144 Olhar Peregrino “Cansei!” “Doeram as pernas?” “Doeram!” “Então, por que esse sacrifício?” “Não é sacrifício, é prazer!” “Você é masoquista!” “Não sou não! Você precisa experimentar um dia. Então, vai saber do que estou falando…” Ouvir as diferentes aventuras do Hans-Werner durante anos, deixou o José cada vez mais entusiasmado. Em várias ocasiões, ele tentou convencer-me a fazer o tal Caminho juntos, mas eu nunca me sentia preparada. Num domingo - 8 de setembro de 2013 -, aceitei o desao e começamos nosso Caminho do Norte. Chegamos a Porto alguns dias antes e camos hospedados na casa de uns amigos portugueses em Braga, a Rosinha e o Albino. Eles se confessaram admiradores de todos os que decidem fazer o Caminho até Santiago, mas nunca o zeram porque se sentem intimidados com as longas trilhas percorridas e o acúmulo dos quilômetros diários. Rosinha, excelente antriã, nos paparicava com suas saborosas bacalhoadas; cada dia uma receita diferente. Já o Albino, bom apreciador de vinhos, brindava à saúde aos “caminhantes vindos do Brasil”. Devo lembrar um fato importante: Alguns meses antes da viagem, o José havia operado os olhos de catarata. Na sala de espera do hospital, conheci Bianca, que como eu, aguardava o marido que se submetia ao mesmo procedimento. Bianca bordava para matar o tempo e eu admirava seu talento de artista, até que puxei conversa. Num animado papo sobre patchwork e outros assuntos, abordamos o tema 'viagens'. Eu comentei que, depois da recuperação do meu marido, pretendíamos fazer o Caminho de Santiago de Compostela, a pé. Muito convicta ela me disse: “Sério? Vocês vão adorar!” “Você já o fez?”