Graça - Quem Precisa Dela? 27 conosco como crentes. Qualquer que seja o modo como a Bíblia defina a graça, a mesma definição se aplica à área da vida cristã a cada dia. A OFERTA DE GRAÇA DE DEUS Deus nos diz: “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55.1). O evangelho é oferecido aos que não têm dinheiro ou boas obras. Ele nos convida a ir e “comprar” a salvação sem dinheiro e sem preço. Mas observe que o convite é para os que não têm dinheiro – não aos que não tem dinheiro suficiente. A graça não é questão de Deus complementar a diferença, mas de ele oferecer todo o custo da salvação por meio do seu Filho Jesus Cristo. O apóstolo Paulo tratou desse assunto em Romanos 3.22 quando disse: “não há distinção”. Não há distinção entre judeu e gentio, entre religioso e irreligioso, entre a pessoa mais decente e moral e a mais degenerada. Não há diferença entre nós porque todos nós pecamos e carecemos da glória de Deus. Dizer que a graça de Deus completa a diferença entre o que Deus requer e o que nós fazemos é como comparar as tentativas de duas pessoas de atravessar o Grand Canyon. O cânion tem uma largura média de mais de quatorze quilômetros de lado a lado. Suponhamos que alguém conseguisse saltar dez metros da beirada enquanto outro conseguisse saltar apenas dois metros. Que diferença isso faria? É certo que um consegue pular cinco vezes mais que o outro, mas em relação aos quatorze quilômetros, não faz diferença. Como os “quadros” na minha parábola, ambos os saltos são completamente inúteis para atravessar o cânion. Quando Deus colocou uma ponte sobre o Grand Canyon do nosso pecado, ele não parou a dez ou a dois metros de nós. Ele fez a ponte para atravessar todo o caminho. Mesmo a comparação de saltar o Grand Canyon não consegue representar a nossa condição de desespero. Para usar essa ilustração, teríamos de presumir que as pessoas estivessem tentando atravessar o cânion, ou seja, que a maioria das pessoas tenta ganhar o caminho para o céu e, apesar dos esforços sinceros, não consegue atravessar o terrível abismo do pecado que nos separa de Deus. Não há nada mais distante dos fatos. Quase ninguém tenta ganhar o seu caminho para o céu (antes da sua conversão, Martinho Lutero foi uma notável exceção). Quase todo mundo presume que o que já está fazendo é o suficiente para merecer o céu. Quase ninguém faz um esfor- 28 Graça Transformadora ço sincero para aumentar o comprimento do seu “salto” sobre o abismo. Em vez disso, na nossa mente, nós estreitamos a largura do cânion para o que nos sentiríamos confortáveis em atravessar sem qualquer esforço maior do que já fizemos. A pessoa cujo estilo de vida moral talvez fosse equivalente a dez metros vê a distância como confortáveis nove metros e meio, e quem só consegue saltar dois metros estreitou o abismo para um metro e oitenta. Todos esperam que Deus aceite o que já estão fazendo como “moeda corrente” suficiente para “comprar” uma casa no céu. Como os primeiros ouvintes da parábola famosa de Jesus sobre o fariseu e o publicano, a maioria das pessoas confia na sua própria justiça (Lc 18.9-14). Talvez num momento mais sério de reflexão, eles concordem que não são perfeitos, mas se consideram basicamente bons. Um grande problema atual é que a maioria de nós não acredita realmente que somos tão maus assim. Na verdade, achamos que somos bons. Em 1981, foi publicado um livro que trata do difícil assunto do sofrimento e tornou-se campeão de vendas. Seu título: When Bad Things Happen to Good People (Quando coisas ruins acontecem com pessoas boas). Como revela o título, o livro se baseia no pressuposto de que a maioria das pessoas é “boa”. Gente boa, de acordo com a definição do autor, Harold Kushner, é “Gente comum, vizinhos amigáveis e gentis, nem extraordinariamente bons, nem extraordinariamente maus”. 1 Em contraste com isso, o apóstolo Paulo disse que somos todos maus. Leia novamente Romanos 3.10-12, observando as palavras em itálicos: Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Essas palavras foram escritas para dar suporte à resposta de Paulo à pergunta “Nós (judeus) somos melhores do que os (pagãos gentios)?” Ao que ele responde “De modo nenhum! Já dissemos que os judeus (o povo religioso da época) e os gentios (os pecadores da época) estão todos sob o pecado” (ver Rm 3.9). A diferença entre a avaliação de Harold Kushner de que a maioria das pessoas é basicamente “boa” e a de Paulo de todas as pessoas serem basicamente “más” surge de uma orientação totalmente diferente. Para o Rabino Kushner, você é bom se for um vizinho amável e gentil. Para o apóstolo Paulo (e os outros escritores da Bíblia), todas as pessoas são más porque estamos alienados de Deus e somos rebeldes contra ele.