REI SOL
Durante milênios o homem adorou o Sol. Nos últimos 500
anos, começou a conhecê-lo. Dele, a Terra recebe algo
como a energia de 10 bilhões de Itaipus. E isso é apenas
uma ínfima parcela da luz e calor que emite. Sem ele
nenhuma forma de vida existe.
Vista da superfície do astro-rei, a Terra é um irrisório grão de areia girando
à remota distância de 150 milhões de quilômetros. Mesmo assim, a ínfima
parcela de luz e calor que efetivamente alcança o planeta — em vez de
perder-se em outras direções no espaço vazio — é suficiente para dar vida
e movimento aos oceanos, ventos, florestas, a cada um e a todos os
organismos. Essa energia, que os antigos atribuíam aos deuses, pode
hoje ser calculada com precisão. Equivale à eletricidade que seria gerada
por 10 bilhões de hidrelétricas do porte de Itaipu.
É por prover a vida que o Sol é para nós o mais importante astro do céu,
embora seja apenas uma das dezenas de bilhões de estrelas que giram
conjuntamente nesse grande redemoinho que é a Via Láctea. A galáxia em
que o Sol nasceu e vive é um disco de estrelas que levará inimagináveis 200
bilhões de anos — bem mais de dez vezes a idade do Universo — para dar
uma volta completa sobre si mesmo. A galáxia contém astros maiores e
menores: o Sol fica numa posição de classe média — tanto em tamanho
como em brilho ou peso. Mas está muito próximo: sua luz, que é a coisa
mais rápida do Universo, leva apenas oito minutos para chegar à Terra.
Ao contrário dos planetas ou da Lua, as estrelas não são corpos sólidos.
Por isso, mesmo que uma nave levasse um imaginário astronauta
invulnerável ao fogo, este jamais poderia pisar na superfície do Sol — a
exemplo do que os americanos fizeram na Lua em 1969.
A matéria do Sol é o plasma, uma espécie de gás. Mas o plasma não é
neutro, como os gases que se conhecem: suas partículas são fragmentos
de átomos ou moléculas e possuem temperaturas altíssimas. No interior
do Sol, o plasma atinge quase 20 milhões de graus, um valor que na
superfície brilhante cai para 5 mil graus. Logo acima da superfície, porém,
o plasma se torna muito rarefeito e sofre a ação de poderosas forças
magnéticas. Sua temperatura, então, é mais alta que na superfície,
brilhante, alcançando até 2 milhões de graus.
Neste mundo incandescente existem os ventos solares.
O efeito mais célebre do vento solar são as caudas dos
cometas, criadas quando estes se aquecem nas
proximidades da estrela.
Todos esses fenômenos, embora fascinantes, são meros
espirros do gigante, cuja força real arde profundamente
em seu núcleo. É verdade que a superfície, é às vezes
sacudida por explosões violentas, gerando erupções de
plasma que se estendem por até 200 mil quilômetros no
espaço — trinta vezes o diâmetro da Terra. Mas essas
línguas de fogo são relativamente tênues, apesar de
compridas. No corpo do Sol, em vez disso, caberiam com
alguma folga 1 milhão de planetas como o nosso. Esse
volume tem um raio de 1,5 milhão de quilômetros — 250
vezes maior que o raio da Terra.
Na Antiguidade, os homens se assustavam terrivelmente
quando o Sol se apagava. Sem saber que estavam
apenas diante de um eclipse — um dos raros momentos
em que a sombra da Lua se projeta sobre a Terra —,
imaginavam que o seu deus estava em apuros.
Os sábios egípcios do tempo dos faraós, por exemplo,
ensinavam que nesses momentos o Sol estava sendo
devorado por uma porca gigante, um espírito maligno
da mitologia da época.
Cinco séculos antes de Cristo, o grego Anaxágoras disse
que o Sol era uma esfera de ferro incandescente.
Ninguém lhe deu ouvidos. O homem só começou a
entender o Sol mais de 2 mil anos depois. Em 1610, o
italiano Galileu Galilei anunciou ter visto ao telescópio
estranhas manchas negras na superfície solar. Hoje se
sabe que as manchas são áreas da superfície do Sol onde
a temperatura é menor por ação das forças magnéticas ali
concentradas.
Na década de 30 ficou claro que a energia do Sol era
fruto de colossais reações atômicas. Foi a primeira vez
que se desconfiou de que nem o Sol nem qualquer outra
estrela são eternos. E o ciclo de vida do astro-rei,
determinado pela quantidade de combustível nuclear
disponível, pôde, enfim, ser calculado.
Morre uma estrela
Sua morte não será tão espetacular porque ele
contém relativamente pouca matéria. Dentro de 5
bilhões de anos, ao esgotar-se o seu combustível,
haverá um excesso fatal de produção energética. A
explosão resultante será lenta. O Sol apenas
inchará como um balão, engolindo gradualmente os
planetas mais próximos. O primeiro a ser devorado
será Mercúrio, seu vizinho. Depois será a vez de
Vênus e em seguida esta Terra. De amarelo, como
hoje, o Sol passará para laranja, depois para
vermelho. Sua superfície brilhante, enormemente
expandida, terá uma temperatura mais baixa, mas
emissão total de calor será maior.
Portanto, antes de desaparecer dentro do já então
rarefeito gigante vermelho, a Terra será assada em fogo
brando. Em questão de duzentos anos, por exemplo, a
temperatura média do planeta vai no mínimo dobrar —
e não há forma concebível de vida capaz de resistir a
tamanha subversão. As calotas polares, derretendo,
encherão os oceanos.
Boa parte dos continentes ficará submersa e não
haverá refúgio possível contra o calor infernal que se
espalhará por toda a parte.
Enfim, depois de alguns milhares de anos, a
própria Terra se fundirá. Baforadas tórridas
encerrarão o espetáculo, consumindo e
espalhando pelo espaço a matéria do Sol e de
todos os planetas, mesmo os mais distantes,
como Netuno e Plutão.
No centro do sistema solar, então, restará apenas
o antigo núcleo do Sol — uma “anã branca”, no
dizer dos astrônomos. Quase cem vezes menor
do que a estrela Sol que lhe deu origem,
desprovida de combustível, ela queimará os seus
restos, lentamente, como o carvão que sobra de
uma fogueira. Ao cabo de mais meio bilhão de
anos, a anã se tornará negra e gelada e não
voltará a brilhar. Em vez disso, a matéria que a
rodeava no passado terá formado uma nova
estrela, em outro lugar.
Download

Slide 1