Projecto de Restauro da Torre de Belém O projecto de conservação foi retomado três anos após os testes de limpeza e recolocação de argamassa. Este intervalo de tempo permitiu uma melhor avaliação dos resultados e conduziu a reajustes na metodologia e no uso dos materiais. O projecto foi levado a cabo em duas fases, sendo a primeira respeitante à torre propriamente dita, e a segunda ao baluarte. Os trabalhos na torre começaram em Fevereiro de 1997 e foram concluídos seis meses mais tarde. Seguiram-se os trabalhos no baluarte, que foram concluídos em Janeiro de 1998. Dezoito trabalhadores especializados, totalizando cerca de quarenta mil horas de trabalho, foram agrupados em equipas para a limpeza geral, limpeza e refechamento de juntas, microenchimentos e tratamento final das juntas, intervenções estruturais, limpeza essencial, tratamento final e documentação. O trabalho propriamente dito durou onze meses, mas foi necessário mais um mês e meio para a montagem e desmontagem dos andaimes. Para efeitos de descrição, o projecto pode ser dividido nas seguintes categorias: intervenções estruturais, tratamento das juntas, limpeza, e tratamentos específicos. Intervenções estruturais: Durante a fase de inspecção verificou-se que diversas zonas revelavam problemas de estabilidade, em alguns casos devido a fracturas nas pedras. Testemunhos instalados em algumas destas zonas durante a inspecção de 1994, e examinados em 1997, indicaram que tinham ocorrido alguns movimentos na varanda sul. Em consequência, alguns cachorros fracturados que sustentam a varanda sul foram reforçados com varões de aço inoxcidável e resina epoxídica. Esta solução foi também utilizada noutras áreas onde existia o risco de destaque de partes de blocos. As estátuas de São Vicente e do Arcanjo São Miguel foram novamente fixadas para garantir a sua estabilidade. As pedras mais deterioradas, foram substituídas por novas pedras de calcário de lioz de boa qualidade. Tratamento de juntas: As argamassas utilizadas para refechamento das juntas foram preparadas de acordo com especificações desenvolvidas em ensaios de laboratório. Estas argamassas deveriam possuir: suficiente resistência mecânica para aguentar o desgaste normal e para assegurar a estabilidade dos blocos de pedra, sem causar tensões desnecessárias nas ligações entre as pedras e a argamassa; porosidade adequada para reduzir a absorção de água por capilaridade, mas com boa permeabilidade ao vapor de água, de modo a permitir a evaporação de qualquer água acumulada no interior das alvenarias; boa aderência à pedra; tempos adequados de cura; boa resistência aos cloretos, sulfatos e nitratos - principais agentes de deterioração presentes no ambiente em que a Torre se encontra; ausência de sais solúveis; adequada adaptabilidade e cores condizentes com as das pedras. Limpeza: A limpeza das superfícies foi levada a cabo, principalmente, por nebulização com água, acompanhada por escovagem localizada. Nas áreas em que havia crostas negras aplicaram-se compressas para aumentar o tempo de exposição à água e para evitar a sua penetração em excesso na alvenaria. As manchas restantes foram retiradas manualmente ou por meio de cuidadosa micro-abrasão. As áreas mais sobrecarregadas pela colonização biológica ou por líquenes, tais como as molduras e os telhados das guaritas, necessitaram de lavagem e escovagem mais profunda. As águas de escorrência, resultantes da limpeza de algumas áreas, foram recolhidas e analisadas, para garantir que a remoção de sais tinha sido completa. Tratamentos específicos: Devido à importância histórica da figura do rinoceronte, desde logo ficou decidido que se lhe deveria dar uma especial atenção. No começo do projecto considerou-se a possibilidade de retirar a escultura e de a guardar no interior do monumento para assegurar a sua preservação. No entanto, o exame cuidadoso do seu estado de conservação e os problemas relacionados com a sua separação da Torre (faz parte de um bloco integrado na alvenaria) levaram a concluir que a sua remoção seria um procedimento de alto risco, e que poderia resultar em danos para a escultura e para o edifício. Foi por isso decidido que seria melhor deixá-lo no lugar, consolidando num dos lados, com silicato de etilo, a pequena área deteriorada, refechando todas as fracturas e fissuras com argamassa apropriada e aplicando um hidrófugo. Este tratamento evitará a penetração de água, reduzindo, assim, a lenta deterioração do bloco compacto e conservando-o in situ, o que aliás está em conformidade com o princípio da intervenção mínima.