O que Fazem Afinal os Pesquisadores que Praticam Grounded Theory? Autoria: Artur Eugênio Jacobus, Yeda Swirski de Souza, Cláudia Cristina Bitencourt Resumo A “grounded theory” (GT) é uma abordagem metodológica que se desenvolveu nos últimos 45 anos nas ciências sociais, inclusive no campo da administração. Desde sua origem, a GT tem sido objeto de debates acerca de suas proposições básicas e de suas prescrições. No presente estudo, procedeu-se à análise de 45 artigos que utilizaram a GT e foram publicados em periódicos internacionais da área da administração. O estudo revela que não há uma “grounded theory” unívoca, mas um conceito prototípico que se realiza de formas ligeiramente diferentes, ainda que mantenha uma essência que justifica o uso de uma mesma denominação. Introdução Quem está habituado a ler artigos acadêmicos na área da administração provavelmente já deve ter lido algum texto cujo autor afirma utilizar a abordagem metodológica denominada “grounded theory”. Essa metodologia, que costuma ser referida pelos pesquisadores brasileiros sem traduzi-la para o português, surgiu há mais de 40 anos na área da saúde e, aos poucos, floresceu em muitos galhos da copada árvore das ciências sociais. Quando se observa mais detalhadamente a área da administração, percebe-se que a “grounded theory” tem espaço bastante limitado em alguns periódicos com alto índice de impacto, como o Strategic Management Journal, que, após 2000, tem apenas um artigo cujo resumo faz referência a essa abordagem metodológica. Não é de se estranhar essa quase ausência, considerando que este é um exemplo de publicação que prioriza artigos que se valem de métodos quantitativos de investigação. Por outro lado, uma pesquisa mais abrangente nas bases de dados internacionais, como a EBSCO, revela uma plêiade de artigos na grande área da administração que mencionam a utilização da “grounded theory”. Entre esses periódicos, encontram-se alguns com alto índice de impacto, como Organization Science, MIS Quarterly ou Academy of Management Journal. Portanto, a “grounded theory” apresentase como uma opção metodológica para quem deseja realizar investigações na área dos estudos organizacionais e, ainda mais genericamente, no campo maior da administração. Desde sua proposição inicial, em livro seminal de 1967 – The Discovery of Grounded Theory: Strategies for Qualitative Research, de Barney Glaser e Anselm Strauss –, a “grounded theory” foi aplicada num grande número de artigos e teses de doutorado. Uma leitura dinâmica de artigos que se valem da “grounded theory” como abordagem metodológica permite que se percebam diferenças bastante expressivas, abrigadas sob uma denominação comum. Mas não foi apenas na aplicação que essa abordagem metodológica movimentou-se ao longo dos últimos anos: como se verá mais adiante neste artigo, a teorização que subjaz à metodologia continuou viva, dando lugar a divergências entre Glaser e Strauss, bem como a contribuições de diversos outros autores, entre os quais se destacam Charmaz (2006) e Corbin que, em edição mais recente (2008) do livro Basics of Qualitative Research: Techniques and Procedures for Developing Grounded Theory, escrito em parceria com Strauss e publicado pela primeira vez em 1990, manifesta um afastamento em relação a alguns conceitos de seu coautor, falecido em 1996. A semântica e a pragmática nos ensinam que as palavras podem carregar múltiplos sentidos e significados, dependendo do momento, do lugar e de quem as pronuncia. Assim, os breves indícios que se trouxe até aqui já são suficientes para colocar em questão a uniformidade dos conceitos e das aplicações abrigados sob a denominação da “grounded theory”: Substancialmente, quais são as diferenças entre as concepções de autores como Glaser, Strauss, Corbin e Charmaz? Para além dessas diferenças, existe ainda um nível de convergência que garante um mínimo grau de estabilidade ao conceito de “grounded theory”? As aplicações da “grounded theory” nos estudos organizacionais e sobre administração refletem as diferenças conceituais? Existe coerência entre as práticas metodológicas e os preceitos vinculados à “grounded theory”? Além dessas, outras perguntas são pertinentes para quem se interessa em saber como se dá a aplicação dessa metodologia: Para que tipos de problemas a “grounded theory” está sendo empregada? Quais as justificativas dos autores para sua utilização? Essas são algumas das legítimas perguntas que se pode fazer face a um cenário que está longe de ser homogêneo. Este artigo tem o propósito de buscar respostas para esse conjunto de questionamentos. Primeiramente, será apresentado um sucinto histórico da origem e desenvolvimento da “grounded theory”, comparando suas diferentes abordagens a fim de identificar convergências e sistematizar suas divergências. Após a apresentação dos 2 procedimentos metodológicos, faz-se um mergulho na produção acadêmica contemporânea para tentar alcançar uma compreensão mais abrangente de como a “grounded theory” tem sido aplicada nos estudos abrigados na grande área da administração. Por fim, apresentam-se as conclusões a que se chegou ao longo dessa jornada investigativa. “Grounded Theory”: origem e desenvolvimento Quando uma nova abordagem metodológica é proposta e ganha crescente número de praticantes, é sinal de que ela consegue atender a um conjunto de necessidades, latentes ou explícitas, de uma parte da comunidade científica. A “grounded theory” veio ao mundo em 1967, no livro The Discovery of Grounded Theory: Strategies for Qualitative Research, de Barney Glaser e Anselm Strauss. Naquela época, a pesquisa qualitativa, de forma acelerada, perdia terreno nos meios acadêmicos, mesmo nas ciências sociais (Charmaz, 2006; Bryant e Charmaz, 2007). A prática de pesquisa qualitativa realizada nos estudos sociológicos no âmbito da Escola de Chicago era considerada pouco sistemática, não resultando na apresentação integrada de teorias. Como nos revelam os próprios Glaser e Strauss (1967), os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa qualitativa costumavam não atender aos requisitos aplicados à pesquisa quantitativa, que, naquela época, havia se tornado o paradigma metodológico das universidades e centros de pesquisa dos Estados Unidos. Conforme Charmaz (2006, loc. 272), nos anos 60, os pesquisadores com orientação metodológica quantitativa viam a pesquisa qualitativa como sendo “impressionista, anedótica, assistemática e tendenciosa”. Faltavam-lhe propriedades consideradas importantes sob a perspectiva do dominante paradigma positivista: observação rigorosa, reprodutibilidade dos experimentos, dedução lógica de hipóteses, confirmação de evidências. Glaser e Strauss foram educados, respectivamente, sob dois paradigmas contrários: o mais interpretativista da Escola de Chicago e o claramente positivista da Columbia University. Porém, os dois sociólogos norte-americanos estavam descontentes com as alternativas metodológicas bipolares que se apresentavam naquela época, pois entendiam que as duas tradições compartilhavam a mesma limitação: não integravam teoria e pesquisa empírica. Para Glaser e Strauss (1967, p. vii), a tradição da pesquisa quantitativa tinha alcançado êxito na resposta ao desafio de testar teorias, com gradual aperfeiçoamento da metodologia de verificação, permanecendo, todavia, uma inércia quanto ao desenvolvimento da capacidade de produzir teoria a partir das pesquisas. A superação dessa lacuna não poderia vir, conforme os autores, com a fiel obediência a princípios vinculados a uma metodologia cujo enfoque é a verificação – e não a criação – de teorias. Uma nova alternativa precisava ser criada, e a “grounded theory” foi apresentada como um inovador conjunto de princípios, capaz de guiar os pesquisadores, especialmente no vasto campo das ciências sociais, a aproximarem teoria e pesquisa empírica e, ainda mais ousadamente, a gerarem novas teorias a partir da pesquisa – teorias sustentadas e nutridas pelos dados das pesquisas empíricas. A proposição da “grounded theory” não representava, para Glaser e Strauss (1967, p. 3), o rompimento com a tradição verificadora da pesquisa quantitativa, mas a apresentação de uma nova metodologia, que poderia dialogar com as estratégias cujo enfoque era o teste de teorias. Pode-se, portanto, afirmar que a “grounded theory”, por aqueles que a conceberam, não vinha substituir um paradigma, mas preencher uma lacuna, dialogando com paradigmas já existentes. Os autores são explícitos em sua proposta de diálogo entre o tradicional e o novo: “A teoria deveria fornecer claras e suficientes categorias e hipóteses, de forma que aquelas consideradas cruciais pudessem ser verificadas em pesquisas atuais e futuras; elas devem ser claras de forma a serem facilmente operacionalizadas em estudos quantitativos quando estes forem apropriados.” (Glaser e Strauss, idem, ibidem) 3 Uma atenta leitura do livro fundador da “grounded theory” também revela ser improcedente a afirmação de que a metodologia proposta por Glaser e Strauss é de ordem qualitativa, opondo-se às pesquisas quantitativas. Para os autores, tanto os métodos quantitativos quanto os qualitativos podem ser úteis, seja para testar, seja produzir teoria. Há ocasiões, inclusive, em que ambos os métodos devem ser empregados, um complementando o outro (Glaser e Strauss, 1967, p. 18). Essa concepção é compartilhada, por exemplo, por Shah e Corley (2006). Apesar de sua visão conciliadora entre as abordagens quantitativa e qualitativa, Glaser e Strauss acabam dando mais atenção a esta última, entre outras razões, porque os elementos cruciais das teorias sociológicas frequentemente são mais bem revelados à luz de um método qualitativo que colha dados sobre “as condições estruturais, consequências, desvios, normas, processos, padrões e sistemas” (Glaser e Strauss, idem, ibidem). A abordagem metodológica oferecida pela “grounded theory” também não foi vista por seus fundadores como uma solução para todas as questões de pesquisa. Na verdade, como acentuam Shah e Corley (2006, p. 1827), a “grounded theory” é mais indicada para a construção teórica que responda a questões de pesquisa que “exploram novas áreas, buscam revelar processos, entender fenômenos que são pouco compreendidos, tentar entender variáveis não especificadas ou ligações mal estruturadas ou examinar variáveis que não podem ser examinadas por meio da experimentação”. Glaser e Strauss (1967) destacam algumas das propriedades que deveriam estar presentes nas investigações que buscassem ser, no âmbito das ciências sociais, geradoras de novas teorias. A primeira delas é o envolvimento simultâneo na coleta e análise de dados, que rompe com a tradição da sequencialidade entre essas duas etapas. Outra característica é a construção de códigos e categorias analíticos a partir dos dados e não de hipóteses deduzidas logicamente de forma apriorística (conforme Charmaz, 2006, loc. 286). Glaser e Strauss também propõem o emprego constante do método comparativo, em todas as etapas da análise. Por sua vez, o desenvolvimento da teoria não acontece como uma culminância dos estágios anteriores, devendo ser uma construção gradual, que ocorre durante cada etapa da coleta e análise dos dados. Outro procedimento recomendado pelos autores é elaboração de notas (“memos”) ao longo do processo de coleta e análise dos dados, nas quais o pesquisador elabora categorias, especifica suas propriedades, define relações entre categorias e identifica lacunas (Charmaz, idem, ibidem). A amostragem teórica é também uma propriedade característica da “grounded theory”: os sujeitos da pesquisa, por exemplo, não são selecionados com vistas à sua representatividade frente ao conjunto da população estudada, mas em função de sua contribuição para o desenvolvimento da teoria. Dessa forma, a definição da amostragem acaba não se restringindo a uma fase inicial da pesquisa, como aconteceria numa “survey”, por exemplo, mas seria um processo sob contínua reavaliação, à medida que novos dados são coletados e analisados, e a teoria vai ganhando forma. Vinculado ao conceito de amostragem teórica está o de “saturação teórica”, que se verificaria quando o pesquisador, na análise dos dados, não encontra novos elementos que lhe permitam desenvolver as propriedades das categorias (Glaser e Strauss, 1967, p. 61). Por último, a mais polêmica das propriedades da metodologia proposta por Glaser e Strauss é a posição da etapa da revisão de literatura no conjunto de estágios que compõem a pesquisa: contrariando uma longa tradição, os autores sugerem que ela somente se efetive depois que tiver sido desenvolvida uma análise independente. Esse conjunto de propriedades fez com que a “grounded theory”, apesar de sua abertura para o diálogo com a tradição metodológica quantitativa e centrada na verificação de teorias, representasse a quebra de vários paradigmas e servisse como uma forma de conferir maior credibilidade às pesquisas qualitativas. Afinal, adotado o conjunto de procedimentos propostos, a investigação qualitativa estaria em condições de ir além de meros estudos 4 descritivos, ingressando no território dos frameworks teóricos explanatórios, capazes de fornecer “entendimentos abstratos e conceituais dos fenômenos estudados” (Charmaz, 2006, loc. 296). Em grande parte, os princípios fundamentais da “grounded theory”, tal como propostos no The Discovery of Grounded Theory, em 1967, foram aplicados e se mantiveram estáveis ao longo dos mais de 40 anos desde sua fundação. Porém, progressivamente, começaram a surgir questionamentos sobre alguns aspectos em particular e mesmo algumas dissidências. A primeira polêmica que cabe destacar diz respeito ao caráter eclético dos fundamentos da “grounded theory”, o que, por um lado, abriu espaço para elementos interpretativistas, especialmente pela valorização do discurso e da compreensão dos fatos sociais pelos sujeitos que os vivem, mas por outro, e paradoxalmente, aproximou essa abordagem metodológica de alguns princípios positivistas, como a busca de maior sistematização na coleta e análise dos dados. A esse respeito, Charmaz (2006, loc. 370) afirma que, apesar de sua raiz interpretativista, a “grounded theory”, ironicamente, passou a ganhar, nos anos 90, o respeito de pesquisadores com orientação positivista, parte dos quais, inclusive, começaram a incorporar alguns de seus procedimentos em suas investigações. Corbin (em Corbin e Strauss, 2008), por sua vez, reconhece que aconteceu uma natural evolução do método, com diferentes tentativas de modernizá-lo, de aproximá-lo do pensamento contemporâneo. Não se vai aqui fazer um relato histórico desses debates, mas apresentar alguns dos principais pontos de discussão, surgidos com o desenvolvimento da “grounded theory”. Uma relevante divergência aparece na discussão entre Charmaz (2000) e Glaser (2002). Charmaz procura adaptar a “grounded theory” a uma concepção construtivista, o que implica considerar a percepção do próprio investigador como integrante daquilo que é observado e coloca em questão o esforço de abstração que caracteriza os métodos analíticos propostos por Glaser e Strauss (1967). Glaser (2002), porém, entende que as diferentes perspectivas sobre os fatos sociais que cada pesquisador manifesta na sua atividade investigativa devem ser abarcadas pelo esforço de abstração conceitual em busca da geração de explicações teóricas que se originam dos dados, mas os transcendem. De qualquer maneira, identifica-se aqui uma divergência de fundo, pois a perspectiva adotada por Charmaz conduz a uma relativização do resultado do esforço analítico empreendido pelo pesquisador e questiona a possibilidade de que a “grounded theory” possa produzir teorias testáveis por formas objetivas de verificação. Alguns autores identificam que os fundadores da “grounded theory” acabaram seguindo caminhos distintos em relação à sua proposta original. Para Goulding (2001, p. 30), Glaser passou a enfatizar o caráter emergente da teoria, ao passo que Strauss, junto com Corbin, colocou em primeiro plano a força da teoria a ser gerada. Conforme essa análise, a ênfase de Glaser teria se dirigido para o processo criativo e a necessidade de que o pesquisador se aprofunde nos dados a fim de fazer com que a teoria deles “emerja”. Já Strauss e Corbin teriam dado maior atenção ao desenvolvimento de um sistema altamente complexo de codificação, delineado para conduzir o pesquisador ao longo das diversas fases da pesquisa. Na análise de Goulding, ambas as perspectivas podem conduzir a problemas: ou do excessivo risco que pode correr o pesquisador que mergulha nos dados e se entrega a um processo criativo, ou do mecanicismo metodológico que justamente coloca em perigo a criatividade. Outro ponto de dissenso diz respeito ao papel e à posição da revisão da literatura ao longo do processo de investigação. Na verdade, Glaser e Strauss (1967) são ambivalentes em suas recomendações sobre a incorporação do conhecimento teórico prévio no esforço de investigação. Em determinado momento, aconselham, como estratégia, ignorar a literatura sobre o tema que está sendo pesquisado a fim de assegurar que a emergência de categorias 5 não seja “contaminada” por conceitos que seriam mais adequados em outras áreas, deixando que as similaridades e convergências com a literatura sejam estabelecidas “somente depois que o núcleo analítico de categorias tenha emergido” (idem, p. 37). Porém, em outro momento (idem, p. 253), os fundadores da “grounded theory” afirmam não existir uma fórmula pronta em relação a essa questão, sugerindo que cada pesquisador experimente qual estilo de trabalho funciona melhor para si, admitindo que é possível haver, desde o início do processo investigativo, um diálogo entre literatura e dados. Apesar de não esconderem sua preferência, Glaser e Strauss não são dogmáticos em relação ao papel da revisão de literatura. Há, porém, autores que acentuam as vantagens, no processo de geração de teoria, da suspensão do conhecimento teórico prévio antes do mergulho nos dados. Henwood e Pidgeon (1992, p. 104), por exemplo, consideram que essa suspensão confere maior liberdade e criatividade ao pesquisador, essenciais para o esforço de geração de nova teoria. Deixando de lado qualquer lente teórica precisa, que auxiliaria a estruturar o caos dos dados, o pesquisador começaria seu trabalho com lentes conceituais desfocadas, mas seu esforço de aprofundamento analítico faria com que as lentes se tornassem cada vez mais focadas – contudo, a perspectiva do olhar seria outra, nova, ainda que tivesse propriedades comuns com as lentes conceituais preexistentes. Essa entrega quase absoluta aos dados, de forma desapaixonada, é questionada por Fendt e Sachs (2008), para quem a motivação para a pesquisa acerca de um determinado problema é normalmente desenvolvida a partir das leituras e experiências prévias do pesquisador, normalmente plenas de entusiasmo e curiosidade. Para Suddaby (2006, p. 634), não passa de um equívoco acreditar que seja possível iniciar uma pesquisa com a mente em branco ou, mais modestamente, que se deixe para fazer uma revisão de literatura apenas após ter analisado os dados empíricos. Cabe destacar também o conflito básico entre flexibilidade e rigidez, que tem caracterizado a discussão contemporânea acerca da “grounded theory”. Conforme Suddaby (2006, p. 638), essa disputa entre puristas e pragmáticos estaria sendo travada entre aqueles que escrevem sobre essa abordagem metodológica e aqueles que a empregam em suas pesquisas. Fendt e Sachs (2008) estão entre aqueles que propõem a adoção de uma abordagem mais pragmática da “grounded theory”. Além de questionarem o que eles classificam como dogma irrealista da entrega desapaixonada aos dados, consideram igualmente equivocada a prática da revisão da lógica e coerência da codificação dos dados por um acadêmico não envolvido na pesquisa. A esse respeito, fazem a seguinte pergunta retórica: “Como pode alguém que não estava lá quando as palavras foram pronunciadas fazer um juízo razoável sobre se a linha da entrevista transcrita estava corretamente resumida num determinado código?” (Fend e Sachs, 2008, p. 440). Os mesmos autores também lançam um olhar crítico sobre as prescrições metodológicas acerca do processo de codificação, presentes especialmente nas orientações de Corbin e Strauss (1990). Para Fend e Sachs (2008, p. 447), as rígidas formas de codificação propostas não são capazes de produzir melhores resultados do que fariam abstrações mais flexíveis. Argumentam que, ao contrário, o rigoroso exercício de análise tende a “amortecer a agudeza da percepção” e suprimir o uso das capacidades naturais dos pesquisadores na condução de seus estudos. Essa rápida incursão na história da “grounded theory” e nas discussões contemporâneas sobre essa abordagem metodológica revela, ao mesmo tempo, seu caráter inovador e sua reafirmada relevância para a produção científica no âmbito das ciências sociais, assim como exibe o natural movimento de cristalização de alguns conceitos e a flexibilização de outros. Procedimentos metodológicos Para se alcançar uma compreensão mais abrangente de como a “grounded theory” está sendo aplicada nos estudos na área da administração, constituiu-se um corpus com 45 artigos 6 com relatos de pesquisas empíricas em que essa metodologia foi empregada. Esses artigos foram selecionados a partir de uma consulta à base de dados Business Source Complete, que integra a plataforma EBSCOhost. O critério para pesquisa na base de dados foi simples: buscaram-se artigos que tivessem a “grounded theory” em seu “abstract”. Não se fez restrição quanto ao índice de impacto das publicações, pois se desejava alcançar uma visão mais ampla da produção científica que faz uso dessa metodologia, sem o filtro dos critérios editoriais dos principais periódicos científicos, alguns dos quais simplesmente não abrem espaço para estudos qualitativos. Foram descartados os artigos que não apresentavam relato de estudos empíricos ou que não tratassem de tema abarcado na grande área da administração. Desse levantamento, chegou-se ao saldo final de 45 artigos, publicados entre 1995 e 2011. Destes, cinco foram publicados até 1999 e os demais 40 a partir de 2000, sendo 24 deles nos últimos cinco anos. Há certo equilíbrio na distribuição dos artigos por periódico: quatro são do Administrative Science Quarterly, três são da Organization Science, dois do Academy of Management Journal, dois do British Journal of Management, dois do Journal of Management Studies, dois do Management Decision, dois do Journal of Business Ethics e dois do Strategic Management Journal. Os demais periódicos contribuíram com apenas um artigo. O espectro editorial é bem amplo, indo desde periódicos de alto índice de impacto e abordagem abrangente, como o Management Science, até revistas mais especializadas, como o International Journal of Operations & Production Management ou The Leadership Quarterly. A aplicação da “grounded theory”, nos 45 artigos estudados, abrange temas dos mais diversos, entre os quais se destacam a inovação, liderança, comportamento organizacional, tomada de decisão, marketing; ética nos negócios, identidade organizacional, mudança organizacional e relações interorganizacionais. Como se pode observar no quadro 1, abaixo, também há quem empregue a “grounded theory” para tratar de outros temas, como operações offshoring (Levina e Vaast, 2008) ou empreendedorismo (Ahlstrom e Bruton, 2010). Quadro 1 - Distribuições dos artigos por temática Temática Autores aprendizagem organizacional Zietsma et al (2002) competências organizacionais Cao e Dupuis (2009) comportamento organizacional Bacharach et al (2000), Collins (1995), Cooper e Kurland (2002), Halme (2002), Henning (2008), Margolis e Molinsky (2008), Michel (2007) desenvolvimento de produto empreendedorismo ERP ética nos negócios gestão da informação gestão de projetos gestão do conhecimento gestão estratégica identidade organizacional inovação liderança marketing Burchill e Fine (1997) Ahlstrom e Bruton (2010) Dowlatshahi (2005) Bhal e Leekha (2007), Garriga (2009) Barker (1998) Kendra e Taplin (2004) Kangas (2009) Kiridena et al (2009) Clark et al (2010), Gioia et al (2010) Andriopoulos e Lowe (2000), Campos et al (2009), Carrero et al (2000), Dougherty (2004), Johnson (2007), Wang et al (2011) Graebner (2004), Jones e Kriflik (2006), Kan e Parry (2004), Martin (2010) Ashill et al (2003), Haslam (1997), Hofmann et al (2009) 7 mudança estratégica mudança organizacional offshoring relações interorganizacionais tomada de decisão Davies (2007) Bamford (2008), Volkoff et al (2007) Levina e Vaast (2008) Autio et al (2004), Binder e Clegg (2007), Browning et al (1995), Fuller e Lewis (2002), Shaffer e Hillman (2000) Douglas (2006), Heugens et al (2004), Manuj e Sahin (2011) O diverso panorama temático sintetizado o quadro 1 confirma o que já diziam Charmaz (2006), Shah e Corley (2006) e Suddaby (2006) a respeito do emprego disseminado da “grounded theory” nos estudos organizacionais e de gestão. “Grounded Theory” aplicada à área da administração: diversidade e contradições O exame de cada um desses artigos começou por um olhar mais minucioso sobre a explicitação ou não dos motivos que levaram os autores a empregar a “grounded theory”. Na maioria dos artigos, há uma justificativa explícita para o uso dessa abordagem metodológica. Bamford (2008, p. 112), por exemplo, afirma ter buscado uma metodologia que não resultasse em teorias triviais e que fosse estruturada para gerar e não para testar teorias, recaindo sua opção sobre a “grounded theory”. Porém, diversos autores da amostra de artigos justificaram sua escolha pelo fato de que a metodologia desenvolvida por Glaser e Strauss ser particularmente adequada em áreas em que o desenvolvimento teórico ainda é muito limitado ou inexistente e o fenômeno social a ser estudado tem maior complexidade (Shaffer e Hillman, 2000; Johnson, 2007; Graebner, 2004; Garriga, 2009; Cao e Dupuis, 2009, entre outros), o que vai ao encontro da proposta original de Glaser e Strauss (1967). Alguns pesquisadores, como Manuj e Sahin (2011) e Kiridena et al (2009) destacam o rigor desse método qualitativo quanto à coleta, análise dos dados e consequente geração de teoria. Outra linha de argumentação presente em alguns artigos diz respeito à natureza do fenômeno a ser estudado, altamente determinado pelo contexto organizacional em que ele está inserido, o que exige uma abordagem metodológica sensível às percepções dos sujeitos que vivem esse fenômeno (Kan e Parry, 2004; Jones e Kriflik, 2006; entre outros). A leitura desse conjunto de artigos reforça a percepção de que autores que abrem mão de empregar métodos quantitativos em suas investigações acabam preocupando-se, em geral, mais do que os outros com a apresentação de justificativas para a utilização de metodologias qualitativas, o que não surpreende considerando o fato de que esse caminho não é o mais comum em várias áreas dos estudos organizacionais ou sobre gestão. A preocupação com a confiabilidade das análises é explícita na maioria dos artigos analisados. A fim de diminuir o risco de tendenciosidade das informações, em 29 dos 45 artigos, há referência direta ou indireta à triangulação de dados. O recurso mais usado é a utilização de dois ou mais métodos de coleta de dados. Predominam as entrevistas semiestruturadas, muitas vezes acompanhadas de observação participante ou de consulta a dados de arquivos. Por exemplo, Bamford (2008, p. 115) entendeu que não era suficiente apenas entrevistar os gestores a respeito do processo de mudança nas duas empresas estudadas, procurando incluir pessoas em diferentes níveis hierárquicos das organizações, bem como despender longos períodos de observação participante nos escritórios e no chão de fábrica. Assim, entendia que conseguiria alcançar uma compreensão multidimensional dos processos de gestão da mudança nas empresas pesquisadas. Já Clark et al (2010) procuraram ir adiante: além de contar com três formas de coleta de dados – entrevistas semiestruturadas, observação participante e dados de arquivo –, recorreram a codificadores externos para se 8 assegurarem de que tinham feito uma adequada codificação dos dados. Procedimentos similares foram adotados, entre outros, por Gioia et al (2010) e Martin (2010). Se a preocupação com o rigor metodológico se manifesta pelo uso de múltiplas formas de triangulação e pelo recurso à validação das codificações por terceiros, não se percebe, na maioria dos artigos, igual empenho para detalhar o processo de codificação e análise dos dados. Percepção similar já havia sido expressa por Suddaby (2006, p. 640), que, em seu trabalho de editor de um periódico, deparou-se, inúmeras vezes, com manuscritos de autores que afirmam seguir os princípios da “grounded theory”, fazem breves citações a Glaser e Strauss, mas oferecem pouca ou nenhuma descrição de sua metodologia. De fato, inúmeros artigos dedicam alguns poucos parágrafos para informar, genericamente, os procedimentos utilizados, partindo logo em seguida para a apresentação de seus frameworks teóricos (entre outros, Ahlstrom e Bruton, 2010; Andriopoulos e Lowe, 2000). A prática comum à maioria dos autores é a de fazer referência a alguns procedimentos metodológicos característicos da “grounded theory”, sem explicitar como eles de fato foram empregados na sua própria pesquisa. Assim, é comum haver uma definição comentada dos três tipos de codificação propostos por Corbin e Strauss (1990) – codificação aberta, axial e seletiva –, bem como referência à técnica de redação de anotações (“memos”) ao longo do processo de coleta de dados, ao processo de amostragem teórica e à aplicação do método de comparação constante. Há, porém, algumas notáveis exceções. Por exemplo, Jones e Kriflik (2006, p. 161) relatam a necessidade de complementar seu trabalho de coleta de dados depois que perceberam que o primeiro trabalho de codificação mostrou resultados inconsistentes sobre a relação entre subordinados e líderes. Burchill e Fine (1997), por sua vez, detalham as diferentes fases do processo de codificação que seguiram em sua investigação. A regra geral, porém, é a de que os artigos dediquem breve espaço para citar algumas técnicas empregadas, sem descrever, com o esperado detalhamento, o processo específico adotado para conseguir partir da codificação até chegar à produção de nova contribuição teórica. Em geral, paira um mistério sobre como se deu efetivamente o trabalho indutivo de chegar dos dados à teoria. Quanto à adoção da comparação constante, ela é citada em quase todos os artigos analisados. Heugens et al (2004), por exemplo, estudando as ameaças à reputação organizacional, afirmam que fizeram uso constante de comparações entre os insights empíricos emergentes e sua teoria genérica da capacidade organizacional. A produção de um framework inicial permitiu que os autores fizessem aos respondentes questões mais focadas durante o período de coleta de dados, ao passo que os insights recebidos dos informantes lhes permitiram que seu framework fosse aplicado em materiais empíricos que eles estavam investigando. Esse círculo virtuoso de retroalimentação é característica comum aos artigos analisados, confirmando a adoção de procedimento que é quase definidor da “grounded theory”, mas que é estranho às metodologias que pressupõem uma relação linear e sequencial entre coleta e análise dos dados. Outro ponto que chama a atenção na análise dos 45 artigos diz respeito ao emprego de dados quantitativos. Vários autores apresentam a “grounded theory” como sendo uma abordagem metodológica qualitativa. Como se mostrou anteriormente, não é de se estranhar essa vinculação entre “grounded theory” a procedimentos qualitativos já que estes são apontados, por Glaser e Strauss (1967) e por Corbin e Strauss (1990), como sendo mais adequados para obter dados capazes de gerar novas teorias. Apesar disso, os proponentes da “grounded theory” até estimularam a integração de dados quantitativos e qualitativos, proposta à qual se somam Shah e Corley (2006). Esse apelo foi ouvido em quatro das pesquisas analisadas neste trabalho: Binder e Clegg (2007); Garriga (2009); Kan e Parry (2004) e Kangas (2009). Um exemplo é a estratégia adotada por Garriga (2009), em cujo estudo sobre a relação de empresas com redes de “stakeholders”, foram combinados dados qualitativos com dados quantitativos obtidos em uma survey. 9 Essa postura heterodoxa em relação à “grounded theory” é ainda mais acentuada quando se examina a relação entre revisão de literatura e as etapas de coleta e análise dos dados. Ainda que muitas vezes tenham aconselhado seus discípulos a revisarem a literatura apenas após terem realizado sua própria análise dos dados, os fundadores da “grounded theory” jamais estabeleceram essa sugestão como um dogma. E, de fato, o que se observa, nos artigos analisados, é a literatura existente funcionando como um ponto de partida para a formulação do problema de pesquisa. A regra geral é que os pesquisadores não se veem como Adão e Eva na história da ciência. Suas novas proposições dialogam com o que já foi produzido. Não costumam ser absolutamente inovadoras, mas pretendem avançar as teorias para novos campos, considerar novas perspectivas. Por essa razão, 44 dos 45 artigos apresentam, como de praxe, a revisão de literatura antes de tratar da coleta e análise dos dados. Percebe-se que, de alguma forma, concordam com Suddaby (2006, p. 635), quando este afirma que não há pretexto para se ignorar o conhecimento prévio e sugere que os praticantes da “grounded theory” busquem encontrar o ponto de equilíbrio entre uma visão que tem a carga do conhecimento teórico já produzido e um empiricismo livre de amarras. A única exceção no corpus é o artigo de Browning et al (1995), que, inclusive, chega a alertar seus leitores de que não vão encontrar em seu texto a estrutura padrão dos relatos de pesquisa. Ao contrário, apresenta primeiro os dados colhidos no campo e sua análise, para somente depois cotejar suas contribuições com a literatura existente sobre o tema. Sua justificativa para essa organização diferenciada é a reprodução, na estrutura de seu artigo, da sequência por ele seguida em seu estudo indutivo qualitativo. Mas, mesmo esse procedimento divergente em relação aos demais artigos de nosso corpus não pode ser vinculado a qualquer dogmatismo. Pode ser mais bem interpretado como manifestação da heterogeneidade de caminhos que uma concepção mais flexível da “grounded theory” permite percorrer. Cabe, por fim, falar em teoria, tomando por base uma observação sobre os resultados das pesquisas que foram objeto de análise neste trabalho. Glaser e Strauss (1967) não denominaram à toa sua proposta metodológica de “grounded theory”. A teoria está no seu nome. E a abordagem foi idealizada por esses autores não para testar teorias, mas para gerálas. Porém, uma análise de 45 artigos que dizem se valer da “grounded theory”, a partir de uma concepção mais restrita do que seja teoria, como defendem Sutton e Staw (1995), gera dúvidas sobre se o propósito original dessa abordagem metodológica está realmente sendo considerado por aqueles que a empregam. Essa constatação não deve, porém, nos surpreender, se considerarmos que Weick (1995) já dizia que, nos estudos organizacionais, raras são as teorias plenas e, normalmente, o que se chama de teoria são apenas aproximações. Se adotada a posição mais realista e menos exigente de Weick, será aceitável que as investigações produzam aproximações teóricas, que podem se manifestar, por exemplo, na forma de dados, listas de variáveis, diagramas e hipóteses. Sob essa perspectiva, pode-se conformar-se com o fato de que a quase totalidade dos artigos analisados não produzem teoria plena, mas aproximações teóricas. Essa aceitação, porém, ainda deixa margem a uma grande dúvida. A maioria dos artigos termina convidando outros pesquisadores a testarem empiricamente as propostas teóricas apresentadas. Se esse trabalho de verificação não tem sequência – se o caminho percorrido pelas pesquisas termina com a contribuição de uma aproximação teórica eternamente à espera de ser testada –, então pouca relevância o esforço investigativo individual tem no coletivo trabalho de produção do conhecimento científico. Cabe investigar se as trilhas iniciadas nas pesquisas que adotam a “grounded theory” estão se apagando rapidamente no meio da floresta da ciência ou estão progressivamente transformando-se em estradas percorridas por outros pesquisadores. 10 Conclusões Quando se deu início a esta jornada investigativa, não se tinha uma ideia muito segura do destino a que ela conduziria. Afinal, não se estava testando uma teoria, mas explorando o empírico campo da aplicação de uma abordagem metodológica que ainda parece nova, apesar de já ter cerca de 45 anos. Leituras anteriores haviam indicado que a “grounded theory” poderia ser um tema fascinante por se oferecer como alternativa mais sistemática de investigação qualitativa e por se propor a ser um caminho inovador para a produção teórica, especialmente no âmbito das ciências sociais. Ao mesmo tempo, sabia-se que a “grounded theory” não estava cristalizada na sua proposta original, que ela continuou viva por aqueles que a têm pensado e usado, dando origem a naturais divergências. O estudo das origens e do desenvolvimento dessa abordagem metodológica, e especialmente a verificação de sua utilização em artigos na área da administração, confirmou algumas ideias preconcebidas, desmentiu outras e produziu novas percepções. Ratificou-se a visão de que não há uma “grounded theory” objetivamente material e unívoca, mas um conceito prototípico que se realiza de formas ligeiramente diferentes, ainda que mantenha uma essência que justifica o uso de uma mesma denominação. Ainda assim, vale observar que foram identificados, na realidade dos artigos analisados, menos divergências do que se poderia esperar a partir das fortes discussões protagonizadas, por exemplo, por Charmaz e Glaser (2002). A análise dos artigos demonstrou a forte convergência em torno de conceitos como a amostragem e a saturação teóricas, bem como da comparação permanente. Não se encontrou, ao contrário do que se poderia prever a partir dos comentários de Suddaby (2006), um distanciamento em relação à literatura existente; ao contrário, faz-se presente um diálogo que é muito mais ativo do que se poderia esperar a partir das recomendações de Glaser e Strauss (1967). Perdura, porém, séria dúvida sobre a substancialidade da contribuição teórica realizada por muitos dos pesquisadores que têm se valido da “grounded theory”, o que demandaria novas investigações, que nos pudessem dizer se as sementes teóricas lançadas ao solo pelos estudos que se valem dessa metodologia têm germinado ou fenecido entre as pedras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHLSTROM, David; BRUTON, Garry D. Rapid Institutional Shifts and the Co-evolution of Entrepreneurial Firms in Transition Economies. Entrepreneurship: Theory & Practice, p. 531-554, may. 2010. ANDRIOPOULOS, Constantine; LOWE , Andy. Enhancing organisational creativity: the process of perpetual challenging. Management Decision, vol. 38, n. 10, p. 734-742, 2010. ASHILL, Nicholas J.; FREDERIKSON, Mark; DAVIES, John. Strategic marketing planning: a grounded investigation. European Journal of Marketing, vol. 37, n. 3/4, p. 430-460, 2003. AUTIO, Erkko; HAMERI, Ari-Pekka; VUOLA, Olli. 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