Utilização de Plasma Fresco Congelado e novas alternativas terapêuticas Margareth Castro Ozelo Centro de Hematologia e Hemoterapia da UNICAMP plasma % do peso porcentagem do peso corporal 92% sangue 8% 7% proteínas porcentagem do volume 91% água 55% plasma 45% celular 2% solutos células por mm3 albumina 58% globulinas 38% proteínas da coagulação 4% íons; nutrientes; gases; substâncias regulatórias plaquetas 150 - 450 x 103 leucócitos 4,5 – 9 x 103 hemáceas 4,2 – 6,2 x 106 ST até 8h pós coleta CH PRP CP PP Albumina; Imunoglobulina (Ig); Ig imuno-específica; outras PFC Crio HEMODERIVADOS PIC Fatores liofilizados da coagulação: FVIII; FVIII-FvW; F IX; FVII; AT e etc Plasma e derivados • Constitui a porção líquida do sangue e apresenta 3 funções básicas: – manter efeito oncótico do sangue, – mediar a coagulação e a fibrinólise, – propriedades anti-sépticas. Plasma Fresco Congelado (PFC) Unidade de PFC (~ 250 mL) Aférese de PFC (~ 500 mL) Plasma Fresco Congelado (PFC) Produção: • plasma separado de uma unidade ST por centrifugação e totalmente congelado até 8 horas pós coleta. • Congelamento: – em freezer de ultra baixa temperatura ( -30C) por 30 minutos. – técnica de congelamento em banho de imersão em álcool (cuidados contra alterações químicas, derrames e contaminação da bolsa). RDC Nº 153, de 14 de junho de 2004. Plasma Fresco Congelado (PFC) Armazenamento: • deve ser armazenado à T mínima de -20 ºC (recomendado T -30 ºC) Validade: partir da data da doação: • 24 meses, se armazenado à T -30 ºC • 12 meses, entre -20 ºC e -30 ºC. RDC Nº 153, de 14 de junho de 2004. Plasma Fresco Congelado (PFC) Função: • Reposição de fatores da coagulação – – contém todos os fatores da coagulação (lábeis e estáveis) indicado quando os níveis dos fatores estão muito baixos e precisam de reposição imediata Limitação: • Volume necessário Propriedades dos fatores de coagulação “in vivo” Fator conc. plasmática para a hemostasia Fibrinogênio II recuperação no sangue % do transfundido estabilidade em plasma a -4°C 4 - 6 dias 50% estável 2- 3 dias 40-80% estável 80% instável vida média do fator transfundido 100 mg/dl 40 UI/dl(40%) V 10 - 15UI/dl (10 - 15%) 12 horas VII 5 - 15 UI/dl (5 - 15%) 2- 6 horas 70-80% estável VIII 10 - 40 UI/dl (10 - 40%) 8-12 horas 60-80% instável IX 10 – 40 UI/dl (10 - 40%) 18-24 horas 40-50% estável X 10 - 15 UI/dl (10 15%) 2 dias 50% estável XI 30 UI/dl (30%) 3 dias XII XIII — 1-5 UI/dl (1 – 5%) — 6-10 dias 90 - 100% — 5 - 100% estável estável estável Plasma Fresco Congelado (PFC) Controle de qualidade Volume ≥ 170 ml TTPA (segundos) até valor do pool + 20% Fator VIII: C ≥ 0,7 UI/ml Células residuais pré congelamento leucócitos residuais < 1 x 105/ml hemácias residuais < 6 x 106/ml plaquetas residuais < 5 x 107/ml Fator V: C ≥ 0,8 UI/ml Aparência límpido Plasma Fresco Congelado (PFC) Indicações: • Reposição dos fatores da coagulação nas deficiências múltiplas com sangramento (CIVD, insuficiência hepática, hemodiluição) • Profilaxia pré-procedimentos invasivos em pacientes com deficiências múltiplas citadas acima * • No tratamento das hemorragias, ou profilaxia pré-procedimentos, em pacientes com deficiências isoladas de fatores da coagulação na ausência de fatores liofilizados (ex. FV, FXI, FXIII) • No tratamento da PTT/SHU e na exsangüíneo transfusão de neonatos • Na reversão da intoxicação dicumarínica, se sangramento grave ** Plasma Fresco Congelado (PFC) Contra-indicações: • Expansão volêmica exclusiva • Suporte nutricional em pacientes hipoalbuminêmicos • No tratamento de coagulopatias para as quais há produtos mais eficazes (vitamina K, FVIII, FIX, etc) • Na reversão da intoxicação dicumarínica sem sangramento grave Plasma Fresco Congelado (PFC) Dose: Ataque: 10ml/kg/peso (em 30’) pré procedimento: 1 hora antes. situações de transfusão maciça com deficiência de fatores de coagulação comprovada. Manutenção: 20ml/kg/peso/dia ( 3 ou 4 doses), durante período necessário. Crioprecipitado É a fração de plasma insolúvel em frio, obtida a partir do plasma fresco congelado (PFC). Produção: • o PFC deve ser descongelado a 4 ± 2 ºC e imediatamente centrifugado a 4 ± 2 ºC • o material insolúvel em frio (crioprecipitado) é separado em circuito fechado e recongelado em até uma hora. RDC Nº 153, de 14 de junho de 2004. Crioprecipitado Armazenamento: • deve ser armazenado à T mínima de -20 ºC (recomendado T -30 ºC) Validade: partir da data da doação: • 24 meses, se armazenado à T -30 ºC • 12 meses, entre -20 ºC e -30 ºC. RDC Nº 153, de 14 de junho de 2004. Crioprecipitado Contém: • Fibrinogênio; • Fator VIII, • Fator von Willebrand, • Fator XIII • Fibronectina Controle de qualidade (cada unidade) Volume 10 a 30 ml Fator VIII: C ≥ 0,7 UI/unidade dosagem fibrinogênio > 140 mg/dl Crioprecipitado Função: • reposição de fibrinogênio e FXIII. Dose: • usual 1U / 10kg de peso. deve ser descongelado a 37oC e administrado em até 2 horas após o descongelamento. Crioprecipitado Indicações (RDC n° 23 de 24 de Janeiro de 2002): • Reposição de fibrinogênio em pacientes com hemorragia e déficit congênito ou adquirido de fibrinogênio, na ausência de concentrado industrial e com dosagens inferiores a 100mg% • Profilaxia em pacientes com deficiências congênitas de fibrinogênio ou fator XIII (situações especiais) • Reposição de fator XIII em pacientes com hemorragias por déficit deste fator (na ausência de concentrado industrial) • Em pacientes portadores de hemofilia A ou doença de von Willebrand, quando não se dispõe do fator correspondente, com sangramentos que justifiquem o risco transfusional Crioprecipitado Contra-indicações: • Qualquer sangramento em que não se demonstre de maneira inequívoca uma deficiência significativa dos fatores presentes no crioprecipitado. A utilização do crioprecipitado em casos não previstos deve se notificada à Vigilância Sanitária. Crioprecipitado Coagulopatias Hereditárias: tratamento de reposição • RDC n° 23 (publicada em 24 de Janeiro de 2002): – Proíbe a utilização de crioprecipitado para terapia de reposição em hemofílicos e portadores de doença de von Willebrand, exceto em situação de ausência da disponibilidade de hemoderivados. Plasma Isento do Crioprecipitado (PIC) É o plasma do qual foi retirado o crioprecipitado (em sistema fechado). Armazenamento: • deve ser armazenado à T mínima de - 20 ºC Validade: • 5 anos a partir da data da doação: RDC Nº 153, de 14 de junho de 2004. Indicação: • tratamento PTT/SHU Plasma e derivados Riscos: • Infecções transfusionais: – – – • hepatites virais (vírus B e A e HCV) HIV outros: CMV, HTLVI/II, doença de Chagas, sífilis, Epstein-Barr vírus, Parvovírus B19, doença de Creutzfeldt-Jakob Reações: – urticariformes – Transfusion - Related Acute Lung Injury (TRALI): • aloanticorpos leucocitários • menor risco com uso de plasma de doador masculino Plasma e derivados Estratégias para redução dos riscos: • triagem clínica e sorológica dos doadores – – • avanços técnicos no fracionamento plasmático: – • utilização preferencial de doadores recorrentes doadores sexo masculino produção de hemoderivados técnicas de inativação viral: – – plasma tratado para redução de patógenos produção industrial hemoderivados Plasma tratado para redução de patógenos Métodos: • azul de metileno e fototerapia • solvente / detergente: – solventes: TNBP (tri-(N-butil)-fosfato) – detergentes: tiocianato de Na, Triton X-100, Tween 80 Riscos persistentes: • Hepatite A e Parvovírus B19 Indicações: • quando houver risco de exposição recorrente ao PFC (coagulopatias hereditárias), • crianças e RN Concentrados liofilizados de fatores da coagulação • Podem ser derivados de “pool” de doadores de plasma ou recombinantes (maior segurança) • Derivados de plasma podem ser de pureza intermediária, alta ou ultra (concentração de outras proteínas além do fator desejado) • O complexos protrombínicos (produtos bypass) são produtos que contêm os fatores II, VII, IX X (ativados ou não) • Os concentrados de fator I (fibrinogênio), XI e XIII não estão disponíveis no mercado brasileiro Concentrados liofilizados de Produção de Hemoderivados fatores da coagulação Produção hemoderivados Processos de inativação viral: • pausteurização • inativação pelo calor (seco ou úmido) • solventes (TNBP) / detergentes (tiocianato de Na, Triton X-100, Tween 80) • ultrafiltração e nanofiltração associação c/ técnicas cromatografia Concentrados liofilizados de fatores da coagulação Produção hemoderivados Métodos de fracionamento e purificação: • precipitação proteica (álcool, glicina, PEG) • absorção e adsorção (Sefadex, DEAE, celulose,fosfato tri-cálcico) • cromatografia: – afinidade – troca iônica – anticorpos monoclonais Concentrados liofilizados de fatores da coagulação Grau de pureza (atividade específica de fator): atividade de fator / quantidade de proteína (UI/mg) Contaminantes: albumina, fibrinogênio, fvW, fibronectina, IgG, IgM, IgA, outros fatores (FVII, FX, PC, PS) Concentrado de Fator VIII: grau de pureza Grau de Método Ordem de pureza fracionamento purificação Intermediária Precipitação Alta 100 a 300 x Contaminantes maiores Fibronectina, FII, FvW, proteica em série plasma IgG, IgA, IgM, albumina Precipitação 100 x pureza Mesmo em menores proteica e intermediária concentrações (mg), cromatografia antes da proteína estabilizadora Ultra alta Precipitação + 1000 x ou mais Menos que acima em ng, cromatografia por que de pureza antes proteína ac monoclonais estabilizadora intermediária Concentrado de Fator IX: grau de pureza Grau de pureza Método fracionamento Ordem de purificação Contaminantes maiores Intermediária Precipitação em 100 x plasma série c/ ou s/ cromatografia FII, FVII,FX, PC, PS, IgG, IgA, quininases Alta Precipitação e vários ciclos de cromatografia mesmos em menores concentrações Ultra alta Precipitação com 50 x ou mais ac monoclonais que de pureza + separação por intermediária cromatografia 10 x pureza intermediária menos que acima em ng, antes proteína estabilizadora Concentrados de fatores recombinantes • Produção por engenharia genética: – inserção gene do fator humano (Ex: FVIII) no interior de células de linhagens específicas e posterior cultura destas células e purificação da proteína produzida – Experimental: terapia gênica para produção em suínos de rFVIII-h com eliminação no leite. Concentrado de Fatores Recombinantes Produto Factor VIII Recombinate® Kogenate ® Refacto ® Factor IX Benefix ® Factor VIIa NovoSeven ® CHO: chinese hamster ovary BHK: baby hamster kidney Fabricante Célula de origem Albumina humana Baxter Bayer Pharmacia CHO BHK CHO sim sim não Genetics Inst CHO não Novo Nordisk BHK não Fatores da coagulação: indicações Fator Indicação VIII Hemofilia A IX Hemofilia B Complexos protrombínicos Hemofilia com inibidor Intoxicação dicumarínica VIIa Hemofilia com inibidor Def. FVII; trombopatias; outras VIII/vW Doença de von Willebrand I, XI, XIII Deficiências específicas Concentrados de rFVIIa (NovoSeven®) • Mecanismo de ação: concentrações FVIIa : aumenta capacidade de geração de trombina à partir das plaquetas no local de injúria. • Protocolos de utilização: – – – – – – hemofílicos A ou B com inibidores deficiência FVII trauma doença hepática trombopatias (Trombastenia de Glanzmann; Sd Bernard-Soulier) trombocitopenias Outras opções hemostáticas: Desmopressina (DDAVP) • indicações: doença de von Willebrand tipo I e IIA, que apresentem resposta ao DDAVP (teste positivo) hemofílicos A leve outras coagulopatias ou trombopatias onde o teste do DDAVP for positivo dose: 0,2 - 0,4 g/Kg de peso (EV em SF 0,9% em 20 - 30’) • efeitos colaterais: ação vasomotora: rubor facial, cefaléia de leve a moderada intensidade, hipotensão/hipertensão, ação antidiurética: retenção hídrica e hiponatremia. Outras opções hemostáticas: Selantes de fibrina • Cola de fibrina – precipitação do fibrinogênio • Selantes de fibrina comerciais: • • • • • • Fibrinogênio humano (65-115mg/mL) Trombina humana (4.600 IU) Fator XIII (40-80 U) Aprotinina bovina (0.56PEU) Cloreto de Cálcio (40-60mM) Antifibrinolítico (ácido tranexâmico) (92mg/mL) Outras opções hemostáticas: Terapia Antifibrinolítica • Mecanismo de ação: – diminuindo a velocidade da fibrinólise fisiológica no controle de sangramento causado por coagulopatias • Agentes antifibrinolíticos: – aprotinina (Trasylol ): encontrada em pulmão bovino, parótida e pâncreas - potente inibidor da plasmina e de outras proteases como a tripsina e calecreína – ácidos aminocarboxílicos: ácido épsilon aminocapróico (Ipsilon) e ácido tranexânico (Transamin) - inibem a ativação da plasmina e dos ativadores do plasminogênio Conclusões • O PFC deve ser utilizado de forma consciente e racional. Está indicado para uso quase que exclusivo para a reposição de fatores da coagulação. • O uso do PFC não está ausente de riscos e de maneira alguma deve ser utilizado exclusivamente para fins de expansão volêmica ou nutricional. Conclusões • Atualmente há disponível vários produtos de ação hemostática, para uso específico ou não. Estes produtos apresentam menor risco que os hemocomponentes e quando indicados e disponíveis, devem ser utilizados em substituição aos hemocomponentes comuns.