UMA DESCRIÇÃO DE TRAS-OS-MONTES POR jOSE A NTÓNIO DE SA Setins Os p e ntes para os set i n s são d e q u arenta portadas, q u e fazem a larg u ra d e trez q u artas, os m e i o s s et i n s l evã o o i to fi os em p u i a , as c a i x a s são c o m o as dos tafetá s . Os seti n s p o r e m d e toda a conta l evã o d éz f i o s e m p u i a d o p e n t e . A s caixas t e m trinta arrateis de ch u m b o igua l m ente reparti d o pela made i ra . A seda para estes setins h é d a m a i s d e lgada e da p ri m e i ra s o r t e . Como n ' este genero d e o b ras n ã o e n cruzão a seda co mo e m outras, a f i m d e dar graça aos setins pretos d ã o- l h e p e l o aveço com h u ma e s p e c i e de g o m a , ch a m a d a a l ca t i ra p r e p a r a d a s e m a l g u m a co n fe i çã o ; a q u a l t e m a q u a l i d a d e de assentar o po nto, dar graça a o b r a , e faze- l a m a i s d u rave l . M a n tos O p e n t e d os m a n tos tem tri nta e s e i s portadas, q u e fazem a largu ra de trez q u artas; cada puia consta de oito fios, a i n d a que não são precizos mais d e q uatro l i ços porq u e os fios entrã o d o b rados. As caixas tem tri nta arrateis de ch u m b o e s e tra b a l h a a duas pancadas. H é tra mada esta o b ra com s i n co fios de seda p u ra e aca ute l l ã o n ã o s ej a fa lcifi cada esta no tíncto; o q u e h é muito natural e deteriora a m a n u factura. U z ã o da s e d a da prov í n c i a , p o r e m da m e l h or. Esta o b ra l1 é i m perti n e n t i s i m a ; visto q u e n ã o disfa rça , n e m a i n d a a h u m l eve d escu i d o . Pel u ças Os pentes para as p e l u ças são de tri nta e s i n co p o rtadas, q u e fazem a largu ra d e trez q u artos. Cada p u i a d o pente l eva d o u s fios d e tê ía, e h u m d e p ê l l o . A s caixas são como as d os ma ntos. A seda h é da p rov í n ci a ; mas da m e l h or, e igua l , a qual h é a l g u m a couza grossa , para q u e f e c h e o p e l l o . O f i a d o , c o m q u e se tra m ã o as p e l l u ças, h é f i n o , laço, m u ito c u r a d o e maci o , a f i m d e q u e fa ça u n i r a seda, e segurar o p e l l o . Para fazer o pel l o uzã o d ' h u mas varas de m eta l co m gross u ra proporci o n a d a , q u e tem h u ma e s p e c i e de ca n a l e h u m ferri n h o a q u e chamão tal haro l a , corre n d o por e l l e corta , e fo rma o p ê l l o da p e l u ça . Te m m u ita c a u t e l l a n a esc o l h a das cores p a r a esta m a n u fa c t u r a , q u e s e 1 m p er fe í çôa por q u a l q uer som b ra , q u e t e n h a a l g u m f i o . CA P I T U L L O 1 1 S o b re o s m et h o d o s d e fi a r a s e d a e m Tras o s M o n t es Parece-me con gru ente tractar n ' este l ugar o methodo de q u e uzão em Tras os M ontes; para fiar a seda o q u e faz h u m a a d d i çã o ao capitu l o da fa brica de sedas. Logo que o cap i l h o está fo rmado p e l o b i c h o , o poem ao sol; afim d e q u e m o rra d ' entro no cas u l o; a l iás nasceria; e por isso só excl u e m d ' i sto a q u e l l e s ca p i l h os , que se dest i n ã o para semente. D e p o i s tem h u m enge n h o , a que chamão carri l h o , que consta d ' h u m forn i l h o , p o r s i m a do q u a l está h u m tach o , em q u e se l a n ça agoa, e o s ca p i l h os para se cozerem ; t e m d u a s co lheres d e ferro de q uatro, ou sinco pol egadas de gra n d eza , com h u m b u raco no s i m o , em q u e se u n e m as ba bas d os c a p i l hos, q u e fo rmão o f i o , o q u a l passa a h u ma 38 1