Competição, filtros ambientais ou acaso? Estruturação de uma comunidade de plantas na Amazônia Central Pedro R. Vieira, Fernanda C. G. Cardoso, João Marcos G. Capurucho e Mônica A. Mamão 2007). Introdução Estes atributos representam Um dos desafios da ecologia informações de como os organismos se vegetal é entender quais processos relacionam com as condições bióticas e determinam a distribuição das espécies abióticas do meio. Por exemplo, plantas nas florestas tropicais. A coexistência que apresentam folhas com área foliar entre maior espécies vegetais pode ser podem interceptar maior explicada por diferentes processos, quantidade de luz, o que lhes conferiria baseados na teoria do nicho ou na teoria maior neutra (Tilman 1988; Hubbell 2001). A determinados ambientes. A abordagem teoria do nicho considera que as focada nos atributos funcionais tem sido espécies muito possuem particulares que características determinam vantagem utilizada adaptativa para entender em os sua processos determinantes na estruturação capacidade para utilizar determinados das comunidades (McGill et al. 2006), recursos (Hutchinson 1957). Por outro como filtros ambientais ou competição. lado, a teoria neutra considera que todas as espécies mesma selecionar as espécies que irão ocorrer capacidade de utilizar os recursos, e que em um determinado local devido a a ocorrência das espécies depende de condições ambientais limitantes como processos estocásticos (Hubbell 2001). luminosidade, temperatura e umidade A possuem variação funcionais das dos atributos pode (Keddy 1992). Assim, apenas as ser espécies que possuem atributos que lhes explicada por processos neutros e de conferem capacidade de suportar tais nicho (McGill et al. 2007; Kraft et al. condições estarão aptas a sobreviver em 2008). são um determinado local. Essas adaptações quaisquer características morfológicas, às características do meio devem levar a fisiológicas ou fenológicas que afetam o uma convergência de determinados desempenho dos indivíduos em um atributos determinado ambiente (Violle et al. comunidade. Por outro lado, espécies Atributos plantas a Os filtros ambientais podem funcionais funcionais dentro da 1 que utilizam um recurso de forma composta por floresta de terra firme e similar não devem coexistir com muita pertence frequência, já que aquela que for Biológica de Fragmentos Florestais” competitivamente superior irá excluir a (INPA/Smithsonian). Selecionamos 12 inferior quando os recursos estiverem pontos de amostragem,em diversas limitados no ambiente (Weiher 1998). condições de luminosidade e distantes Assim, a competição implica em uma no mínimo 30 m entre si. Em cada um limitação de similaridade no uso de desses recursos por espécies co-ocorrentes morfoespécies de plantas mais próximas (MacArthur & Levins 1967). Como ao ponto, coletando uma folha madura resultado, em ambientes com recursos de cada planta. Limitamos a coleta a limitantes, espera-se encontrar uma indivíduos de 1 a 3 m de altura das divergência de atributos funcionais formas de vida herbácea, arbustiva e entre as espécies de uma comunidade. arbórea e excluímos as morfoespécies Procuramos com este estudo ao pontos “Projeto Dinâmica amostramos as 12 com folhas compostas ou digitadas. responder qual é o processo que atua na Após a coleta, medimos o estruturação de uma comunidade de comprimento e a largura de cada folha. plantas. as A partir dessas medidas, calculamos a seguintes hipóteses: (i) as espécies serão área da folha utilizando a fórmula da mais semelhantes em seus atributos área funcionais for comprimento*raio da largura) e o índice estruturada por filtros ambientais, e (ii) de forma foliar, determinado pela razão haverá maior diversidade de atributos entre comprimento e largura da lâmina funcionais entre as espécies se a foliar. Para cada unidade amostral comunidade construímos gráficos de dispersão com Para se tal, a for formulamos comunidade estruturada pela competição. da elipse (2*π*raio do os valores do índice de forma foliar e da área foliar, e calculamos a área do menor polígono convexo delimitado Métodos Desenvolvemos este estudo na Fazenda Dimona (2º20’S-60º06’O), pelos pontos no gráfico de dispersão (Cornwell et al. 2006). Para tal, localizada a 90 km ao norte de Manaus utilizamos (AM), na Amazônia Central. A área é polígono a proporção ocupava dentro que de cada um 2 retângulo definido pelos valores Resultados máximos e mínimos do índice de forma Identificamos no total 79 foliar e da área foliar. Repetimos esse morfoespécies de plantas. O valor procedimento para cada uma das 12 médio do índice de forma foliar das unidades amostrais, calculamos a média folhas coletadas foi 2,61 (desvio padrão desses resultados e a utilizamos como = 1,08) e a média da área foliar foi 204 medida de diversidade funcional a ser cm2 (desvio padrão = 296,82). A média testada em comparação com um modelo da proporção da área ocupada pelos 12 nulo (Gotelli & Graves 1996). Para o polígonos foi de 0,201. Comparando modelo nulo, repetimos o mesmo esse procedimento 1000 vezes, aleatorizando observamos que cada morfoespécie dentro das unidades convergência nem amostrais. Fixamos o número de vezes atributos que as morfoespécies ocorriam em cada estudado (p = 0,094; Figura 1). valor com o funcionais modelo não nulo, houve divergência no de sistema amostra para manter os valores de riqueza similares à riqueza observada. Figura 1 – Número de observações para cada valor médio da área do polígono convexo das unidades amostrais aleatorizadas. A linha vertical indica o valor médio observado das áreas dos polígonos convexos das 12 unidades amostrais. 3 convergência Discussão A divergência de atributos funcionais tem sido atribuída ao efeito atributos, (MacArthur & Levins pois divergência é de estruturada estocasticamente. da competição devido à limitação de similaridade ou Neste trabalho buscamos observar se ocorria um padrão de 1967), enquanto que a convergência é convergência atribuída à ação dos filtros ambientais, atributos funcionais na comunidade, devido ambientais considerada em uma escala ampla de limitantes (Keddy 1992). Neste estudo variação de luminosidade. É possível não encontramos padrão de divergência que ou na específicas, como em ambientes de comunidade de plantas, diferentemente borda ou interior de florestas, a de outros trabalhos, que explicam a competição ou os filtros ambientais coexistência possam a condições convergência de entre atributos espécies pela ou em divergência condições atuar na de ambientais estruturação da competição ou pelos filtros ambientais comunidade. Estudos futuros devem (Stubbs & Wilson 2004; Cornwell et al. testar se, nas condições citadas acima, 2006; Kraft et al. 2008). seriam encontrados processos como Um dos mecanismos que pode competição ou filtros ambientais, ou se estruturar a comunidade estudada é a a estruturação da comunidade seria equivalência funcional proposta por aleatória. Em clareiras e bordas, por Hubbell (2001, 2005). Essa teoria prevê exemplo, é possível que o efeito de que são filtros ambientais seja determinante na ecologicamente similares, de tal forma estruturação da comunidade, pois as que condições de temperatura e umidade todos os não organismos existiria direcionamento na nenhum estruturação comunidade. A estruturação comunidades biológicas da poderiam limitar o estabelecimento de das algumas espécies. Por outro lado, no dependeria interior de florestas o processo apenas do acaso na ocorrência de direcionador da comunidade pode ser a eventos competição de dispersão, extinção e colonização. Sendo assim, podemos por luminosidade, um recurso limitante nesses ambientes. interpretar que a comunidade estudada não apresenta um padrão de Agradecimentos 4 Agradecemos o professor niche-based tree community Adriano Melo pela orientação e Claudia assembly in an Amazonian forest. Paz e Fabrício Baccaro pela ajuda e Science, 322:580–582. discussões. MacArthur, R. & R. Levins. 1967. 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