JONGO: A HERANÇA DE UM PASSADO.
Valéria Silva Batista (Bolsa de Inclusão Social/Fundação Araucária),
Silvia Cristina Martins de Souza e Silva (Orientadora), e-mail:
[email protected]
Universidade Estadual de Londrina, Departamento de História/Centro de
Letras e Ciências Humanas
Londrina/Paraná
Palavras-chave: jongo, negros, século XIX.
Resumo:
Desde de 2005 o jongo foi proclamado Patrimônio Cultural Imaterial
Brasileiro, pois tem servido simultaneamente como elemento de afirmação e
de identidade cultural para grupos remanescentes de quilombolas, como
referência do legado de povos africanos de língua bantu vindos da África
Meridional para a região Sudeste do Brasil durante o século XIX e
testemunho na contribuição de uma memória de descendentes de escravos.
A partir disso buscaremos mostrar a importância do jongo desde o tempo de
cativeiro no Brasil, que embora seja pouco conhecido, vem cada vez mais
sendo divulgado através daqueles que o pratica e dos que realizam estudos
científicos sobre ele.
Introdução
A partir do século XIX com a decadência da mineração em Minas Gerais e
queda da produção de cana-de-açúcar, há a introdução de uma nova
cultura: o café.
A região Sudeste do Brasil foi a principal produtora de café durante o
século XIX, com grandes extensões de terras pertencentes à grandes
propriedades de fazendeiros que ainda contavam com a mão-de-obra
escrava para o plantio, colheita e ensacamento do café, além é claro de
outras funções destinadas aos escravos.
Com a utilização de escravos nas plantações de café, tem-se uma
grande quantidade de africanos vindos principalmente da África Meridional,
os quais tinham em comum referências culturais, entre elas a língua bantu,
as religiões africanas e o jongo, estes que no Brasil sofrem influências
culturais tanto religiosas como da língua portuguesa.
Assim falaremos do nosso objeto que é o jongo, este que também é
conhecido como caxambu, tambor e tambu, que além de se apresentar
como forma de expressão corporal ele ainda era utilizado como meio de
comunicação pelos escravos na hora do trabalho nas lavouras de café e
Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009
entre os escravos de fazendas diferentes. Muitas vezes esse batuque (como
era chamado pelos estrangeiros que viajavam pelo Brasil e também pelas
pessoas do restante da sociedade brasileira) se realizava com a autorização
do senhor no terreiro da fazenda. Esse meio de comunicação como foi
citado ocorria através de metáforas presentes em pontos, estes que são
estrofes curtas carregadas de significados que apenas os escravos
entendiam.
Através desses pontos muitas vezes haviam combinações entre esses
escravos de quem iria fugir, o modo como iria fugir, quando e com quem,
sendo que dessa maneira nem os senhores e feitores das fazendas
desconfiavam do que estava sendo tratado durante a cantoria, estes
acreditando que era apenas uma maneira de divertimento e uma forma de
manter a escravaria sob controle.
Muitas dessas estrofes fazem referência a Abolição da Escravidão no
dia 13 de maio de 1888, pois são cantados até hoje pelas comunidades da
região Sudeste.
Temos também a relação religiosa pelo fato de haver pontos que
fazem referência a santos católicos apresentando uma relação com a
umbanda, esta que por sua vez possui uma ligação com a África e com os
terreiros de umbanda, pelo uso de tambores, estes também usados nas
rodas de jongo e pelo fato de muitos participantes do jongo serem
praticantes de religiões afro-brasileiras.
Como exemplo podemos citar um ponto de jongo referente ao dia 13
de maio de 1888, quando foi assinado a “Lei Aúrea” pela a princesa Isabel,
data esta que é comemorada até hoje pelas comunidades: Eu pisei na pedra
a pedra balanceou/ O mundo tava torto rainha endireitou. Neste ponto a
“pedra” faz referência à atitude do Imperador Dom Pedro II com relação à
abolição, ou seja, a “Lei Aúrea” que ele não assinou, e a “rainha” faz um
elogio a princesa Isabel por ter assinado a dita lei e “endireitado” a situação
dos escravos no Brasil o que se concretizou na abolição dando liberdade a
esses escravos.
Podemos perceber a riqueza de informações que esse ponto e muitos
outros existentes tem para esses remanescentes quilombolas, que desde o
tempo de cativeiro vem sendo passada através da tradição oral de geração
em geração, mas também para a prática de estudos científicos, prova disso
foi a colaboração entre estudiosos do assunto e as comunidades para a
transformação do jongo em patrimônio.
Materiais e Métodos
Foram realizados levantamentos bibliográficos, utilização de documentos
como o Dossiê Iphan, o Parecer e o Registro do jongo. Além de pesquisas
em mídias audiovisuais. Fichamentos e produção de texto para Congresso.
Resultados e Discussão
Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009
Percebemos as influências de uma tradição vinda da África que ao chegar
ao Brasil recebe outras influências se adaptando ao ambiente em que se
encontrava durante o século XIX e também a sua persistência e riqueza, as
quais temos contato em nossos dias.
Conclusões
Este projeto ainda se encontra em desenvolvimento, portanto aberto a novas
informações referentes ao objeto de estudo que é o jongo, este que também
é objeto de pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Agradecimentos
Agradecimentos a Profª Drª Silvia Cristina Martins de Souza e Silva,
coordenadora e orientadora tanto do Projeto de Pesquisa ao qual a pesquisa
referente está vinculada e também do Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC).
Referências
MATTOS, Hebe Maria. Estudos de reparação e identidade coletiva no meio
rural: Antônio Nascimento Fernandes e o quilombo São José. In: Estudos
Históricos. Rio de Janeiro, nº 37, janeiro-junho de 2006, p.167-189.
CASTRO, Hebe. História Social. In: Domínios da história: ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier. 1997.
DOSSIÊ IPHAN 5. Jongo no Sudeste. Brasília, DF: Iphan, 2007.
LARA, Silvia Hunold e PACHECO, Gustavo (orgs) Memória do jongo. As
gravações históricas de Stanley J. Stein. Vassouras, 1949. Rio de Janeiro:
Folha; Campinas SP: CECULT, 2007.
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