N. 50 Edição especial Dezembro 2008 Notícias de Sion Ir Emmanuelle No dia 20 de outubro, nossa Ir. Emmanuelle, a tão conhecida irmã dos trapeiros do Cairo, faleceu algumas semanas antes de seu centenário de nascimento. Havia planos para grandes celebrações, programadas para Paris, durante as quais Ir. Emmanuelle seria condecorada pelo Presidente da França, no Palácio Elysée. No entanto, Emmanuelle “escolheu a melhor parte” e, respondendo ao aceno de seu Bem-Amado, foi ao seu encontro “Daquele que seu coração amava”, enquanto o Elysée convidou a nós todos para ir a Notre Dame para homenagear estas frágil mulher idosa de uma tão grande e inacreditável força, que lançava à juventude e aos estadistas um desafio: agir em favor dos pobres. Embora muitas de vocês já tenham, desde a morte de Ir. Emmanuelle, visto e lido muito a seu respeito, esta publicação de Notícias de Sion é pensada, sobretudo, para quem não sabe francês e para quem não teve também aquela oportunidade. Tentamos incluir aqui ítens que talvez sejam novidades para quem fala francês e, em particular, para o que se refere ao livro de Emmanuelle. Confessions d’une Religieuse, cuja publicação foi autorizada após sua morte. Numa nota pessoal, a pesar de ter conhecido de perto nossa irmã Emmanuelle, o sentimento irresistível que eu tive enquanto lia seu livro, foi pouco do que eu conheci dela. Na verdade foi abençoada conhecendo Emmanuelle durante sua vida e mesmo mais abençoada agora através de seu livro, quando ela nos convida a conhecê-la como ela mesma se conhece, sem máscara, exatamente como ela se conhece diante de Deus. Possam todos que leram sua vida, sobretudo suas irmãs, as atuais e as futuras, sentir que elas também foram abençoadas por conhecê-la, esta grande mulher de Sion. Yalla! (“Avante!” em árabe, que se tornou, de certa maneira, a “senha” de Emmanuelle) ... com nós viajamos juntas “ à montanha do Senhor, à casa da Deus de Jacó” (Is 2,3 , da leitura da 1a Segunda-feira do Advento). Darlene Nostra Signora di Sion Via Garibaldi 28 00153 Roma - Italia Tel.: (39) (06) 581 0465 / 580 0479 Fax: (39) (06) 5809454 Email: [email protected] PÁGINA 2 N. 50 Edição especial Aos cuidados de Irmã Maureen Minha Irmã, Certamente a senhora sabe que, durante 15 dias, ajudei Irmã Emmanuelle a redigir suas “Confessions” e lhe posso assegurar que este livro constitui um testemunho importante de vida religiosa: Se, para não faltar à verdade e sabendo que ela corre o risco de chocar (ela se desculpa), Irmã Emmanuelle apresenta aí as preocupações de sua sexualidade adolescente; ela diz também que ela nunca foi vencida por seus impulsos ao se tornar religiosa. Esta graça de castidade vivida, apesar da persistência de emoções confessadas, é particularmente edificante. No decorrer do trabalho, ela afirma estar ”ancorada em Sion” e homenageia as grande figuras de suas formadoras como também à força da vida comunitária vivida, apesar das dúvidas sofridas em determinada época. Enfim, o leitor pode constatar, nesse livro, como a graça de Deus se apodera de uma pessoa e, até de suas fraquezas, seus defeitos, seu “nada”, para orientá-la no amor. Irmã Emmanuelle quis reler seu itinerário de vida na fé, sem caminhar no sentido da imagem que as meios de comunicação tinham fabricado sobre ela: esperava ser assim útil e fazer compreender que a santidade de Deus se manifesta na fraqueza, é acessível assim a cada um, em sua humanidade nua. Eu lhe peço de crer, minha Irmã, na sinceridade de minha oração e de meus cumprimentos fraternos a toda a Congregação. Padre Philippe Asso Outubro 31, 2008 Extratos do livro Confessions d’une religieuse (os números de páginas correspondem à edição francesa) 1. A escolha de Sion e sua fidelidade à Congregação Revelei a Mère Fidelis meus desejos de vida religiosa... (p. 43) As razões “a favor”, as razões “contra”, uma vez ponderadas, eis a minha decisão: Risco por risco escolhi a vida religiosa. Escolhi vivê-la em Sion. A Congregação me agrada: a vida vivida em favor dos pobres, de sua educação, ritmada pela oração, na fraternidade de uma comunidade e na segurança de um convento, isso me parecia responder a meu ideal... Meu coração poderá desabrochar em liberdade na alegria de ser consagrada em corpo e alma a Deus e às crianças mais pobres. Ponho um vigoroso ponto final na folha: a sorte está lançada, encontrei o sentido da minha vida: eu me torno “bonne sœur”, isto é, uma irmã boa para todos. Avante, caminha!! (pp. 4548) Pronunciei na alegria meus votos perpétuos no dia 8 de setembro de 1937: “Pela vida, pela morte, estamos unidos, Senhor bem-amado”. (p. 89) Mère Marie Alphonse me lançou em direção ao Absoluto do qual minha alma estava sedenta, mas ela me fez, ao mesmo tempo, compreender que me dirigir a Deus sem me dirigir ao outro era estar em total contradição ao evangelho. Para Madre Elvira “se consagrar aos outros era encontrar Deus”. “Seu dever é respeitar a religião de seus alunos muçulmanos e judeus... mas “transpirar o amor do Cristo em sua vida”. (pp. 94-95) N. 50 Edição especial PÁGINA 3 Minha Congregação de Sion foi a fonte de água viva onde eu hauria minha energia espiritual. Poderia eu sem ela ser uma fonte que não seca para mim e os outros. (p.197) (Mais tarde. foi pedido à Irmã Emmanuelle que passasse os fin de semana em comunidade): Isso me oferecia a atmosfera religiosa e sã do convento onde... reuniões de oração e diálogos se realizavam em uma alegre e confiante amizade... sempre curti muito essas horas passadas com minhas irmãs... (p.309) A escolha do nome Emmanuelle “A Virgem dará à luz um Filho, que se chamará Emanuel, ‘Deus conosco’ . Estas palavras contêm o sentido profundo de minha vocação: unir a antiga tradição judia e a nova mensagem cristã, ser a ponte onde Israel e a Igreja, onde todos os homens, independente de sua identidade, podem se encontrar... (p. 59) Em face das dificuldades Não fiquei tranqüila, e uma voz começa a se fazer ouvir: “Teu voto de obediência existe ou não...? Tua mestra de noviças te preveniu ou não..? Ousas olhar a cruz, sim ou não...? Eu ouvia a palavra de Madre Marie Alphonse: “É a hora do maior amor!... “ Sim, livremente eu me uni a ti, Senhor. Sim, custe o que custar, contigo, como Tu, eu obedecerei. (pp. 133 - 134) 2. Sua vocação pelos pobres Em Istambul, em 1940, um pensamento começava a me importunar: ir viver em Teneke Mahallesi como os pobres e com eles. (p. 115) Mas a espera foi longa! Até Vaticano II que pedia aos religiosos de não mais esperar que o mundo chegue a eles, mas ir eles mesmos ao mundo, eu obtive a permissão.!! Adiante em direção ao bairro de Bacos: transporto uma cama, uma pequenas mesa de toucador e uma cadeira... nada falta! Enfim, vivo pobremente como os pobres, não estou mais ausente do trabalho dos homens... Faço parte da imensa maioria de meus irmãos humanos, condenados a uma vida frugal e sem conforto: extraordinário salto para frente, nova consagração religiosa, jubilação de meu copo e de minha alma!! (pp. 146-147) (Mais tarde ela foi viver com os trapeiros do Cairo) Fiz, então, uma experiência espantosa, mais extraordinária que as precedentes. Este Cristo que me pedia o dom de todo meu ser me enchia, por recompensa de sua vitalidade... eu me senti animada por um amor mais forte que a morte. (p. 159) Écurioso, até paradoxal: durante a maior parte de quase 70 anos, eu me senti alegre, livre de corpo e alma, pronta a voar em direção a meus irmãos e irmãs em humanidade para dançar com eles a carmanhola, música e dança dos revolucionários! E, nos meus 90 anos, tenho ainda os pés dispostos a dançar uma valsa! Se eu vivi nesta alegria a austeridade exigida pela minha doação, é que meus votos causavam este formidável vôo da minha capacidade de amar, e eu pude, no decorrer de minha vida religiosa, desenvolvê-la ao máximo. (p. 321) PÁGINA 4 N. 50 Edição especial Irmã Emmanuelle, autora de êxito A religiosa, falecida na noite de 19 a 20 de outubro, pouco antes de completar seus 100 anos, foi uma das personalidades mais amadas pelos franceses. Seus livros, como os que lhe foram dedicados, figuram entre os mais vendidos. Nos últimos anos, os livros de Irmã Emmanuelle conheceram um crescimento excepcional. “Ela tinha uma popularidade imensa, ligada à sua maneira de falar, dizendo sem rodeios sua opinião, com seu modo simples e aberto, sempre ao corrente de tudo, mas igualmente do modo com que ela utilizava os meios de comunicação, explica Gilles Paris. Ela compreendera que os meios de comunicação serviam sua causa e a de sua associação, e sabia administrar seu capital. O livro, do qual L’Express publicara a tiragem definitiva, suscitou um frenesi mediático comparável àquela suscitada pela sua biografia de Cecilia Sarkozy. Sophie Berlin, diretora editorial em Flammarion, confirma: “Ela integrara as normas da comunicação e sabia direcioná-las em seu proveito. Seus direitos de autora eram integralmente em benefício de sua associação e ela procurava se inteirar regularmente do produto das vendas. Quanto a Alain Noël, diretor literário das Prensas da Renaissance, ele acrescenta: “Ela incarnava uma forma de caridade. O grande público é sensível aos ícones que, como o abbé Pierre, se dedicam em nome de sua fé ao serviço dos outros. Ele se sente em afinidade com as pessoas de tal amplitude”. O desaparecimento de Irmã Emmanuelle não fez senão ampliar este fenômeno editorial, tanto mais que os editores, tendo previsto a publicação ou a reedição de obras para o centenário da religiosa, eram capazes de responder ao pedido. ”No contexto muito emocional da sua morte, suas confissões eram muito aguardadas, calcula Sophie Berlin que havia compreendido que ela tinha um destino extraordinário, e que a ela cabia tomar a palavra para uma nova leitura de sua vida. Ela terminara o livro há um ano e o vira em março. No entanto, ela havia organizado sua publicação póstuma bem antes e registrado a mensagem promocional na ocasião do aparecimento do livro precedente. Era muito ‘ela’ nesta mistura de profundidade e de pragmatismo: ela tinha consciência de que sua morte seria um acontecimento, mas sabia também que a emoção recaia como um velho sinal de luto. Seu desejo era: que seu livro tome a palavra em seu lugar. “ Extraído do artigo de Martine de Sauto La Croix, 27, novembro 2008 N. 50 Edição especial PÁGINA 5 Emmanuelle, minha irmã. Desde a manhã de 20 de outubro, muito se falou a teu respeito. Que dizer ainda? A não ser algumas palavras pessoais que eu te dirijo “sem intermediários”. Foi apenas muito tarde, em tua longa vida, que tu nos revelaste tua ascendência judia: um pai, uma avó, uma bisavó... E foi, na véspera de Simhat Torah (a alegria da Torah) que tu dormiste pacificamente para sempre; tu que tanto temias os sofrimentos da agonia! Uma vez conhecida a notícia de tua partida, uma grande confusão se pôs em movimento no mundo. Por toda parte se queria te celebrar, te homenagear, te dar glória! Em resumo, uma espécie de festa universal. A alegria de tua vida doada motiva lágrimas que, por justa causa, podíamos derramar. Todos – dos trapeiros do Cairo ao Presidente da República francesa – queriam te fazer uma homenagem. Cada um fazia a seu modo e foi um êxito. Dado que, nos Campos Elíseus, se preparava a celebração de teus 100 anos, foi preciso tudo mudar em Notre Dame de Paris. Lá seria realizada a festa. Ainda um acontecimento inesperado bem teu! Outra surpresa, inesperada como todas as surpresas: o aparecimento de teu último livro, justo no dia seguinte de tuas exéquias. Não quiseste que ele aparecesse antes de tua partida e tu tinhas razão. E agora, que o ponto final já foi colocado, podemos contigo reler tua vida, toda tua vida: tuas alegrias, tuas dificuldades, tuas vitórias, teu amor pelos outros, os mias “outros” e , enfim, a grande vitória de Deus em ti. Em Notre Dame de Paris, nós teríamos podido cantar tua alegria, nossa admiração pela mulher que tu foste, mas é na capela da Medalha Milagrosa da rua du Bac, que contigo teríamos podido cantar a glória de Deus, a felicidade de ser “salvos”. Tudo isso na mais alegre das ações de graças! Obrigado, Emmanuelle. Yalla! Avante, por tudo que nos cabe ainda realizar. Editorial de Information (Sidic-Paris) Novembro 2008 Louise Marie NDS PÁGINA 6 N. 50 Edição especial Carta de agradecimento pelas pêsames recebidos por ASMAE, a associação de Ir. Emmanuelle Queridos amigos, É com muita emoção que lemos as correspondências de vocês por ocasião da partida de Ir. Emmanuelle, pelo que muito lhes agradecemos em nome de nossa associação. Os testemunhos de vocês são como um colar de elogios àquela que partiu “ como um projétil”, mas “ não partiu dos corações”, ela que “entrou na paz e na alegria”, “que encontrou Aquele que ela ama acima de tudo”; Grande Senhora, benfeitora, fundadora, mulher maravilhosa, excepcional, extraordinária e de amor incondicional, guia e inspiradora, querida padroeira, magnífica pessoa, santa amiga, nossa grande irmã bem-amada, chama de amor, símbolo forte para nossa juventude, belo exemplo a ser seguido. Muitos de vocês, em cartas a ela dirigidas, lhe agradecem ainda pelo seu sorriso, sua fé, sua força, seu otimismo, e lhe pedem para velar do céu sobre todas suas fundações, ao mesmo tempo em que nos encoraje a continuar nossa associação, viva memória da ação junto às crianças daquela que nos deixou. Que vocês não tenham dúvidas que este é o desejo de toda nossa equipe de ASMAE. Também nós contamos, de verdade, sobre vocês, sobre cada uma de vocês, sobre todos, sem o que não podemos continuar a ajudar todas estas crianças pelas quais Irmã Emmanuelle nos diz com mais força que nunca: Yalla, avante... Irmã Emmanuelle nos assegurou sempre que ela continuaria, de lá onde agora se encontra, a nos dar boas idéias: possamos nós todos ouvi-la! Ainda com todo nosso grande obrigado pelas doações de vocês, independendo do que foram, cada euro é precioso. Trao NGUYEN, Presidente de ASMA enviada por Isabelle Denis NDS, voluntária INFORMAÇÃO: Recentemente ASMAE, a Associação de Ir. Emmanuelle, pediu a autorização da tradução do livro “Confessions d’une Religieuse” para o coreano e o árabe. Parece que uma publicação inglesa não vai demorar. (ao fazer as cópias, fomos informadas que a autorização acabara de ser dada para a publicação do livro em espanhol) Cópias em DVD disponíveis em nosso secretariado em Roma: a Missa de Réquiem pela TV de 22 de outubro em Notre Dame de Paris, na presença do Presidente francês e sua esposa, Nicolas e Carla Sarkozy, Mme Mobarak do Egito e muitos outras pessoas importantes. A Missa foi precedida por uma hora de entrevistas , nas quais Ir. Dominique de la Maisonneuve NDS foi convidada a participar. Por favor, indicar a Ritsuko ([email protected]) o número de cópias desejadas e o endereço postal para onde devem ser enviadas. • Cópias de textos disponíveis em nosso secretariado, das homilias do Cardeal Vingt-Trois, Missa de Réquiem em Notre Dame out. 22: disponíveis em francês do Bispo Jérôme BEAU, missa na capela da Medalha Milagrosa Rue du Bac, out. 25: disponíveis em francês. • Cópias das Newsletters da província do Mediterrâneo e da Europa, sobre Ir. Emmanuelle podem ser pedidas a: Agnès Perrin ([email protected]) Cópias são disponíveis em francês e inglês. Christiane Marie ([email protected]) cópias disponíveis somente em francês.