A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA APLICADO AO ENSINO FUNDAMENTAL Priscila Barcelos Cardoso Röhnelt/Universidade Federal do Rio Grande [email protected] Luiz Fernando Guimarães Röhnelt/Instituto Federal Sul-Riograndense [email protected] INTRODUÇÃO A Geografia é uma ciência interdisciplinar por natureza, por isso, oferece ao professor que trabalha com ela desempenhar um leque de conteúdos que estão interligados e, passiveis de aproximação com a realidade. E, bem verdade, como aponta o autor (PONTUSCHKA, 2007) que nossa educação escolar é fragmentada em gavetas do conhecimento, porém, cabe ao professor vincular a todo instante a sua disciplina e os conteúdos pré-estabelecidos com a realidade vivida e percebida pelos alunos, tornando o conteúdo realmente significativo, pois o situa no tempo e no espaço afim de atingir o objetivo principal da educação, que é formar alunos capazes de refletir a realidade em que vivem. A realidade de escola que temos nos permite trazer a realidade apontada por (ARROYO, 2002), que retrata a realidade vivenciada em nossa escola, a escola pública que temos, onde tudo em muito se parece, seja modificada sua localidade, sua cidade ou seu Estado. Parece-se que a escola segue modelo, um modelo que estereotipa desde a imagem e a percepção que se concebe de escola, de educação e principalmente no que tange à formação dos alunos. Atualmente, nos deparamos com um caos – o caos da educação – que cada vez se torna mais bancária e mercantilista. Deve-se mencionar também a principal característica adotada – a de se mascarar – onde divulga-se um rótulo porém, seu papel interno é outro bem diferente. Onde o professor finge que cumpre seu papel de formador, pois não forma nem informa nada, somente dá aula. Onde o aluno finge que aprende, pois passa de ano, porém, no ano seguinte não sabe nem sequer “aprendeu” no ano anterior, e, onde a política lucra com tudo isso, pois, aumentam-se as estatísticas para serem mencionadas nas próximas eleições. É triste, porém é a realidade que temos. Porém, não é a realidade que queremos. E que talvez num universo onde cada qual faça bem feita a sua parte, algo se mude, e quem sabe assim o futuro de nossa educação atinge novas perspectivas. DESENVOLVIMENTO Dando continuidade ao já mencionado, merece ser apontado um conjunto de práticas concebidas por teóricos da educação e, que são ratificadas na realidade escolar pela constatação da pesquisa: Um primeiro ato é de planejar com explicita MACEDO (2005) . Pois, planejar é também repensar. Repensar a pratica pedagógica de forma a evoluir, construir um sistema de ensino que vise à formação na sua forma mais adequada. Pois formar é sinônimo de construir e também de refazer e repensar o que está e não está dando certo na proposta pedagógica de cada educador. Pois educar é ato permanente, de troca e de significação. Por isso dada a importância ao ato de planejar, porque senão de que adianta ensinar algo que não tem significado para os educandos, que está desconectada de seu mundo, de seu loco. Planejar é dar sentido e significado a velhas formas de ensinar, é reciclar o antes já produzido, e antes de tudo é ter responsabilidade para com os alunos, para com a escola e para com a sociedade. Pois quem educa, educa para, e, a educação visa formar para o futuro. Outra metodologia que nos remete ao método exercido por cada professor, é o método dialógico teorizado por Elli BENINCÁ (2004), como fonte de intermediação entre o professor e o aluno, a fim de estabelecer uma conexão com a realidade vivenciada por ambos. Onde cabe ao professor orientar e mediar essa relação, buscando e se utilizando se estratégias Cabíveis a cada realidade de turma levando em consideração suas peculiaridades, suas demandas. Onde estabeleça seus objetivos e faça da sua prática pedagógica, uma fonte de riqueza e de possibilidades visando formar acima de tudo, formar alunos cidadãos conscientes da sociedade em que vivem. Mas como formar alunos conscientes? Já aponta Freire em seu texto ‘A Importância do ato de ler’ a importância que merece ser dada a questão da contextualização a qual estamos inseridos desde que viemos ao mundo, e da forma como concebemos a realidade, e da forma como esta se apresenta à nossa vida. O autor questiona o que vem a ser propriamente dita a leitura, se é algo escrito efetivamente, ou se abrange o universo da percepção, sobre o que concebemos sobre algo, sobre o mundo e sobre nós mesmos. De acordo com FREIRE (1981): “[...] a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. (...). (FREIRE, 1981, p. 20). “De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.” (FREIRE, 1981, p.20) Fica evidente que o poder da palavra escrita possibilita expressarmos a nossa leitura da realidade em que vivemos e em como a concebemos. E, a realidade que concebemos e como a conhecemos, é interdisciplinar, a realidade não é fragmentada, por isso a importância do trabalho que busca imbricar as disciplinas como versões da mesma realidade. Pois, cada vez mais, nesta sociedade moderna dotada e repleta de complexidades se faz necessário o desenvolvimento do conhecimento integral, que seja capaz de abarcar todas as esferas do conhecimento, e, que seja capaz de pensar, raciocinar e, acompanhar o andamento desse mundo que se torna cada vez mais veloz e fluido. Surge assim, como alternativa a interdisciplinaridade que se estabelece na educação na busca de alcançar um objetivo, o da educação uma - unitária. E, não mais aquela fragmentada em disciplinas, em gavetas do conhecimento, já que este o mundo é interativo e interdisciplinar, faz-se necessário, cada vez mais, cabeças capazes de pensar em conjunto e interdisciplinarmente. A interdisciplinaridade é um processo contínuo, interminável de fazer e refazer o conhecimento, orientado por uma postura crítica e aberta ao real, com o intuito de apreendê-lo e apreender-se nele, pois o saber é um fenômeno inacabado e multidimensional, sendo impossível sua abrangência total. (GUSDORF, 2008, p.6) Todas as propostas de práticas pedagógicas elencadas nos remetem a uma prática, e uma prática que deve ser permeada pela reflexão constante, e pelo respaldo teórico a fim de resultar em uma práxis. Onde desde a inserção do ensino de Geografia na educação escolar brasileira na década de 60 esta vem permeada de intenções e intencionalidades e caracterizada por várias transformações como aponta (VESENTINI, 1992). No que se trata de se aderir a uma prática filosófico-metodológica no ensino de geografia, se apresenta uma pluralidade, pois de um lado a postura positivista baseada na explicação dos fenômenos apenas abarcados pela visão e explicados pela razão. E, de outro lado, as geografias críticas que se manifestam de diferentes maneiras dependendo do enfoque e dos autores utilizados, e, principalmente, da postura do professor perante os conteúdos, da sua capacidade de interpretação do real, da sua capacidade de aproximar o conteúdo da realidade do aluno. O ensino crítico está pautado na significação dos conteúdos, no contexto local, regional, nacional e global. Está na forma de abordagem deste por parte do professor, que decide ao escolher sua postura, se vai ou não fazer a diferença. Mostrar aos alunos mundo percebido pelos sentidos, porem, não abarcado pela visão. Mostra aos seus alunos, que eles fazem parte do mundo, e, que este o mundo faz parte de suas vidas intrinsecamente, os encaminhando a revelação de um ser que deve ser estimulado pelo educador, o ser pensante capaz de raciocinar a sociedade em que vive, e, que é dialética, bem como, as relações que o permeiam, num movimento constante de mudanças e transformações. Neste contexto deve se situar o professor, como agente capaz de formar alunos cidadãos conscientes da sociedade em que vivem e que são capazes de transformar. MATERIAIS E MÉTODOS Devido à preocupação sobre o que se deve ensinar em geografia e em como alcançar a compreensão do aluno com o conteúdo e com as aulas, a pesquisa visa, a partir de um questionário em aberto de caráter investigativo aplicado na escola, para averiguar o que realmente os alunos percebem da aula de geografia e quais fundamentos podem levar para o seu dia-a-dia. O questionário aborda questões como o que o aluno lembra da sua aula de Geografia, se ele prefere o uso ou não do livro didático, como ele gostaria que fosse essa aula de geografia, e também como o aluno pode levar e aplicar no seu dia-a-dia. Essas questões como já mencionei anteriormente têm caráter investigativo, para que os professores de geografia, possam elaborar e dar uma aula que atenda aos anseios do aluno em diversas instâncias do seu mundo, da sua vida. RESULTADOS E DISCUSSÕES Procura-se mostrar que a partir das respostas dos questionários realizados, a percepção dos alunos sobre as aulas de geografia e verificar que não só necessitam, mas querem uma aula que tenha a ver com sua vida, que quando o aluno assista televisão ele possa identificar os conteúdos que aprendeu em sala de aula, ou a partir de um documentário, reportagem, etc. Nesta perspectiva trabalhar uma proposta metodológica que estabeleça relações com aqueles conteúdos que pareciam estar tão distantes e abstratos é uma forma de aproximar o aluno à realidade que pode e deve estar associada a notícias e manchetes, problemáticas visíveis e perceptíveis ao cotidiano do aluno. Pois, segundo MOMBEIG (1954) : Conhece-se o bom professor pela sua arte em graduar as dificuldades e em saber adaptar o ensino a idade mental e a qualidade de seus alunos. Não só a faculdade de observação aproveita o ensino da geografia, mas também ao espirito crítico, pois o jovem interrogado sobre uma carta ou uma fotografia é obrigado a escolher entre o essencial e o secundário. Aprende assim a raciocinar com método e a exercitar-se na escolha dos dados apresentados à sua observação. Ao mesmo tempo sua mente habitua-se a reconhecer as relações entre os fatos. (MOMBEIG, 1954, p. 12) Pretende-se demonstrar a importância de elaborar e dar aula atrelando-a a vida do aluno, como trata a obra de Maria Tereza Nidelcoff - Ciências Sociais na Escola para alunos de 12 a 16 anos. A partir de Nidelcoff, percebe-se que não é difícil trabalhar com a realidade do aluno, pois basta analisar o trajeto de casa para a escola, ao assistir um noticiário, ao se analisar a questão do consumo, no orçamento participativo do bairro enfim atrelar os conteúdos á questões significantes para a vida do aluno. CONCLUSÕES A partir dos primeiros resultados obtidos pode-se perceber que indicam ser essenciais ao se trabalhar com a geografia em sala de aula, utilizar categorias centrais e seus conceitos para o ensino tais como: Estado, nação, território, cidadania, classe social, trabalho, renda, escala, ecologia, enfim. Mas conceitos estes ligados a uma contextualização vinculada à realidade do aluno. Preliminarmente, a pesquisa como já mencionei, se encontra em estágio inicial, mas a partir dos primeiros dados coletados sobre a percepção dos alunos já indica o fato de que muitas vezes o professor restringe suas aulas a somente conteúdos teóricos, presos ao livro didático. Este se configura no único elemento mediador entre o aluno e o professor, pois se torna norteador das aulas de geografia. E é o que acaba por limitar o professor de trabalhar com um ensino crítico e sendo assim cria obstáculos na busca de se produzir conhecimentos. Portanto da pesquisa que ora realizamos, é possível afirmar e por ora é prioritário explicitar as necessidades existentes: o que se deve ensinar em geografia? Como se trabalhar com e ensino crítico em geografia? O que significa aula de geografia para os alunos? Tendo isto em vista, objetiva-se desfazer a hierarquia existente em sala de aula, passando-se a formar uma teia a qual se construirá em conjunto passo a passo, aula a aula, com o objetivo de formar alunos críticos capazes de pensar o todo, o espaço geográfico em que vivem, busca-se um ensino de postura crítica, comprometido com o todo. Uma geografia preocupada e comprometida com os alunos como cidadãos. Será disciplina geografia e seu papel social: está sendo cumprido? Supervalorização de conceitos já prontos [...] não é por esse meio que se vai construir um ensino de geografia voltado para a percepção e o conhecimento críticos do educando frente ao seu meio, voltado afinal para o desenvolvimento da cidadania das novas gerações. Uma geografia crítica escolar, nesses termos, somente será construída [...] "de baixo para cima", ou seja, sem subordinação ao Estado (parafraseando Marx, poderíamos acrescentar: sobretudo no Brasil, onde o Estado nunca estimulou nem reconheceu as condições mínimas para a existência da cidadania) e como resultado de estudos (no sentido dado a "estudar" por Paulo Freire), tanto de bons textos quanto da realidade circundante, por professores e alunos numa perspectiva do professor-orientador que ajuda o educando a desenvolver as suas potencialidades e a encontrar os seus caminhos.” (VESENTINI, 1992, p.12) Não é o conhecimento o ponto de partida da(s) geografia(s) crítica(s) escolar(es), tal como foi na geografia tradicional escolar; seu ponto de partida e sua base é uma relação dialética (e dialógica) entre a realidade e o saber. (VESENTINI, 1992, p.13) A geografia crítica escolar, [...] em sua pluralidade [...] concreta de prática educativa [...] estará sempre "em construção" [...]. Isso quer dizer que o ensino crítico de geografia pressupõe a recusa de qualquer modelo; não há assim nenhuma geografia crítica escolar pronta, apesar de os dogmáticos pensarem o contrário, nem nunca haverá, pois a sua substância mesma é a inovação, a criatividade, a atualização constante, o diálogo professor/aluno/pensamento/real. (VESENTINI, 1992, p.14) A escola atual, a escola pública, o ensino público que temos não é bem aquele que queremos ou o qual desejamos para nós ou para nossos filhos. Porque a escola que temos reproduz muito bem seu papel de unicamente transmitir conhecimentos que em nada alteram as diferenças sociais que temos, pelo contrário, só faz aumentar a desigualdade social existente no país. Enfatizo, que a escola transmissora de conhecimentos em nada altera a realidade vivenciada pelos alunos, alunos os quais a escola é destinada. Mas atende muito bem a formação de cidadãos de acordo com interesses capitalistas, que é formar operários qualificados para o mercado de trabalho, sem pensar nem questionar, simplesmente obedecer ordens e cumprir tarefas. A educação que temos, o real significado da educação, do ensino não é e não pode ser algo meramente reprodutor, repetindo falas, atos e conhecimentos de um modelo pré-estabelecido onde tudo permanece na mesma situação. A educação, é muito mais, é algo mais, é um agente impulsionador capaz de construir, formar e como resultado transformar. Diante desse papel o qual a educação deve exercer, cabe aí a disciplina geográfica, a geografia, que é uma disciplina interdisciplinar por natureza que permuta, transita por várias áreas do conhecimento por isso deve utilizar-se dessa vantagem de ser interdisciplinar para trabalhar diversos conteúdos. Mas não meros conteúdos, conteúdos reais para aqueles alunos e acoplar a esses conteúdos um olhar crítico. Da mesma forma que se deve entender a crise da geografia tradicional não apenas como resultado de polêmicas e questionamentos metodológicos, mas fundamentalmente como expressão de mudanças sociais e do enraizamento histórico do discurso e das práticas geográficas, também o surgimento das geografias críticas ou radicais, no plural, deve ser visto como o conjunto de posicionamentos teórico-metodológicos e políticos dos geógrafos (incluindo os professores) frente ao leque de possibilidades que a atual situação histórica nos oferece possibilidades estas que, ressalte-se, variam em alguns aspectos de acordo com a sociedade específica onde se atua. (VESENTINI, 1992, p.9) Ou seja, o que antes era apenas um conteúdo o professor de geografia agora vai trabalhá-lo e aborda-lo de forma que os alunos participem, contribuam e percebam que aquele conteúdo realmente faz sentido, que faz parte vida, do que esta ao seu entorno e que faz sentido entender, compreender e tentar buscar formas, alternativas de transformar a realidade com a participação e contribuição de todos. A geografia pode contribuir para a escola básica sim e muito associando, o professor com o conteúdo teórico e apontando um caminho em vértice para encaminhar o aluno pára um olhar crítico não superficial, mas mais profundo da realidade. Buscando trabalhar assuntos do entorno das vivências do aluno para que o conteúdo seja realmente significativo. E que contribua acrescente o aluno e que o ensino realmente se efetive e que forme cidadãos emancipados, diante desse mundo globalizado o qual vivemos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Manuel Correia de. 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