"As em p t::~i::t3""" que querem prosper devem alinhar sistemas remuneraç com suas estratégias." por João Lins Pereira e Thomaz Wood Jr. RAE Light· v.Z» nA· p. 21-25 Remuneração estratégica: a nova vantagem competitiva 21 João Pereira Filho e Thomaz Wood Jr. CONTRAPONTO Surfando nas ondas da mudança Nos últimos anos, diante das pressões cada vez maiores da competição, os executivos têm procurado modernizar suas empresas. Administrar passou a ser semelhante a surfar: aproveitar ao máximo cada onda de inovação gerencial para atingir patamares superiores de desempenho. Assim foi, ou tem sido, com o planejamento estratégico, com o movimento da qualidade e com a reengenharia. Muitos vêem com restrições essa sucessão de novidades. É como se a moda dos livros de auto-ajuda também tivesse conquistado o mundo empresarial. A verdade é que o momento de profunda transformação que as empresas estão vivendo exige dos administradores soluções rápidas e criativas, e, se em muitos casos o remédio pode provocar amargos efeitos, não há como negar que, de um jeito ou de outro, as empresas têm evoluído rumo a modelos mais modernos de gestão. Basta olhar ao' redor para ver que as pesadas estruturas hierárquicas - herdeiras dos conceitos implantados por Alfred Sloan na General Motors do início do século - estão desaparecendo. No seu lugar, surgem estruturas mais enxutas e flexíveis, em que cresce a autonomia dos grupos e dos indivíduos. Nos novos modelos, o envolvimento e a motivação são fatores críticos de sucesso. Nesse contexto de mudança, um componente fundamental - a remuneração - parece não estar acompanhando o ritmo das transformações. A maioria das empresas, entre as quais as mais inovadoras, continua utilizando sistemas tradicionais 22 de remuneração, baseados de empresa que está em extinção. em car- As profundas transformações que as empresas vêm sofrendo exigem novos sistemas de remuneração. Em ambientes caracterizados por formas modernas de organização do trabalho - como celularização, gos e funções. Tais sistemas, além de anacrônicos, acabam gerando entraves às mudanças, constituindo barreiras à consolidação e ao avanço da transformação da organização do trabalho (ver quadro 1). Quadro 1: Os pecados capitaís dos sistemas de remuneração tradicionais .:. Inflexibilidade: trata coisas diferentes de forma igual. Não respeita peculiaridades de empresas, áreas, funções ou níveis hierárquicos. .:. Falsa objetividade: a aparente racionalidade desses sistemas esconde uma visão simplista da realidade organ izacional. .:. Metodologia desatualizada: em sua maioria são sistemas trabalhosos, pouco ágeis e inflexíveis. .:. Conservadorismo: reforça a estrutura burocrática, privilegiando as ligações hierárquicas em detrimento do foco nos processos críticos e no cliente. .:. Anacronismo: em empresas de estrutura mais moderna, acaba constituindo entraves à evolução do processo de mudança. .:. Divergência: não considera os objetivos, a visão de futuro e a orientação estratégica da organização. Remuneração: estratégico um novo fator S13Jv.. poucos níveis hierárquicos, multifuncionalidade etc. -, não tem sentido recompensar a contribuição individuai ou coletiva apenas com base em descrições de responsabilidades e atividades. Então, a questão central é transformar a visão usual da remuneração como fator de custo para uma visão Para o consultor e professor norte-americano Edward E. Lawler 111, que há mais de duas décadas estuda o assunto, o problema central é que os sistemas de remuneração em uso foram criados para um tipo © 1995, RAE Light IEAESPfFGV, ----------------------------------~-------------------------- São Pélulo, Brasil. REMUNERAÇÃO da remuneração como componente fundamental para o aperfeiçoamento da organização, como um impulsionador de processos de melhoria e aumento de competitividade. o que é remuneração estratégica? bém um catalisador para a convergência de energias na organização. À medida que o sistema de remuneração é alinhado ao contexto e à estratégia da organização, constitui um componente de motivação e harmonização de interesses, contribuindo para a construção de valores partilhados e ajudando a gerar visões comuns. ESTRATÉGICA interações com o meio ambiente; .:. deve-se conhecer em detalhe as várias formas e alternativas de remuneração, sua aplicabilidade e adequação (ver quadro 2); .:. é necessário definir o próprio sistema. Ou seja, determinar que componentes individuais devem ser acoplados para garantir os melhores resultados; Antes de mais nada, a remuneração estratégica é uma forma de ligação com a realidade, um vínculo com a nova realidade das organizações que atuam num mercado globalizado e competitivo. E esse vínculo se dá de duas maneiras: .' primeiro, no sentido de considerar todo o contexto organizacional, ou seja, de levar em conta os "3 Es" que definem a empresa: a estratégia, a estrutura e o estilo gerencial. A concepção de um sistema de remuneração estratégica deve partir do que a empresa é hoje e do que ela deseja ser amanhã - sua visão de futuro; .-0 segundo, no sentido de que os indivíduos passam a ser remunerados de forma a refletir todo o conjunto de fatores que afetam sua contribuição para o sucesso do negócio: suas características pessoais, as características do cargo e o vínculo com a organização. Assim, além das atribuições e responsabilidades, outros aspectos devem ser considerados ao se projetar um sistema de remuneração: conhecimentos, habilidades, desempenho, resultados, evolução da carreira etc. A remuneração RAELightov.2 -n.4 estratégica é tam- Como construir um sistema de remuneração estratégica Para executivos e consultores, o desafio que se coloca não é pequeno. Além de quebrar o paradigma vigente, fator essencial para a introdução do novo sistema, a tarefa de construção de um sistema de remuneração estratégico não é simples. De forma genérica, pode-se definir quatro etapas principais neste processo: .:. é necessário realizar um diagnóstico da organização, levando-se em conta suas características internas e suas .:. deve-se garantir que o sistema a ser implantado seja funcional e transparente, para assegurar sua aceitação e fácil operacionalização na empresa. Com tudo isso; nota-se claramente que a aplicação de uma abordagem estratégica leva ao desenvolvimento de sistemas especializados. Diferentes empresas irão remunerar seus respectivos colaboradores de formas diferentes. Uma empresa não poderá copiar o sistema de outra, por mais que existam semelhanças entre elas (ver exemplos nos quadros 3 e 4). 23 CONTRAPONTO Quadro 3: O caso de uma e~presa de gestão avançada De fato, a remuneração estratégica derruba o mito do sistema universal de gerenciamento de salários. O sistema de remuneração passa a ser parte do sistema gerencial da organização e, se bem balanceado, fonte autêntica de diferenciação e vantagem competitiva. Por outro lado, não se pode ignorar o vínculo com o mercado. Assim, embora as comparações salariais percam parte de sua importância neste novo contexto, o sistema também deve atender a essa necessidade. Diante do aumento da complexidade e da diferenciação dos sistemas de remuneração, os mais céticos argumentam que a perda da comparabilidade seria uma forte desvantagem da remuneração estratégica. Obvia- 24 mente, é preciso criar fórmulas para viabilizar comparações e evitar que cada empresa se transforme numa I ilha de remuneração. Mas também é oportuno lembrar a posição da professora e consultora Rosabeth Moss Kanter, da Harvard, que considera a questão da comparação apenas a "ponta do iceberg". Ou seja, a noção de valor comparativo depende de uma definição anterior do que seja valor. Ocorre que o Para aprofundar o tema: LAWLER 111,Edward E. Strategíc pay. aligning organizational and pay systems. San Francisco: Jossey-Bass, strategies 1990. BERLET, K. Richard, CRAVENS, D. M. Performance pay as a competitive weapon: a compensation polícy mode! for the 1990's. New Vork: John Wiley & Sons, 1991. WILSON, Thomas B. !nnovative workplace. New Vork: McGraw-Hill. reward systems for the changíng RAE Light .v.2 • n.4 REMUNERAÇÃO ESTRATÉGICA Quadro 4: O caso de uma empresa de gestão tradicional Características do sistema de remuneração empresa atua em ambiente estável possui uma estrutura organizacional tradicional, baseada na autoridade hierárquica e na divisão funcional do trabalho tem preocupação em atrair bons profissionais e mantê-los contexto atual de mudanças caracteriza-se justamente pela busca de novos significados e definições de valores, mais focados ou sintonizados com os interesses dos clientes, dos colaboradores e do próprio negócio. Ao operarem essa transformação, as organizações naturalmente tenderão a mudar a base conceitual da remuneração da posição para a performance e do status para a contribuição. Concluindo, é importante frisar que a remuneração estratégica configura-se não somente como desejável, mas tende a tornar-se um imperativo para as organizações que desejam sobreviver e prosperar.« RAE Light-v.2 -n.4 .:. deve utilizar avaliação sistemática do desempenho individual .:. os aumentos de remuneração devem ser baseados em melhoria do desempenho individual .:. deve haver vínculo entre os aumentos de remuneração e a evolução dos resultados da empresa .:. o sistema deve ser transparente .:. o maior componente da remuneração deve ser vinculado ao cargo e comparável ao mercado .:. deve ser aplicado um sistema de participação nos lucros para garantir o ajuste da tolha de pagamento aos resultados da empresa .:- diferentes níveis hierárquicos podem ter sistemas diferentes de remuneração .:. executivos e gerentes devem receber bônus vinculados a metas prenegociadas Thomaz Wood Jr. é Doutorando na EAESPIFGV. João Lins Pereira FilhO é Mestrando na EAESPIFGV e Consultor da Coopers & Lybrand. 25