D-6
Sexta-feira e fim de semana,
27 e 28 de fevereiro e
10 de março de 2015
DOCUMENTO ESPECIAL
PAUTY ARAÚJO
BUSCA DE MOBILIDADE
Longe da ocupação desordenada
MATHEUS GAGLIANO
A
ocupação do
Rio de Janeiro se desenvolveu ao longo dos anos,
com a cidade
se espalhando, quase
sempre de forma desordenada.O último território a ser desbravado,no século passado,foi a região da Barra da Tijuca,lugar que era um imenso areal e destino somente
de pescadores,longe do aglomerado urbano
então existente e com sérias dificuldades de
acesso.Outro fator que dificultava a ocupação
era a característica de grande parte do terreno
da região,formado por turfa,uma espécie de
chão arenoso,considerado problemático para
a construção civil.
Essa história começou a mudar no fim da
década de 60,quando foi criado o plano piloto
do arquiteto e urbanista Lúcio Costa,que previa
um desenvolvimento planejado para a região,
em que o convívio urbano se daria de forma
harmoniosa com a vegetação nativa da região.
Tudo foi pensado para que a Barra da Tijuca se
tornasse um bairro onde poderiam ser evitados
erros de ocupação que marcaram outras áreas
do Rio.Seria tudo centralizado no eixo onde há
a lagoa da Barra,onde os carros poderiam circular em vias largas,sem engarrafamentos.
Levou tempo até que o plano Lúcio Costa
pudesse sair do papel.A primeira tentativa foi
na época do prefeito Marcos Tamoyo,na década de 70.Com o passar dos anos,o planejamento pensado por Costa não foi totalmente seguido,mas os bairros planejados ganharam terreno e corpo.Atualmente,a Barra é o lugar onde
esse tipo de empreendimento pôde se desenvolver melhor,graças aos vazios urbanos existentes,que possibilitaram o avanço de grandes
obras.
Os bairros planejados são um conceito de
condomínio onde o morador pode encontrar
no mesmo lugar onde mora opções de lazer e
compras,sem a necessidade de deslocamentos,economizando tempo e garantindo também segurança,principalmente para as famílias com filhos.
COM O DESENVOLVIMENTO da Barra,as
grandes construtoras também puderam aproveitar a oportunidade.Uma das que apostam
no crescimento da região e dos bairros planejados é a Carvalho Hosken,que criou diversos
projetos como o Península,o Rio 2 e o Ilha Pura,
este último ainda em andamento.Estes projetos
se tornaram referência de condomínios do tipo
integrado e modernizador.
Considerado um projeto ecológico,o Península foi edificada em apenas 8% de uma área
de 780 mil metros quadrados.Cercado de vegetação de restinga e manguezais recuperados,
flora e fauna típicas da região,possui dois parques com 45 mil metros quadrados cada um,
cinco jardins temáticos e três quilômetros de tri-
No caminho da Zona Oeste
MATHEUS GAGLIANO
Além da Barra da Tijuca outros pontos da Zona Oeste têm potencial para receber bairros
planejados,graças à grande oferta de terrenos ainda livres.O assessor da Presidência da Carvalho Hosken,Henrique Caban,diz que eles terão,no entanto,características diferentes dos
que existem na Barra,sendo mais voltadas para a moradia popular."Campo Grande e Santa
Cruz têm potencial,mas nasceram com perfil de habitação social",disse.
Já o diretor Técnico e de Incorporação da construtora Fernandes Araújo,Thiago Melo Pedreira,avalia que,além de Campo Grande,outros locais da Zona Oeste também apresentam
esse potencial.É o caso de Vargem Grande e Bangu."Têm vocação para essa possível expansão,associados ao preço acessível do imóvel",disse.
Ele listou alguns investimentos da construtora na região,como o Victoria Reserva Residencial Club,em Campo Grande,lançado recentemente e que teve 100% de suas unidades
vendidas,antes mesmo da conclusão das obras,o que mostra que o consumidor tem interesse em adquirir imóveis na região dentro do conceito de bairros planejados.
O gerente de Incorporação da Living,Thiago Athayde,diz que a companhia aposta na
Zona Norte como área de crescimento para bairros planejados.Um dos projetos nos quais
apostou foi o Rio Parque."O mercado sempre executou projetos na Barra ou no Recreio dos
Bandeirantes.Apostamos muito no crescimento da Zona Norte,e em seu dsenvolvimento urbano.Lançamos 1,5 mil unidades e vendemos 1,3 mil em quatro anos",disse.
O Rio Parque,em Del Castilho,foi lançado em 2011 pela Living Construtora,empresa do
grupo RJZ Cyrela,em parceria com a PDG.Com a construção em um espaço de 43 mil metros quadrados,é composto por três condomínios residenciais (América Residencial,Rio
Residencial e Carioca Residencial) com áreas de lazer independentes.O conceito de bairro
se caracteriza pela integração dos três condomínios a um centro de conveniência comercial
e de serviços com lojas e um grande parque.
lha ecológica urbana plana,ao longo do único
manguezal preservado em espaço urbano na
cidade do Rio.
Ao caminhar pela Península,é possível observar o paisagismo planejado e bem combinado com o acervo cultural,com réplicas de esculturas clássicas,como as do italiano Gian Lorenzo Bernini e obras de renomados artistas
contemporâneos,como Franz Weissmann,Ascânio MMM,Rubens Gerschman,Agostinelli,Caciporé Torres,Zélia Salgado,Sonia Ebling,Vera
Torres,Mario Agostinelli e Emanuel Araújo.
O bairro possui um shopping de conveniência exclusivo,o Península Open Mall,composto
por 29 lojas e 19 salas comerciais.Tem curso de
inglês,delicatessen,pet shop,farmácias,praça
de alimentação,clínica de estética,barbearia,
loja de material esportivo,papelaria,loja de suplementos,loja de cama mesa e banho,loja de
informática,locadora,livraria,escola de música,
escola de dança,lavanderia e um clube infantil.
Assim como os demais bairros planejados
da Carvalho Hosken,a Península também tem
sua associação de moradores,que administra
as áreas do bairro.
O diretor Executivo de Marketing da Carvalho Hosken,Henrique Caban,diz que a Barra teve a primazia de poder crescer planejadamente."Foi criado o plano Lúcio Costa e o que se
juntou a isso foi a questão da sustentabilidade.
O Península foi o primeiro bairro planejado em
que o comprador do imóvel se comprometia,
na escritura,a contribuir para a área da conser-
vação",explica Caban.
De acordo com Caban,a participação dos
moradores foi a melhor forma encontrada pela
construtora para manter a sustentabilidade do
bairro.A prefeitura entra na região apenas para
a coleta de lixo."Todo o restante,até a troca de
lâmpadas,é feita pela associação,que funciona
como uma subprefeitura.Esse modelo foi bom
tanto para a conservação, quanto para a segurança.Os moradores aprovam o que será feito.
Essa era a forma de prosseguir com o desenvolvimento da Barra",detalhou.O diretor diz ainda
que esse tipo de conceito também será utilizado nos próximos projetos da construtora como
o Centro Metropolitano e o Ilha Pura.
Para o futuro,a construtora trabalha em um
projeto semelhante ao da Península.Chamado
de Gleba S,devido à sua localização (o Península é o Gleba E e fica ao lado do novo projeto),
está começando a ter seu projeto desenvolvido.
Caban explica que tudo dependerá de como o
mercado imobiliário se desenvolverá após a
realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Dois dos primeiros grandes condomínios da
Barra foram o Nova Ipanema e o Novo Leblon,
aos quais se juntaram vários outros em pouco
tempo,m principalmente a partir da inauguração da Linha Amarela,em 2000."Novas vias,o
BRT e a chegada do metrô serão um fator de
grande desenvolvimento para a região”,acrescenta Caban.“Pode-se dizer que o que está sendo entregue agora equivale a cinco linhas amarelas",compara.
Uma das obras de que a Carvalho Hosken está participando é o Centro Metropolitano,que
tem ligações com o plano piloto elaborado por
Lúcio Costa.Situado de frente para a Avenida
Abelardo Bueno,o Centro Metropolitano também conta com duas estações BRT e é servido
pelo corredor Transcarioca.No local,a construtora desenvolve diversos projetos como empreendimentos corporativos,salas comerciais,
lojas e condomínios residenciais.Seu projeto
prevê dois eixos monumentais de 120 metros
de largura,paisagismo de Burle Marx,com canteiros centrais que somam uma área verde de
aproximadamente 350 mil metros quadrados.
No local também está em fase de construção o
primeiro hotel da rede Hilton do Rio de Janeiro.
De acordo com Henrique Caban,o Centro Metropolitano tem esse nome porque fica no local
onde Lúcio Costa imaginou que seria o futuro
centro da cidade do Rio,inclusive com prédios
públicos na região
Outro empreendimento em andamento na
Barra é o Ilha Pura.Planejada em uma área de
820 mil metros quadrados,está sendo desenvolvido com o objetivo de se tornar referência de
bairro planejado ancorado nas premissas de
sustentabilidade.O novo espaço urbano nasce
com a construção da Vila dos Atletas,em área
de 206 mil metros quadrados,com previsão de
31 prédios residenciais,divididos em sete condomínios,com 3.604 apartamentos de dois,três
e quatro quartos.O projeto tem capacidade para abrigar 17.950 atletas e paratletas,treinadores
e fisioterapeutas durante o período dos Jogos
Olímpicos.
A região será contemplada com importantes
obras de infraestrutura em seu entorno,pavimentação e saneamento,que contribuirão para
a valorização do local.A construção de corredores expressos BRT deverá encurtar as distâncias entre outros locais da cidade e prometem
agilizar o acesso a outras regiões.As obras registram avanço de 60% e o empreendimento prevê um volume geral de vendas de aproximadamente R$ 4 bilhões.
SEGUNDO O PRESIDENTE da Carvalho
Hosken,Carlos Fernando de Carvalho,o compromisso das empresas envolvidas é transformar a Vila dos Atletas em um ícone mundial,
sendo a de mais alto padrão na história dos Jogos Olímpicos."Somos vizinhos do Parque Estadual da Pedra Branca,estamos em frente a uma
lagoa e a cinco minutos da praia.Além do alto
padrão de acabamento de suas unidades residenciais,a Ilha Pura contará com uma multiplicidade de facilidades que reunirão qualidade
de vida,moradia,serviços e entretenimento",
afirma Carlos Carvalho.
Diferente das últimas Vilas Olímpicas,com
exceção da de Sydney,a Vila dos Atletas dos Jogos de 2016 não tem aporte público para aquisição do terreno e execução do projeto,já que todo o investimento está a cargo das construtoras
responsáveis pelo Ilha Pura.Já as obras de infraestrutura interna,como pavimentação de
ruas,saneamento básico e eletricidade,são de
responsabilidade da prefeitura,que por meio
de uma Parceria Público Privada (PPP).
Ademi aponta que bairros planejados precisam de estudo
MATHEUS GAGLIANO
O presidente da Associação de Dirigentes
de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi),João Paulo Rio Tinto de Matos,afirma que
o desenvolvimento urbano deve ser planejado
e,se existe uma grande área passível de investimentos imobiliários, este deve ser estuado,
com tamanho adequado à região na qual o
bairro ficará inserido."Ter dois blocos é uma
coisa; ter 20,é outra.São impactos diferentes
sobre a infra-estrutura”,observa.
Ele adiantou que vê possibilidade de desenvolvimento de bairros planejados somente
em áreas da Zona Oeste onde ainda existem
os chamados vazios urbanos. "Só vejo essa
possibilidade no Recreio e em Vargem Grande.
No futuro,talvez em Guaratiba”,comenta.Segundo ele, sempre há apetite dos consumidores em qualquer região,principalmente na
Zona Norte do município,mas há a questão da
oferta de terrenos."Enquanto na Tijuca se consegue construir 50 apartamentos,em Vargem
Grande há capacidade para construir 500”,exemplifica.
As obras de infraestrutura em curso,impulsionadas pelos Jogos Olímpicos, serão um
grande legado, principalmente pela mobilidade, que também ajudará os bairros no entorno, como é o caso de Campo Grande,
Vargem Grande e Vargem Pequena."Isso fará
com que haja mais facilidade para se morar
nestas áreas”, completa. Em função destas
obras de infraestrutura a Zona Oeste tem se
valorizado.Levantamento mais recente feito
pelo portal de imóveis Viva Real mostra que a
região obteve o maior crescimento de valor
dentre todas as áreas da cidade, com percentual de aumento de 2,9% de valorização
para venda de imóveis.
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Longe da ocupação desordenada