Ponto de Vista
Todos os que QUEREM, PRECISAM?
E, por que QUEREM, MERECEM?
Em um processo educativo escolar, que as práticas
são historicamente coletivas, o princípio da igualdade
deve ser alvo de muita reflexão, a fim de que a injustiça
não impere. Os seres humanos são plurais, intensos e
possuem percepções diferentes do mundo. Portanto,
agir de maneira igual com cada um desses seres é, no
mínimo, desumano, para não dizer injusto. O processo
de educação formal se constitui de um lado, pela arte
da possibilidade, que transforma o possível no necessário; ao mesmo tempo, que por outro, pela ciência, que
aplica intencionalidade a cada ação proposta no plano
didático. O tear do ensino, na obra docente, acaba por
se configurar em um desafio artesanal, tecido fio a fio,
de forma exclusiva, ora com nuances mais fortes da arte,
ora entretecida com a meada da ciência.
Assim sendo, como nem sempre é possível trabalhar individualmente em sala de aula, é fundamental reconhecer as
necessidades comuns dos pequenos grupos e direcionar
atividades diferenciadas,
alternando com isso, a
atenção profissional.
“O tear do ensino, na
Dessa forma, é possível
obra docente, acaba
acompanhar mais de perpor se configurar em
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de mais apoio e acomum desafio artesanal,
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tecido fio a fio, de
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forma exclusiva, ora
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fortes da arte, ora
reconhecidos nesse avanentretecida com a
ço; e, de forma pontual,
meada da ciência.”
ajustar, coletivamente,
nos diferentes grupos, os
“querentes” – aqueles que querem, mas não precisam da
energia dedicada do professor ou, ainda, aqueles que
não lidam de forma produtiva com o tempo de sala de
aula. Não são muitos, mas estão presentes em todas as
classes. Querem autonomia, mas ainda não conquistaram; ou aqueles que fazem tudo sozinhos, mas querem
sempre o aval do professor. Ambos precisam mais dos
seus pares para se promover, encontrando referências
para acreditar que são capazes.
Quando se consegue diferenciar no coletivo aqueles
que precisam de atenção especial; aqueles que devemos
lançar desafios cada vez mais instigantes, reconhecendo
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REVISTA A&E | ANO 13 | Nº 20 | outubro/2012
os avanços; e aqueles que nos querem somente porque
nos querem, mas que precisam se libertar do professor
para avançar, já saímos do estado de miopia inicial e
caminhamos em relação ao reconhecimento e ao domínio
da classe. Nossas ações podem ser planejadas a partir
daí, para que de forma colaborativa, a classe construa
um espírito de entreajuda, pois se somos inacabados
por natureza, somos pela mesma natureza complementares. Por isso, a intenção e a firmeza do professor em
seus propósitos são fundamentais para qualificar a ação
pedagógica. O aluno não forma equipe de trabalho por
afinidade e/ou de forma aleatória. O professor organiza o
trabalho de sala de aula, aproveitando a leitura acurada
que ele tem do coletivo, em favor da potencialização das
possibilidades de aprendizagem. Essa é a força motriz.
E o docente (artesão) é o primeiro a reconhecer essa
força e usá-la em favor dos seus propósitos profissionais
(intenção pedagógica).
Domínio e firmeza eram o que não faltavam para o meu
avô. Talvez seja por isso que nesse momento ele me vem
à mente. Custei muito para entender o que ele queria
dizer com uma frase rude, que volta e meia ele repetia.
Precisei ser professora e mãe para poder abarcar toda a
complexidade daquela única frase. Creio que seja uma
forma lúdica para ilustrar essa temática. Havia um lindo
riacho cheio de pedras no sítio do vô Luiz. Pedíamos para
a vó Maria (de coração mole) para que ela permitisse que
nós descêssemos o riacho de boia de caminhão. Ela, toda
doce, vinha com uma série de argumentos para negar,
dizendo que estava frio, que íamos pegar uma gripe e,
de repente, vinha uma voz forte do quarto: Maria, criança
pequena não tem querer!
E.T.: Certificando, sabiamente, um conceito, por vezes
perdido no espaço escolar, o de que a responsabilidade
pelas escolhas e (inevitáveis) implicações, em última
instância é do adulto profissional. Isso também se aplica
a instituição Escola. Parece inacreditável, mas ainda há
escola que transfere para os pais decisões que jamais
poderiam ser tomadas fora da esfera profissional!
Acedriana Vicente Sandi
Diretora Pedagógica
da Editora Positivo
[email protected]
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