e o Cidadão Enfermagem Testemunho / reflexões, memórias… distância só é ultrapassada pela que separa os problemas dos doentes e a capacidade do SU de os resolver. E embora a inexcedível disponibilidade dos Enfermeiros colmatem muitas das insuficiências do SU, a política tem determinado, ao longo dos tempos, aquilo que é considerado como “Normal” no SU, que não tem correspondência na realidade vivenciada pelos Enfermeiros e Doentes. Num país com experiência arquitectónica e engenharia que Portugal tem, não é admissível que os SU's estejam mal preparados para as necessidades actuais, quando tantos estádios de futebol, autoestradas e até escolas com material de luxo foram construídos e se ache normal que todos os anos as Urgências sejam notícias pelos piores motivos, muitos deles relacionados com a falta de espaço e má arquitectura como a sobrelotação de doentes em espaços construídos para afluências médias e não para picos. Ora isto leva a que muitas situações perfeitamente inaceitáveis sejam consideradas “normais”. É “normal” que um doente necessite de ser limpo (por estar sujo de fezes, urina, vómitos, secreções ou suor), sem que um Enfermeiro tenha um espaço para fazê-lo com privacidade para o doente, sem cortinas ou biombos no mínimo, num compartimento isolado, tendo de o fazer num corredor, por estar o SU cheio de doentes. É “normal” que um idoso esteja deitado numa maca desconfortável várias horas sem que haja um Enfermeiro que o avalie, posicione, alimente, limpe, informe, conforte, mantenha um familiar por perto informado. É “normal” que um doente com tosse, febre e expectoração com sangue não disponha dum local isolado adequado (por ex. uma possível tuberculose. É normal que um doente confuso e agitado esteja em risco de cair duma maca ou um doente a ter um episódio de epilepsia não pág.25 ser socorrido pelo Enfermeiro porque este não o consegue ver por detrás duma coluna ou por este estar fora de áreas ao alcance visual do Enfermeiro. É “normal” que o Enfermeiro ouça a queixa de um doente na Triagem com estranho ao lado a ouvir a queixa, por não existir separação física. É ”normal” que lhe atribua uma prioridade Amarela para que este seja atendido por um médico até ao máximo de UMA hora e tantas vezes tenha de esperar 4 ou mais horas. É “normal” que um doente com dores espere várias horas para tomar um analgésico quando em casa o faria quando bem quisesse, porque o Enfermeiro não lho pode dar por não ter tempo ou a lei não o permitir. É “normal” que alguém que está no SU há 20 horas não tenha um cadeirão onde descansar. É “normal” que nem todos os doentes possam ter um acompanhante no SU e estejam horas sem saber o resultado dos Exames. É “normal” um doente estar em risco de ser vítima dum Erro porque na preparação de medicamentos o Enfermeiro é sujeito a muitas distrações. É “normal” que Enfermeiros, sejam vítimas de agressão, experienciem stress pós traumático, semelhante à de veteranos de guerra, pela exposição prolongada a situações de morte, impotência e situações de sofrimento prolongado e fiquem menos dispostos a cuidar dos próximos doentes… Se no futuro não quer que isto continue a ser “normal” peça mais e melhores Enfermeiros… pela sua Saúde. Nota Biográfica Mauro Rosa Enfermeiro no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar São João