OPINIÃO O lado ruim da internet e da tecnologia por Iberê M. Campos Os técnicos de manutenção certamente já viram esta cena: são chamados às pressas para atender a alguma empresa, porque ela “ficou sem internet” e agora “está tudo parado”. Ao chegar no local encontram todo mundo de braços cruzados ou tomando cafezinho porque, afinal, sem internet “não dá para fazer nada”. Aí o técnico precisa correr, pois a cada 5 minutos virá alguém perguntar quando é que o conserto ficará pronto. Sempre que me deparei com situações assim ficava pensando se os funcionários precisavam mesmo ficar parados. Como é que as empresas faziam antes da internet? E antes do telefone e do fax? Voltando mais atrás na história, no tempo dos grandes descobrimentos, como é que o Rei de Portugal conseguia administrar um império quase do tamanho do mundo, sendo que uma mísera carta demorava meses para chegar ao destinatário? Nos tempos modernos, será que realmente os funcionários nada podem fazer sem a internet? Afinal, existem salas a serem arrumadas, pendências a serem resolvidas, papéis a serem conferidos e arquivados, gavetas para limpar... Se tudo isto já estivesse em ordem, não seria então possível organizar uma reunião para que uns ensinassem aos outros ou para que consigam, em grupo, descobrir formas de tornar seu trabalho mais produtivo ou mais agradável? O funcionamento de uma empresa é algo complexo. Todas as partes precisam estar em total sintonia para que o negócio prospere e possa, finalmente, pagar melhor ou dar melhores condições de trabalho aos próprios funcionários. A falta de internet deveria ser um momento para pensar sobre o que está sendo feito, um balanço tão necessário mas só possível em momentos de tranqüilidade. Quem é que consegue pensar direito quando, além de fazer suas obrigações normais no trabalho, ainda “precisa” checar seus e-mails pessoais, falar no MSN com a namorada, verificar porque a conta do celular veio errada, votar na enquete do Big Brother Brasil, ver quem visitou seu perfil no Orkut, ler as notícias do momento... A internet levou a produtividade pessoal a níveis nunca antes imaginados. Mesmo sem sair do lugar podemos fazer inúmeras atividades. Em compensação, todo mundo acaba sendo muito mais exigido. Se antes da internet um executivo tinha dias para elaborar um relatório, agora tem apenas alguns minutos. Se determinado vendedor tinha um mês inteiro para contatar 30 clientes, agora precisa falar com no mínimo 300 por telefone, email e celular. Além dessa cobrança maior, a sociedade atual sofre com o excesso de informação e de consumo inútil. Será mesmo que uma esposa precisa ligar 3 ou 4 vezes por dia para o celular do marido, que está no serviço, só para saber como está seu dia? Será que você precisa trocar de celular a cada seis meses, só porque os novos modelos estão em promoção? Será que alguém precisa cuidar de 6 contas de email, 2 blogs, 10 contas no Orkut, 3 no Facebook e 4 no MySpace? E para que checar as notícias a todo instante, já sabendo de antemão que nenhuma delas é realmente importante? Até certo ponto este excesso de atividade acaba agilizando um pouco as coisas importantes. Em compensação, nosso cérebro acaba sendo bombardeado incessantemente com uma montanha de informações nem tão importantes assim, o que acaba mascarando nossos verdadeiros propósitos de vida, nos levando para longe do caminho que realmente gostaríamos de estar seguindo, que nos daria uma satisfação mais real e duradoura. Mas... qual é mesmo o caminho que você quer seguir? Pois é, talvez muita gente não saiba qual é ele, porque “não tem tempo” de ficar a sós consigo mesmo e traçar rumos duradouros para sua vida. Gasta toda sua energia com Orkut, MSN, torpedos e consumo de futilidades. O mundo mudou nas últimas décadas, mas a maioria das questões relativas ao desenvolvimento pessoal e profissional continuam as mesmas. Cabe a cada pessoa, em seus momentos de reclusão íntima, aprender a utilizar a tecnologia para ser mais feliz, e não para transformá-la em mais uma fonte de estresse e de cobrança. Coisas como internet, emails, redes sociais e celular são ótimas e interessantes, sem dúvida. Mas procure utilizálas com sabedoria e quando você, por qualquer motivo, ficar sem internet ou sem telefone, aproveite para pensar a respeito da sua vida, assentando a cabeça para tomar decisões que realmente façam diferença no seu futuro. Seja eswww.revistaPnP.com.br perto, não se deixe levar pela onda. Revista PnP nº 13 LEIA ESTE ARTIGO NA ÍNTEGRA na Revista PnP nº 13 66