Graça - Quem Precisa Dela?
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conosco como crentes. Qualquer que seja o modo como a Bíblia defina
a graça, a mesma definição se aplica à área da vida cristã a cada dia.
A OFERTA DE GRAÇA DE DEUS
Deus nos diz: “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós,
os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai,
sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55.1). O evangelho é oferecido
aos que não têm dinheiro ou boas obras. Ele nos convida a ir e “comprar” a
salvação sem dinheiro e sem preço. Mas observe que o convite é para os
que não têm dinheiro – não aos que não tem dinheiro suficiente. A graça
não é questão de Deus complementar a diferença, mas de ele oferecer todo
o custo da salvação por meio do seu Filho Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo tratou desse assunto em Romanos 3.22 quando disse: “não há distinção”. Não há distinção entre judeu e gentio, entre religioso e irreligioso, entre a pessoa mais decente e moral e a mais degenerada. Não há diferença entre nós porque todos nós pecamos e carecemos da glória de Deus.
Dizer que a graça de Deus completa a diferença entre o que Deus requer
e o que nós fazemos é como comparar as tentativas de duas pessoas de
atravessar o Grand Canyon. O cânion tem uma largura média de mais de
quatorze quilômetros de lado a lado. Suponhamos que alguém conseguisse
saltar dez metros da beirada enquanto outro conseguisse saltar apenas dois
metros. Que diferença isso faria? É certo que um consegue pular cinco vezes mais que o outro, mas em relação aos quatorze quilômetros, não faz
diferença. Como os “quadros” na minha parábola, ambos os saltos são completamente inúteis para atravessar o cânion. Quando Deus colocou uma
ponte sobre o Grand Canyon do nosso pecado, ele não parou a dez ou a
dois metros de nós. Ele fez a ponte para atravessar todo o caminho.
Mesmo a comparação de saltar o Grand Canyon não consegue representar a nossa condição de desespero. Para usar essa ilustração, teríamos de presumir que as pessoas estivessem tentando atravessar o cânion, ou seja, que a maioria das pessoas tenta ganhar o caminho para o
céu e, apesar dos esforços sinceros, não consegue atravessar o terrível
abismo do pecado que nos separa de Deus.
Não há nada mais distante dos fatos. Quase ninguém tenta ganhar o
seu caminho para o céu (antes da sua conversão, Martinho Lutero foi
uma notável exceção). Quase todo mundo presume que o que já está
fazendo é o suficiente para merecer o céu. Quase ninguém faz um esfor-
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Graça Transformadora
ço sincero para aumentar o comprimento do seu “salto” sobre o abismo.
Em vez disso, na nossa mente, nós estreitamos a largura do cânion para
o que nos sentiríamos confortáveis em atravessar sem qualquer esforço
maior do que já fizemos. A pessoa cujo estilo de vida moral talvez fosse
equivalente a dez metros vê a distância como confortáveis nove metros
e meio, e quem só consegue saltar dois metros estreitou o abismo para
um metro e oitenta. Todos esperam que Deus aceite o que já estão fazendo como “moeda corrente” suficiente para “comprar” uma casa no céu.
Como os primeiros ouvintes da parábola famosa de Jesus sobre o
fariseu e o publicano, a maioria das pessoas confia na sua própria justiça (Lc 18.9-14). Talvez num momento mais sério de reflexão, eles concordem que não são perfeitos, mas se consideram basicamente bons.
Um grande problema atual é que a maioria de nós não acredita realmente que somos tão maus assim. Na verdade, achamos que somos bons.
Em 1981, foi publicado um livro que trata do difícil assunto do sofrimento e tornou-se campeão de vendas. Seu título: When Bad Things
Happen to Good People (Quando coisas ruins acontecem com pessoas
boas). Como revela o título, o livro se baseia no pressuposto de que a
maioria das pessoas é “boa”. Gente boa, de acordo com a definição do
autor, Harold Kushner, é “Gente comum, vizinhos amigáveis e gentis,
nem extraordinariamente bons, nem extraordinariamente maus”. 1
Em contraste com isso, o apóstolo Paulo disse que somos todos maus.
Leia novamente Romanos 3.10-12, observando as palavras em itálicos:
Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há
quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o
bem, não há nem um sequer.
Essas palavras foram escritas para dar suporte à resposta de Paulo à
pergunta “Nós (judeus) somos melhores do que os (pagãos gentios)?”
Ao que ele responde “De modo nenhum! Já dissemos que os judeus (o
povo religioso da época) e os gentios (os pecadores da época) estão
todos sob o pecado” (ver Rm 3.9).
A diferença entre a avaliação de Harold Kushner de que a maioria
das pessoas é basicamente “boa” e a de Paulo de todas as pessoas serem
basicamente “más” surge de uma orientação totalmente diferente. Para
o Rabino Kushner, você é bom se for um vizinho amável e gentil. Para o
apóstolo Paulo (e os outros escritores da Bíblia), todas as pessoas são
más porque estamos alienados de Deus e somos rebeldes contra ele.
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