uma “tramitação expressa”, já que Eduardo Cunha (PMDB) é o presidente da Câmara e o que é votado é definido por ele. Saindo da Comissão de Constituição e Justiça, a proposta ainda tem que ser aprovada por uma comissão especial para ser apreciada em plenário. A PEC de Eduardo Cunha tem o apoio do principal aliado do governo, o PMDB. Mas, por incrível que pareça, o DEM, o PSDB e o PPS se uniram ao PT contra a PEC. A principal crítica é que a criação ou extinção de ministérios é algo que apenas o Executivo pode fazer. Como o Planalto não intervém no funcionamento do Congresso, os parlamentares não poderiam intervir no funcionamento do Executivo. Aliado mau VIOLA JR./CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC Também há certa apreensão em relação a quais ministérios seriam extintos caso a PEC de Eduardo Cunha passe. As chamadas “pastas sociais”, compostas pelas secretarias de Direitos Humanos, Políticas para Mulheres e Igualdade Racial, são apontadas como alvo preferencial. “O PMDB não está sendo um bom aliado. Imagine quais as pastas eles querem cortar. Tudo indica que não são as ocupadas por eles”, ironizou a ex-ministra dos Direitos Humanos, a deputada federal gaúcha Maria do Rosário (PT, foto). Limite nos gastos De acordo com Eduardo Cunha (PMDB), a sua PEC apenas limita o número de ministérios, ficando a cargo do Executivo a escolha de quais seriam cortados. “Temos o intuito de sinalizar para a sociedade que o gasto público com a máquina administrativa terá limite. Acreditamos que o número de 20 ministérios, que reduz em 50% o atual tamanho da administração direta, atende bem as necessidades do Estado moderno e alinha o País ao tamanho dos demais estados em igual ou superior grau de desenvolvimento”, avaliou o deputado. Crise na indústria naval O pedido do deputado federal gaúcho Nelson Marchezan Jr. (PSDB) para ouvir o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), sobre a crise na indústria naval brasileira foi aprovado na Comissão de Minas e Energia da Câmara. Além de Mercadante, serão chamados o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (Bndes), Luciano Coutinho, e o presidente do Sindicato da Indústria Naval Brasileira (Sinaval), Ariovaldo Santana da Rocha. “A crise que da Petrobras envolve cada município relacionado e suas respectivas populações, em especial no que diz respeito aos empregos relacionados com a atividade”, disse o parlamentar. [email protected] As críticas de setores da população, integrantes da oposição e até mesmo da situação, fazem com que o momento político da presidente Dilma Rousseff (PT) seja delicado. No mês em que milhares de pessoas foram às ruas para se posicionar de forma contrária às iniciativas da gestão petista, o deputado federal Henrique Fontana (PT) defende que o partido se reestruture, ouça as críticas e tenha capacidade de reação, inclusive “cortando na carne” políticos do partido envolvidos em investigações sobre desvios de recursos públicos. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Fontana crítica o estigma de que o PT é uma legenda corrupta, acusa setores da oposição e da mídia de incitarem posições “totalitárias que julgam de forma unilateral e coletiva um partido político e um governo” e defende a investigação irrestrita às irregularidades, em todos os partidos e setores sociais. “Não se pode aceitar a simplificação da temática, porque a corrupção no Brasil não começou no governo do PT.” Fontana propõe uma reestruturação partidária com o retorno de lideranças histórias que possam auxiliar no momento de crise. Líder do governo Dilma – até a vitória do desafeto Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara dos Deputados –, o parlamentar dá um ultimato no principal aliado e, muitas vezes, mais polêmico partido da base aliada: “O PMDB tem que tomar a decisão se vai sustentar o governo. Não podemos mendigar o apoio. O PMDB tem que dizer se é governo ou oposição”, sentencia. Jornal do Comércio – Como avalia os protestos pró e anti-governo federal das últimas semanas? Henrique Fontana – A primeira grande questão é que os movimentos reivindicatórios devem ser saudados dentro de uma democracia. Óbvio que, do meu ponto de vista, devem ter claros os seus objetivos. Impeachment, golpe militar e incitação ao preconceito temos que criticar e refutar. As manifestações favoráveis que também incutiam críticas a determinados ajustes nos benefícios sociais temos que absorver e discutir. E a parte das manifestações contrárias ao governo, que reivindica ajustes na política econômica, na reforma política, na política mais próxima do cidadão, no combate às mordomias que, ao longo da história, os acompanham processos de poder, o pedido de lideranças mais próximas e de austeridade precisam ser ouvidos com atenção. JC – O PT consegue ouvir essas demandas? Na Assembleia Legislativa, a avaliação feita na tribuna pelos deputados do partido é de que se tratavam de manifestações da elite. Fontana – O PT não deve enveredar por esse caminho, deve tanto respeitar a manifestação crítica ao governo, como deve acolher as manifestações que apoiam o nosso governo. O que o PT deve é ser muito firme contra essa parcela da manifestação que sai com cartazes nas ruas pedindo a volta da ditadura. É verdadeiro que as pesquisas de institutos demonstraram que a maioria dos manifestantes foram eleitores do (senador e candidato do PSDB à presidência da República) Aécio Neves, mas isso não tira a legitimidade das manifestações. Não é correto e bom para o PT rotular a manifestação que critica o governo. Ao longo do tempo, a tendência é de que fiquem mais claras as posturas dos grupos que integraram as manifestações. Aqueles que quiserem apostar no impeachment vão ter que se assumir como tal e não usar de artifícios de uma manifestação legítima. O momento de o Brasil trocar de governo, se a maioria da população tiver essa vontade, será em 2018. É preciso entender que democracia é o sistema em que a maioria legitimamente ganha uma eleição, como a Dilma ganhou, e governa com erros e acertos, procurando ouvir o todo. JC – O pacote de medidas anticorrupção apresentado pela ANTONIO PAZ/JC Menos ministérios presidente Dilma foi uma resposta incisiva para os pedidos que emergiram nos protestos? Fontana – Contesto duramente quem diz que o pacote é de medidas requentadas. Se o Parlamento tiver coragem de não enrolar e não engavetar, só a criminalização do caixa-2, isso seria uma revolução nos costumes da política brasileira. O combate à corrupção não pode ser uma cruzada contra a política, tem que ser um combate com medidas institucionais que possam estreitar o espaço dos envolvidos em corrupção. JC – Como vê o debate sobre corrupção no País? Fontana – Há uma convergência nacional de priorizar o combate à corrupção. Acredito que parte da instabilidade política que a presidenta está administrando se deve à coragem de não aceitar a criação de um ambiente de acordos que incluísse uma diminuição da intensidade dos processos investigatórios. Partes da oposição e da mídia estão instrumentalizando a discussão com o objetivo de derrubar a presidente, através de simplificações grosseiras e do incentivo ao preconceito e à intolerância, com frases totalitárias que julgam de forma unilateral e coletiva um partido político e um governo. Os julgamentos têm que ser individuais, e os comprometidos com corrupção devem pagar pelos atos ilegais que cometeram. Não dá para aceitar a simplificação da temática, porque a corrupção no Brasil não começou no governo do PT. Os casos de corrupção durante os governos do PT me incomodam profundamente e continuarei trabalhando para evitar que ocorram e para punir os responsáveis. Mas também temos que ir a fundo, com a mesma força, para investigar o cartel e as propinas pagas na “Não se pode aceitar a simplificação, a corrupção não começou no governo do PT”