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Olhar Peregrino
“Cansei!”
“Doeram as pernas?”
“Doeram!”
“Então, por que esse sacrifício?”
“Não é sacrifício, é prazer!”
“Você é masoquista!”
“Não sou não! Você precisa experimentar um dia. Então,
vai saber do que estou falando…”
Ouvir as diferentes aventuras do Hans-Werner durante
anos, deixou o José cada vez mais entusiasmado. Em várias
ocasiões, ele tentou convencer-me a fazer o tal Caminho juntos,
mas eu nunca me sentia preparada.
Num domingo - 8 de setembro de 2013 -, aceitei o desao e
começamos nosso Caminho do Norte. Chegamos a Porto alguns
dias antes e camos hospedados na casa de uns amigos
portugueses em Braga, a Rosinha e o Albino. Eles se confessaram
admiradores de todos os que decidem fazer o Caminho até
Santiago, mas nunca o zeram porque se sentem intimidados com
as longas trilhas percorridas e o acúmulo dos quilômetros diários.
Rosinha, excelente antriã, nos paparicava com suas saborosas
bacalhoadas; cada dia uma receita diferente. Já o Albino, bom
apreciador de vinhos, brindava à saúde aos “caminhantes vindos
do Brasil”.
Devo lembrar um fato importante: Alguns meses antes da
viagem, o José havia operado os olhos de catarata. Na sala de
espera do hospital, conheci Bianca, que como eu, aguardava o
marido que se submetia ao mesmo procedimento. Bianca bordava
para matar o tempo e eu admirava seu talento de artista, até que
puxei conversa. Num animado papo sobre patchwork e outros
assuntos, abordamos o tema 'viagens'. Eu comentei que, depois da
recuperação do meu marido, pretendíamos fazer o Caminho de
Santiago de Compostela, a pé. Muito convicta ela me disse:
“Sério? Vocês vão adorar!”
“Você já o fez?”
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“Cansei!” “Doeram as pernas?” “Doeram!” “Então, por que esse