As pessoas mudam? O mundo muda?
Por Dal Marcondes – Carta Capital
Uma questão corriqueira da vida das pessoas é sobre a mudança. Serão as pessoas
capazes de mudar, de transformar seu modo de ver o mundo e, com isso, implementar
mudanças em seu comportamento? Todos os dias a gente ouve frases do tipo: não
adianta, as pessoas não mudam. No entanto o mundo passa todo o tempo por
transformações e existe a crença de que, com trabalho e esforço é possível mudar
pessoas e realidades. Quando o Judiciário manda um transgressor para a prisão para
cumprir um tempo de pena é uma aposta da sociedade de que aquela pessoa pode mudar
de vida, tornar-se uma pessoa útil, ou ao menos uma pessoa que não seja um perigo ou
transtorno para a sociedade.
Acreditar que as pessoas podem mudar é parte fundamental da construção de um futuro
onde a qualidade de vida seja a prioridade para a sociedade. O discurso dogmático de
que as coisas vão mal e continuarão a ir mal até que o fim é repetido por muitas pessoas.
No entanto, a análise um pouco mais distanciada mostra que o mundo é uma realidade
em permanente transformação, com pessoas, organizações, empresa e governos em
mutação contínua. As pessoas crescem, evoluem, estudam, trabalham, formam novas
amizades, se apaixonam e mudam.
Defender ou acreditar na estagnação como sendo a dinâmica do mundo é ter um olhar
míope sobre a realidade. É não compreender que a humanidade é movida a desafios,
sejam projetos pessoais, ou mais amplos, como desejos sociais. Nos últimos dias vimos,
por exemplo, os desejos da sociedade egípcia transformarem a realidade de um país que
viveu décadas de ditadura. E não dá para dizer que isto é lá, e não cá, porque aqui
também tivemos um grande levante contra a ditadura que culminou na
redemocratização do país.
O mesmo pode acontecer quando se fala em empresas. Claro que são organismos
focados no lucro, mas, pela competição entre elas e pela regulamentação, também
evoluem e mudam. Há muitas atividades empresariais de uma ou duas décadas atrás que
hoje são consideradas crimes. Regulações e códigos, como o Código de Defesa do
Consumidor, são os impulsos das mudanças que tornam as relações menos conflituosas.
O mundo está em permanente mudança, com países trocando de lugares da dança das
cadeiras do poder, pessoas buscando mudar suas vidas e organizações tentando entender
quais são os vetores destas mudanças.
Um dos mais importantes vetores de mudanças quando se trata de países, de
organizações complexas, ou mesmo de pessoas, é o planejamento. Planejar a direção
para onde se deseja ir, os vetores para o desenvolvimento econômico ou as metas para o
crescimento empresarial. É assim que as sociedades complexas agem. Não é
simplesmente um “vai da valsa”, ou, como diria o cantor, “deixa a vida me levar”.
Quando se planeja em uma direção os esforços e investimentos apoiam este plano, de
forma a maximizar a capacidade de transformação.
A capacidade de planejamento dos países sofreu um duro golpe nos anos 80 e 90,
quando as políticas neoliberais passaram a pregar “o Estado mínimo”, sem a capacidade
de interferência no direcionamento aleatório oferecido pelo “Mercado”. Felizmente isso
é passado na maior parte dos países, principalmente depois da crise financeira que
desarticulou os defensores do “Estado Mínimo”. Mesmo os Estados Unidos apenas
conseguiram superar a parte mais aguda da crise graças à intervenção drástica do Estado
direcionando recursos para a recuperação do emprego e da renda no país.
O Brasil tem o PAC – Plano do Aceleração do Crescimento, que nada mais é do que o
Estado aplicando sua capacidade de planejar para dar um direcionamento ao
desenvolvimento do país. Ou seja, o Estado induzindo a mudanças que foram
consideradas desejáveis ou necessárias para a sociedade. E isto acontece em todas as
esferas de decisões, públicas ou privadas. Planeja-se e indus-se às mudanças. E as
pessoas, coisas, empresas ou governo mudam. Queiram ou não, vivemos em uma
sociedade em mutação, em um contínuo cabo de guerra entre as mudanças em múltiplas
direções. Apenas a decisão consciente e planejada de porque mudar e em que direção ir
é que nos torna donos dos nossos destinos.
Dal Marcondes
Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da
grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, Revistas Isto É e
Exame. Desde 1998 dedica-se a cobertura de temas relacionados ao meio ambiente,
educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial.
Recebeu por duas vezes o Prêmio Ethos de Jornalismo e é reconhecido como um
"Jornalista Amigo da Infância" pela agência ANDI.
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