Carta da Terra e Ecopedagogia A Carta da Terra como marco ético e conceito de sustentabilidade no século XXI Valéria Viana Labrea O que está no início, o jardim ou o jardineiro? É o segundo. Havendo um jardineiro, cedo ou tarde, um jardim aparecerá. Mas um jardim sem jardineiro, cedo ou tarde, desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. Rubens Alves Desenvolvimento Sustentável: o percurso de um conceito 1986 – A utilização dos recursos naturais não conduz ao crescimento econômico, mas a uma catástrofe ambiental. 1972 – “Os limites do crescimento” I Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano. 1982 – Sessão Especial de Nairóbi Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Comissão Brundtland 1987 – Protocolo de Montreal para Proteção da camada de ozônio Relatório Brundtland “Nosso futuro comum” 1992 – Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio92 Convenção sobre Diversidade Biológica; Convenção Quadro sobre Mudança de Clima; Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Declaração sobre Conservação e Uso Sustentável de todos os tipos de Florestas; Agenda 21 Carta da Terra Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades dos presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades. Relatório Brundtland, 1987 Desenvolvimento Sustentável Crise de desenvolvimento planetária Relação entre desenvolvimento (capital) e meio ambiente Eixo norte-sul: globalização Problemas: fome, superpopulação, saúde Conceito político, que permitiu reunir “desenvolvimentistas” e “ambientalistas”, conseguindo por em seu guarda-chuva posições de início politicamente inconciliáveis. Sustentabilidade Comunidade sustentável é aquela que é capaz de satisfazer suas próprias necessidades sem reduzir as possibilidades das gerações futuras. Lester Bronw, 1980. Sustentabilidade Respeito à comunidade de vida Integridade ecológica Justiça social e econômica Democracia, não violência e paz Uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de modo que os estilos de vida, negócios, atividades econômicas, estruturas físicas e tecnologias não interfiram nessa capacidade da natureza de manter a vida. CARTA DA TERRA 1987 - A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMAD), conhecida por Comissão Brundtland, recomendou a criação de uma nova carta ou declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. 1992 - A Eco-92 iniciou o processo e chegou a um primeiro consenso sobre a "Declaração de Princípios do Rio". Formou-se uma secretaria internacional incumbida de dar prosseguimento ao projeto Carta da Terra. 1995 - Seminário Internacional sobre a Carta da Terra, realizado em Haia, na Holanda. Ali foram definidas as necessidades, os elementos principais e a forma de elaboração da Carta da Terra. 1996 - Inicia-se, com vários grupos, o processo de consulta, como parte da preparação para a Rio+5, que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1997, cinco anos depois da Eco-92. 1997 – Durante a Rio+5 foi constituída uma Comissão da Carta da Terra. Naquela ocasião chegou-se ao texto da primeira minuta de referência, que baliza hoje as discussões em todo o mundo. 1998 – Realização em Cuiabá, Mato Grosso/Brasil, da primeira conferência regional, envolvendo os países da América Latina e Caribe e da América do Norte. Essa conferência abriu o processo das sistematizações continentais. 2000 – Lançamento oficial da Carta da Terra no Palácio da Paz em Haya 2003 – Encontro Internacional Vivemos Juntos – Conhecer e viver a Carta da Terra no Fórum Mundial de Educação em Porto Alegre/RS 2005 – Carta da Terra + 5 em Amsterdã/Holanda. CT valores e princípios para um futuro sustentável A CT é uma declaração de princípios para a construção de uma sociedade global que seja justa, sustentável e pacífica. Ela procura inspirar nos povos um sentido de interdependência e de responsabilidade compartilhada. A visão ética inclusiva do documento reconhece que a proteção ambiental, os direitos humanos, o desenvolvimento humano sustentável eqüitativo e a paz são interdependentes e indivisíveis. O desenvolvimento e a sustentabilidade ampliada e progressiva dimensão ética, onde se destaca o reconhecimento de que no almejado equilíbrio ecológico está em jogo mais que um padrão duradouro de organização da sociedade; está em jogo a vida dos seres e da própria espécie humana (gerações futuras); dimensão temporal, que determina a necessidade de planejar a longo prazo, rompendo com a lógica imediatista, e estabelece o princípio da precaução (adotado em várias convenções internacionais de que o Brasil é signatário e que tem, internamente, força de lei, com a ratificação pelo Congresso); a dimensão social, que expressa o consenso de que só uma sociedade sustentável - menos desigual e com pluralismo político - pode produzir o desenvolvimento sustentável; a dimensão prática, que reconhece necessária a mudança de hábitos de produção de consumo e de comportamentos. Desenvolvimento sustentável na CT A base conceitual da Carta da Terra aponta, em síntese, para a importância de se construir um programa de transição que contemple as questões centrais reduzir a degradação do meio ambiente e, simultaneamente, a pobreza e as desigualdades - e contribua para a sustentabilidade progressiva. Sustentabilidade ampliada e progressiva A Carta da Terra trabalha com o conceito de sustentabilidade ampliada e progressiva. A sustentabilidade ampliada preconiza a ideia da sustentabilidade permeando todas as dimensões da vida: a econômica, a social, a territorial, a científica e tecnológica, a política e a cultural; já a sustentabilidade progressiva significa que não se deve aguçar os conflitos a ponto de torná-los inegociáveis, e sim, fragmentá-los em fatias menos complexas, tornando-os administráveis no tempo e no espaço. Ecopedagogia: a Pedagogia da Terra ética e solidariedade A Carta da Terra propõe a Pedagogia da Terra como modeladora dos códigos éticos do século XXI. Surge, portanto, a partir dessas grandes lacunas, a idéiaforça de uma civilização planetária, ligada a uma sociedade mundial que comungue dos mesmos ideais de celebração da vida, da solidariedade, da justiça e em torno de temas que afetam todos os seres humanos: a alimentação, a água, o ar, a saúde, a moradia, a educação, a segurança, a comunicação. Essa dependência comum das fontes naturais e sociais da existência exige uma nova ética do cuidado, proposta por Leonardo Boff, um dos redatores da Carta da Terra, junto com o sentido budista da compaixão. É a ‘modernidade ética’ contrapondo-se à ‘modernidade técnica' que predominou no século XX. A Carta da Terra é um compromisso idealizado na Conferência de 1992 que foi assumido pela sociedade civil e lançado na Holanda, em 2001. Sua visão ética afirma uma ecopedagogia, reconhece os princípios básicos, interdependentes e indivisíveis, de uma civilização planetária, ainda utópica, mas que aspiramos promover em escala mundial. A Carta da Terra é um instrumento educacional de promoção do desenvolvimento sustentável que já conta com o apoio da Unesco para divulgá-la mundialmente, e seu objetivo é inspirar a humanidade em seus códigos de conduta. Ações e recomendações Divulgar a Carta da Terra e debater os seus princípios inovadores e interdependentes nas instituições de governo, da sociedade organizada, nas escolas, universidades e empresas. Estabelecer códigos de ética profissionais que se empenhem no cumprimento de normas e preceitos morais e éticos e que garantam a transparência de suas ações e o controle social do cidadão sobre os serviços que o afetam. Fortalecer o Conselho de Ética do setor público. Incentivar o maior número possível de empresas, para a adoção do princípio da responsabilidade social cooperativista. Ações e recomendações Adotar o princípio da precaução em relação às novas tecnologias, e demais ações que não se conheçam previamente os impactos socioambientais decorrentes de sua adoção. Combater a corrupção, a propina ou qualquer forma de cumplicidade que prejudique o bem público e o interesse legítimo dos cidadãos. Contato Valéria Viana Labrea [email protected] Carta da Terra www.cartadaterra.com.br