ID: 35942729 10-06-2011 Tiragem: 48379 Pág: 10 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 28,72 x 35,44 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Saúde Relatório de actividades de 2010 aponta várias deficiências no sector Sanções disciplinares a profissionais de saúde mais do que triplicaram Inspecção-Geral das Actividades em Saúde aplicou 76 penas disciplinares no ano passado, das quais nove resultaram em despedimento. Um ano antes, tinham sido apenas 21 João d’Espiney e Alexandra Campos a O número de sanções disciplinares aplicadas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) mais do que triplicou no ano passado em comparação com 2009. Em 2010, 76 profissionais de saúde foram condenados a penas disciplinares, que em nove casos resultaram mesmo em demissão ou despedimento, quando no ano anterior tinham sido sancionados 21 trabalhadores, levando à saída de apenas um funcionário. Os motivos são variados, mas o que está na base do maior número de penas disciplinares é a “deficiente actividade assistencial” que envolve médicos — e que culminou em sete penas de suspensão, oito de multa e cinco repreensões escritas. No total, foram determinadas duas dezenas de sanções por esta razão, quando em 2009 tinham sido seis. A maior parte (sete) das demissões e despedimentos de profissionais de saúde em 2010 ficou a dever-se à falta de assiduidade (motivo que, em 2009, originou apenas uma suspensão). Um médico foi demitido por “violação dos deveres gerais” no ano passado. E outro profissional de saúde foi também despedido por “irregularidades administrativas/financeiras”. Das 27 suspensões decretadas pela IGAS, oito deveram-se a irregularidades administrativas/financeiras, sete a deficiente actuação assistencial, seis a violação de deveres gerais e cinco a irregularidades na prescrição, aviamento ou facturação de medicamentos. O relatório da IGAS não discrimina as profissões em causa em cada uma das sanções disciplinares. Quanto às 21 multas aplicadas, oito decorreram da deficiente actuação assistencial, cinco da violação de deveres gerais e outras tantas da falta de assiduidade. Processos em tribunal Confrontado pelo PÚBLICO com esta informação, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, desvaloriza o número de penas disciplinares aplicadas pela IGAS, notando que o seu impacto é diminuto, tendo em conta o vasto universo de hospitais e de profissionais de saúde abrangidos. Relativamente ao problema da falta de assiduidade que esteve na origem de sete despedimentos, Pedro Lopes admite que este se faz sentir mais em determinadas áreas hospitalares e que obriga a “alguma preocupação”, ainda que não demasiada. No conjunto de inspecções leva- Maioria das demissões e despedimentos ficou a dever-se à falta de assiduidade Gestores não cortaram cinco por cento nos salários Lei em vigor prevê demissão mas ninguém foi sancionado Vários gestores de organismos do Ministério da Saúde pura e simplesmente ignoraram a decisão governamental de cortar cinco por cento nos seus salários, tal como estava previsto no segundo Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) aprovado em Junho de 2010. De acordo com o relatório de actividades de 2010 da IGAS, “foram identificados casos em que as entidades inquiridas não procederam à redução de cinco por cento da remuneração dos gestores públicos ou, quando o fizeram, como sucedeu em alguns casos, fizeram-no de forma deficiente ou incorrecta, particularmente quando não incluíram os gestores que optaram pelo vencimento de origem”. A esmagadora maioria das situações foi, entretanto, regularizada, após a chamada de atenção da inspecção, mas ainda haverá algumas situações pendentes, soube o PÚBLICO. “Surpreso” com a não aplicação daquela que era “uma medida automática”, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, lamentou que “algumas instituições, quando fazem a interpretação da lei, procurem sempre inventar um bocadinho” e sublinhou que, neste caso, era muito claro que a decisão era “para aplicar a todos”. A IGAS revela ainda que, no âmbito da segunda fase da acção inspectiva sobre o grau de “aplicação do novo Estatuto do Gestor Público (EGP)”, em vigor desde Março de 2007, “algumas das entidades avaliadas procederam à reposição de montantes por pagamentos indevidamente realizados, embora permaneçam situações de reposições irregulares”. “Mantémse a existência de enfermeirosdirectores que optaram pelo vencimento de origem, incluindo indevidamente o acréscimo remuneratório correspondente ao regime de horário acrescido”. Apesar destas violações da lei, nenhum dos gestores em causa foi demitido, tal como está previsto no novo EGP. A alínea b) do artigo 25.º é clara ao estabelecer que “o gestor público pode ser demitido” por “violação grave, por acção ou por omissão, da lei”. Confrontado com a informação da IGAS, o (ainda) secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar, limitou-se a responder que “as regras previstas no Orçamento do Estado para 2011 aplicam-se sem excepção a todos os organismos do SNS e as situações detectadas pela IGAS já foram devidamente regularizadas”. J.d’E. e A.C. ENRIC VIVES-RUBIO das a cabo em 2010, a IGAS detectou uma série de lacunas e insuficiências a vários níveis, nomeadamente na emissão de vinhetas a médicos e no controlo da prescrição nos centros de saúde (ver texto ao lado). Procedeu ainda à actualização de uma acção de monitorização do erro médico e acções judiciais por deficiente assistência médica, efectuada em 2008. Os dados recolhidos permitiram identificar 138 processos instaurados e tramitados entre 2008 e o primeiro semestre de 2010, em diferentes fases instrutórias, atingindo um montante global nacional (continente) de indemnizações pedidas no valor de 26 milhões de euros, envolvendo 37 estabelecimentos. Este montante é ligeiramente inferior aos 29,8 milhões de euros de indemnizações pedidas em 2008. No que toca à tipologia das situações, a maior parte dos processos teve a ver com erros na identificação do doente (17 hospitais abrangidos), erros de processo com informação mal arquivada (16 unidades de saúde) e erros de administração de produtos, nomeadamente troca de fármacos ou problemas na dosagem (14 hospitais). ID: 35942729 10-06-2011 Outras conclusões Receitas sem controlo Mais de metade dos agrupamentos de centros de saúde (Aces) avaliados, em 2010, pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) não adoptava medidas de controlo dos níveis de prescrição de medicamentos dos doentes crónicos. Alguns médicos admitiram mesmo que passavam novas receitas sem se certificarem da sua efectiva necessidade. Numa acção para avaliar acções para a melhoria da qualidade da prescrição médica e a utilização racional do medicamento, a IGAS identificou uma série de desvios ao padrão de prescrição, nomeadamente em Aces que apresentavam valores de antibióticos “superiores à média” — um destes atingiu um total de 238.608 embalagens receitadas, quando a média apurada foi de 45.738. Um Aces destacou-se devido ao elevado número de embalagens de antipsicóticos prescritas: 269.677. Vinhetas ao deus-dará Outra acção inspectiva da IGAS permitiu ainda detectar “lacunas, ineficiências e divergências” na organização e controlo da emissão e distribuição de vinhetas aos médicos. Os inspectores descobriram clínicos que partilhavam o mesmo número de cédula profissional e casos em que tinham três ou mais números de cédula profissional da Ordem dos Médicos ou da Ordem dos Médicos Dentistas. Mas a situação mais curiosa foi descoberta numa antiga subregião de Saúde que, em 2009, distribuiu nada mais, nada menos do que 23 por cento do total das folhas de vinhetas emitidas a clínicas dentárias ou a médicos dentistas, um dos quais recebeu quase 60 por cento deste total. Radiofármacos com preços diferentes A IGAS encontrou ainda “inúmeras discrepâncias entre os preços praticados pelas diversas entidades” para a realização dos mesmos exames de medicina nuclear e concluiu que o peso dos radiofármacos nestes custos é determinante. A inexistência de um valor fixo para os encargos com estes exames “permite que as entidades convencionadas com as ARS facturem valores excessivos”, conclui a IGAS. A.C. Tiragem: 48379 Pág: 11 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 6,34 x 32,87 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 ID: 35942729 10-06-2011 Tiragem: 48379 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 11,26 x 14,22 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Sanções disciplinares triplicaram na saúde em 2010 Vários gestores de organismos do Ministério da Saúde ignoraram ordem para cortar os seus salários a A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) condenou 76 profissionais do sector da saúde a penas disciplinares – que, em nove casos, resultaram em demissão ou despedimento –, quando, no ano anterior, apenas tinham sido sancionados 21 funcionários. A “deficiente actividade assistencial” é o motivo mais frequente para estas sanções e a falta de assiduidade foi a razão mais comum para demissões e despedimentos, refere o relatório anual da organização. A IGAS apurou ainda que, em vários organismos do Ministério da Saúde, os gestores não cortaram em cinco por cento os seus salários ou fizeram-no de forma “incorrecta”. A maior parte destas situações irregulares foi entretanto corrigida, mas algumas continuam pendentes, segundo soube o PÚBLICO. c Portugal, 10/11