AUTORA: Djenane Sichieri Wagner Cunha - [email protected] INSTITUIÇÕES: Faculdade de Educação São Luís e Universidade Interativa COC TÍTULO: O TRABALHO COM OS PARADIDÁTICOS EM SALA DE AULA: Estratégias didáticas e história pessoal, um grande conflito vivido por professores da escola pública. RESUMO: Durante três anos ministramos aulas para professores em um curso, oferecido em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, intitulado “Ler para Aprender”, parte do Projeto de formação continuada de professores “Teia do Saber”. Um de nossos grandes questionamentos durante o curso sempre foi o trabalho que os professores de ensino fundamental e ensino médio fazem com seus alunos em relação à leitura de livros paradidáticos e como esse trabalho é desenvolvido. Muito do que os professores relatavam entravam em conflito com suas histórias pessoais como leitores. Nesta comunicação intencionamos apresentar, socializar e discutir essa experiência, principalmente no que se refere à maneira de se trabalhar com os paradidáticos em sala de aula. PALAVRAS-CHAVES: estratégias didáticas, paradidáticos, Teia do Saber, Ler para Aprender. INTRODUÇÃO Através de uma parceria entre faculdades particulares e estaduais do estado de São Paulo e a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para oferecimento de cursos aos professores da rede estadual, pudemos, nos anos de 2004, 2005 e 2006, ministrar várias aulas a docentes que trabalhavam nas Diretorias de Ensino de Jaboticabal, Taquaritinga e Barretos. Entre os vários cursos, chamou-nos a atenção o intitulado “Formação continuada de Metodologias do ensino da leitura em todos os componentes curriculares do ciclo II do ensino fundamental e do ensino médio - Ler para Aprender”, o qual tinha como um dos focos o aperfeiçoamento da leitura e da escrita dos professores, visando ao desenvolvimento dessas competências em seus alunos. Alguns dos temas desenvolvidos durante os encontros e que têm maior relevância para este trabalho, foram: a importância da formação de alunos leitores e escritores competentes para a sua efetiva participação na cultura letrada; a leitura na sala de aula, o trabalho com a diversidade de objetivos e modalidades; a importância da leitura para a construção do conhecimento: ler para aprender em diferentes áreas/disciplinas; análise de situações didáticas de leitura. Nas primeiras aulas, procurávamos conhecer nossos cursistas e o modo como se tornaram leitores, ou não, e como trabalhavam com seus alunos a leitura. As turmas eram formadas por professores do ensino fundamental e ensino médio que ministravam as mais variadas disciplinas, mas predominavam, entre eles, professores de Língua Portuguesa, Leitura e Literatura. Este artigo apresenta uma grande incoerência que encontramos no discurso desses professores e sua história pessoal, fruto de questionamentos e discussões realizadas durante as aulas. 1 HISTÓRIA PESSOAL DOS PROFESSORES E O TRABALHO COM OS PARADIDÁTICOS Com o intuito de conhecer melhor nossos professores cursistas e traçar um perfil das turmas, e para um maior entrosamento entre eles, as primeiras aulas eram destinadas a relatos de vivências e trocas de experiências. Corroboramos com Lajolo (2002, p. 108) quando afirma que “os profissionais mais diretamente responsáveis pela iniciação na leitura devem ser bons leitores. Um professor precisa gostar de ler, precisa ler muito, precisa envolverse com o que lê. E esse não é, infelizmente, o perfil comum do professor”. Em uma das primeiras aulas, perguntávamos aos professores, por exemplo, o que eles haviam lido ultimamente, de quais livros da infância se lembravam, qual mais os havia marcado e quais livros haviam trabalhado ou estavam trabalhando com os alunos. Entre os livros lidos ultimamente, encontravam-se, em sua maioria, livros de auto-ajuda e livros religiosos. A maioria (cerca de 70%) dos professores disse ter tido o primeiro contato com livros na escola e citou, como exemplo de títulos de que mais se lembravam da infância, A Montanha Encantada, O Cachorrinho Samba, Escaravelho do Diabo, A Ilha Perdida, e alguns clássicos da Literatura, como Iracema, Inocência e Menino de Engenho. E, com raras exceções, eram desses livros que diziam ter gostado mais. Dentre essas exceções, estavam os clássicos, considerados por eles mais difíceis para ler e compreender. Fazíamos então o questionamento: "Esse livro foi imposto pelo seu professor?" E a unânime resposta: "Sim". Continuávamos questionando: "Você gostou, na época, do livro?" Novamente obtínhamos: "Sim". Percebemos que os professores, em sua maioria, lembravam-se de terem gostado dos livros exigidos, mesmo que para preenchimento de fichas de leitura, elaboração de resumos ou para avaliações. Discutíamos, a seguir, levantando hipóteses: O que teria acontecido se a sua professora não tivesse indicado esse(s) livro(s)? Muitos afirmaram que, talvez, nunca teriam tido a oportunidade de ler esses livros fora da escola. Nossa surpresa foi grande quanto à questão dos títulos dos paradidáticos que ultimamente haviam trabalhado com seus alunos, pois para essa não havia resposta. Entendemos paradidáticos, aqui, como livros e materiais que, sem serem propriamente didáticos, são utilizados para este fim. Os paradidáticos são considerados importantes porque podem utilizar aspectos mais lúdicos que os didáticos e, dessa forma, serem eficientes do ponto de vista pedagógico. Recebem esse nome porque são adotados de forma paralela aos materiais convencionais, sem substituir os didáticos (MENEZES; SANTOS, 2007). Questionados quanto à maneira como o trabalho com a leitura de paradidáticos era realizada, os poucos que o faziam disseram que deixavam os alunos irem à biblioteca e escolherem o que quiserem. A seguir perguntávamos se algum trabalho era feito após essa leitura e, muito raramente, encontrávamos um professor que pedia para que os alunos contassem, oralmente, o que haviam lido. Percebemos, claramente, através das justificativas dos professores, que eles apresentam um certo medo de indicar, de pedir, de cobrar, um determinado título. Sabemos que a imposição pode não ser a melhor escolha, mas, decididamente, deixar de desenvolver um trabalho de leitura planejado, com objetivos e metas a serem alcançados, também não é a melhor solução. O professor/leitor/mediador é aquele que indica leituras guiando-se não só pela idade e capacidade intelectual do aluno, mas, sobretudo, pela sua própria sensibilidade de leitor. Indica textos que são significativos para si mesmo e que acha que poderão sê-lo, também, para o aluno. Por isso, o professor mediador é o que lê antes, cercando o texto em suas possíveis leituras. Desse modo poderá realizar um trabalho que possibilite, no acontecer da leitura e a partir da verbalização das impressões, criar condições para que o aluno possa desenvolver sua sensibilidade para perceber e desvelar o mundo dos textos em sua diversidade e pluralidade. (YASUDA, 1991, p. 77) Os professores cursistas expuseram que o trabalho, hoje, nas aulas de Leitura, é feito com bula de remédio, panfletos, manuais de instrução. Para o aluno, esse é um conhecimento útil, mas não prazeroso. A leitura e compreensão desses textos injuntivos são também habilidades exigidas pelas avaliações externas, mas não servem para despertar o gosto pela leitura. Pois o prazer ao ler acontece, principalmente, através do texto literário. Sem contar as possibilidades de ampliação do conhecimento de mundo oferecidas pela leitura literária, pois, como diz Barthes (1980, p. 18), Se por não sei que excesso de socialismo ou barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário. Além disso, nas escolas particulares com as quais temos contato, os professores nunca deixaram de trabalhar com paradidáticos (normalmente o mesmo para toda a sala e pelo menos um por bimestre). Percebemos, portanto, uma grande incoerência nos relatos das experiências vividas pelos professores e sua prática docente, pois tinham consciência do quão importante havia sido a leitura dos paradidáticos para seu desenvolvimento lectoescritor, mas não faziam o mesmo com seus alunos. Durante o curso, eram comuns as reflexões e debates relacionados à indicação ou não de um mesmo paradidático a toda uma classe. E, o mais importante, quais atividades podem advir de uma leitura pré-planejada, com objetivos claros de desenvolvimento de habilidades e competências. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os paradidáticos são muito pouco trabalhados nas escolas públicas do estado de São Paulo. Freqüentemente os professores deixam que os alunos escolham livremente o que querem ler. Há uma grande preocupação em "não impor", "não obrigar" o aluno a ler determinado livro. Mas será que as crianças e adolescentes têm condições de escolher livros que estejam de acordo com sua capacidade leitora? Não há um trabalho planejado (objetivos, metas). Portanto não há como mensurar, verificar as dificuldades dos alunos. É essencial que os professores recuperem, a partir de sua história pessoal, a importância do trabalho consciente com paradidáticos, para que possam contribuir para a formação de leitores competentes, sensíveis e capazes de estabelecerem relações entre várias leituras. REFERÊNCIAS BARTHES, R. Aula. São Paulo: Cultrix, 1980. LAJOLO, M. Do mundo da Leitura para a leitura de mundo. São Paulo: Ática, 2002. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. “Paradidáticos" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002, http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=143, visitado em 9/7/2007. YASUDA, A. M. B. G. A Leitura na Escola (II). In: MARTINS, M, H. (org.) Questões de Linguagem. São Paulo: Contexto, 1991.