Discurso da Sessão Solene do 25 de Abril, Presidente da Câmara 1 Municipal da Lousã Muito boa tarde a todas e a todos “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui”! – Salgueiro Maia 1 2 Foi com estas palavras que Salgueiro Maia se dirigiu aos Militares que com ele estavam na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, dirigindo-se depois para Lisboa para aquela que era, nas palavras do primeiro comunicado difundido pela Rádio Televisão Portuguesa, a “mais importante das missões cívicas…com o propósito de libertar [a Nação] de um regime que a oprime há longos anos, e de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do País e restituição das liberdades cívicas de que vem sendo privado”. 2 São palavras de há 40 anos, mas que nos devem fazer a todos 3 refletir sobre a sua actualidade. Sr. Presidente da Assembleia Municipal, Srs. Deputados Municipais, Srs. Vereadores, Srs. Presidentes de Junta e demais Autarcas, Ilustres Autoridade Civis e Militares, Cidadãos e Entidades de Mérito, Bombeiros, Comunicação Social Minhas Senhoras e Meus Senhores, Lousanenses [introdução] 3 A Liberdade, em sociedades modernas, não pode viver de apenas de datas, nem pode ter prazos de validade. 4 É um direito inalienável de todos os cidadãos, que deve conviver a par com a dignidade humana e a igualdade de oportunidades. Em Portugal, não basta comemorar esta efeméride ano após ano; temos o dever de defender estes direitos na nossa acção do dia-a-dia; temos o dever cívico de nos indignarmos e reagirmos contra os sucessivos ataques a estes direitos. 4 Vivemos uma crise violenta e complexa em que a Globalização 5 tem uma grande influência e em que os Mercados se têm sobreposto vergonhosamente a tudo e a todos. Importa também ter consciência que a União Europeia não tem tido uma actuação adequada e de acordo com os seus princípios fundadores. Já o referi em anteriores ocasiões públicas e penso que ninguém tem dúvidas que foram, também no plano nacional, cometidos erros pelos vários Governos e que há em Portugal desequilíbrios estruturais que contribuíram para a situação que hoje vivemos. 5 Mas da mesma forma, tenho de vos transmitir que, em minha 6 opinião, este Governo ao ter decidido ir para além da Troika provocou uma retrocesso económico e social. Uma coisa é recuperar financeiramente o País e imprimir rigor orçamental, outra coisa é optar pelo empobrecimento em detrimento do crescimento e em nome de uma denominada “Austeridade Expansionista”. [Politica nacional] Infelizmente temos hoje, ao fim de quase 3 anos deste Governo, menos qualidade de vida, menos poder de compra, menos 6 perspectivas de futuro e menos confiança no caminho que seguimos. 7 Somos todos, constantemente, confrontados com cortes, ajustes, aumento de impostos, contribuições especiais, aumento de preços, e muitas outras medidas penalizadoras que afectam de forma brutal a vida das famílias e das empresas sem que – salvo raríssimas excepções – possamos verificar que os sacrifícios valem a pena. Se não, vejamos: A maior parte dos desequilíbrios não foi corrigida. 7 Não foi implementada uma verdadeira reforma do Estado. 8 Aquilo que tem sido feito é dificultar o acesso a serviços e desvalorizar agentes públicos. O desemprego e a emigração aumentam e o tecido económico luta desesperadamente para sobreviver, devido a variados factores, nomeadamente a carga fiscal e a menor procura. O deficit, aquele monstro de 7 cabeças que nos é apresentado como o responsável de todos os males, apesar de todos os cortes, continua a apresentar valores acima do previsto, o mesmo se passando com a dívida pública, onde nem as receitas 8 das vendas de empresas públicas – algumas rentáveis/lucrativas – tem tido o efeito desejado. 9 Estes são apenas alguns exemplos e há 2 semanas o Governo nos apresentou mais um conjunto de cortes. Chega a uma altura em que temos de perguntar: como é que é possível, que com tantos cortes, com tantos ataques aos rendimentos dos pensionistas, reformados, função pública, com tanta subida de impostos, o problema se mantenha? Trilhamos hoje um caminho que nos afasta a cada passo dos ideais de Abril. Vivemos numa sociedade mais injusta, em que o igual acesso a serviços é cada vez mais difícil e onde – apesar 9 da crise que vivemos – o Governo reduz, de várias formas, os apoios sociais. 10 Para a maioria Portugueses, especialmente nos últimos anos, aos 3 “Ds” de Abril (Descolonizar, Democratizar e Desenvolver) juntou-se um 4º, o de Desânimo. Lamentável e teimosamente, este Governo escolheu não ouvir tantas vozes de várias ideologias, nacionais e estrangeiras, que afirmam constantemente que só pelo lado dos cortes é impossível pagar a nossa dívida. 10 Portugal precisa de se desenvolver, de gerar riqueza, de ter 11 dinamismo económico, de criar emprego, pois só assim será possível sair do buraco financeiro em que nos encontramos. [Política Local] Sr. Presidente da Assembleia, Srs. Deputados, Minhas Senhoras e Meus Senhores 11 Tendo consciência que a ajuda da Troika impunha 12 contrapartidas e que existem situações que têm de ser corrigidas, não podemos aceitar que nos digam com ligeireza que “Portugal está melhor, mas os Portugueses estão pior”. Considero que o exercício de funções públicas é uma honra e a acção política uma actividade nobre e em que o principal objectivo é contribuir para o bem-estar dos cidadãos. No Executivo Municipal, entendemos que um dos contributos mais relevantes para honrar Abril é trabalhar para que a coesão social seja uma realidade. 12 Dando expressão a essa preocupação e de acordo com os 13 compromissos assumidos temos reforçado o investimento nas pessoas, tudo fazendo para honrar a distinção que temos conseguido de Autarquia Familiarmente Responsável e minorar as dificuldades sentidas pelos cidadãos. • Duplicámos a verba mensal destinada a situações de emergência social; Além disto mantivemos a nossa forte aposta nas no Desporto e na dinamização da cultural do Concelho e procuramos promover nacional e internacionalmente este magnífico território. 13 Este investimento no capital humano tem exigido um esforço 14 redobrado, pois o Poder Local – uma das principais conquistas de Abril que tem dado um fortíssimo contributo para o desenvolvimento do País - tem sido alvo de um violento ataque por parte do Governo. Em plena crise, quando as populações têm mais necessidades, ao invés de reforçar - ou no mínimo manter – os meios para desenvolver políticas e implementar acções para as minorar, este Governo retira-nos meios, coloca-nos entraves e dificulta a missão para a qual fomos eleitos. 14 Em vez de estabelecer uma efectiva parceria com as 15 Autarquias, de valorizar a sua proximidade aos cidadãos e a sua maior eficiência na gestão dos recursos, o Governo promoveu sem critério a extinção de Freguesias e diminui a transferência de verbas – sendo que a compensação anunciada por via da reavaliação do IMI não se está a verificar - criou a Lei dos Compromissos e Lei das Finanças Locais – (e aqui tenho de salientar que sou totalmente a favor de medidas que imponham rigor na gestão) que são completamente desadequadas e causam dificuldades adicionais na gestão; implementou a Lei das Competências Autarquias Locais, que mais não faz do que 15 criar instabilidade e confusão nas relações entre Instituições e que tem como objectivo a anulação do Municipalismo. 16 Como se tudo isto não bastasse, o Governo tem em curso a privatização da gestão dos resíduos, perspetivando-se o mesmo para as águas e o saneamento. São medidas graves a que nos vamos continuar a opor, pois consideramos que são contrárias ao interesse público. A somar a tudo o que atrás referi, também a participação das Autarquias na definição das prioridades do próximo ciclo de apoios comunitários é claramente insuficiente, perspectivando16 se já que várias necessidades existentes nesta região terão maior dificuldade – ou até impossibilidade - de serem atendidas. 17 A concretização de alguns objectivos que definimos como importantes, será fortemente condicionada pela obtenção de fundos comunitários, mas não nos resignamos e continuaremos a lutar. Não abdicando do rigor e seguindo os princípios da boa gestão que assegurem o equilíbrio financeiro da Autarquia, permitindome referir que no ano de 2013: • Alcançámos um nível de execução orçamental de 81% 17 • Diminuímos o prazo médio de pagamento de 140 para 71 dias; 18 • Diminuímos a dívida de curto prazo em cerca de 1 milhão de euros relativamente a 2012. Vamos procurar continuar a concretizar alguns objectivos e contribuir para o desenvolvimento do Concelho. Caras e Caros Lousanenses, Referi atrás que não comungo da paixão pela Austeridade deste Governo e da ausência de investimento como política. 18 Não são apenas palavras de circunstância. São ideias 19 materializadas em acções, que orientam a actuação do Executivo Municipal. Por exemplo: Na dinamização da economia e apoio aos agentes económicos: • Implementámos o Gabinete de Apoio ao Empresário e ao Empreendedor, procurando prestar um apoio mais simplificado e adequado às necessidades dos agentes económicos; 19 • Mantemos, continuadamente, o apoio ao comércio tradicional dinamizando iniciativas ao longo do ano; 20 • Aprovámos uma candidatura para a requalificação e realizámos a ampliação da zona industrial do Padrão. Na Segurança e Protecção Civil: • Apoiámos a construção do quartel de bombeiros de Serpins e realizámos a requalificação do quartel de bombeiros da Lousã; No Turismo: 20 • Beneficiámos a estrada de acesso às Aldeias do Xisto, uma obra importante que valoriza a nossa oferta. 21 Na Regeneração Urbana e Desenvolvimento Sustentado: • Concluímos a intervenção na Rua General Humberto Delgado, requalificando urbanisticamente e permitindo uma melhor circulação pedonal e rodoviária; • Realizámos obras de saneamento em diversos locais e terão início muito em breve as obras relativas à 3ª fase do saneamento (candidatura do POVT) e em vários lugares já hoje aqui referidos. 21 São apenas alguns dos exemplos que, a par do investimento na área social, traduzem a estratégia da Autarquia. 22 [Nova Escola] Há ainda, dois projectos dos quais vos quero falar muito rapidamente. Um é a Nova Escola. Como certamente sabem, encontra-se na fase final de construção. 22 Este será um equipamento completamente novo e que se 23 enquadra na nossa estratégia de investimento nas pessoas, neste caso na educação dos nossos jovens. Acredito que este novo equipamento contribuirá para reforçar o valioso trabalho que tem sido realizado na educação no nosso Concelho, pois oferecerá condições de trabalho, socialização e de aprendizagem que consideramos relevantes. Como todos sabem a construção desta nova escola não foi um processo fácil, tendo existido várias vicissitudes que provocaram o atraso na sua conclusão, mas estamos a trabalhar, com grande dedicação, para que este complexo – que significa um 23 investimento global superior a 5 milhões de euros – possa ser 24 utilizado a partir do início do próximo ano lectivo. Para além de todas as questões inerentes ao funcionamento desta nova escola, teremos também que, em conjunto com os agentes educativos e a comunidade em geral, definir o novo projecto educativo do Concelho, onde uma das vertentes será a reorganização da rede escolar e na qual procuraremos ter como prioridades a qualidade oferecida aos alunos, o tratamento mais homogéneo possível e uma perspectiva de futuro. 24 [Metro] Outro projecto de que não posso deixar de falar é o Metro! 25 Julgo que será escusado ser exaustivo sobre esta infelizmente já longa história. São conhecidas as minhas críticas ao anterior Governo e todos se recordarão das muitas e repetidas promessas deste Governo, desde o Sr. Primeiro-ministro, ao Sr. Vice-primeiro-ministro, ao ex Ministro da Economia, ao Secretário de Estado dos Transportes e outros Governantes, todos prometeram – e em algumas alturas exigiram – a conclusão do projecto. O que é verdade é que, após 3 anos, nada fizeram! 25 Recentemente o Governo, através do Ministério da Economia, 26 criou um Grupo de Trabalho que teve como objectivo sinalizar as obras mais importantes para candidatar a fundos comunitários no período 2014-2020. Esse mesmo Grupo de Trabalho – ainda que, no nosso entender, de forma subavaliada em alguns parâmetros - não só classificou o Metro como um dos projectos mais importantes a nível ferroviário, como o destacou como um dos mais prováveis candidatos a receber fundos comunitários. Mas, estranhamente, o Governo, depois de tantos compromissos assumidos, não o incluiu no Plano Estratégico de Transportes e 26 Infraestruturas que apresentou há cerca de 3 semanas, faltando mais uma vez à palavra. 27 Veio depois, quando confrontado com questões sobre este assunto, o Sr. Ministro Poiares Maduro dizer que são precisos mais estudos sobre o projecto e o seu modelo de financiamento. Será que o Ministro não sabe que o seu Governo já criou um Grupo de Trabalho para a revisão do Sistema de Mobilidade do Mondego, tendo o mesmo apresentado propostas concretas para a diminuição do investimento necessário para a conclusão do Metro? 27 Será que o Sr. Ministro, e o restante Governo, não sabem que este é um projecto estruturante, um catalisador 28 de desenvolvimento social e económico para toda a Região? Será que não sabem que já estão investidos mais de 100 milhões de euros no projecto que serão desperdiçados se este não avançar? O tempo não é de mais estudos, nem de mais promessas! Este é o momento dos governantes cumprirem a palavra dada e de o Estado ser definitivamente pessoa de bem! Este é o momento de fazer justiça a estas gentes e a esta região! 28 [Conclusão] Sr. Presidente, Sras e Srs, 29 Vivemos tempos difíceis e em que o pessimismo tem tendência para dominar. Temos, por isso, que nos inspirar nos Homens e Mulheres que, com coragem e serenidade, fizeram o 25 de Abril e devolveram o sonho e a esperança a este grandioso povo. Temos também que nos inspirar, por exemplo, na vida e obra do Lousanense Comendador Montenegro, na sua visão do mundo e 29 no seu espírito e prática humanista, valorizando tudo aquilo que 30 já conseguimos conquistar. Da nossa parte, contem com coragem, determinação, humildade e consciência social. A nossa firme vontade é contribuir para um Concelho cada vez melhor. Queremos uma Lousã que confira orgulho a quem cá vive e seja atractiva para quem a vê de fora. 30 Queremos, através desta acção, colaborar para um País 31 diferente e transmitir aos Lousanenses esperança num futuro melhor. Viva o 25 de Abril! Viva a Democracia! Viva a Lousã! Viva Portugal! Obrigado! 31