A história de Maria Benguela e Pascoal Autora e ilustradora – Kathy Silva Era uma vez a Maria Benguela, que era uma menina preta, tão preta como o café, preta, preta como a tinta da china. Preta e bonita como a noite mais escura. Era uma vez o Pascoal, que era um menino branco, tão branco como a cal da parede. Branco como as pombas tão brancas. chaminés das casas pintadas de novo. Como as O Pascoal não tinha muitos amigos com quem pudesse brincar. Tinha bonecos de trapo, que a mãe cosia, com restinhos de pano que costumava arranjar. Maria Benguela tinha alguns amigos. Mas já eram crescidos e iam trabalhar. Mas o que ela queria era uma amigo como ela. Assim pequenino, com quem pudesse brincar. Mas onde encontrar? Um dia o Pascoal, cansado de brincar com meninos de pano que não sabiam falar, atirou-os para o canto e foi procurar. Queria um amigo de verdade! E Maria Benguela de olhos tão pretos, como o carvão da lareira que faz o pau para escrever, pôs-se à porta de casa, à espreita com os olhos esperando, talvez, um amigo encontrar. Calhou a mãe do Pascoal precisar de café para o jantar e pedir ao seu filho que descesse a rua, olhasse os sinais e o fosse comprar. Um quilograma devia bastar. E quando descia a rua Pascoal parou. Uma menina de tranças, mais tranças, trancinhas virou a cabeça e com ele falou. -Que pele tão branca tu tens da cor dos meus dentes e das palmas das mãos que batem contentes. E que bonita és tu da cor do café que vou agora comprar, da cor dos caracóis dos meus cabelos, da cor das meninas de todos os olhos. E Pascoal deixou-se estar a brincar com a amiga que acabara de encontrar. Foi quando se lembrou do recado que a mãe lhe mandara fazer. Pegou Benguela pela mão e saiu a correr. Mas já não comprou café porque a loja fechara. Mas Maria Benguela, da cabeça cheia de tranças e trancinhas tirou uma ideia. Então, Pascoal chegou a casa e disse: “Não trouxe o café que tu me pediste, mas trouxe uma amiga que é da cor do café e tão linda que é, não é?”. E a mãe sorriu. E a Benguela sorriu. E o Pascoal sorriu. Finalmente tinha uma amiga com quem brincar. Uma amiga de verdade… e que tranças, trancinhas… Depois disto tudo, Benguela seguiu para casa a pensar… Agora já tinha um amigo, da sua idade, com quem podia crescer, falar e brincar. Era um menino branco como os seus dentes, como o cantinho dos olhos, como as palmas das mãos e como o açúcar docinho que estava no meio do bolo que a sua mãe acabara de cozinhar.