Avaliação da qualidade de vida dos portadores de HIV Fernanda Gaspar de Souza (PUIC); Irene Clemes Kulkamp (PQ); Dayani Galato (PQ) Núcleo de Pesquisa em Atenção Farmacêutica e Estudo de Utilização de Medicamentos – NAFEUM – Curso de Farmácia – Campus Sul - Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL Introdução Com o surgimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) iniciou também um grande Tabela 1. Resultados das análises de variância (p) para os grupos formados e qualidade de vida problema de saúde pública no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). No início estes pacientes estavam fardados a terem uma sobrevida pequena em função da escassez de medicamentos, com as políticas relacionadas aos anti-retrovirais que garante o acesso universal e gratuitos, surgem novos desafios que seriam aqueles relacionados ao enfrentamento, suporte social e qualidade de vida (SEIDL et al, 2005). Nos dias atuais, qualidade de vida teve os seus conceitos ainda mais ampliados, passando a envolver o bem-estar, diversão, realização profissional, relacionamento social, amor, felicidade, saúde, e outros (KLUTHCOVSKY, 2005). Até o ano de 2002, nenhuma pesquisa envolvendo qualidade de vida de doentes de AIDS havia sido desenvolvida no Brasil, a maior parte dos estudos concentrava-se nos Estados Unidos (CANINI et al., 2004). O que mostra a necessidade de realização de trabalhos desta natureza em um país que é impar na política deste tipo de medicamento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um instrumento universal para a avaliação da qualidade de vida. Este instrumento possui 100 questões o que muitas vezes o torna inadequado e cansativo (FLECK, 2000), devido a este fato foi desenvolvido o WHOQOL-bref, ou WHOQOL-abreviado na versão traduzida para o português, um instrumento de rápida aplicação, ambos desenvolvidos pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS (FLECK et al, 2000). A realização deste trabalho é importante, pois poderá determinar o impacto do dos medicamentos sobre a situação clínica e sobre a qualidade de vida destes pacientes, possibilitando a replicação deste trabalho em outros programas. Objetivos Avaliar os resultados de qualidade de vida em pacientes portadores de HIV. Material e Métodos Trata-se de uma pesquisa transversal exploratório com portadores de HIV do Centro de Atendimento Especializado em Saúde de Tubarão. Os pacientes foram abordados nas dependências do Centro de Saúde, uma vez apresentado o objetivo da pesquisa e aceitando participar da mesma o individuo era convidado a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Para avaliação da qualidade de vida foi adotado como instrumento para coleta de dado o WHOQOL-bref, este é composto por 26 perguntas. A primeira (Q1) refere-se à qualidade de vida de modo geral, e a segunda (Q2) à satisfação com a própria saúde. As outras questões estão distribuídas em quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente. Foram inseridas também perguntas como: idade, gênero, estado civil, escolaridade, ocupação e ao seu quadro clínico como: tempo de diagnóstico, o fato de usar ou não os anti-retrovirais, presença de doenças QV1 QV2 Domínio físico Domínio psicológico Domínio Relações sociais Domínio Meio ambiente Gênero 0,9059 0,1260 0,3217 0,9120 0,7632 0,3762 Idade (40 e >40 anos)1 0,6638 0,7874 0,9666 0,9318 0,9308 0,9533 Escolaridade (4 e >4 anos) 0, 1391 0,5851 0,1801 0,2619 0,8816 0,6387 Tempo de diagnóstico ( 60 e > 60 meses) 0,5219 0,4918 0,1699 0,0999 0,6553 0,1198 Usa TARV2 0,8366 0,5547 0,0362* 0,4175 0,9630 0,9402 Número de ARV3 (=2 e >2 ARV) 0,9038 0,6742 0,1007 0,9146 0,9475 0,7733 Número de doses ARV (=3 e >3) 0,3884 0,7947 0,0211* 0,2850 0,5652 0,7381 Adesão referida (medida por dose esquecida) 0, 4997 0,1591 0,1037 0,5789 0,8940 0,7359 Adesão referida (atraso na retirada da medicação) 0,1586 0,6401 0,8453 0,4895 0,6618 0,3934 Presença de RAM4 0,5868 0,0391* 0,0519 0,4664 0,2885 0,8993 Presença de doenças oportunistas pregressas 0,2303 0,0272* 0,3339 0,2708 0,5253 0,9684 Presença de doenças oportunistas atual 0,4040 0,0086* 0,8012 0,3322 0,0932 0,0056* Presença de outros problemas de saúde 0,2854 0,4639 0,9558 0,1151 0,3956 0,6315 Utiliza medicamentos outros 0,2025 0,1696 0,8717 0,2399 0,1143 0,0030* Número de outros medicamentos que utiliza ( 2 e > 2) 0,4661 0,4383 0,3593 0,7335 0,2191 0,5345 Grupos analisados 1 - Os grupos foram divididos com base na mediana da amostra estudada. 2 - TARV= Terapia Anti-retroviral; 3 - ARV= Anti-retroviral; 4 - RAM= Reação adversa ao medicamento, * significante p < 0,05. Considerações Finais oportunistas entre outras. Os dados foram organizados no EpiData e analisados com auxilio do Analysis utilizando a análise de variância de médias para avaliar a diferença de qualidade de vida entre os subgrupos formados com base no perfil dos entrevistados. Este trabalho possui aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina e está incluso dentro do projeto de avaliação da adesão terapêutica de pacientes em tratamento com anti-retrovirais. Resultados Foram entrevistadas 40 pessoas com idade entre 20 e 58 anos (39,5 ± 8,35 anos) destes 60% eram mulheres e tinham em média aproximadamente 5 anos de estudo (5,0 ± 3,6 anos). Entre os entrevistados 52,7% possuíam relacionamento estável. Dos que responderam sobre a sua ocupação (n=30) 40% referiram ser assalariados, 23,3% aposentados ou pensionista, 23,3% donas de casa, 6,7% desempregados e o mesmo percentual referiu ser autônomo. O tempo de diagnostico da doença variou de 2 meses a 20 anos, tendo em média 6,6 anos. Dos entrevistados 70,6% já tiveram doenças oportunistas, sendo que atualmente 31,4% possuem diagnostico destas doenças. Quando indagado a outros problemas de saúde 17 (45,9%) afirmaram possuir, no entanto 20 (55,6%) referem utilizar outros medicamentos além dos anti-retrovirais. Dos entrevistados 77,5% utilizavam 2 a 5 medicamentos (2,6 ± 0,90 medicamentos), o número de doses referida ao dia variou de 3 a 8 (4,0 ± 1,43 doses). Quanto à adesão observou-se que 27 (96,4%) referiram aderir ao tratamento corretamente, no entanto, 6 (20,7%) referiram atraso na retirada da medicação e 10 (34,5%) afirmaram ter esquecido pelo menos 1 dose nos últimos 15 dias. Quanto a avaliação geral da qualidade de vida os pacientes se referiram com escore entre 0 e 100%, tendo como média 65,0% (±27,03). Na satisfação com a saúde o escore médio obtido foi de 60,0% (± 25,19). Mesmo os resultados destas duas avaliações sendo distintos, não existem diferença significativa entre os mesmos (p = 0,0616). No domínio físico foi obtida a média de 74,1 ± 22,65%, no psicológico a média foi de 77,7 ± 22,64% , nas relações sociais a média foi de 63,5 ± 27,50% e no domínio do meio ambiente a média foi de 52,4 ± 23,94%. Os resultados apontam que as reações adversas aos anti-retrovirais, as doenças oportunistas e o uso dos medicamentos influenciam diretamente na qualidade de vida dos pacientes portadores de HIV. No geral, quando se diz respeito à avaliação da saúde, a existência de diferença significante foi correlacionado com as reações adversas aos medicamentos, a qual faz com que os portadores sintam-se insatisfeitos com a saúde. A satisfação pela saúde seria melhorada em parte com a ausência das reações provocadas pelos anti-retrovirais, tais reações como: diarréia, fadiga, insônia, tontura, nódulos, dor entre outras. As doenças oportunistas também são chaves para a insatisfação. Estas são secundárias a AIDS, provocada pela falta de imunidade do organismo, podem ser controladas com a adesão aos anti-retrovirais, com medicamentos profiláticos e com melhores condições de vida (alimentação, ambiente). O físico e o uso dos anti-retrovirais tem significância pelo fato que alguns medicamentos provocam deformações na estrutura corporal do usuário, em especial com o problema da lipodistrofia. Estes resultados apontam para a necessidade do acompanhamento destes pacientes por uma equipe multiprofissional, onde o farmacêutico aparece como elemento fundamental, uma vez que as reações adversas e o uso de medicamentos contribuem de forma significativa na qualidade de vida destes pacientes. Portanto, a implantação do Serviço de Atenção Farmacêutica poderia aumentar de forma expressiva a qualidade de vida destes pacientes. Referência CANINI, SRMS; REIS, RB; PEREIRA, LA; GIR, E; PELÁ, NTR. Qualidade de vida de indivíduos com HIV/AIDS: uma revisão da literatura. Revista Latino-americana de Enfermagem. v. 12, n. 6, p. 940-945, 2004. FLECK, MPA. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-100): características e perspetivas. Ciência e Saúde Coletiva, v. 5, n.1, p. 33-38, 2000. FLECK, M.P.; LOUSADA, S.; XAVIER, M. et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida ´´ WHOQOL-bref```. Rev Saúde Pública, v. 34, n. 2, p. 178-183, 2000. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional de DST e AIDS . Aids Boletim Epidemiológico. Ano 17, n. 1, 2003. SEIDL, EMF; ZANNON, CMLC; TRÓCOLI, BT. Pessoas vivendo com HIV/AIDS: Enfrentamento, suporte social e Qualidade de vida. Psicologia: Reflexão Crítica. V. 18, n. 2, p. 188-195, 2005. KLUTHCOVSKY, A.C.G.C..Qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde de um município do interior do Paraná. 2005. Dissertação (Mestrado em Enfermagem e Saúde Pública) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2005. Apoio Financeiro: CNPq/MS - Unisul