Título: A VIOLÊNCIA DENUNCIADA CONTRA A MULHER NA CIDADE DE SÃO CARLOS Autora: Ana Flávia Terciotti Basso Orientadora: Profª Deisy das Graças de Souza Resumo: Vivemos em uma sociedade em que a violência assumiu os mais diferentes aspectos e apresenta, muitas vezes, particularidades, cuja investigação pode fornecer bases para a compreensão e a prevenção do fenômeno da violência. O objetivo desse Trabalho consistiu em levantar dados a respeito da violência denunciada - contra a mulher na cidade de São Carlos. Esse tipo de violência pode ser diagnosticado nos mais diferentes contextos, mas a investigação em uma cidade média do interior talvez possa fornecer dados generalizáveis e, sobretudo, permitir o planejamento de intervenções preventivas locais. A Delegacia de Defesa da Mulher de São Carlos permitiu o acesso aos dados registrados em boletins de ocorrência (B.O.s). Foram selecionados os casos em que a violência física, sexual e/ou psicológica era perpetrada por homens contra mulheres. As modalidades delituosas consideradas referiam-se a duas categorias de crimes: crimes contra a pessoa e crimes contra os costumes. Foram examinados dados de 564 documentos, sendo 208 B. O.s, que correspondiam ao período de janeiro a dezembro de 1997, e 356 T.C.s, de janeiro a setembro de 1997. Os dados obtidos diziam respeito a: identificação pessoal da vítima e do indicado ou “agressor” (cor, idade, estado civil, nacionalidade, naturalidade, ocupação, local de residência), natureza da ocorrência (tipo de crime cometido), motivo da agressão, meios e modos utilizados para executar a agressão, localização das lesões no corpo e relação/parentesco da vítima com o indiciado. Após a coleta e análise dos dados, concluiu-se, em geral, as vítimas são brancas; brasileiras; vêm principalmente do estado de São Paulo; a faixa etária predominante corresponde a idades produtivas, em que a mulher tende a se casar, ter filhos e trabalhar, as ocupações são do lar e serviços domésticos, as quais, em geral, tornam a mulher mais dependente do companheiro, pois quando há remuneração, estas não são suficientes; os bairros em que residem são na maioria caracterizados como de classe muito baixa ou média/baixa; e quase metade está envolvida em relacionamento amoroso, sendo casadas ou amasiadas. Os indiciados são, na maioria brancos; brasileiros; procedentes do estado de São Paulo; residem em bairros de classe muito baixa ou média baixa; trabalham principalmente em serviços não industriais qualificados e não- qualificados e em serviços de comércio e afins; incluem-se basicamente nas faixas etárias produtivas, entre 25 e 45 anos; e quase metade também está envolvida em relacionamento amoroso. O dado que mais se destaca diz respeito ao tipo de relação que a vítima tem com o agressor: 58,3% corresponde a relacionamento amoroso, 20,3% são conhecidos da vítima, 15,5% são parentes e apenas 5,8% são desconhecidos. Esses dados nos mostram que os agressores estão mais próximos da vítima, confirmando as estatísticas mundiais que afirmam que a vítima conhece seus possíveis agressores. Quanto às agressões, estas são direcionadas principalmente à cabeça da mulher, os modos mais comuns de efetuar a agressão são o soco e o pontapé. Os motivos das agressões variam de acordo com a modalidade delituosa. Podemos destacar um grande número de ameaças realizadas pelos homens na tentativa de evitar a separação indesejada e lesões corporais pelos mais diversos motivos, entre eles, as discussões dos casais e a falta de habilidade para lidar com problemas de relacionamento. Os dados obtidos confirmam, em geral, as tendências mundiais no que diz respeito à violência contra a mulher.